Miku caminhava pelos corredores da escola procurando por IA para, enfim, voltar para casa. O fim de semana havia passado e a semana estava passando lenta e dolorosa, pois desde sábado à noite, com aquela conversa com Mine-Kun, os dois não voltaram a se falar pelo chat. Ela entrava constantemente, mandava um “hey” e era ignorada... todas as vezes. Não parava de se perguntar o que havia de errado. Talvez algo que falara? Não fazia sentido. Não havia xingado ninguém.

Amanhã, quinta, Miku teria aula de novo com o Kagamine, que também não conversara depois daquele sábado. Não que sentisse tanta falta dele, mas tinha que admitir que agora não desgostasse tanto assim dele. Embora, continuasse sendo o mesmo irônico, sadista e playboy de sempre. Algumas coisas nunca mudariam e Miku sabia muito bem disso.

— Miku? — Miku se virou depois de ouvir o seu nome e deu de cara com uma IA bufante e vermelha.

— IA? O que houve com você? — a garota teal perguntou preocupada com a expressão da amiga.

— Na-nada! Vamos, vamos pra casa.

— Mas..

— VAMOS! — IA aumentou o tom empurrando Miku pelo corredor até chegar no pátio da escola. A azulada decidiu não perguntar o que estava acontecendo. Saberia disso mais tarde, porém se sentia um pouco triste que IA não contasse para ela o que estava acontecendo.

Como um flash, as palavras que Rin dissera no sábado anterior, na loja de eletrônicos, voltaram a sua mente. Miku deslizou seu olhar para o chão da calçada e baixou os ombros ligeiramente.

Não queria acreditar naquelas palavras cruéis, IA não era assim, não agiria assim, não era igual a eles. Uma prova disso era o jeito que ela tratou Miku nos seus primeiros dias na escola, não deixando-se levar pelos outros e preferindo tirar suas próprias conclusões independente daquilo que lhe contavam.

IA não iria deixa-la, não é?

“[...]vai ver ela já se cansou de você[...]”

Não é?

— Miku? — a voz da amiga ressoou na cabeça, fazendo-a olhar para os olhos cristalinos da amiga. — Você não parece bem, aconteceu alguma coisa? Desde o fim de semana você está assim.

— Eu quem deveria perguntar isso. Parece que você viu um fantasma.

— Não é isso. — o timbre de IA tremeu quando disse isso.

— Hm... que tal você ficar na minha casa algum tempo, daí a gente pode conversar melhor.

IA pareceu ponderar a ideia, mas logo pegou seu celular e mandou uma mensagem, provavelmente para seus pais, dizendo que irá passar o resto da tarde na casa de Miku.

— Feliz?

— Muito! — a garota teal disse em pulinhos.

=/=

Quando ambas chegaram à casa de Miku, Haku ainda não chegara. Antes de qualquer coisa fizeram um lanche e subiram direto para o quarto da garota, a qual se espalhou pela cama, atirando sua mochila em um canto qualquer do quarto. Virou-se e ficou deitada de lado para olhar IA que, deixando sua mochila de lado, simplesmente se afundou em um puff colorido que Miku tinha em seu quarto. Esta soltou um suspiro e sentou em sua cama, olhando para a amiga.

— Então... quem começa?

— Você, é claro. — a rosada riu para a expressão de Miku.

— Porque eu? — perguntou em descrença.

— Eu sou a visita, não sou? — IA riu mais ainda ao ver Miku fazendo bico e soltar alguns baixos múrmuros.

— Muito bem! — Miku disse convicta. Olhou para IA e começou a falar. — Foi nesse sábado, eu tinha ido ao shopping...

— Espera, espera! — IA pediu, chacoalhando suas mãos, pedindo uma rápida pausa. — Você! — apontou para a amiga. — Indo ao shopping?

— A Haku me obrigou! — resmungou.

— Ah, faz mais sentido agora...

— Caham. Como eu ia dizendo, eu fui ao shopping, claramente sendo obrigada...

Miku continuou explicando. IA rindo aqui e ali quando a azulada falou sobre as pessoas que encontrou e como fez para se esconder delas, porém o riso sumiu quando a garota falou sobre em quem esbarrou na praça de alimentação, recebendo um olhar curioso e preocupado de IA.

O olhar, porém, fora substituído quando esta deixou claro que ele não foi tão mal quanto IA pensou que seria. Falou sobre ele a perseguindo pelo shopping, a conversa que tiveram no beco e como ele a arrastou para a loja de eletrônicos onde comprou um fone de ouvido muito, mas muito caro (na opinião de Miku, é claro).

