Orehalion escrita por I A Silvestre


Capítulo 1
O Rei dos Ventos Navalha, O Grande Barranco e A Cidade de Arzia


Notas iniciais do capítulo

A Chama Bicentenária - Prólogo e Capítulo I



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Os ventos continuavam os mesmos de sempre naquela vasta e temida floresta que se encontrava na região leste do continente de Io: a Floresta dos Ventos Navalha. Era conhecida como habitat das mais temidas criaturas: Tartarugas Olhos-de-Águia, criaturas carnívoras, gigantes e extremamente resistentes, que podiam enxergar suas presas de até um quilômetro de distância; Tiranossauros Vermelhos, répteis que destruíam todos os obstáculos em seu caminho ao fim de capturar seu almoço do dia; dentre outras formas de vida exuberantes nunca citadas em livros infantis. Mas a floresta era também lar de um rapaz de cabelos vermelhos, conhecido como Luganno Quilgich.

Luganno morava em cima da maior árvore dali, a Rainha Esmeralda. Acordava todos os dias bem cedo para caçar seu almoço. Com suas roupas verdes, conseguia se disfarçar facilmente em meio aos diversos tipos de plantas. Olhava atentamente cada movimento de animal até achar a presa. Esperava o momento perfeito e, então, atacava. Corria rapidamente em sua direção e desembainhava sua Katana dos Ventos Navalha, forjada durante séculos pelos próprios ventos da floresta. Em um piscar de olhos, era possível ver um grande Javali Boi caído em sua frente. Javalis Bois eram as criaturas mais rápidas da Floresta, mas nada se comparava à rapidez dos Ventos Navalha. Luganno já tinha se tornado o Rei daquela floresta, e a posse da Espada confirmava isso.

Após levar sua caça para casa e comê-la temperada com néctar de lótus cinza, Luganno sai novamente para averiguar a segurança do local. Foi quando uma forte dor de cabeça lhe fez cair ao chão, pálido. Não conseguia ouvir mais nada além de um forte zunido dentro de sua cabeça. Uma aquarela de cores aleatórias e fluorescentes começaram a piscar em um ritmo bagunçado em sua mente. Luganno girava de um lado para o outro em meio às folhas caídas e aos arbustos, agonizando de dor. De repente, tudo ficou branco e silencioso. Após algum tempo, conseguiu ouvir a voz de uma pessoa conhecida.

Luganno, chegou a hora. Se apresse! Não vai querer perder a sua única chance, não é mesmo?”

Então tudo ficou nítido novamente. O barulho da floresta mais uma vez se tornou audível, e ele anunciava que um Tiranossauro Vermelho estava ali por perto. Luganno se levantou rapidamente e nocauteou a fera.

—Sim, está na hora irmão.

Saiu então, pela primeira vez, de sua rotina. Levando apenas sua espada, Luganno seguiu em direção ao Grande Barranco, a primeira parada de sua jornada.

 

—-

 

O sol queimava na pele de Luganno como nunca antes havia acontecido. Após ter caminhado por algumas horas, o suor escorria por todo o seu corpo enquanto andava pela larga estrada de rochas e terra do Grande Barranco, que aparentava ter sido, antigamente, um grande rio. Por isso, algumas plantas ainda podiam ser vistas nas bordas da estrada.

Por alguns dias, se alimentou de pequenas criaturas que caminhavam por ali, nada que se comparasse às que viviam na floresta. Após alguns outros dias de caminhada, chegou até um deserto. Alguns pássaros podiam ser vistos no céu distante e alguns seres mortos no chão. O deserto não era feito de areia, e sim de terra seca, como se ali, antigamente, tivesse sido um lago ou algo parecido. Algumas árvores secas se encontravam cheias de ninhos e alguns animais rodeavam os mesmos, esperando o dono aparecer para se tornar seu almoço. Em meio a todos esses seres estava um pequeno garoto de aparentemente cinco anos de idade, cabelos brancos e pele morena, caído ao chão. Ao ouvir passos, juntou forças para se levantar. Ele estava em péssimo estado e aparentava estar com muita fome.

—Moço, ei moço, você pode me ajudar? – o garoto começou a tossir. Luganno se abaixou e o segurou.

—Qual o seu nome?

