Não se apaixone por ele escrita por Tia Kalishia


Capítulo 1
A Caverna




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Sempre gostei de ser legal com outras pessoas, não porque me esforçasse para ser ou por que queria agradar. Ser legal com outras pessoas me trazia felicidade e me fazia sentir bem comigo mesma, não importava se aparecia alguém sem educação, sempre tentava ser legal. Afinal vai saber o dia da pessoa para que ela agisse de forma mal educada. Eu morava em Villa del Norte com minha mãe e um gato que havia sumido meses atrás, havia sete anos que morávamos ali. Minha mãe era uma advogada de sucesso, com o escritório mais procurado da região. Ela era incrivelmente boa no que fazia, sempre saia cedo para o trabalho, com seu terninho chique, seus olhos verdes realçados pelos longos cílios. A maquiagem perfeita brilhando sob a pele negra, o corte Channel a deixando tão elegante. Mas a melhor parte, é como ela vestia uma máscara de seriedade assim que saia de casa para trabalhar. Meu pai era americano e assim coo mamãe, era advogado. Ele era cinco anos mais velho que ela, e branco. Os dois se conheceram na faculdade, quando ele resolveu fazer um intercâmbio no Brasil e o casamento durou cinco anos. A coisa toda havia sido conturbada. Meus avós comemoraram o fato de mamãe ter se casado com um gringo branco. Mamãe não gostou nada dos parabéns que recebeu e muito menos dos comentários que recebeu quando se separou do meu pai, insinuando que ela nunca encontraria homem que a quisesse, a família toda acabou brigando sobre como aquilo era racista, a coisa não ficou boa. E acabou com minha mãe cortando relações com quase toda a família exceto meu tio. Sempre que ele aparece por aqui, é uma festa.

Devo dizer que acho lindo a história de amor dos meus pais, você não coloca regras no coração, não manda ou consegue controlar. O amor durou o tempo que teve que durar e quando acabou, não houve brigas ou ódio. Você apenas ama e é lindo. O amor só não dá certo quando pessoas idiotas tentam te fazer sentir-se culpada por amar.

Enfim, depois de anos eles se separam definitivamente. Eu sempre passo as férias nos EUA, na casa dos meus avós paternos. Mamãe não fala mais com os pais e eu nunca sentir vontade de visitá-lo. Eu e minha mãe morávamos em um dos condomínios de Villa del Norte. Eu adorava o lugar, apesar de achar a casa enorme para nós duas. Com o tempo acabei amando o lugar, a maioria das pessoas eram legais, gentis, educadas e realmente formavam uma comunidade onde se preocupavam um com o outro.

Amora gritou ao meu lado e isso me trouxe de volta a festa. Estava na festa de início de aulas, uma tradição do pessoal para beberem sem culpa, antes do primeiro dia de aulas. Amora era minha amiga desde que me mudei para a cidade a uns 7 anos atrás. Ela me olhou com um sorriso e bebeu sua cerveja. Praticamente todos estavam ali. O pessoal que era importante no instagram, facebook ou tiktok, os caras que jogavam no time de futebol da escola e se achavam melhor que o Messi e os mortais, como eu gostava de chamar o que não eram desse meio. Todos dançavam, conversavam, riam e se divertiam. Pedro, o meu melhor amigo nessa vida todinha, acendeu um cigarro e olhou em volta.

— Aposto que o Lenheiro está mais animado que isso - Leandro disse puxando Amora, sua namorada e a beijando.

Leandro só era meu amigo, por que namorava minha amiga. Ele era o tipo de cara que estava 100% nem aí pra tudo. Os pais era ricos, na verdade, ricos é pouco para eles, eram podres de rico. Leandro não se interessava por nada, mas isso não importava, já que ele era rico e tinha como privilégio não se preocupar com o futuro.

Olhei para Pedro e lancei um olhar “Só eu ou você também se incomoda deles se pegando do nosso lado?”. Sempre que Leandro e Amora começavam a se agarrar, ficávamos sem graça. Eles não eram nem um pouco discretos. Eles se agarravam como se fosse transar ali no chão. Não que eu me importasse se eles transavam ou não, a Amora me disse que eles perderam a virgindade juntos, mas quem não ficaria sem graça com um casal de amigo se pegando do seu lado?

— Eles realmente precisam fazer essa exibição em público? - Pedro perguntou no meu ouvido, passando a mão sob meu ombro e me abraçando— Hétero top é uma merda.

