Talvez... escrita por BlackLady


Capítulo 1
One-shot


Notas iniciais do capítulo

Essa é o meu primeiro one-shot e eu espero que esteja realmente bom.Aproveitem.



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O sol estava a pino, brilhando forte e majestoso, mostrando todo o seu esplendor. Era muito desconfortável. O calor era insuportavelmente incômodo.

Esse, talvez, fosse um motivo para ficar em casa. Tomar algo bem gelado e aproveitar a rede estendida na varanda da minha casa, mas não. Eu não podia.

Por várias razões: eu o amava; nós estávamos sem nos falar a semanas; nós escolhemos ficar sem nos falar por semanas; ele achava que eu tinha traído sua confiança; eu achava que ele não confiava em mim. Enfim, tínhamos brigado por um absurdo muitos dias atrás e agora ele me chamou para conversar.

Esse, talvez, fosse outro motivo para eu ficar em casa.

Não havia ninguém nas calçadas nem carros nas ruas. Eu caminhava só em direção a casa dele. Meus amigos não conhecem Pedro, o meu namorado, porque ele não gostava muito de sair. Não mais. E quando souberam que eu e ele havíamos brigado, perguntaram o porquê, já que sempre fomos muito unidos.

Ele acreditara em fofocas e invenções sobre uma suposta rejeição da minha parte, depois que ele sofrera um acidente de carro. Eu não sei se era certo eu ter sentido raiva ou mágoa, mas eu não consegui evitar. Nem isso e nem as lágrimas. Eu detesto chorar na frente de alguém, ainda mais na frente de quem me fez sentir vontade de chorar.

As casas, quase todas no mesmo estilo, só eram diferenciadas pelas cores. A orla da praia mais famosa da cidade cintilava no outro lado da rua. E foi numa dessas casas, uma de cor branca, que eu parei. Olhei para a porta de madeira escura e ponderei voltar para casa.

Talvez eu não devesse ter vindo.

Talvez eu não devesse bater.

Talvez ele não devesse abrir a porta antes de eu bater pela segunda vez.

Talvez ele não devesse me olhar como se todo o amor do mundo se misturasse com todo o arrependimento do mundo.

Talvez eu não devesse retribuir esse olhar com mágoa.

– Talvez você deva entrar – sugeriu ele com aquela voz aveludada, mas ainda rouca – Está muito quente aí fora.

Ele afastou sua cadeira de rodas para me dar espaço para passar pela porta. Pedro não desviou a atenção de mim, fitando meus olhos castanhos com seus olhos verdes, mas quando viu que estava me deixando sem graça, desviou o olhar, passando a mão nos cabelos negros.

Sim, eu ainda corava quando ele me olhava. Certas coisas parecem nunca mudar.

– Vamos para o meu quarto – disse – Assim não corremos o risco da minha mãe vir ouvir nossa conversa.

– Não pretendo demorar – declarei.

Ele esperou caminhar a sua frente e eu o fiz. Resisti a vontade de olhar para trás quando ouvir as rodas da sua cadeira rolando sobre o piso de madeira. Apesar do clima pesado, eu esperei ele entrar para fechar a porta. Quase não virei para olhá-lo.

– Sente-se – pediu.

– Vou ficar em pé.

Ele suspirou – Tudo bem – ele olhou para os lados como se procurasse alguma coisa. Estava obviamente nervoso – Eu queria... queria pedir desculpa pelo o que eu falei.

– Tudo bem, está desculpado.

– Não estou, não. Eu conheço você, Gabriela. Eu... – ele passou a mão no cabelo de novo – Senta, por favor. Eu acho estranho ter que conversar com você olhando para cima.

Queria não ter que dizer que me compadeci, já que Pedro não gosta de pena. Sentei-me na cama dele, tentando não pensar em fatos passados que ocorreram sobre esse colchão. Pedro ergueu o corpo com os braços e eu quis me oferecer para ajudar, mas o olhar que ele me lançou dizia que ele já se acostumara a nova condição, embora recente. Ele se pôs ao meu lado, virando o corpo para a minha direção.

