Unknown escrita por oakenshield


Capítulo 1
Emma


Notas iniciais do capítulo

Eu adoraria que vocês me dissessem o que estão achando. Eu realmente nunca sei o que dizer nas notas. Anyway... escrevi enquanto ouvia Ultraviolence (o CD todo) da Lana Del Rey. É apenas uma dica, de qualquer forma.



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Sinto o sangue por todo o meu corpo. Não apenas meu coração o bombeando, minhas veias e artérias o comandando para dentro e para fora do meu cérebro. Não por dentro.

Meus pulsos ensopam com aquele líquido vermelho que pode tanto representar vida quanto morte. Eu sei que a última é o meu destino.

– J, você não tem que fazer isso...

Seus olhos azuis claros se fixam em mim de maneira assustadora. Todo o meu corpo treme, mas eu não sei o que poderia dizer para ele parar. Quando se está diante de um assassino, você só pensa em sobreviver. De qualquer forma, eu não estou com medo. Estou apavorada.

– Você não entende, não é mesmo? - ele sussurra. Há uma pequena lanterna de luz amarelada em suas mãos. A única luz em meio a escuridão. - Eu preciso. É o meu destino. A minha sina.

Balanço a cabeça.

– Você não precisa mais fazer isso - tento me sentar, mesmo que as cordas estejam deixando meus pulsos em carne viva. - Jack, é você quem decide o seu futuro. O seu destino não pertence a ninguém além de você mesmo.

Ele arregala as duas bolitas azuladas em minha direção. Me lembro exatamente de ter me apaixonado por aqueles lindos diamantes no exato momento em que o vi na praia e ele acabou acertando a bola de vôlei em mim.

Também me lembro de estar muito estressada no dia por ter acabado de ser demitida. Nós brigamos no primeiro momento e eu gostei. Gostei de sentir o poder nos meus dedos, o controle da situação. Gostei dele ter pedido desculpas milhares de vezes, de ser convidada para jantar mais tarde. Gostei dele de imediato.

Lembro de como o sorriso de Jack costumava ser tímido no começo, apesar de ter todos os motivos para ser o cara mais convencido de todos. Eu sempre fui muito estressada e extrovertida, chegava nos lugares já conversando, rindo dos comentários das pessoas e indo direto para a mesa da comida. Ele, no entanto, era o oposto de mim.

Ainda sinto o vinho tinto manchando o meu vestido branco. Sinto a renda roçando o meu corpo quando o tirei e fui correndo lavar. Meus olhos ardiam quando percebi que o vestido estava perdido. Jack, mais uma vez, pediu desculpas.

Tudo parece que aconteceu há séculos atrás. Seus grandes olhos azuis assustados, seus lábios grandes e macios nos meus em meio aos pedidos de desculpas, seu cabelo negro e macio emaranhado nos meus dedos. Sua mão no meu corpo, como se emanassem calor por onde passavam, deixando marcas onde tocavam.

Lembro-me de pensar em quanta sorte eu tinha em conhecê-lo. Eu sorri para ele, me entreguei e agora...

Conhecer Jackson Clarke foi a pior desgraça que poderia ter acontecido em toda a minha vida.

+++

Tudo o que eu e Emma tivemos passa pela minha cabeça como um filme. Está tudo diante dos meus olhos.

Digo a mim mesmo que não posso ser fraco. Já enganei dezenas de mulheres, fiz isso várias vezes. Eu não poderia fracassar agora.

Seus olhos pequenos e esverdeados parecem duas esferas negras suplicantes no meio da floresta.

– A minha vida é assim, Emma. Não há nada para mudar.

– Por que você faz isso? - ela sussurra.

Penso em esconder, mas ela vai morrer mesmo, então não preciso mentir.

Me abaixo, ficando da sua altura.

– Minha noiva fugiu com o meu irmão gêmeo no dia do nosso casamento. É um trauma e tanto.

– Mas isso não é motivo...

