A Cela escrita por John


Capítulo 4
IV. Passos




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Não eram passos nem apressados e nem muitos lentos, eram passos em uma sequência metódica em que um não sobrepujava o outro nem em um centésimo de segundo. Ressaltando essa peculiaridade, os passos continuavam, e não estavam distantes.

Como... – se perguntou Alexei que olhava tudo ao redor transtornado. Enquanto Alexei mostrava seu temperamento fraco, Victor continuava com o sangue frio, sem ceder um passo e determinado a saber quem era a figura que se aproximava. O seu temperamento forte era um contraste com o de seu companheiro, e enquanto este queria vazar daquele local o mais rápido possível (mesmo sem ter ideia para onde ir e chegar), Victor esperava sem mover um músculo entre as paredes cinzas e embaixo da fraca luz que inutilmente iluminava aquele pedaço do que parecia ser um infinito corredor.

No momento em que parecia eminente a chegada do estranho, à medida que os passos se tornavam mais nítidos ecoando pelas sensíveis paredes e pelo piso, Victor conseguiu distinguir uma figura encapuzada a menos de três metros dele e de seu companheiro de cela, após esse acontecimento, tudo ficou claro.

Quando digo claro, não quero dizer que uma verdade universal foi respondida e tudo se tornou belo, mas sim que literalmente tudo ficou claro. Victor não conseguia distinguir nada. Antes a dificuldade era de enxergar algo no breu que seguia aquele patamar, agora a dificuldade era se livrar da sensação de claridade nos olhos, como se a senhora de todas as luzes tivesse repentinamente aparecido de bom grado no meio daquele local. Victor se escorou em uma das paredes ainda com os olhos em chamas e com uma forte dor de cabeça. Não observou Alexei, mas ele devia ter feito o mesmo, pois a divergência entre uma escuridão extrema e uma claridade extrema com certeza não faz bem a ninguém, ainda mais a alguém como Alexei, que já habitava essa escuridão a mais tempo que ele.

Quando finalmente a ardência nos olhos de Victor se dissipou, ele pode ver uma claridade paradisíaca impregnada no que antes era um breu. Ele não conseguia distinguir do que o chão era feito ou as paredes, mas o material era de algo inteiramente branco, e o corredor se tornou algo semelhante a um corredor de hospital. Mas o que mais impressionou os olhos de Victor não foi à repentina mudança de estado do local, mas sim a figura que permanecia parada exatamente a uma distancia de três metros da mesma forma como Victor observou na véspera. Em meio a toda aquela claridade, não era uma dificuldade caracterizar aquela estranha figura que permanecia estática no local onde antes parou.

A figura usava um hábito semelhante a um franciscano, com um cordão branco que contornava a cintura e um capuz, que cobria toda a face do individuo. Mesmo o capuz cobrindo sua face, ele não permanecia com a cabeça abaixada, como era de se esperar de alguém que procura cobrir a face, mas sim com a cabeça levemente erguida, demonstrando certa autoridade. Se ele tinha a capacidade de mudar um salão inteiro que acreditava-se ser elementar, então ele devia ter alguma autoridade.

Olá – disse o andarilho, novamente sem muito entusiasmo, mas também sem muita alegria, um humor metódico, nem mais nem menos. Porque estão deitados nesse chão? Parecem mendigos - continuou o Andarilho, novamente metódico. Ao dizer isso, Alexei foi o primeiro a se levantar como se o chão sobre seus pés estivesse pegando fogo, e ficou de prontidão esperando alguma ondem , o motivo? Não sei dizer, algumas pessoas tem o dom de simplesmente obedecer mesmo que ordens não sejam dadas ou necessárias. Enquanto Alexei ficava em pé, Victor o olhava do chão, de certa forma com um pé atrás quanto a quem era aquele andarilho, e começou a encarar, ainda no chão, o estranho encapuzado que permanecia estático no corredor agora branco.


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