– Eu quero que você olhe nos meus olhos – falou ele – e diga se eu realmente estou perdoado.

Demorei para virar minha atenção para ele, mesmo que meus olhos implorassem para encarar o mar que jorrava de sua íris. Assim que levantei a cabeça, não pude mais esconder o que sentia.

– Você me magoou.

– Eu sei – respondeu Pedro, soando arrependido – Eu sei e eu sinto muito. Eu quero... eu preciso saber o que fazer para você me perdoar. Nós nunca brigamos dessa forma e eu não sei o que fazer.

– Nós nunca brigamos dessa forma porque você nunca foi tão idiota.

– Eu estou paraplégico!

– E isso é desculpa para você agir como quiser?

– Não, mas eu sei que não é a mesma coisa de antes.

– Porque não seria?

– Porque você não é obrigada a passar o resto da vida aturando um inválido.

– Claro que eu sou! – me levantei – Eu sou porque eu não suporto passar mais um dia nessa tristeza. Eu sou obrigada por mim mesma. Pelo meu próprio coração. Pedro... – cheguei perto dele e me ajoelhei na sua frente. Segurei seu rosto com ambas as mãos e senti suas lagrimas molharem meus dedos – Pedro, eu amo você. Amo muito e isso não vai mudar.

– Eu não consigo acreditar – respondeu entre soluços – Eu não consigo acreditar que você consiga me amar assim, confinado nessa maldita cadeira.

– Eu não vejo nenhum problema. Na verdade, eu só consigo ver vantagens.

– Vantagens?

– Quando nós formos passear e eu me sentir cansada, posso sentar no seu colo. Eu posso obrigar você a ir a qualquer lugar que você não queira ir. Você jamais vai fugir de mim, porque eu vou ser mais rápida e vou te pegar de volta.

– Então isso significa que você quer ficar comigo? Mesmo depois de tudo o que eu fiz?

– Você sabe que eu jamais deixaria você, porque eu sei que você jamais me rejeitaria. Como você está não importa, contanto que você não mude quem você é.

– Mas como nós vamos... como vai ser... quando você e eu quisermos... – ele corou, o que raramente acontecia.

Eu, incrível e inacreditavelmente, ri – Quando você e eu quisermos transar? – sugeri, fazendo-o ficar mais vermelho – Quando quisermos transar, vamos transar.

– Mas eu não sinto as pernas. Não tenho mais segurança nos membros inferiores. Como vamos...

– Vamos encontrar um jeito – interrompi-o – Não vai ser como antes, mas pode ser igualmente bom. Talvez até melhor – empurrei Pedro até ele deitar-se na cama e deitei por cima dele – Eu amo você e ainda quero você.

– Inválido?

– Diferente. Com um novo jeito de viver.

– Então você já me perdoou?

– Não sei se há o que perdoar. Mas há o que recuperar – aproximei mais nossos rostos.

– Mesmo? E o que seria?

– O tempo perdido – e selei nossos lábios.

Diferente de antes, Pedro não me pegou desprevenida enquanto eu trabalhava em alguma coisa, não me ergueu nos braços e me forçou a abandonar o que eu estava fazendo, não me fez correr como se eu não quisesse ser agarrada e arrastada para o quarto mais próximo, mas foi igualmente prazeroso, igualmente forte e incontrolável. Nosso beijo aprofundou e eu senti o coração de Pedro retumbar loucamente.

Eu não era forte, mas consegui colocar Pedro na posição que eu queria. Foi difícil, já que ele era vários centímetros mais alto que eu, mas eu consegui. Ele parecia, em certos momentos, querer virar meu corpo para deitar em cima de mim, mas não conseguiu porque não parecia ter força nas costas para tal movimento e porque não era isso o que eu queria.

