Violet Of Night escrita por violetofnight


Capítulo 1
1- Adeus


Notas iniciais do capítulo

O capitulo vai se explicando, então não fiquem curiosos se os nomes não aparecerem de cara



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Epílogo

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O céu era de um cinza profundo e melancólico. A neve caiu fina quase que imperceptível.

O mundo de repente não girava e a guerra eminente estava se alongando como uma grande cobra pronta pra dar o bote a qualquer sinal de fraqueza.

Algo quente tremia ao meu lado e eu soube que minha vida estava em algum lugar da clareira pronta para morrer por mim.

A sensação de impotência me incomodou de novo, mas dessa vez uma dor aguda me atingiu, era meu coração me avisando que eu não conseguiria viver muito tempo sem ele.

Em um instante de dor um som rasgou a floresta e num segundo já não era mais eu. E eu gostei disso.

 

 

1-Adeus

Um raio de Sol entrou pela fresta do velho sótão e tocou meu rosto. Um sorriso brincou nos meus lábios -constantemente eu não sábia porque estava rindo. Abri meus olhos para observar as partículas de poeira no ar.

Mantive o habito de fechar os olhos à noite -mesmo sabendo que não podia dormir -eu gostava do escuro e meus ouvidos se desligavam à medida que as lembranças inundavam minha mente.

A idéia de estar sonhando me agradava, fazia eu me sentir mais humana, mesmo consciente que isso era só mais uma das muitas ilusões que eu mantinha na tentativa de parecer menos um monstro.

O som do pequeno passo no primeiro degrau da longa escada me trouxe para a realidade e um arrepio passou pelas minhas costas quando a imagem do velho ancião -subindo quatro andares de escadas - se formou na minha cabeça. Um quarto de segundo se passou e eu já estava a seu lado. Com uma mão protetora sobre seu braço, me inclinei em sua direção para beijar o topo de sua cabeça quase sem cabelos.

“Sabe que não deve subir as escadas”.- eu o lembrei com olhos quase suplicantes.

“Eu sei, mas achei que você iria partir de novo” - suas palavras saíram de pressa e seus olhos miraram a madeira do chão.

Meu corpo ficou rígido como uma estatua e eu estava pouco consciente da presença do padre Antônio ao meu lado.

As lembranças da ultima partida lutavam por um espaço em minha cabeça.

Meu peito se moveu rapidamente como se o ar ajudasse a clarear a minha cabeça confusa e meu rosto se transformou numa mascara de dor e arrependimento.

Eu pude sentir os olhos frágeis do velho padre sobre a escultura de horror que meu corpo se transformou.

“Oh! Minha querida, não fique assim. A morte da irmã Matilde não foi culpa sua”.- as palavras saíram como um texto decorado -por serem dita inúmeras vezes.

Ainda assim tinha tanto calor e sabedoria que descongelou meu corpo petrificado.

Três segundos inteiros tinham se passado antes que as palavras que as palavras tomassem forma em minha mente. Mais que depressa decidi que não ia sofrer hoje. Sentia que era um dia especial.

“Tudo bem padre Antônio, foram só lembranças. Mas eu queria ter estado aqui quando ela mo...”

Um velho companheiro apareceu. O nó se formou em minha garganta e a palavra não saiu, apesar de estar ecoando em minha cabeça como um martelo em uma bigorna.

Eu estava ciente da morte da irmã, mas não consegui verbalizar a palavra que apunhalava meu já contorcido coração.

Outras lembranças vazaram para dentro das memórias da irmãzinha e antes que eu pudesse fazê-las concreta a voz cansada do padre entrou por meus ouvidos me puxando vigorosamente dos meus devaneios.

“Tem uma surpresa para o café da manhã!” - Padre Antônio falou numa voz divertida, provavelmente sabendo que eu ia gostar da novidade.

Puxei seu braço o mais delicadamente que pude -seu corpo já era suficientemente frágil sem a ajuda de minhas mãos de aço - e começamos a caminhar vagarosamente em direção a cozinha.

