Ferb's Lament escrita por Luna Scarwolf


Capítulo 1
Obrigado, meu irmão


Notas iniciais do capítulo

Essa fic inteira me veio a cabeça vendo algumas imagens sobre a série....... Espero que gostem... ^^



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Eu me lembro de poucas coisas do inicio de minha infância. Lembro que eu era realmente feliz, vivendo junto com mamãe e papai, sempre brincando com os dois, sabendo que eles cuidariam de mim quando eu precisasse.

Mas depois, tudo desmoronou. Eles começaram a brigar. No inicio, eram apenas pequenas discussões quando achavam que eu não estava vendo. Então vieram os gritos no meio da noite. Sempre que começavam, eu me enrolava nos cobertores, pressionando o travesseiro em minha cabeça, tentando não ouvir.

Mas teve uma noite, em que não ouve gritos. E ainda assim, aquela foi a pior noite da minha vida. Eu tinha acabado de ter um pesadelo e corri para o quarto deles, querendo os braços de minha mãe, apertando meu urso contra mim. Mas quando comecei a abrir a porta, encontrei os dois sentados na cama, conversando. Minha mãe tinha as mãos no rosto e chorava. Eu queria entrar e a abraçar, mas algo me impedia de fazê-lo.

– Eu não suporto mais isso. – Ela disse.

– Mas querida...

– Não. Não da mais. Por favor, vá embora. – Sussurrou. Eu quis gritar para ela não fazer isso. Não queria me separar do papai.

Ele fechou os olhos, apertando os punhos. Parecia triste.

– Tem certeza de que é isso o que você quer? – Perguntou a ela.

– Tenho. – Ela respirou fundo e tirou aos mãos do rosto, o encarando. – Saia desta casa. E leve Ferb com você.

Nessa hora deixei cair o brinquedo que eu segurava, fazendo com que os dois me vissem ali. O rosto de minha mãe não mudou, mas meu pai pareceu assustado.

– Ferb. – Sussurrou ele, mas eu o ignorei e corri para meu quarto, me atirando nos cobertores e comecei a chorar.

Pouco depois disso, papai sentou ao meu lado e conversou comigo. ele me explicou que ele e a mamãe estavam se divorciando e que ela não teria como cuidar de mim. Contou-me que nós iríamos para a casa dos meus avós e prometeu que minha mãe me visitaria todos os fins de semana.

Lembro que na primeira semana, no sábado de manhã eu me sentei em frente a casa, esperando o momento em que mamãe apareceria para me buscar, mas ela não apareceu. Nem no fim de semana seguinte, ou no próximo.

Depois de algum tempo, eu desisti. Me trancava em meu quarto e passava as tardes lá. Eu fazia meus próprios brinquedos com qualquer coisa que eu tivesse no momento. Ainda assim, não me sentia feliz. Em algum momento, parei de falar. Não abria a boca para mais nada que não fosse para comer. E mesmo assim, papai estava sempre ao meu lado, tentando, mesmo que sem sucesso, ajudar-me a superar.

Então veio a noticia: meu pai iria se casar novamente. Ele me contou que a sua esposa morava bem longe dali e que nós iríamos morar com ela. E que ela tinha dois filhos, sendo que eu deles tinha a minha idade, um pouco mais novo. Fiquei assustado no início, mas meu pai disse que seria bom para mim, que agora eu teria um irmão. E isso me animou um pouco.

Depois de alguns dias, fomos para a casa deles, em uma cidade chamada Denville. E conheci minha nova família. Minha mãe, Linda, era maravilhosa. Cuidava de mim do mesmo modo do que de seus filhos, como se eu também fosse um deles. Candace era estranha, e sempre pegava no nosso pé, mas eu a adorava. E tinha também Phineas.

Foi algo estranho. Desde a primeira vez que o vi, eu sabia que ele seria alguém importante para mim. E foi o que aconteceu. Nos tornamos melhores amigos, realmente irmãos. Ele era o único que não havia comentado nada sobre meu silêncio, e sempre soube como me interpretar. Não precisávamos de palavras para conversar. Eu sempre havia me sentido sozinho, quase sem vida, mesmo ainda sendo tão pequeno. Mas agora eu sabia, que mesmo se o mundo se virasse contra mim, ele ainda estaria ao meu lado. Quando Phineas apareceu, eu senti a esperança nascer em mim. Esperança de um dia, poder sorrir e agir como uma criança normal outra vez.

Lembro de que nas primeiras noites em sua casa, eu tinha pesadelos no meio da noite. E ele sempre me acordava no meio deles, sentava em minha cama, junto com Perry e conversava comigo até que eu conseguisse dormir. Mamãe dizia que era normal ela ir nos chamar para a escola e encontrar nós três dormindo em minha cama, algumas vezes até mesmo sentados, escorados um no outro.

Depois de dois meses morando lá, eu falei pela primeira vez, depois de um desses pesadelos. Lembro da felicidade de Phineas quando ouviu minha voz pela primeira vez. E, aos poucos fui me soltando, e comecei a falar com todos daquela casa. Era realmente bom ver o quanto eles ficavam felizes quando eu o fazia nos primeiros dias, ainda que eu dissesse apenas algumas palavras.

