A Cela escrita por John


Capítulo 15
X. Uma companhia desagradável




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O frescor da noite batia na direção das costas de Victor, um vento nem muito quente e nem muito frio; no meio termo da palavra, um vento bastante ameno. Andava pelo mesmo caminho que antes tomara e aproveitava a caminhada para fumar novamente. Evitava fumar perto de Amelia ou de Oliver por educação; desde que chegou no almoço, Amelia já havia notado o cheiro do tabaco, mas não resolveu perguntar o porquê no momento, quanto a Oliver, ele não deu a miníma.

Aos olhos de Victor, aquela cidade parecia ter somente uma sintonia, quando digo sintonia, me refiro ao movimento geral daquela cidade, aos carros, as pessoas, a aparência por si só e o modo de vida, resumindo, um cenário clichê de alguma série estrangeira de comédia dos anos oitenta. A maioria das luzes das casas já estavam apagadas, o que mostrava que aquela população dormia cedo. Não havia carros nas ruas, e nem pedestres, só havendo ele como um único sobrevivente de alguma catástrofe caminhando pelas calçadas acinzentadas. A lua já aparecia em um dos extremos do céu, talvez para não deixar aquele passante tão isolado, e Victor, sem nem mesmo notá-la, caminhava novamente com as mãos nos bolsos, dessa vez sem pressa e olhando para algum ponto fixo além da rua que descia gradativamente enquanto a fumaça era carregada para a frente de seu rosto.

Olhando a cidade - não a sua vizinhança mas o que parecia ser o centro dela - havia um grande prédio em um formato genérico, totalmente quadrado e com muitos escritórios, que se erguia a muitos metros de altura. O que fazia desse prédio especial no panorama era que só havia ele com aquele tamanho em uma cidade que predominava prédios de não mais que oito andares; aquele colosso reinava sem questionamento na vista da cidade e parecia que toda aquela população vivia para alimentar ele, partindo do ponto de vista de que a cidade é pequena para um prédio tão excêntrico. Olhando desse ponto, Victor tinha um palpite de que trabalhava lá, e riu com ironia ao pensar que ele trabalharia em um escritório e teria de usar gravata, ou fazer papeladas.

Enquanto pensava nessa possibilidade, ouviu passos de alguém que corria em sua direção, mas eram passos moderados e em um ritmo sistemático misturados ao que parecia ser passos menores. Ao olhar para trás - talvez fosse aquele louco novamente - viu a dez metros de sua direção um homem muito magro usando uma tiara azul, que circundava sua cabeça calva, usando meias que iam até os joelhos e um tênis colorido, e para completar, um short muito curto que não chegava até a metade das coxas. O homem caminhava junto a um cachorro que parecia ser maior do que ele e possuía muito pelo branco, parecendo um leãozinho. Victor se virou novamente para o prédio vendo que era só um daqueles malas que passeiam com os cães a noite ou na madrugada, mas esse parecia ser o pior de todos, e rezava para não ter de alguma forma conversar com ele.

– Olá Francis! - disse animadamente o homem magro que já estava ao seu lado batendo animadamente em suas costas com um dos braços enquanto o outro segurava a coleira do cão. - Você por aqui? Quem diria que isso poderia ocorrer! Uma sorte e tanto não acha? - continuava o homem sem deixar em nenhum momento Victor responder - Agora você, eu e Charlie poderemos caminhar juntos a noite toda, realmente, uma grande sorte encontrar você pelo caminho! Mas o que você faz aqui? - dizia o homem - Deixa eu adivinhar, brigou com Amelia? Claro que foi isso! Se não fosse, o que mais poderia ser? Você não é do tipo que faz exercícios, podemos ver isso pela sua barriga e pelo fumo, nós odiamos fumo! Não é mesmo Charlie? - disse se voltando para o cão, que parecia alheio a conversa isolada do seu dono. - Como vai a horta de Amelia? e Oliver? Vendo a sua cara não parecem que vão bem.

Pausando a fala daquele homem magro, a cabeça de Victor começava a doer, não por um problema decorrente de alguma outra coisa mas sim de irritação. Aquele homem não parava de falar, e por um momento pensou que não seria tão ruim assim ser preso por um crime hediondo naquela realidade em que se encontrava.

– Olha aqui amigo - disse Victor parando a caminhada abruptamente e se virando na direção daquele homem, agarrando ele nos ombros com as duas mãos - Eu não conheço você, a horta da Amy não é de sua conta, fumar é um problema meu assim como meu excesso de peso e se você não fechar esse poço de esterco que chama de boca eu juro que chuto esse cachorro até o topo daquele prédio - disse apontando para o colosso no centro da pequena cidade - capiche?

Mesmo tecnicamente ameaçando o cão, ele não tinha nada contra cães em geral, mas sabia que aquele mala devia gostar muito desse animal e pelo menos pararia de falar se falasse algo assim, e realmente funcionou. O homem, que parecia conhecer ele a algum tempo, se sentiu ofendido, e se soltou dos braços de Victor continuando a caminhada com o cão enquanto resmungava alguma coisa para si mesmo, e Victor permaneceu parado no meio da rua, olhando a partida daquela companhia desagradável. Depois daquilo, ele não esperava mais encontros assim pelo resto daquele dia e do próximo, mas infelizmente, isso não seria possível como vem a se mostrar.


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