Quando a curiosidade invadiu meus pensamentos, me virei casualmente em sua direção e falei:

“Que tipo de surpresa”.

Tentei colocar um tom desconfiado, mas acho que não o convenci. Ele sabia que eu adorava surpresa. Definitivamente não era fácil sair da rotina num mosteiro.

Talvez fosse por isso que eu gostava tanto das viagens, sempre há muitas coisas pra se ver, lugares a visitar e velhos conhecidos a rever, mas já tinha uma década que eu não saia do país.

Entramos pela porta e minhas pernas congelaram com a surpresa.

Da grande janela da cozinha dava pra ver o curral e uma grande vaca comia tranquila.

Uma risada estrondosa se desprendeu do meu peito e então encarei seu rosto com olhos de repreensão como quem olha pra uma criança suja de chocolate.

“O que foi?” - ele respondeu de pressa. “Estou com vontade de comer carne essa semana”.

Eu continuei encarando seu rosto e disse pacientemente: “Você não devia gastar o dinheiro dos fieis com vacas”. -Eu dei um grande suspiro, não costumava ser eu a dar bronca.

Ele fez uma cara de ofendido.

“Sabe que não faço isso”. -ele falou ainda carrancudo.

Um sorriso pretensioso tomou conta de seu rosto e com uma dose de arrogância ele falou: “Alem do mais foi um presente”.

“De quem?” -meu rosto era um misto de surpresa e curiosidade. Não havia muitas almas caridosas quanto padre Antônio gostava de pensar.

“Tem certeza que não sabe?” -seus olhos ainda petulantes me lembraram de um nome que eu gostaria de esquecer.

Um rosnado saiu do meu peito e antes que eu pudesse explodir em palavrões e ofensas o padre se apressou em esticar um envelope.

“Dessa vez veio com um bilhete”. -sua voz soou calma e controlada. Ele começou a andar quando percebeu que eu já tinha pegado o bilhete.

Passei os olhos cautelosamente sobre o luxuoso envelope, ele carregava o pomposo brasão dos Volturi. Bufei silenciosamente fechando os olhos e passei a mão sobre o símbolo do lacre. Ele me trazia inúmeras lembranças. Nenhuma que fosse páreo para minha curiosidade.

Rapidamente rasguei o envelope e peguei o pequeno bilhete, reconhecendo a caligrafia imediatamente. A constatação me fez sorrir. Quem além dele me enviaria qualquer coisa?

Respirei fundo e li cada palavra atentamente.

 

Minha cara Alex,

A muito não tenho noticias suas então resolvi

mandar um pequeno lanche para que venha me visitar.

Tenho novidades sobre os clans vegetarianos da

América te, sei que ainda procura um.

P.S: Ainda vejo seus olhos violeta à noite.

Por favor, venha ao meu encontro.

Marcus

 

Bufei impacientemente nas duas ultimas frases.

O que a com ele? Nos já tivemos esse tipo de conversa antes e décadas depois ele ainda me atormentava com esses sentimentos que já deveriam ter sido esquecidos, mas essa dos clãs vegetarianos é nova. Será que ele fala serio dessa vez ou é só mais uma tentativa de me fisgar -seja como mulher ou reforço pra guarda -como se isso tivesse alguma chance de dar certo.

Eu nunca vi Marcus como um grande amante e seus 'irmãos' sempre me viram mais como um tiro pela culatra, do que uma arma de guerra.

Não me dou muito bem com autoridades e como eles nunca conseguiram me curvar, decidiram me deixar ir. Para o bem da guarda e a sanidade de Marcus.

Escutei o coração do padre Antônio perto do grande coração da vaca. Quando cheguei ao celeiro ele acariciava cuidadosamente o animal.

Sem olhar em minha direção ele murmurou pra si mesmo.

“É. Acho que vou ter que esperar pra comer carne”.

“Prefere o leite?” -minha voz saiu quase afirmativa.

“Oh! Você está ai!” -ele se assustou e levou a mão ao peito.

Coloquei a mão na boca pra abafar uma risada.

“Então? Se afeiçoou pela vaquinha?” -questionei.