—Meu nome é Robel. – Disse, após tossir mais algumas vezes. – Meu pai e meu irmão estão com problemas. Será que você pode me ajudar?

Robel, então, guiou Luganno até sua casa, que era uma pequena tenda no meio do deserto. Ao entrar lá dentro, algumas pinturas decoravam o ambiente, assim como algumas esculturas. No centro do recinto, duas pessoas se encontravam ajoelhadas, com os olhos brancos esbugalhados. Possuíam a mesma cor de pele e de cabelo que as de Robel. O garoto se sentou em um pequeno banco de madeira e pediu para que Luganno se acomodasse.

—Estes são meu irmão, Benzigg, e meu pai, Douglas. Não sei o que aconteceu. Estávamos fazendo nossa oração diária quando de repente eles ficaram desse jeito. Eles costumavam caçar Pégasos Camelos para a janta, mas eu não consigo fazer isso. Será que você poderia me ajudar?

Luganno olhou de um lado para o outro, analisando a situação.

—Pégasos Camelos? Nunca ouvi falar. São fortes?

—São bem grandes, mas o senhor tem uma espada. E é bonita. Tenho certeza que você consegue matar um Pégaso Camelo, não é? Por favor! Afinal, o senhor caminhou até aqui e não apresenta sinais nem de fome, nem de cansaço, muito pelo contrário. Parece ter dormido bastante.

Luganno pensou um pouco, imaginando como o garoto conseguia saber de tudo aquilo somente olhando para ele. Finalmente se decidiu.

—Está bem – disse Luganno, se levantando. – Farei isso.

—Muito obrigado, moço!

Os dois, então, saíram da tenda e começaram a procurar por tal criatura.

—Eles costumam ficar a norte daqui. É só andarmos um pouco que conseguiremos achá-los. Ali está um.

—Aonde?

—Ali, no céu!

Luganno olhou pra cima e viu o que parecia ser uma mancha negra bem distante. Conforme esta figura distorcida ia se aproximando, a imagem de um Javali Boi muito mais magro, alado e com um chifre na testa ia se formando.

—Nunca vi nada parecido, mas não parece ser muito forte.

O Pégaso foi descendo lentamente até encontrar o chão. Em suas costas, podiam ser vistas duas corcovas.

—Parece ser um bom animal para se domesticar, mas, já que você está com fome, não tenho escolha. – Luganno retirou sua espada da bainha lentamente até a metade. Logo, um barulho começou a ecoar da mesma. Rapidamente, navalhas de vento saíram da espada e foram em direção ao camelo, que tentou desviar, mas não conseguiu. Caiu ao chão retalhado em poucos segundos.

—Venha, vou te ajudar a levá-lo pra casa.

Já era noite quando os dois comeram o Pégaso. Robel tentou alimentar seus parentes, mas não conseguiu.

—Estou partindo, Robel. Espero que seu pai e seu irmão se recuperem rapidamente.

—Já? Você tem algo pra fazer na cidade, não é? Está certo.

—Sim, mais ou menos isso. Então... Estou indo.

—Espere! Como você se chama?

—Meu nome é Luganno. - E então partiu.

—Luganno, hein? Muito obrigado.

Robel escutou um barulho na tenda.

—Pai, irmão? – Robel se virou e viu seu pai caído ao chão, inconsciente, enquanto seu irmão ainda estava na mesma posição de antes.

—Pai! Papai!

—-

As luzes estavam apagadas na cidade de Arzia. Não havia rastro de um cidadão sequer nas ruas, apenas os vigias que faziam sua ronda noturna. Iluminavam com suas lanternas de um lado para o outro, passando um olhar rápido, porém atento, observando atos de vandalismo nas ruas da cidade.

Uma passada de olho e a luz da lanterna do guarda revelam uma estranha criatura deitada em um dos becos. O vigilante vai se aproximando, com sua lanterna fixa naquele ponto, e o que aparentava ser uma criatura estranha na verdade era um Pégaso Unicórnio.

—Mas o que é isso? Como veio parar aqui? Será que está ferido? – Indagou o guarda.

Mas, aproximando-se, viu que o Pégaso não era a única criatura por ali. Ao lado dele, um garoto de cabelos vermelhos com uma espada dormia. Rapidamente foi acordado com um feixe de luz batendo em seu rosto. -Ei, garoto. Diga-me seu nome! – exclamava enquanto colocava a mão em seu porrete.