Sem perceber, mesmo eu deitada sobre ele, Pedro arrancou minha camiseta e jogou em algum canto na bagunça do seu quarto. Como ele não usava camiseta, não me preocupei em ter que levantá-lo para retirar qualquer peça. Larguei sua boca e dei atenção ao seu pescoço. Vi sua pele bronzeada arrepiar sob meus lábios e, à medida que eu descia, ele soava mais ofegante.

Cheguei a bermuda de tecido sintético branca que ele usava. Ainda parecendo confiante, vacilei internamente quando segurei o elástico rugoso, não dei ouvidos, porém, a minha falta de coragem e puxei a roupa por suas pernas imóveis. Com a agitação, seus joelhos dobraram e eu tratei de esticá-los. Vi que ele se incomodou com o fato de eu ser o movimento de suas pernas, contudo ele logo esqueceu a chateação quando arranquei sua box também.

Aquela não era nossa primeira vez e, eu esperava, não seria a última, então não havia motivos para vergonha ou embaraço. E, apesar de já nos conhecemos muito bem nesse quesito, aquela parecia uma primeira vez. Eu amava o corpo dele de uma forma diferente. Com mais cuidado e com mais carinho, mas amava da mesma forma. Deslizei até estar de pé na frente dele, fora da cama. Desci meu short e minha calcinha ao mesmo tempo e tirei o sutiã. Rodei-o sobre a cabeça e joguei em sua cara, tentando quebrar a fina camada de gelo que ainda insistia em reinar sobre o clima bom. Ele gargalhou, me dizendo que era só questão de tempo e tudo o que tínhamos antes voltaria.

Andei de quatro sobre o seu corpo, juntando novamente nós dois sobre a cama. Senti que ele estava pronto para mim e eu sabia que estava pronta para ele. Sentei com as pernas dobradas ao lado do seu quadril e posicionei-o para me invadir.

Assim que abaixei meu corpo, gemi e vi Pedro abri a boca e fechar os olhos. Comecei a me movimentar, primeiro de forma lenta, mas logo não aguentando mais e acelerando meu mover. Após alguns minutos, senti meu corpo inclinar para o auge, implorando por libertação, mas guardei até senti-lo se derramar dentro de mim. Esse foi o meu passe para chegar lá.

A exaustão me fez cair sobre o peito dele, que logo começou a acariciar meus cabelos ondulados. Não quebrei nossa conexão.

– Se eu soubesse que ficar paraplégico ia fazer você fazer o primeiro strip para mim, tinha adiantado aquele acidente.

– Não brinca com isso – disse rindo – mas, se queria um strip, era só pedir.

– Mas eu pedi!

– Mesmo? – olhei para ele.

– Mesmo – ele me agarrou mais, mudando de assunto – Sinceramente, eu sei que eu fiz besteira e eu sei que você já disse que está tudo bem, mas eu preciso ouvir de novo. Você me ama, não é?

– Claro que sim e isso não vai mudar por causa da sua situação. Os seus problemas são os meus problemas. E eu não fujo dos meus problemas.

– Eu sei, minha guerreira. Eu sei, e eu te amo muito.

Talvez esse fosse um bom início de uma nova fase. Talvez esse fosse algo que fosse me sobrecarregar. Talvez a barra fosse mais pesada do que eu pudesse aguentar. Mas nada era certo e, naquele momento, eu não iria desistir. Eu amava o Pedro e ele me amava. Poderia ser difícil, mas talvez...

Talvez a palavra que definisse o nosso relacionamento fosse talvez, o que era bom.

Não há sensação melhor do que o frio na barriga devido um futuro incerto.


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Notas finais do capítulo

Então, o que acharam? Eu preciso saber!Não esqueçam de comentar! Se vocês tiverem algum assunto que queiram que eu faça one-shot, me mandem e eu farei o mais rápido possível.
Beijos.
BL.



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