Ruínas no Deserto escrita por Morganna Farat


Capítulo 1
Capítulo1


Notas iniciais do capítulo

Uma breve introdução...



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Riza estava com o olhar fixo no horizonte há tanto tempo, que sua visão começava a embaçar. O sol lançava seus raios escaldantes sobre a areia infinita onde miragens se formavam como se houvessem piscinas d’água em pleno deserto. Nenhuma viva alma. Ela já havia se acalmado desde que chegara ali. Seu coração já não estava acelerado, suas mãos não mais tremiam. Após horas ninguém aparecera, restando então, apenas aquela apreensão. Um medo de ter que derrubar alguém.

O calor estava presente como uma nuvem de fumaça envolvendo o seu rosto e, debaixo da sua pesada farda, apesar do insuportável abafado, o seu corpo não suava. Ela se deu conta de que sua boca estava tão seca, que a língua parecia grudada ao palato. Despencou, então, sobre o chão, recostando na parede, abaixo da abertura em que estivera posicionada, e desprendeu o cantil de seu cinto. O líquido desceu pela sua garganta como se devolvesse os seus sentidos. Riza abraçou-se ao rifle desejando que tudo aquilo acabasse.

Embora soubesse que mal havia começado.

Fazia por volta de cinco meses que havia saído da academia militar, onde se formara com excelência, por sua disciplina e pelo recém-descoberto, talento como snipper. Porém a vida no exército não era mesmo nada do que ela esperava. Fora ingênua, tinha que admitir. Não sabia exatamente o que queria fazer lá dentro, mas tinha a esperança de poder ser útil, melhorar a vida de outras pessoas.

Era jovem, inexperiente e sem perspectivas, quando encontrara os sonhos de alguém por quem nutria apreço. Sonhos que se desfizeram como miragens com o estouro da guerra civil de Ishibal e, logo após, o decreto de massacre assinado pelo Fuhrer.

Ela fora enviada a Ishibal juntamente com milhares de militares por uma ordem expressa do Fuhrer e, três dias depois, chegou à cidade no leste de Amestris. Fora recebida por um oficial realmente sério. Em seu rosto cansado, abriam-se fendas onde as preocupações pareciam se esconder e os olhos fundos e opacos carregavam uma dor que ela ainda não podia entender. Sua pele estava ressequida, manchada de sol e se repuxava como um tecido amassado na área próxima à gola de seu uniforme. Ele deveria ter pelo menos dez anos a menos do que aparentava.

O homem a levou ao alojamento onde ela deixara as suas coisas e, em seguida, ao seu posto no alto de uma ruína na área deserta ao sul de um forte militar.

Mais tarde no mesmo dia, nada havia acontecido, apenas os espectros de areia moviam-se, levados pelo vento. Riza, distraída, refletia sobre a vida. Ela não queria voltar a mirar a paisagem, mas sabia que era o seu dever evitar que algum ishibaliano se aproximasse.

Levantou-se com certa dificuldade, pois suas pernas pareciam não estar respondendo e quando olhou para fora, avistou dois vultos há uma boa distância. Ela podia identificar o azul da farda do exército destacando-se no claro da areia, mesmo que estivesse longe e ainda que coberto por sobretudos, só aparecendo em poucas áreas. Tinha olhos de falcão, afinal.

Por algum motivo, se sentiu curiosa sobre quem seria e posicionou o rifle para que pudesse usar sua mira. Focalizou o primeiro homem, o qual não conhecia. Ele era jovem e tinha uma expressão alegre no rosto, apesar do cenho franzido pelo sol. Virando a arma poucos centímetros para o lado, pôde ver a outra pessoa.

Foi então que lhe faltou ar nos pulmões. Sua visão turvou de maneira que foi preciso apoiar-se no parapeito com as duas mãos e respirar fundo. Não era como se Riza estivesse surpresa. Esperava que fosse encontrá-lo em algum momento daquela guerra, porém vê-lo era uma confirmação de que tudo no que haviam planejado havia se convertido. Seus sentimentos estavam confusos.

Todas as possibilidades que a assombravam, flutuaram em sua mente, junto com memórias mistas. Lembrou-se da morte do seu pai, de seu enterro, da conversa que tivera com Mustang e do dia em que mostrara sua tatuagem a ele. Lembrou-se de quando recebera uma carta onde o rapaz contava que conseguira aplicar a pesquisa de seu pai e passara no exame para alquimista federal.

Era claro que havia sido enviado a Ishibal. Era claro que o legado que seu pai deixara seria usado da forma que ele tanto temia. Era claro que as coisas dariam errado.

Riza sentiu a cabeça pesar, a respiração ainda lhe faltava. Quando voltou a segurar o rifle, suas mãos tremiam tanto, que ela precisou apoiar os cotovelos para poder firmá-lo melhor. Tornou a olhar através da mira e seus olhos arderam e ficaram úmidos.

Era mesmo Roy e em seus olhos, o mesmo olhar daquele oficial que vira mais cedo naquele dia. Por alguns segundos, manteve o foco nele. Foi então que, outra pessoa se aproximou dos dois. Por conta do relevo da terra onde estavam, o terceiro pudera facilmente ter se aproximado sem ser notado. Não havia tempo, não havia o que pensar. A pele escura, o cabelo branco e as vestes de algodão, denunciavam sua origem ishibaliana.

Foi quando ele mostrou um objeto que ela não conseguia identificar. Contra a luz apenas o reflexo prata cintilou. Ele estava próximo demais. Riza esvaziou os pulmões e puxou o gatilho. O corpo caiu.

Silêncio.

Qual quer som parecia suspenso no momento, apenas o som do tiro ecoava em sua cabeça. Suas pernas finalmente cederam e a moça caiu sobre os joelhos.

Tinha matado uma pessoa. Tinha matado uma pessoa. Era uma assassina e isso nunca iria mudar. Ela sabia que outras vítimas viriam.

Olhou para as mãos sujas... Eram mesmo suas?


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Notas finais do capítulo

Foi só um pouquinho de terrorismo psicológico.... mas vai ficar tudo bem, gente :D



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