A Cela escrita por John


Capítulo 8
III. Contato




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Amy entrou cautelosamente no quarto, agora iluminado, e parou um pouco além da porta, com as mãos cruzadas em frente a barriga e olhando Victor, ainda deitado. Amy sorria para Victor, e após um minuto dessa forma, ela quebrou o silêncio. - O doutor Heinz disse que não foi algo muito sério, mas de qualquer forma foi uma queda e tanto - disse Amelia de um modo divertido, talvez para tentar se desculpar de alguma forma pelo susto que deu, e assim, diminuir sua culpa interna.

–Sim, sim...foi uma bela queda...Amelia, esse é seu nome certo? - disse Victor sentado na cama com o cobertor cobrindo suas pernas e os braços segurando um travesseiro por cima dos joelhos.

Amelia o olhou confusa. Durante muitos anos, Francis não a chamava de Amelia, e sim de seu apelido, Amy. Única exceção era o fato de ele a chamar assim por ficar com raiva, e isso era o medo de Amy.- Sim, meu nome é Amelia, mas você não me chama muito dessa forma...você está com raiva de mim? - disse Amy novamente em um tom de culpa, e agora evitava olhar nos olhos de Victor, passando a olhar para os próprios pés. Victor olhava aquela cena com olhar de pena, pena por descobrir que aquela pessoa não faria mal a uma mosca.

– Não não, eu não estou com raiva de você, por favor, não fique triste. A culpa foi toda minha por não prestar atenção por onde andava e acabar se assustando com coisas bobas. - disse Victor que agora tirava os pés do lençol e começava a caminhar em direção a Amy, que permanecia com um mármore em frente a porta. Victor não conhecia aquela pessoa, tanto que nem saberia o nome dela se não tivesse ouvido o médico, mas sentia que de alguma forma, deveria conforta-la, para só então conseguir avançar no que quer que fosse. Victor não se importava com a maioria das pessoas, mas quando se tratava de pessoas aparentemente mais boas do que ele, sua consciência o alertava.

Desajeitadamente, Victor colocou uma das mãos no ombro dela, que ainda permanecia com a cabeça baixa. Ao colocar, Amelia o abraçou rapidamente, fazendo com que ele não tivesse nenhuma reação ou defesa. Comparando os tamanhos, Amy parecia uma criança perto de Victor. Amelia não passava de um metro e sessenta e cinco, fazendo com que sua cabeça ficasse no peito dele. Ele permaneceu petrificado naquela situação sem saber o que fazer, enquanto olhava para o corredor que era visível da porta, ele não esperava que aquela coisinha fosse abraçar ele.

– Desculpa..- disse Amelia ainda abraçando ele com o rosto escondido. De cima, Victor via os seus cabelos pretos e o cheiro de algum shampoo, que não conseguia distinguir qual, talvez por nunca ler rótulos quando usava um. De qualquer forma, exalava um cheiro adocicado agradável ao nariz.

Ok ok, já pode me soltar... Amy. - disse Victor afastando aos poucos aquela pessoinha pelos ombros e se afastando devagar para trás, em direção a cama.- Olha moça, eu não sei quem você é, mas não faz isso de novo, tudo bem? - disse Victor com um dos braços estendidos, para indicar um certo limite de espaço. Por algum motivo, Victor sentia que ao fazer aquilo, estava traindo alguém em algum lugar, mas ele não sabia o porque, e esclarecendo a situação, ele só deixou ser abraçado pelo fato de ela estar triste pelo acontecimento anterior, do contrário, não se passaria muito tempo além do primeiro contato.

– Fazer o que?- disse confusa Amelia, que o olhava com olhos brilhantes, pelo fato de momentos antes ter ficado com olhos úmidos.

Oras...isso...me abraçar, não faça isso de novo.- Disse Victor, olhando de um modo sério, mas com medo que aquela pessoinha fosse de alguma forma ficar chorosa novamente. Enquanto falava isso, ela se aproximava dele lentamente, e ele se afastava dela, ainda com um braço estendido, fazendo uma volta pelo quarto que ia da cama até próximo a janela, e da janela até a porta que dava para o corredor. As posições se inverteram, e agora Victor estava em frente a porta e Amelia a sua frente. A essa altura ela já tinha desistido de tentar abraça-lo de novo, e permanecia com os braços cruzados, olhando para ele.

–Acho que você bateu a cabeça forte demais, talvez um chá ajudaria...mas como já está próximo do almoço, então assim é melhor, pois você recupera energia pro dia, e como disse o doutor, não vá ao trabalho hoje. Pode ficar vendo tevê na sala...ou deitado, caso esteja cansado ainda. Bom...vou preparar o almoço, hoje é domingo e pelo menos dá para fazer algo sério. Oliver adora esse dia só pela torta de maçã, então vou indo, até logo - concluiu Amelia, que voltou a sorrir brevemente para Victor, e ao passar pelo lado dele para se dirigir ao corredor, deu um beijo na bochecha dele, tendo que levantar ao máximo os calcanhares para fazer alcançar aquele local.

Enquanto os passos de Amelia ecoavam pelo chão de madeira do corredor, do mesmo mogno que o quarto era coberto, Victor passou a mão na bochecha, e se dirigiu a janela, na direita dele, e passou a olhar a sua vizinhança. Ele estava pensativo, como sempre, no momento. A paisagem pouco lhe importava, mas o fato de acordar em uma realidade como aquela com a possibilidade de possuir filhos lhe preocupava, mais do que ser casado, e ter um emprego sério.


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