A diversão, porém, acabou quando Rin havia chegado e a intriga se alastrou na memória e IA, assim como Miku ficara, se espantou quando chegou na parte em que o loiro arrastou a azulada para fora do shopping e ainda mais espantada quando a amiga falou sobre a conversa que tiveram lá.

— E daí ele não soube responder. — Miku disse depois de terminar, com uma mecha de seus cabelos em seus dedos.

— E o que aconteceu depois?

— Eu fui para casa.

— E...? — IA perguntou, mais interessada.

— E mais nada. Cada um foi para a casa. — disse, cruzando os braços.

IA cruzou seu olhar azul cristalino com o azul petróleo de Miku. Parecendo ler a mente da amiga assim que ambas as cores se cruzaram. Miku tremeu um pouco e mordeu seu lábio inferior.

“Bingo!” IA pensou.

— O que mais aconteceu? Tenho certeza que aconteceu mais alguma coisa. — a rosada triunfou.

Miku olhou para ela mais uma vez e deixou-se desabar em sua cama, fitando o teto branco e ponderando nas palavras que escolheria.

— Eu... eu conversei de novo com o Mine no Yuronoro.

IA soltou um bufo.

— Não acredito que está preocupada sobre ele, Miku, você nem o conhece!

Miku se levantou abruptamente da cama e fitou a miga.

— Você sabe que eu nunca tive outros amigos, falar com ele me deixava mais calma, mais segura. Eu ficava feliz porque eu tinha outra pessoa para conversar... mas você não entende isso, não é você que é a piada da escola inteira.

IA tremeu sob o olhar teal da amiga. Se arrependendo da maneira com que falou.

— Tudo bem, desculpa...

Miku suspirou e relaxou o semblante, desviando seu olhar para qualquer ponto do quarto, antes de continuar a falar.

— Eu tinha conversado com o Mine de novo, daí eu falei que tive um dia conturbado e que uma pessoa que eu achava que ia me tratar muito mal foi bem divertida. Daí eu falei que essa pessoa tinha uma irmã que me incomodava muito, daí ele perguntou qual era o nome da pessoa. Daí eu falei Len, então... ele parou de falar comigo.

IA prendeu sua respiração depois de Miku soltar tudo para ela. Seu cérebro parecia ter feito um “plim” e seus neurônios começaram a trabalhar direito. Tudo fazia um pouco mais sentido depois disso, mas Miku estava tão feliz com seu novo amigo que não chegou a se aperceber disso mais cedo.

— Miku. — IA a chamou, atraindo o olhar da garota. — Você já não chegou a cogitar a ideia de que esse Mine seja alguém que nós conhecemos? — perguntou.

O olhar de Miku ampliou em choque.

— Não, isso não é possível IA. As chances são muito pequenas. Aonde você quer chegar com isso?

— Miku, ligue os pontos, as conversas, tudo. Na noite do dia da sua primeira aula com o Len você tinha dito a esse “Mine-Kun” que tinha tido um dia difícil, e ele confirmou dizendo o mesmo sobre ele. Agora você vem e me diz que se encontrou com o Len no sábado e depois de ter contado tudo para aquele cara ele começa a te ignorar.

— IA, nã-não sei aonde você quer chegar... — Miku disse, temendo o que a rosada iria dizer em seguida.

— Miku, o que eu estou tentando dizer-te é: que o Kagamine é o Mine-Kun e, se for parar para pensar, faz ainda mais sentido se analisar ambos os nomes.

Miku entrou em choque. IA falando aquilo fazia parecer ter mais sentido do que gostaria.

— Mas... mas você pode estar errada, não é?

— Claro que posso, mas ainda acho que estou certa...

— O que eu faço IA? — Miku perguntou, tapando seu rosto com as mãos.

IA levantou e se sentou ao lado de sua amiga, abraçando-a de lado com um sorriso.

— Amanhã, quando for estudar com ele, você pode pergunta-lo.

— Mas se ele não for o Mine ele vai saber que eu uso o Yuronoro, ou se ele for o Mine ele vai saber mesmo assim e vai rir de mim porque eu uso esse site!

IA riu, chamando a atenção da garota ao seu lado.

— Ele não vai fazer isso Miku. — IA sorriu tranquilamente, tentando acalmar os nervos da amiga que já tinha tirado as mãos de sua visão.

— Muito bem, agora... o que aconteceu com você hoje?

Agora foi a vez de IA congelar.

— Por-Por que você quer saber disso?

— O que? Eu te falei tudo isso e você não quer me falar nada? Não acredito nisso IA.

