O REENCONTRO

"Saiba que a pressão não vai acabar, e você tem a escolha de se lamentar e se esconder para sempre como a antiga Claire faria, ou erguer-se, preparar-se e enfrentar tudo o que está por vir em nome de Classic Constant e de todos que precisam disso, como os seus pais fariam. Isso só depende de você."

Após outra breve parada para repouso, pouco tempo após o pôr-do-sol, a princesa Claire e o cavaleiro Vladimir seguiram cavalgando ainda mais determinados e persistentes.

– Reconhece aquela torre ali? Estamos chegando ao reino de Classic Constant. – Vladimir apontou.

– Não, não. – O sol irradiava o rosto da princesa enaltecendo os seus olhos claros. Ela sorriu bastante aliviada e continuou – Estamos chegando ao meu lar.

O rei continuava instável. Aquele estado era tão constante que nem os próprios curandeiros se demonstraram esperançosos mesmo após tantos esforços. A verdade é que eles não sabiam mais como prosseguir com o tratamento, o que abalou o psicológico de cada um. E esta fraqueza foi a oportunidade perfeita para o ardiloso Marcos Light agir.

– O que tinha de ser feito já foi. Nós sabemos o destino dele, precisamos aceita-lo. – Marcos delatou.

– O mordomo e a secretária do rei nos procuraram porque éramos os melhores curandeiros do reino, não podíamos falhar. – Um integrante da equipe tomou a frente e lamentou.

– Ainda podemos reverter esta situação!

– Como, Doutor Light? Qualquer solução pode ser útil considerando as circunstâncias. Diga-nos!

– A erva dorsal! Confiem nos meus conhecimentos, é a nossa última chance de reverter a conclusão que estamos prestes a ter.

– Não! Seria como envenenar o rei. Nenhum de nós tolerará isso! – Um médico gritou relutantemente.

– Sem tempo para mais joguinhos. – Marcos dirigiu-se a um mostruário com adagas na parede e retirou ambas cuidadosamente – O plano era que o tratamento desse errado e o rei morresse intoxicado de uma vez por todas. Não haveria culpados e nem suspeitos. Seria um crime sigiloso e quieto, contudo, em Classic Constant parece que tudo deve ser resolvido da forma mais difícil, não é? Agora eu serei obrigado a tomar precauções que eu estava evitando tomar, e será tudo por culpa de vocês.

– O que você está insinuando? – Interromperam-no.

– Eu estou insinuando que os meus planos mudaram, e como um bom mercenário, num piscar de olhos retalharei todos vocês antes mesmo de vocês pensarem em agir. Em seguida matarei o rei fisicamente, e não por envenenamento. – Marcos ergueu as adagas já impaciente.

– Você é louco!

– Talvez. O único problema aqui é que o crime não será ocultado, claramente classificarão como um homicídio, e não irá demorar para as tropas do reino caçarem a minha cabeça. Mas querem saber o barato dessa caçada? Eu vou me sentir extremamente lisonjeado!

Com um sarcástico e ansioso sorriso no rosto, o mercenário decepou cada curandeiro sem o mínimo de repulsa. Muito ensanguentado, ele se dirigiu à cama de François, aproximou-se do seu ouvido e sussurrou: “É um recado dela, pena que você não irá compreender.”, então encostou ao pescoço do rei uma das adagas.

– Nem mais um movimento! – Uma voz afirmou com firmeza.

Marcos riu, desencostou a adaga, levantou os braços e olhou para trás.

– Sério? Um Bobo da Corte? Essa é a melhor defesa do reino? – Ironizou com desdém.

Henri, o Bobo da Corte, estava com uma espada erguida diretamente contra o assassino.

– Um rapaz que não sabe comer com molho de tomate quer medir esforços comigo? Não zomba não! – O bobo humorizou.

– Não é molho, meu caro. Olhe todos esses corpos a sua volta, é sangue.

Em apenas uma conferida ao seu redor, o Bobo se espantou e tremeu com a espada ainda apontada.

– A quem você quer enganar, palhaço? Olhe para si mesmo: pés juntos, braços esticados, mãos trêmulas. Você é incapaz de matar! – O mercenário largou as adagas - Darei essa honra a ti, daí você pode dizer que salvou a vida do rei enquanto nós dois sabemos da verdade.

– O que você quer dizer?

– De fato o rei merece uma morte maior que essa, e não sei se é a mim que cabe pontuá-la. Considere isso como um “até logo”, porque com certeza nos veremos em breve.

Marcos passou por Henri e foi embora sem nenhuma preocupação. O Bobo tremeu tanto que derrubou a espada, ajoelhando-se e, pela primeira vez, chorando. Minutos depois, o barulho da porta ao ser aberta chamou a sua atenção. Assim que dirigiu o olhar, ele foi surpreendido por alguém pulando em cima dele.

– O que está acontecendo? – Gritou desesperado.

– Eu estava com muita saudade do meu bobinho! – Claire afirmou com um sorriso fluorescente.

Henri ficou estático e incrédulo, mais uma lágrima escorreu de seu rosto e ele correspondeu apressadamente ao abraço apertado da princesa.

– Eu não acredito que você está aqui.

– É uma longa história! Eu jamais iria para longe de vocês. Mas e o Marcos?

– Outra longa história! Mas não é problema nosso por enquanto. Como você está? Você está bem? Que traje é esse? Claire, eu não consigo seguir em frente sem você.

