Ele deslizava as costas de sua mão, sempre quentes, por minha tez. Como em certa dança dramática numa peça de teatro qualquer, ele apenas possuía meu toque. Porém, aquela simples conexão superficial era revestida de um oceano de significados, e o que ele mais buscava, era meu perdão. Perdão por sua traição, imperdoável. Falava, mas os sons que saíam de seus lábios como voz, para mim saíam como silêncio. Por um instante pensei em olhar em seus olhos, mas eu ainda não tinha fôlego e audácia para tal façanha. Meu coração era acompanhado de batimentos tardígrados, que assumiam lentidão a cada segundo que eu permanecia naquele baluarte de escuridão. Meus olhos fitavam o chão, uma angústia infindável cobriu meu corpo, me afastei, com meus passos arrastados tentando evitar ruídos, e tomei fôlego para expressar minhas palavras. "Adeus". Inclinei minha face e deparei-me com seu semblante. Permanecia indiferente, como quando nos conhecemos e exatamente como fomos desenvolvendo nosso relacionamento. Movi meus lábios para despedir-me, mas não saira som algum. Perdi minhas forças, e fui a declínio rumo ao chão. Tentava absorver alguma quantidade de oxigênio, mas era apenas mais uma tentativa de força que eu mantinha para permanecer viva, sem obter resultados. Fui perdendo meus sentidos e logo o que via era apenas escuridão. O vazio. A dor de não poder sentir a brisa contrastando com meu corpo, era desesperadora. Eu buscava algum refugio dentro de mim, mas estava sozinha. E em meu último segundo de vida, pude ouvir as únicas palavras que fui capaz de ter, de sentir.

"Em qualquer lugar que você esteja, eu vou te amar pra sempre."

E as lágrimas que eu possuía, agora ficariam para sempre comigo. Secas. Em meu coração.

vocabulário - 
tez - pele
audácia - coragem 
tardígrados - lentos
baluarte - fortaleza, paraíso
semblante - expressão