À medida que crescíamos, mais pessoas se juntaram a nós. Isabella foi a primeira, quando se mudou para casa ao lado, alguns messes depois que eu cheguei. Ela tinha um jeito diferente. E era a única que gostava tanto de ficar comigo, quanto com Phineas, e logo nos tornamos inseparáveis. Os três mosqueteiros, como mamãe costumava nos chamar.

E continuamos assim, até que entramos na escola, quando Bulford e Baljeet entraram para a turma. Eles eram completamente o oposto um do outro e viviam sempre brigando. Mas ainda assim eram grandes amigos. Lembro-me de não gostar de Bulford no início, pelo seu jeito de valentão, até que um dia, eu o vi defendendo algumas crianças de um outro garoto. Desde então, passei a gostar dele, aceitando-o como um de nós, assim como o pequeno nerd que vinha com ele.

Eu lembro que nunca pensei que fosse algum dia ter amigos, mas então os quatro apareceram, e se tornaram muito mais do que isso para mim. Quando estava com eles, eu sabia ter finalmente encontrado meu lugar no mundo. Era àquele lugar que eu pertencia, e ninguém me tiraria dali.

Anos depois, quando Phineas e eu construímos aquela montanha-russa, descobrirmos realmente nosso talento, então não paramos mais. E amávamos aquilo. Desde então, passara-se dois anos. E estávamos cada vez melhores no que fazíamos. E eu realmente era apaixonado por nossas invenções.

Mas eu nunca pensei que algum dia, uma delas seria meu fim. Desta vez era algo simples. Uma casa na árvore, onde seria nosso novo quarto. Claro que com nosso toque especial de sempre por dentro, mas ainda assim, era o nosso projeto mais simples. E éramos apenas eu, ele e Isabella trabalhando naquele dia.

Não faço a menor idéia do que deu errado nos computadores durante a construção, só sei que o fogo se espalhou rapidamente, saindo de um deles.

Eu olhava assustado para as chamas, sem entender o que as originaram.

– Ferb. – Phineas gritou, chamando-me. Eu continuava parado, encarando o fogo que avançava. O que eu havia feito? Onde eu tinha errado? – Ferb, vamos. Temos que sair daqui, irmão. – Tentou novamente e olhei para ele, que parecia estar fraco por causa da fumaça. Isso foi o suficiente para me “acordar”.

– Vamos. – Concordei e começamos a procurar a saída. Percebi que Isabella não aguentaria por muito tempo ali, então, antes que ela desmaiasse, a peguei no colo, correndo ainda mais. Olhei para a porta, esperançoso, mas o fogo já bloqueava a saída.

Eu podia ouvir a voz de Candace lá de fora, gritando com mamãe no telefone e implorando para que ela viesse para casa. Baljeet e Bulford também estavam lá, tentando vir até a casa, mas sendo barrados por policiais que haviam entrado. Junto com eles também estava Vanessa, que segurava Perry contra si, enquanto ele se sacudia, tentando se livrar dela. Senti meu peito se apertar ao vê-la com lágrimas em seu rosto e quis poder estar lá para secá-las.

– E agora? O que vamos fazer? – Phineas gritou. Isabella já estava desacordada em meus braços.

– Eu não sei. – Respondi, tentando pensar em uma solução. Eu precisava salvá-los, não importava como. Então eu vi pela janela, as garotas companheiras. Todas olhando assustadas para onde estávamos e preparando uma rede para que pudéssemos pular.

Olhei para a janela, que já estava sendo cercada pelo fogo. Teríamos que ser rápidos. O lugar já estava prestes a desabar, ou explodir. Calculei nossas chances. Daria apenas tempo de passar por ela, e tudo cairia. Phineas tossiu ruidosamente ao meu lado. Foi então que entendi o que deveria fazer.

– Phineas, segure Isabella. – Gritei. Ele estava fraco, mas eu sabia que não negaria segurar a namorada quando poderia ser pela última vez. Entreguei-a para ele, que a segurou fortemente. Então passei os braços ao redor dos dois, abraçando-os forte e rapidamente. – Não importa o que acontecer, não a solte, Phin. – Pedi. Ele assentiu, mesmo sem entender.

Percebi que também estava fraco e não aguentaria muito. Então o ergui em meus braços e me aproximei da janela. Dei um leve beijo na testa de Isabella e olhei para Phineas, que finalmente pareceu entender o que eu faria.

– Ferb, não. – Sussurrou, agarrando a gola de minha camisa. Segurei sua mão, apertando-a fortemente, enquanto ele chorava.

– Amo vocês. Não esqueçam disso, por favor. E diga para Candace, mamãe e papai que eu sinto muito. – Sussurrei, então quebrei o vidro, ao mesmo tempo em arremessei os dois, para a rede das garotas, que conseguiram pegá-los. Caí no chão, sentindo meu corpo exausto, enquanto tossia.

Foi então que tudo desmoronou ao meu redor, no mesmo tempo em que a explosão soava dentro da casa. A última coisa que ouvi, foi meu nome sendo gritado por todos aqueles que eu amava, implorando para que eu me salvasse. Mas eles sabiam que já não tinha mais solução para mim.

Sorri enquanto tudo acabava, feliz por eles estarem todos salvos. Encontrei no chão, ao meu lado, uma foto minha e de Phineas, escorados um no ouro debaixo da árvore e sorri, enquanto as lágrimas escorriam por meu rosto. Puxei-a contra meu peito.

– Obrigado por tudo, meu irmão. – Sussurrei.


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