“É difícil não pensar assim, com ela nesse estado” -o padre fitou meu olhar confuso e arfou sem muita paciência.

Ele pousou uma mão sobre a barriga da vaca e estendeu a outra convidativamente na minha direção.

Eu dei um passo pra frente e a vaca se encolheu no canto e a risada que eu estava prendendo escapuliu do meu peito.

O padre se curvou um pouquinho em direção ao ouvido da vaca e sussurrou:

“Fique calma! Ela não vai te machucar”.-ele me olhou com uma risadinha.

“Não prometa o que não pode cumprir”. -eu o adverti.

Ele revirou os olhos impacientemente e esticou os frágeis dedinhos entre o espaço que nos separava, alcançando minha mão inerte. Não resisti ao seu fraco puxão e me aproximei da tensa vaca.

“Você ainda não consegue ver?” -ele me questionou curiosamente.

Pra ser sincera não via nada alem da minha sede, que crescia dentro do meu peito a essa altura.

O forte coração pulsava a minha frente e o sangue quente do animal fazia minha boca se encher de veneno, meus olhos estavam negros com a fome, já havia quatro dias que eu não me alimentava e da ultima vez não foi lá um banquete.

Se o padre Antônio não tivesse me questionando tanto eu ia ficar feliz em devorar a pobre vaca.

“Veja além da sua sede” -ele grunhiu impaciente.

Respirar fundo não ia ajudar muito agora, então sacudi a cabeça tentando clarear a mente. Apertei os olhos me fixando na massa de carne abaixo das nossas mãos entrelaçadas.

No começo era só um zumbido baixo e rápido depois começou a tomar forma.

Um estalo sacudiu minha mente e eu puxei minha mão depressa -tomando cuidado para não quebrar a mão frágil do padre.

“Ela está prenha?” -eu arfei.

“Está no começo, mas isso muda nossos planos, quer dizer os meus”. Ele era tão confiante que não dava pra duvidar.

“E quais são meus planos exatamente?”.

Não importa qual seria a resposta dele, sabia que era mais uma ordem que um palpite.

“Você vai se alimentar bem e seguir seu caminho”.-revirando os olhos ele me arrastou pela cozinha.

“Acho melhor eu ficar. Vocês ainda precisam de proteção”.-eu tentei argumentar.

“Querida você não pode salvar a todos. Essa é a tarefa de Deus e até aqui ele não deu motivos para nós duvidarmos dele, não é?” -ele rapidamente venceu a batalha.

Ele colocou as pontas dos dedos sobre meus lábios de granito -ele já estava acostumado com a textura e a temperatura da minha pele -cessando a conversa.

Sorri gentilmente. Fechando os olhos pausei as mãos sobre seus ombros e me livrando de seus dedos dei um beijo no topo de sua careca quente.

O velhinho respirou fundo e com um pigarro interrompeu a cena comovente.

“Vamos, vamos! Tenho uma missa a fazer e você muito que comer”.-ele inspecionou a batina e foi em direção a capela resmungando.“Não se esqueça! Ainda quero comer carne. E traga comida pra vaca”.-ele gritou pela distancia -como se eu não pudesse ouvi-lo.

“Sentirei sua falta”.-as palavras saíram por debaixo do meu fôlego.

Ele já estava fora do meu campo de visão, mas pude ouvir um leve suspiro.

O padre Antônio não era muito dado a sentimentalismos, mas sei que ele me amava tanto quanto eu o amo. Como ele dizia, eu já deveria estar acostumada com as despedidas, já as tinha feito centenas de vezes.

Suspirei e o cheiro da vaca queimou minha garganta -o que me fez lembrar de comer-, mas antes que eu pudesse me alimentar havia muito trabalho a ser feito no convento, então decidi me apressar e começar a limpar tudo, mas antes eu tinha que comprar a comida da vaca.

 

 


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Notas finais do capítulo

Espero que gostem esse é só o primeiro... Tenham um pouquinho de paciencia pois ainda vou digitar o segundo.
um forte abraço e beijo a todos.
Ah comentem!Ü