Não se apaixone por ele escrita por Tia Kalishia


Capítulo 4
Um idiota me liga




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Minha mãe me estendeu uma xícara de chá e um calmante. Tomei os dois sob o olhar atento dela e me enfiei embaixo das cobertas. Meu corpo doía, mas não reclamaria de mais nada.

—Pensei que morreria e nunca achariam meu corpo – Choraminguei para minha mãe.

Eram cinco horas da manhã quando os bombeiros chegarem para nos tirar daquele buraco. Depois de todos os procedimentos médico, o que levou algumas horas e finalmente estava em casa. Depois de explicar tudo para minha mãe, me deitei na cama e fui descansar. Mamãe não quis nem pensar na ideia de eu ir para o primeiro dia de aula. Dormi por horas, um sono profundo e sem sonhos, e quando acordei, ao lado da minha cama estava um celular novo do mesmo modelo que o meu antigo celular. Peguei o celular, pensando o quanto ele havia me dado sorte e assim que o desbloqueie, meu pai me ligou.

Mamãe deveria ter colocado o chip no novo celular e passando todos os meus aplicativos e informações para o novo celular. Atendi a chamada e tive uma longa conversa com meu pai, repetindo mil vezes que estava bem. Ele desligou, prometendo que me ligaria mais vezes. Ele não precisava me prometer, eu sabia que ele me ligaria. Amora e Leandro me mandaram mensagem perguntando se eu estava ok, e se queria sair com eles na sexta para um rodízio de pizza.

Pedro apareceu na parte da tarde. Parecia que a escola toda sabia o que havia acontecido, só não sabiam porque nós quatro estávamos naquela caverna. Fiquei pensando em tudo. Eu deveria ter corrido, né? Afinal, Theo estava bêbado.

Mordi o lábio inferior furiosamente, pensando em como eu havia sido estúpida. Afinal eu poderia ter empurrado Theo no buraco e assim não teria que aguentá-lo mais. Podem ri, mas essa teria sido uma ótima ideia, caso eu tivesse tido presença de espirito o suficiente para pensar nisso naquela hora.

Enfim, Theo havia me seguido, beijado, assustado e jogado no buraco. Isso o elevou ao status de cretino. Não sou louca de negar que Theo era um gato, musculoso e tudo mais. Mas eu realmente gostava de Lucas Tromosky a muito tempo. Lucas não era arrogante ou idiota, apesar de ser irmão de quem era. Peguei várias aulas com Lucas, ele falava tão bem, sua voz era linda. Mas quando criava coragem para falar algo com ele sempre acontecia algo. Enfim, ele era lindo legal, inteligente engraçado. Estou parecendo uma idiota falando, né? Juro que vou me segurar para não fazer isso, mas Lucas é demais e eu ainda nem o beijei.

Infelizmente é uma realidade que não posso negar, eu ainda não havia beijado Lucas, ele namorava Sara Parcielo por muito tempo e só recentemente haviam terminado. Não pense que eu ficava secando Lucas quando ele estava namorando, sempre fiquei na minha. Mas depois que ele voltou a ser solteiro, eu podia ficar admirando ele o tempo todo. Fiquei pensando em lucas por alguns minutos, quando o meu telefone começou a vibrar, era um número que não estava salvo. Não fazia ideia de quem fosse.

— Oi?

— Sofia. Oi. É o Theo.

Fiquei calada. Como assim ele ousava me ligar? A merda toda só aconteceu por culpa dele. Por que ele não sabia o que era a palavra consentimento. A raiva havia voltado a tomar conta de mim. Desliguei a chamada. Como ele ousava, me perguntei me inflando de raiva. O celular voltou a vibrar.

— O que você quer – Quase gritei ao atender.

— Quero pedi desculpas – Falou com tom de voz de culpa – Não desliga por favor. Eu só quero pedi desculpas.

— Eu não vou aceitar suas desculpas até você aprender o que é consentimento, Theo. Você foi um cretino escroto do caralho. Você praticamente me forçou a te beijar e eu correspondi, por que fiquei com medo de você fazer algo comigo...

— Fazer algo com você? - Ele me cortou – Sofia, eu nunca faria algo pra te machucar.

— Mas você fez, Theo. Você me jogou dentro de um buraco.

— Eu não te joguei – Ele se defendeu – Era só uma brincadeira idiota, eu bebi vodka e outra coisa e acabei passando do ponto. Isso não é desculpas, eu sei. Mas eu não achei que fosse perigoso na hora.