Apenas esclarecendo. Não éramos um casal. Pedro gostava do Bruno Santos e da Samira Rodrigo e eu, do Lucas Tromisky. Mas, nenhum dos três olhava para nós. Pedro como sempre, enfiou o nariz nos meus cabelos e ficou sussurrando fofocas, como eu estava contra o peito dele ninguém percebia que estávamos fofocando. Uma coisa importante que tenho que contar, eu não sei bem o que havia acontecido, mas um juiz com apoio do conselho tutelar tinha estabelecido toque de recolher para todos com 16 anos ou menos. Se você se encaixasse nisso e andasse por aí depois das 23 horas, e a policia e o conselho tutelar te pegasse, seus pais teriam que te buscar em alguma delegacia, teriam que pagar multa e você sairia com100 horas de trabalho comunitário. E não importa se você tivesse dinheiro, no ano anterior Leandro tinha subestimado o toque de recolhe e acabou sendo pego e os pais não viram escapatória a não ser obrigar ele a cumprir as 100 horas de trabalho.

Então para burlar esse probleminha, as festas sempre ocorriam em áreas abertas perto de sítios ao redor da cidade, nem tão perto, nem tão longe. O pessoal chegavam por Uber, carona e ligavam o som. Geralmente faziam vaquinha nas horas e compravam barril de chope. Ninguém era pego fazendo isso, estávamos fora das garras da lei. Naquela noite estávamos perto de um sítio, o pessoal estacionou os carros e ligaram um som e todos se divertiam. Afastei meu rosto do peito do Pedro, que começou a fumar praticamente no meu cabelo e olhei sob seu ombro do outro lado em que estávamos. O Sitio era aberto para visitação durante o dia, tinha uma trilha que dava em uma famosa queda de água e no meio da floresta. Eu já tinha visto algumas pessoas indo pra lá. Procurei Lucas, eu o tinha visto minutos atrás por ali. Olhei em volta, mas não o encontrei. Droga, será que tinha ido embora? Olhei novamente o lugar, foi quando percebi Theo Tromisky, o irmãozinho popular de Lucas me encarando.

Theo era famosinho no Tiktok, o tipo de garoto que só passava a mão pelo cabelo e sorria para câmera e todo mundo se derretia, mas vivia implicando comigo. Apesar de ser um ano mais velha que ele. Eu não me importava na maioria das vezes, mas já começava a me cansar. Juro que não era implicância do tipo “ Estou implicando com você, porque gosto de você”, era uma implicância idiota e infantil. Não sei o que eu fiz pra esse garoto. Eu desviei o olhar e continuei procurando Lucas.

— Você acha que um dos dois vieram? -Amora e Leandro ainda se agarravam e não escutaram.

— Eu acho que a Samira– Falei.

— Vou dá um rolê por aí— Anunciou – Vou beijar um deles.

Dei de ombros. Tá bom, falei mentalmente, vai lá beijar e me deixa aqui sozinha com esses dois desentupidores de pia.

Os olhos de Steven procuravam seu dois crushs freneticamente.

— Se você não achar um dos dois, podemos ir dar uma espiada naquela queda d'água - sugeri meio emburrada por perceber que Lucas tinha ido embora.

— Não– Ele falou, já se distanciando.

Abri a boca em um O perfeito, chocada pelo não facilmente jogado na minha cara pelo meu melhor amigo. Mas ele tratou de dar no pé rapidinho. Fiz uma careta. Era uma droga está sozinha ali. No ano anterior eu havia ido com meu ex-namorado João Victor, Pedro ainda não estava apaixonado por Bruno e Samira e tinha beijado. Quem? Não sei, mas beijou, enfim, ano passado foi até legal. Mas, nos últimos tempos eu tinha apenas olhos para Lucas e dispensei alguns caras. Falei para minha amiga e seu namorado que voltaria rápido, mas eles ainda se agarravam e não ouviram. Dei de ombros e fui na direção da queda d'água. Peguei a trilha principal, que alguém havia iluminado com lanternas externas portáteis e quando cheguei até o ponto de observação, fiquei vermelha. Apenas casais estavam ali, se agarrando e beijando a luz da lua. Sorri totalmente sem graça para mim, e tratei de dar o fora. Foi quando lembrei da Caverna da Águia. Uma caverna logo depois da queda d’água que eu jurava que não havia quase ninguém. Era uma caverna onde encontraram objetos indígenas e algumas múmias indígenas. Ainda estavam estudando a explicação dessas múmias, pois nenhum dos povos indígenas do Brasil tinha como tradição mumificar os seus. A Caverna havia ficado famosa por isso, mas eu apostava que como todo mundo estava ocupado se pegando perto da queda d’água, ninguém tinha ido até lá. Como o lugar estava cheio e a trilha iluminada, fui confiante que estaria segura. A entrada da caverna tinha uns 30 metros e logo na entrada, podia se ver pinturas na parede. No centro da caverna, havia um enorme buraco negro que era a atração do lugar, foi onde desenterraram as múmias. Ficava no centro da caverna e símbolos estranhos a cercava. Me aproximei do buraco negro, um buraco de 6 metros de profundidade que como segurança, tinha apenas uma cerca de corda. Fiquei tentada a chegar mais perto e tentar olhar o fundo, mas não quis arriscar e não me aproximei muito. Me afastei da borda, quando bati em algo e olhei para trás. Theo estava parado me olhando.


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