— Tudo bem, tudo bem... Aconteceu no final da aula...

[ Flash Back ON ]

IA arrumava suas coisas para poder encontrar Miku (que tivera feito uma coisa que não devia e foi retirada da sala). A essa altura já estava sozinha nos corredores, já que demorara de propósito para deixar tudo se esvaziar. Odiava ter que ficar naquele bolor do corredor toda vez que o sinal batia para o término da aula.

Olhando para a janela afora viu que praticamente todo mundo já estava fora do prédio. Suspirou em alívio, porém, ao dobrar a esquina do corredor se deparou com duas garotas e dois garoto. Um garoto era Yuma, primo de Luka, que estava entre as duas garotas que eram Gumi e SeeU. O outro garoto era, surpreendentemente, Rei.

“É hoje” pensou.

As garotas se viraram para encará-la.

— IA! — Gumi falou vindo na frente. — O que está fazendo aqui? Se não se importa, poderia sair?

IA inflou a bochecha e cruzou os braços.

— Sinto muito, Gumi-san, mas creio que a escola não seja um lugar adequado para o que você está pensando em fazer com eles. — IA queria rir da expressão pálida que Gumi exibiu, mas então SeeU interveio com os olhos tremendo em raiva.

— E quem você pensa que é para nos dizer isso? Até onde sei você não é ninguém!

— Hey, meninas, não precisam se alterar tanto. — Yuma disse, sendo completamente ignorado pela loira. O rosado olhou para Rei, que continuava indiferente.

— Se eu não sou ninguém, você não é nada, SeeU. —disse sem pestanejar.

SeeU cerrou os dentes e IA teve quase a certeza que iria levar um tapa daquela garota que, obviamente, tinha problemas para controlar a raiva, mas esta apenas relaxou e abriu um sorriso maldoso.

— Eu, nada? Olhe quem está falando. Não fui eu quem foi jogada em um orfanato pelos próprios pais.

IA petrificou onde estava, sentindo os olhos ardendo dolorosamente. Viu Gumi e Yuma se entreolharem, preocupados. Rei, que até agora estava impassível, deu sua primeira palavra com o típico sotaque europeu.

— Acho melhor vocês retirarem sua amiga daqui e dar-lhe algo para se acalmar.

Gumi e Yuma concordaram, pegando, cada um, um braço da loira e a arrastando para fora do corredor. Após sumirem de vista, Rei lançou seu olhar dourado na direção de IA, que continuava na mesma situação de antes. Petrificada e com os olhos marejados, prestes a transbordarem.

O moreno foi até ela, parando a sua frente. Chamando sua atenção, ela o fitou, sendo mais uma vez surpresa com o dourado cintilante que vinha dos olhos dele.

— Adotada? — ele perguntou como quem não quer nada, recebendo uma confirmação baixa da garota.

— Nã-não ache que não gosto dos meus pais adotivos. Eles são muito bons para mim, eu os amo, mas eu... mas eu não gosto quando falam sobre isso. — ela deixou-se derramar uma lágrima.

Em segundos, ela sentiu uma leve pressão onde a lágrima escorria. Com os olhos assustados, ela viu que fora Rei que secava o local com a ponta de seu dedão, sua mão repousava no rosto da menina.

— Se você gosta tanto deles, não deveria chorar por isso. — disse antes de recuar e dar as costas, tomando seu próprio caminho. — A propósito, Miku estava te procurando pelos corredores para ir para casa.

IA assentiu, sentido as bochechas arderem como fogo. Quando Rei sumiu de vista, ela deixou-se soltar um som agudo, semelhante a um grito muito baixo, e saiu correndo pelos corredores a procura da amiga.

[ Flash Back OFF ]

...

— Você gosta dele. — Miku disse, apontando sugestivamente para a rosada com um sorriso malicioso no rosto. IA corou ao extremo, baixando a mão da amiga.

— É-é claro que não!

— Não negue, sei que está gostando dele!

— Hora, sei que você gostou da tarde com o Kagamine!

Foi a vez de Miku corar.

— CALADA!

IA olhou assustada para a garota que logo se arrependeu do modo que falara.

— Desculpa... — implorou.

— Miku? Tem mais alguma coisa que você queira me dizer?

— E-eu. — Miku perdeu a fala ao olhar para IA, cujos olhos apresentavam preocupação. Derrotada, a garota teal puxou suas pernas para cima da cama e sentou-se abraçada aos joelhos.

— Miku?

Miku fechou os olhos, escolhendo as palavras certas.

— No primário e no ensino médio eu gostava do Len... Muito.