Fiquei em silêncio. Minha vontade era de gritar que não é brincadeira se só uma pessoa acha graça.

— Me perdoa mesmo – Pediu – Sofia, me perdoa. Eu nunca quis te beijar desse jeito. Nem eu sei explicar o que me deu. Eu estava lá, você estava lá. Eu sou um babaca que não sabe o que é consentimento, mas tô te ligando pra te pedi desculpas, perdão por tudo.

Um silêncio perdurou por um tempo. Estava pensando e Theo esperava que eu dissesse algo.

— Me desculpa pela minha atitude imbecil, por ter feito aquela brincadeira idiota. Me desculpa por ter te forçado.

— E pelo beijo – acrescentei,

Novamente um silêncio se instaurou por alguns segundos.

— Pelo beijo não, Sofia. Não me arrependo de ter te beij..

Desliguei a chamada na cara dele novamente. Me joguei na cama, tampando minha cara. Me lamentei de vergonha por alguns segundos e senti o celular vibrando. Aquele beijo, merda. Ela tinha evitado pensar nele, pois a cada vez que ela se lembrava, seu corpo era tomado por arrepios e uma parte bem especifica do seu corpo criava vida. Ela queria enfiar a cara na terra só de pensar naquilo. O celular vibrava sem parar.

— Desculpado por te sido assediador, mas não por ter me feito cair no buraco.

— O que tenho que fazer para você me perdoar? - Perguntou.

— Se você for honesto comigo, talvez eu possa pensar em te perdoar – Não deixei ele digerir a resposta e criei coragem – Eu quero saber o que você quer comigo? Você sempre me esnobou, eu sempre achei que você não ia com a minha cara. E menos de 24 horas você me agarra e depois tenta me matar.

— Não tentei te matar – Ele se opôs – e eu nun..

— Engraçado, pois pareceu. Mas enfim, o que você quer comigo?

— Gosto de você – Ele disse sem rodeios.

Só não fiquei chocada com a resposta dele, por que eu já tinha batido minha cota de ficar chocada nas últimas horas.

— O seu jeito de gostar é tão estranho, Theo – Falei finalmente – Tenho que desligar, meu pai tá me ligando – menti.

Não esperei ele responder, desliguei a chamada e fiquei olhando para o teto. Ele não ligou novamente. Fiquei um bom tempo relembrando a noite de ontem, me odiando por não ter corrido, me odiando por ter ido naquela caverna idiota e por finalmente depois de hora negando, ter aceitado que tinha gostado do beijo.

Criei coragem e desci até a cozinha da minha casa e peguei um suco de laranja e fiz um sanduíche. Minha mãe havia chegado do trabalho mais cedo e se sentou perto de mim assim que trocou de roupa. Ela me contou sobre o seu dia e sobre o reboque que trouxe o meu carro até em casa. Era um Audi A3 vermelho que mamãe e papai me deram de presente de 16 anos e por ter sido a melhor aluna no preparatório para o vestibular. Eu havia aprendido a dirigir no ano anterior, quando fui passar as férias com meu pai. Quando voltei pro Brasil, papai tinha me dado um carro de presente, mamãe tinha odiado a ideia toda. O carro ficou parado na garagem por meses, foi apenas depois de uma emergência médica que ela me deixou dirigir, mas apenas em algumas circunstâncias. Ontem havia sido uma delas, mamãe me deixou ir com o carro levando Pedro de carona, se eu prometesse não beber. Falando no Pedro, queria saber como ele havia ido embora. Minha mãe me entregou a chave e eu não pude evitar um sorriso.

— Eu te amo, sabia? - Falei feliz para minha mãe.

— Eu também te amo - Ela respondeu com outro sorriso- E você tá de castigo – Ela falou de repente.

— O que?– Falei não acreditando – Eu não bebi.

— Eu sei – Ela falou fazendo carinho em mim – Mas você fez algo inconsequente, Sofia. Se afastar para um local isolado, e pior de noite? Isso foi irresponsável. Castigo de uma semana sem carro, sem Netflix, sem redes sociais. Dessa vez não vou bloquear nada, espero maturidade sua para cumprir seu próprio castigo. Promete?

— Prometo – Falei a contragosto.

— Promete que não vai se meter nessas situações perigosas nunca mais

—Prometo. Prometo. Prometo – Me apressei em falar.

Uma vez já havia sido muito, para a vida toda. Nunca mais. Jamais. Não queria repetir tal fato.

Naquela noite dormi bem, apesar do pesadelo onde caia em águas profundas e escuras e me afogava.

 

 

 


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