Relatos Sobre o Homem Esguio escrita por Van Vet


Capítulo 2
Capítulo 2 - Jonas




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Olívia está se dando bem com meus amigos, Ricardo e Fernanda. Já percorremos há duas horas e meia na estrada e a conversa continua animada. Estamos todos cheios de gás para a investigação. Fernanda faz o tipo medrosa e espantada, mas na companhia do namorado consegue relaxar bem mais. Ricardo tem um poder tranquilizador sobre ela de um modo que eu nunca consegui trazer para minhas ex-namoradas. Sou como minha irmã, uma personalidade prática e solitária.

Finalmente eu avisto um posto de gasolina e paro para comermos algo antes de percorrer a meia hora restante de viagem. Enquanto encho o tanque e os outros caminham para dentro do posto de conveniência, olho para a imensa escuridão que se insinua para além da estrada. Colinas e mais colinas de negridão. Bueno Brandão é uma cidade feita daquele tipo de paisagem e, em algum lugar, Felipe se perdera para sempre nela, como se uma fenda tivesse se escancarado no chão e o engolido; Ou o desaparecimento poderia ter um motivo bem menos interessante, o que é pelo qual infelizmente estou pretenso a acreditar. Sequestro? Assassinato? Fuga? São todas as possibilidades, e mais ainda as que cercam um relacionamento a dois. Até onde a imprensa foi ousada em relatar e a policia passiva em responder, Natasha não possui antecedentes criminais e, segundo depoimentos, se dava magnificamente bem com Felipe. Teoricamente não poderia ser ela a culpada pelo sumiço do rapaz.

— Tanque cheio, moço! — o frentista me avisou. Desliguei-me da paisagem adiante, paguei pelo combustível e segui para junto de minha equipe.

Comemos alguns salgados com refrigerante e retornamos para nosso destino. A viagem tornou-se menos monótona a partir dali. Não demorou ao asfalto dar lugar a terra batida. Olívia avistou seu celular e comentou ansiosa:

— Meu visor já está marcando que estamos em Minas Gerais.

— A estrada também. — debochou Ricardo no banco de trás.

Tive de reduzir a velocidade, afinal meu singelo carro não era feito pare enfrentar aquela buraqueira. No balanço do veículo fomos contornando uma trilha estreita e brutamente escura.

— O GPS não funciona por aqui. Olívia, fique ligada nas placas para mim.

— Que placas? — ela me fitou como se estivesse lançando-lhe um desafio absurdo.

— As que nós vamos torcer para que a prefeitura da cidade tenha colocado.

— Meu Deus, quem consegue morar ali?! — horrorizou-se Fernanda se referindo a um casebre decrépito de luzes acesas no meio de um pasto longínquo.

— Você é muito urbana, amor. — Ricardo repreendeu-a — Nem todos precisam de um fast-food na esquina para sobreviverem.

— Quer dizer que você conseguiria, espertinho? Sem internet, sem nem vizinhos...

— Eu os admiro, apenas isso. Sei que não conseguiria também.

— Acho que perdemos nossas origens com todos os confortos da modernidade. Perdemos muito... Olhem para o céu. Quando foi que conseguiram ver tantas estrelas reunidas, sem a interferência das luzes das cidades e da poluição? Eu posso até ver As Três Marias e o Cruzeiro do Sul... — minha irmã romanticamente argumentou.

Fernanda e Ricardo abaixaram seus vidros e colocaram as cabeças para fora, averiguando o que Olívia dissera. Eu também espiei para além do para-brisa, sentindo a nostalgia me invadir ao lembrar-me do passado, quando eu e minha irmã ficávamos observando o céu em busca de discos voadores, nas férias escolares, no sítio do meu avô no Mato Grosso.

Para o meu alívio, as placas indicando a proximidade a Bueno Brandão surgiram. Tive medo de me perder naquele labirinto noturno e não encontrar ninguém para pedir informações, visto que nenhum carro passou por nós na estrada. Olívia também vibrou, batendo palmas quando a terra foi substituída por paralelepípedo e, de fato, adentramos a área povoada da cidade mineira. O GPS apitou, retornando a funcionar.

— Onde fica o hotel? — quis saber Fernanda.

— Estamos indo para cachoeira já, Fer. — brinquei.

— Claro que não. Ainda não me preparei psicologicamente e... Vamos de dia até lá, não é?

Rimos todos do desespero dela.

— Hoje nós ficamos no hotel, já está tarde demais. Amanhã começamos as entrevistas e a tarde passamos para investigar a região. — Olívia a tranquilizou.

— Mas bem que seria maneiro irmos lá no horário em que carinha sumiu. Tipo, daqui a quatro horas. — Ricardo provocou descaradamente sua namorada. Pelo retrovisor vi como ela lançou-o um olhar feio.


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