Sofia escrita por sallyssong


Capítulo 1
Sofia




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/550960/chapter/1

Em tempos como estes, coloridos e primaveris, eu lembro de meu pai sentado em sua cadeira de balanço, na varanda de nossa antiga casa. Ele elevava o cachimbo aos lábios e, entre uma tragada e outra, enquanto observava o horizonte, ele sempre me dizia: “Você é uma criancinha esnobe. Desde quando saiu do útero de sua mãe, eu olhei nos teus olhos e vi que não existia nada vivo dentro de ti. Tudo feito de pedra. Você não consegue amar ninguém, Sofia. Você é egoísta e desprendida demais para isso. Nem ao seu próprio pai você tem afeto.

Enquanto a brisa sopra e toca meu rosto gentilmente, como em um beijo terno e sereno, eu reflito sobre as palavras de meu pai. E no fundo, ele estava certo. Desde criança nunca tive apego por nada. O que eu me lembro de mais amar, quando era guria, eram minhas unhas. Eu, como toda garotinha da minha idade, amava deixá-las crescer para pintar de todas as cores possíveis. E depois que cresciam, eu as quebrada, uma por uma. Nunca tive apego nem pelo o que eu mais gostava.

Sempre senti um peso nas costas, corria com dificuldade e logo me cansava. Lembro-me de um dia na escola, quando um garotinho que se sentia amorosamente interessado por mim aproximou-se e tocou meu coração. “Que é isso, Sofia?” - Ele perguntou, assustado. - “Ele não bate!

E toda minha vida se desenvolveu assim.

Certa vez, meu pai se acidentou enquanto andava a cavalo na nossa pequena fazenda. Caiu e fraturou o fêmur gravemente. Lembro-me de observar minhas irmãs chorarem copiosamente no colo de minha mãe, enquanto a mesma tentava consolá-las em meio aos soluços. Eu observava tudo distante, sentada na beira da janela. Não derramei nenhuma lágrima naquele dia. Nadinha. Só conseguia sentir-me entediada com todas aquelas lamúrias petulantes.

De repente despertei dos meus devaneios e senti alguém sentar-se ao meu lado. Seus cabelos eram loiros que, ao mais suave toque do sol, ficavam perolados. Seus olhos eram de um tom de castanho tão forte que me lembravam duas amêndoas. Ele inclinou seu rosto e pude ver suas bochechas banhadas por rios de lágrimas. “Eu não aguento mais, Sofia.” - Ele suspirara fundo. - “É exaustivo demais te amar.” - Continuei imóvel olhando para frente. Ficamos em silêncio por alguns minutos até que ele prosseguiu.- “Você não vai falar nada? Estou nessa há 1 ano, Sofia.” Inclinei meu rosto em direção ao mesmo e aproximei meus lábios de suas bochechas molhadas e salgadas. Pressionei os mesmos gentilmente sob sua pele e o senti arrepiar por um segundo. Peguei minha bolsa do chão e ergui meu corpo, percebendo sua surpresa ao me ver levantar. “Sou esculpida de pedra.” - Falei, antes de virar as costas e caminhar em direção à saída do parque.

Preciso quebrar essas malditas unhas.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Gostaria de desenvolver melhor a história de sofia, dependendo do quão ela agradar.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Sofia" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.