– Como não? Éramos iguais. O que ele tinha que faltava em mim?

– Talvez ele não fosse um sociopata.

Sinto meus dedos formigarem e a minha garganta se fecha. Meus olhos ficam injetados de raiva.

– Aquela vadia loira me pagou caro - olho para Emma. - Foi a primeira da minha lista. Sabe... eu gostei. Nunca pensei que diria isso, mas eu gostei.

E realmente havia gostado. A sensação de poder, domínio sobre a vítima. Como se eu controlasse o mundo. Como se eu fosse um rei ou até o próprio Deus. Eu me regozijava ao vê-la gritar, se debater e implorar pela vida. Seus pedidos de desculpas entravam por um ouvido e saiam pelo outro.

– Fiz questão de torturá-la bastante antes de acabar com tudo - sorrio. - Emma pagou bem caro.

– Emma? - ela murmura, assustada.

Me levanto, caminhando pelas folhas secas da floresta.

– Essa é a questão. Há milhares de Emmas loiras e americanas por aí. É fácil encontrá-las.

A olho.

– A mulher é fácil de ser iludida. Um homem joga charme, a elogia e já é jogo ganho.

– Emma realmente deve ter se arrependido.

– Não importa. Ela me enganou.

– Mas eu não sou ela, J. Eu te amei - ela me olha. - Eu ainda amo.

+++

Eu havia começado Psicologia, mas tranquei a faculdade no segundo ano. Apesar de tudo, havia tido algumas aulas que foram bem interessantes no assunto.

Jackson é um sociopata. Perigoso. Letal. Porém, não faz tudo por diversão, faz porquê tem uma história. Ele acha que é um motivo, um meio de conseguir sua vingança. É como se, depois de ter matado a noiva, ele pudesse reviver aquele momento com outras mulheres repetidas vezes.

Eu nunca havia pensado que me apaixonaria algum dia e quando aconteceu, foi por um serial killer. Eu realmente sou uma idiota.

– Você foi a melhor de todas as Emmas, sabe - ele toca meu rosto. Seus dedos compridos, pálidos e gélidos me causam arrepios -, mas não há nada que possa salvá-la da morte. Aceite.

Ele para e se senta atrás de mim. Sinto o terror me invadir quando ele me puxa para si, me abraçando por trás, me fazendo deitar em seu peito como se ainda fossemos namorados. Como se nada estivesse diferente.

Sinto nojo de mim mesma.

– Eu prometo ser rápido, Ems - ele murmura em meu ouvido. Uma lágrima incendeia a minha visão e desce pela minha bochecha me queimando.

A condenação de uma desesperada. A sentença final.

– Apenas aceite.

Não consigo acreditar que esse realmente seja o meu fim. Parece um pesadelo.

– Eu aceito.

Realmente não há nada para ser feito. É tudo muito real e eu posso sentir isso. O sangue que escorre dos meus pulsos e dos meus tornozelos são a prova disso. A dor lancinante pelo corpo, a queimação nos órgãos, o engasgo na garganta, o nó... sinto o meu coração se partir em exatos mil pedaços, como uma taça de cristal sendo estilhaçada, no momento em que a faca gélida toca o meu pescoço e ele a desliza para a esquerda apenas uma vez.

É o fim. O meu fim. Eu o aceitei. Aceitei minhas escolhas e espero que Jack também aceite as dele.

+++

Sinto uma lágrima malvada e traidora escorrer até cair em meu pescoço. Seco-a imediatamente. Nunca havia chorado por uma vitima. Eu sou o predador e as Emmas são as presas. Um leão não chora por um veado quando está a segundos de matá-lo para sobreviver e é exatamente isso que eu sinto.

É como se eu uma parte de mim já estivesse morto e a única coisa que me mantem realmente vivo é a morte. A vontade, o desejo de sentir o sangue em meus dedos, ouvir os gritos, tremer diante do fim...

