Raven não se atreveu a sair da cama, ouvindo a discussão entre seus pais no andar de baixo. Nos últimos dias, Erik e Charles discutiam muito e sobre qualquer coisa que a pequena pudesse imaginar, mas nem sempre fora assim. Tudo começara quando Erik sumira num dia, a levou para passear no parque de diversões e as outras crianças descobriram seu dom, avisando aos seus pais. Apontavam seus dedinhos para ela como se fosse uma atração de circo e seu pai não aguentara.

O parque fora destruído por breves movimentos das mãos de Erik, que assim que viu pânico o suficiente nos olhos daquelas crianças, pegara Raven nos braços e voltara para casa.

E ali se iniciara a briga. Charles queria viver em paz com as pessoas, mas Erik não. Ele temia que o que acontecera a Raven se tornaria cada vez mais comum até o momento em que mutantes seriam trancafiados em jaulas para estudo.

— É isso que vai ensinar a ela?! Intolerância?! — Charles disse exasperado, passando a mão pelos cabelos enquanto negava veemente. — Nós podemos viver em paz com as pessoas comuns, Erik. Por que é tão difícil entender isso?

— Por que é tão fácil pra você? Você não viu o terror nos olhos da Raven, não viu como aquelas crianças a trataram! É isso que você quer pra ela? Que viva com medo, que se esconda? — Erik contra argumentou, parecendo igualmente irritado.

— Eu não quero uma guerra, Erik... — Os olhos de Charles ficaram marejados. Doía brigar com o homem que amava por diferenças ideológicas. — Não quero... Não quero perder você, nem a Raven... Nem nossos irmãos e irmãs que são como nós.

Erik passou a mão pelos cabelos, sentando-se devagar no sofá com o olhar vago. — Charles... Por que ainda insiste em procurar por esperança? Sabe que as pessoas comuns jamais irão nos aceitar, não importa o que aconteça.

O telepata caminhou até o amante, sentando-se ao lado dele. — Eu tenho esperança, Erik. Algo que você devia ter.

— Perdi a esperança há muito tempo, Charles...

Charles esboçou um sorriso, erguendo o rosto de seu amado Magneto com as duas mãos. — Então precisa encontrá-la de novo, Erik... Por você, por mim e pela Raven.

O mutante que controlava o metal suspirou pesadamente, perdendo-se no mar azul que eram os olhos de Charles quando este se aproximou, pressionando seus lábios nos dele de maneira carinhosa. Um beijo que demonstrava tudo que sentiam até mesmo a raiva por suas diferenças ideológicas.

Erik puxou o mais novo para seu colo, afundando os dedos em seus cabelos enquanto suas línguas travavam uma falsa e longa batalha por controle.

— Papai?

Charles quebrou o beijo e seu rosto queimara de tão vermelho, apesar de ser impossibilitado de sair do colo de Erik porque o mesmo não largou sua cintura.

— Raven... Achei que estivesse dormindo... — Charles dissera constrangido, observando sua pequena e azulada filha com um urso de pelúcia firme nos braços.

— Eu... Ouvi vocês brigando. — A menina comentou um tanto amuada.

— Desculpe, querida. Não queríamos te acordar. — Erik comentou serenamente, observando-a descer os últimos degraus da escada e ir para perto deles no sofá, fazendo com que Charles sorrisse brandamente antes de sair do colo do mais alto.

— Mas... Está tudo bem agora? — Raven quis saber, observando-os de maneira atenta com os braços magros ao redor de um urso de pelúcia.

— Sim querida, está tudo bem agora. Vamos ficar bem. — Charles garantira antes de se levantar. — Venha, meu bem, vou te colocar na cama. E você vai poder sonhar com o que quiser.

— Mesmo? — A criança sorriu, levantando-se somente para ficar de mãos dadas com o telepata, subindo as escadas com ele.

Erik permaneceu sentado no sofá, fazendo com que suas bolinhas metálicas flutuassem até sua mão, fazendo-as girar devagar como se fossem planetas. Aquele era seu momento terapêutico, onde podia simplesmente ficar ali, observando os objetos pequeninos girarem e criarem suas próprias órbitas.

— Erik?

O mutante sorriu ao ouvir a voz de Charles. — Charles, não precisa entrar na minha cabeça, é só descer as escadas.

— Não posso descer as escadas sem roupas.

O mais alto rira. — Bem... Isso é um problema. Quer que eu o resolva?

— Com toda certeza.