Os Demônios de Mara escrita por Clementine


Capítulo 3
Capítulo 3




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Fazem alguns minutos desde que cheguei ao céu. Mason foi entregue e esta bem agora. Ele vai crescer aqui, com a ajuda dos outros e ficará bem. Mais tarde, quando for crescido o suficiente, vai ganhar um par de asas e vai fazer o que eu faço.
Eu devia estar bem também, mas não consigo parar de pensar naquele garoto. Aquele que atrasou o demônio para mim.
Nunca fui vista por um humano, nunca mesmo. Eles não podem fazer isso. As vezes, podem sentir muito de leve, a presença de um anjo, e isso o deixa felizes.
Mas nunca ver como ele viu. Ele estava olhando diretamente para meus olhos. Ele falou comigo.
Isso me assusta.
Estou andando de um lado para o outro, tentando achar uma explicação plausível para aquilo. Bato minhas asas conforme penso penso e penso.
Faz sentido Mason me ver. Só os mortos conseguem enxergar ambos anjos e demônios.
De repente, a resposta me atinge com um tapa. É tão obvio que não sei como não pensei nisso antes.
Aquele garoto... ele não estava vivo. Ele estava morto.

Me deixe ir – Eu imploro para Jack. Jack é um anjo superior, ele que diz onde devo ir. Onde tem almas pra buscar. – Eu preciso voltar pra buscar o garoto. Ele esta lá sozinho e tenho que ajuda-lo....
Mara – Ele me interrompe, a voz firme – Eu disse que já olhei. Não há mais almas pra buscar lá. Especialmente a de um garoto. Chequei eu mesmo, duas vezes. Mason foi o último.
O que ele fala não faz sentido.
– Mas estou dizendo Jack, que aquele garoto me viu. Ele precisa da minha ajuda. Ele me salvou e agora preciso salva-lo.
Ele respira bem fundo. Suspira. Posso ver que esta decidindo o que fazer.
Pode ir – Eu não posso conter meu sorriso – Mas volte logo. Se você topar com qualquer demônio, volte imediatamente. E se ficar em apuros não vou poder ajuda-la, entendeu? Isso é escolha sua.
Entendido. – Confirmo com a cabeça.
– Agora, quando voltar por favor , me procure. Gosto de ouvir que eu estou certo. – Ele ri - Dispensada.


Quando volto para o hospital, começo imediatamente a procurar pelo menino dos olhos azuis.
Procuro-o por todos os cantos. Em todas as alas. Procuro por seu corpo em todos os quartos do hospital e já perdi as esperanças quando chego até a cafeteria, um lugar amplo e aberto com iluminação forte e muitas maquinas de comida.
E entre as mesas brancas de plástico, eu vejo.
O vejo do outro lado, jogado em uma cadeira.
Tomando toddy.