Saio debaixo de Emma Parker e desamarro as cordas dos seus pulsos e dos seus tornozelos. A pego no colo e a levo para alguns metros dali, para o cipreste que ela havia me mostrado.

– Meu pai me trouxe aqui uma vez - ela havia me dito. Seus olhos brilhavam de felicidade. - Ele disse que seria possível ver a cidade toda desse ponto.

E realmente era. As luzes do centro eram apenas pequenos pontos brancos dali.

– É lindo.

Ela se virou para mim.

– Eu nunca mostrei esse lugar para ninguém.

– E porque está mudando isso?

Ela sorriu timidamente.

– Porque eu amo você.

Pela primeira vez, sinto que estou sendo sincero quando digo:

– Eu também te amo, Ems.

Apesar de tudo, o amor não foi suficiente. O meu sentimento não foi forte o bastante para combater a minha sede pela morte, o meu desejo por vingança...

Coloco Emma com cuidado no buraco que cavei mais cedo e a enterro. Deposito apenas uma rosa branca solitária em cima do monte de terra. Deixo uma última lágrima cair.

– Sinto muito, Ems. Foi necessário.

Os vários eu te amo que ela me disse voltam em minha mente, me chocam como várias chibatadas em minhas costas e me forçam ao nível extremo de desespero. Emma estava morta.

Olho para trás e vejo um papel em meio as folhas secas. O pego, aponto a lanterna para ele.

É um teste de gravidez.

Emma Joanne Parker. Positivo. Noventa e cinco dias.

Três meses. O tempo em que nós estamos juntos.

Impossível.

As lágrimas voltam a me assolar não apenas nesse dia, mas no próximo e no próximo...

Não tenho mais coragem de sair da cama, não quero comer nada e nem ver ninguém. A minha vida estava destruída.

Eu mato mulheres, Emmas, sim, mas uma criança... um bebê que nem nasceu e que não tem culpa de nada...

É imperdoável.

+++

Um mês. Dois. Três. Seis.

O exato tempo em que meu filho estaria nascendo. O filho que eu matei.

Ajeito a gravata azul bebê e me olho no espelho mais uma vez, ajeitando alguns fios negros e rebeldes para trás.

Olho para o quadro diante de mim. Eu havia estudado sobre essa empresária durante dois meses. Seus costumes, sua rotina, suas preferências... estava na hora de atacar.

A morte é irrevogável e inevitável, mas o tempo de luto acabou.

Espero ela sair do prédio espelhado. A aguardo perto do carro. Pego o meu Starbucks e bebo um gole de café com chantilly antes da caminhar até ela. O derrubo em sua roupa.

– Oh, meu Deus, eu sinto muito - digo, pegando um lenço do bolso e entregando a ela. - Olha, eu realmente... me desculpe. Se eu não estivesse atrasado, juro que a levaria para comprar uma roupa nova.

A mulher de cabelos loiros na altura dos ombros sorri para mim.

– Não tem problema - ela diz, passando o lenço pela blusa branca manchada. - Eu estava mesmo saindo para o horário de almoço. Tem um cliente me esperando no restaurante aqui da frente.

– É mesmo? - pergunto. - Eu também tenho que encontrar uma pessoa no restaurante aqui da frente. A Dra. Thompson.

– Espera... - ela olha para mim e sorri. - Jackson? Jackson Clarke?

– Dra. Thompson? - finjo surpresa. - Olha, sinto que começamos com o pé esquerdo. Eu realmente sinto muito.

Ela abre um grande sorriso e estende a mão.

– Isso não é problema, Jackson.

– Jack - a corrijo, virando a sua mão e beijando as costas da mesma. - A senhorita é muito compreensível, Dra. Thompson.

– Ah, por favor, Jack... - ela sorri novamente, dessa vez com as bochechas levemente coradas. - Me chame apenas de Emma.

É inverno em Nova York e o tempo de caça recomeçou.


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Notas finais do capítulo

Adoraria que vocês comentassem sobre. XOXO.



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