– Que bobo mais bobinho, né? Nós somos inseparáveis, entendeu? Inseparáveis! Eu não digo isso a qualquer um, mas eu te amo, Henri. Eu te amo profundamente!

Naquele momento Henri e Claire pareciam felizes e satisfeitos, como se toda a circunstância pudesse ser minimizada pelo afeto inegável entre eles, todavia, bastou um olhar da princesa ao redor para a virtude do reencontro sucumbir. Corpos, sangue, armas e, finalmente, seu pai inconsciente. As lágrimas de ternura se tornaram rapidamente em lágrimas de frustração e desespero. O cenário em sua totalidade a espantou, porém, ver o pai no estado em que se apresentava a desequilibrou de corpo e alma. Ela sentou ao lado do pai e chamou pelo seu nome freneticamente por longas horas. Billy não demorou muito para despertar. Ainda com dor, ele se juntou a Henri e Vladimir na intenção de acalmar as coisas no castelo, melhorar o ambiente do quarto, e, especialmente, dar o tempo necessário à princesa para conseguir estabilizar tudo o que havia acontecido. Em uma caverna localizada fora do reino, Boêmia se encontrava sentada em um trono de pedra esculpida, onde recebeu um rapaz.

– Cheguei, majestade. – Ele se curvou.

– Ora, ora! – Boêmia aplaudiu – Completou o seu trabalho, querido Marcos?

– Eu tive uma série de imprevistos. Só consegui matar uma equipe de médicos. O rei saiu ileso, mas considerando o estado dele, ele não deve durar muito. A princesa, o mordomo e o palhaço conhecem a minha identidade e sabem o que eu fiz.

– Então no fim você foi um total fracasso, não é? Esperei horas e horas para saber que você não conseguiu matar o rei, e ainda foi descoberto. Tudo bem, se você não fosse o meu melhor caçador de recompensas eu já teria te dado um fim, mas seus serviços ainda podem ser úteis para mim. Deixa eu me resolver com a família real: a princesa e o rei, porque eu tenho outros planos para eles. Quanto ao mordomo e ao palhaço, apenas mate-os e acabe logo com isso.

– E quanto ao cavaleiro? Dizem que ele é amedrontador.

– O Vladimir? A ordem de realistamento que forjei deve ocupa-lo por um tempo. Um cavaleiro que recusa se realistar às tropas é desonrado pelo povoado, e considerando o que vim observando dele, ele quer levar honra ao seu povo. A nobreza dele é a sua maior fraqueza. É uma ameaça controlável.

– Então vamos apenas aguardar a próxima oportunidade de atacar e ficar alerta às providências de Classic Constant aos nossos homicídios.

– E tudo ocorrerá conforme o planejado.

Billy entrou no quarto que apenas Claire e François estavam, ele pensou que talvez a sua sabedoria pudesse confortá-la.

– Princesa?

– Só me chama de Claire, sabe? – Ela respondeu com dificuldade.

– Eu sei o que você está passando, também me dói. Foram anos e anos servindo ao seu pai, ele não só me tirou da vida pobre de camponês, como me deu uma razão para viver. Ninguém precisa reforçar que François é um cara de tamanha generosidade e piedade, tais valores tão abundantes que são capazes de contagiar todo um reino. Como fez comigo, com a sua mãe, e como fará contigo. Está quase na hora de você suceder o trono e saber de muita coisa não revelada sobre o sangue que você carrega nas suas veias, e algo no fundo do meu coração diz que você está mais preparada do que nunca. Às vezes a vida esconde as nossas virtudes para que não caiamos em estabilidade, para que prossigamos com as mudanças, para que sejamos obrigados a simplesmente viver.

– Isso é tudo? Porque eu realmente não estou preparada para um discurso de autoconfiança para assumir o trono, guarda para outra hora. – Claire rebateu.

– Você não entende? Os seus pais, o Henri e tudo a sua volta carrega um acontecimento que foi privado de você por segurança, mas que está na hora de ser desvendado! Esses ataques, a parte revelada da morte da sua mãe... Tudo. Preste atenção, use o tempo que precisar, porém saiba que a pressão não vai acabar, e você tem a escolha de se lamentar e se esconder para sempre como a antiga Claire faria, ou erguer-se, preparar-se e enfrentar tudo o que está por vir em nome de Classic Constant e de todos que precisam disso, como os seus pais fariam. Isso só depende de você.

Vladimir e Henri entraram no quarto com a notícia de que identificaram uma morte nas redondezas do reino, e era o corpo de Lisa. A notícia impactou Billy e Claire simultaneamente, o mordomo desesperou-se e Henri o abraçou como forma de consolo, a princesa Claire respirou fundo, levantou-se da cama pela primeira vez após horas e seguiu até Billy, onde colocou a mão em seus ombros ainda cabisbaixa.

– Preciso encontrar alguém para assumir o trono junto a mim, então vou aproveitar o pouco tempo que me resta. Entretanto, estou preparada para saber toda a história da minha família, chegou a hora de contra-atacar. – Claire decretou com a garganta seca.

A declaração da esbelta e valente garota surpreendeu instantaneamente Billy, Henri e Vladimir, porém, Billy havia ficado tão abatido com a notícia de Lisa que não a respondeu, até que uma voz se rebelou e acabou com o silêncio momentâneo.

– Essa é a minha garota. – François sussurrou com orgulho.