Se ele me viu, não demonstra. Eu chego mais perto, com muita calma.
Como eu começo esse tipo de conversa?
– Com licença?
Ele levanta os olhos para mim e não para de tomar seu toddy.
Minha visão não parece algo surpreeendente pra ele. A ideia de um anjo ao seu lado na cafeteria parece normal. Me pergunto quem diabos é ele e o que esta acontecendo ali.
Não sei como prosseguir. Sua calma me deixa inquieta.
– Vim te levar pro céu – Digo, incerta. Ele me fita com seus olhos intensamente azuis e faz eu querer me encolher.
– Lamento que você terá de me esperar morrer para isso. – Ele diz naturalmente. Como se estivesse falando do maldito tempo.
Meus ouvidos são preenchidos pelo som extremamente irritante de alguém tomando com canudo uma bebida que já chegou o fim.
Sento-me ao seu lado.
– Olha, eu sei que isso pode ser difícil de aceitar, acredite, a maioria demora um tempo, mas é, sinto informar que você esta meio morto.
– Meio?
– Ok, talvez um pouco mais. Quer dizer, totalmente morto. Mortinho da silva, faleceu, morreu, bateu as botas. Essas coisas.
Me preparo para o desespero, para as lagrimas. Eu já fiz isso dezenas e de vezes e alguns negam no começo, mas acabam aceitando. Já sei o que esta por vir: os gritos, os nãos, o choro.
E de todas as coisas que ele poderia fazer agora, o garoto dos olhos azuis me olha
E ri.
– Você senhorita – ele me aponta um dedo – esta muito enganada. Observo ele levantando do lugar indo jogar sua caixinha de achocolatado no lixo.
– Não estou.
– Esta sim.
– Não estou.
– Prove.
Eu limpo a garganta.
– Bem, você pode me ver. Ninguém vivo pode me ver. Portanto, morto.
Ele balança a cabeça em negação.
– Isso não prova nada.
Teimoso!
– Aé? - Eu digo. Agora estou irritada. – Prove você então!
– Com prazer – Ele faz uma reverencia e olha em volta. Levanta-se. – Assista amor, eu John Cooper, estou, definitivamente e sem duvidas, vivo.
Não tenho ideia do que ele vai fazer. De repente, nem consigo mais pensar direito.
Ele me chamou de amor. Por algum motivo, isso aumenta e diminue a minha raiva ao mesmo tempo. Não sei se surto ou derreto.
Concentração Mara!
John já esta andando entre as mesas do refeitório. Ele afasta uma cadeira, sobe nela, depois sobe na mesa. Todos já estão olhando para ele. Umas meninas loiras a duas mesas de distancia estão olhando para ele. Um senhor de um bigode incrivelmente grande - parece uma lagarta - esta olhando para ele. As moças que servem comida, os enfermeiros estão olhando para ele.
Eu estou olhando para ele e não consigo desviar.
John não fica intimidado. Ele coloca as mãos em conchas e então, começa a falar.
– Senhoras e senhores, por favor, digam a minha amiga anjo aqui que ela não pode me levar porque eu estou vivo. Obrigada – Ele desce.
A situação é tão ridícula que eu quero rir.
Estou tão vermelha de vergonha que agradeço eternamente por ninguém ali poder me ver.
Bem, não ninguém. John sorri para mim e volta em minha direção. Antes que ele possa falar qualquer coisa, o senhor de bigode olha pra nenhum lugar em particular e diz:
– É, ele ta vivo.
Uma mulher vestida de enfermeira suspira muito alto.
– Alguém fugiu da Ala Psiquiátrica e saiu para uma aventura? - Ela se aproxima de John e eu, parecendo meio preocupada. – Venha cá, eu te levo de volta.
– Oh, não. Foi só um mal entendido. – Ele ri de leve – Eu só estava tentando provar algo para alguém. Já consegui.
– Uma aposta? - A enfermeira pergunta, apenas para confirmar que ele não esta louco. É só um adolescente atrevido.
– Exato. Desculpe. – John sorri. A mulher se afasta.
Eu seguro o riso. Faço cara de quem esta dando um sermão.
– Você esta louco.
– Não, eu estou certo. – Ele corrige. De repente eu quero bate-lo.
Estou com tanta raiva por ter perdido que mal percebo o que aquilo significa.
–Espere, então você esta mesmo vivo?
– Yep
– Então como.... Como pode me ver?

John se senta na mesa de novo. Suspira.
– Eu não faço ideia.... Qual é o seu nome mesmo?
– Mara – Digo.
– Mara de que?
– Nada, só Mara.
Ele da de ombros.
– Eu não faço ideia, Mara. Eu só... Consigo.
– E demônios também?
– Demônios também.
Eu tiro um segundo para avaliar a situação.
– E como exatamente você atrasou aquele demônio mais cedo?
– Ah, fácil. Eu disse que ele poderia ter minha alma e...
– O QUE? -
– Calma calma ai anjinho! Eu não terminei. Eu disse que ele poderia ter minha alma se achasse o meu corpo. Demonios estão sempre sedentos sabe... Ele foi procurar. Mas como eu não estou morto ele ficou perambulando por ai até perceber que era uma armadilha.
– E ele não voltou?
John abaixa a cabeça. Percebo algo sair e entrar de seus olhos. Medo talvez.
– Eles sempre voltam Mara, não importa se eu os engane ou não.
Não, medo, não frustração.
– Oh.
É tudo o que eu consigo dizer por um tempo. Mergulhamos em um silencio indiferente enquanto eu olho em volta, pensando como seria nunca conseguir me livrar do cheiro de sangue. Meu corpo treme só de pensar.
– Estou em divida com você. – Afirmo.
John ergue os olhos para me olhar. Ele sorri com o canto da boca e decido que amo aquele sorriso.
– Como é, anjo?
– É isso mesmo. Você me ajudou. Tenho que te ajudar.
– Agora? - Ele pergunta. Eu faço que não com a cabeça.
– Agora não. Estou aqui por muito tempo – Já posso sentir minhas articulações pesando e doendo. Posso aguentar mais tempo se quisesse. Posso mesmo. Mas não quero. – Tenho que ir.
Olho para John. Apenas por um segundo, ele parece desapontado.
– Mas eu vou voltar. – Ele faz força para não sorrir.
– Ok.
Uma pausa.
– Você vai estar aqui? - Tenho que confirmar.
– Sim.

É tudo o que diz. E eu vou embora.


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