Levantando-se lentamente, abriu os olhos. Ainda meio tonto, olhou para o vigilante e se assustou com a sua ação.

—Ah, acalme-se, por favor! Meu nome é Luganno.

—Luganno? Que nome feio. – O guarda retirou sua mão do porrete. – De qualquer forma, não é permitido dormir nas ruas de Arzia, você deve arranjar outro local pra dormir.

—Me desculpe senhor, é que eu acabei de chegar de viagem e não sei como funciona o sistema nesses lugares que vocês chamam de cidade... – Luganno olha para o Pégaso e vê que o mesmo ainda estava em sono profundo.

—Você está brincando comigo, garoto? De qualquer jeito, vejo que você tem uma espada. Neste exato momento está ocorrendo um evento na Casa de Batalhas de Arzia. Se você realmente luta, sugiro que você teste suas habilidades lá. Quem sabe não descola um dinheiro pra pagar um hotel?

—Casa de Batalhas? O que seria isso?

O guarda explica tudo para Luganno. O garoto, então, se levanta e vai à direção que lhe foi dada. Ainda estava surpreso com a tal cidade. Nunca havia visto uma em sua vida, já que viveu sua vida toda na floresta com seu irmão. Caminhando por alguns minutos, chega a frente a uma pequena porta que se encontrava após alguns degraus que desciam. Aparentemente era a única luz acesa em toda Arzia no momento. Luganno desce a escada e então entra no local, encontrando várias pessoas gritando em volta de um círculo. Lá em cima havia duas pessoas: uma estava em pé e devia ter uns 2 metros e meio de altura. Tinha cabelos loiros e uma grande barba loira. Segurava um grande machado. A outra pessoa estava agachada ao chão e estava bastante ferida. O sangue fazia com que sua aparência fosse irrelevante. Ele segurava uma espada, mas suas mãos tremiam de tal modo que a largou.

O homem maior ria enquanto levantava seu machado em posição de vitória. O público aplaudia e então uma terceira pessoa subiu no ringue.

—A vitória vai para Trulli, o bárbaro de Alatti! – gritava o rapaz que deveria ter uns 18 anos. Vestia um terno preto acompanhado de uma gravata-borboleta vermelha. Seus cabelos eram longos e estavam presos por uma fita. – Alguém vai querer lutar contra o bárbaro?

Após alguns segundos passaram e ninguém respondeu.

—Já que é assim, concluirei, agora...

—Espere! – uma voz interrompeu a fala do narrador. – Eu vou lutar contra ele.

Um rapaz loiro de aparentemente 20 anos de idade sobe ao ringue, enquanto dois assistentes do torneio retiravam o rapaz ensanguentado que não conseguia se mover. O novo adversário estava acompanhado de um pequeno garoto, também loiro.

—Fique do lado de fora, Louis, eu ganharei esse torneio por você.

—Tá, irmãozão!

—Tudo pronto? Então que se dê início a luta! – O narrador pulou pra fora do ringue e um barulho de gongo ecoou pelo recinto. Automaticamente a ovação do público pôde ser novamente escutada.

Trulli foi em direção ao rapaz com uma machadada em vertical, que foi facilmente esquivada. O rapaz, então, retirou uma de suas mãos do bolso e golpeou rapidamente o bárbaro, que recuou com uma mão no peito.

—O que foi isso? Um ataque excepcionalmente rápido! Alguém conseguiu acompanhar? – O narrador estava eufórico.

O garoto, com um salto, se aproximou de Trulli e retirou a outra mão do bolso. Desta vez foi possível ver que ele segurava uma faca. Após alguns movimentos rápidos, colocou novamente a mão no bolso e recuou. O bárbaro caiu no chão agonizando de dor.

—Moleque! Você vai pagar! – Seu machado se partiu em 3 pedaços, e então Trulli desmaiou.

A plateia gritou com um entusiasmo não antes visto. 3 pessoas subiram rapidamente ao ringue para retirar o corpo do derrotado. Novamente, o narrador voltou ao centro do ringue e perguntou se alguém estava interessado em participar da batalha.

Isso vai ser interessante”, pensou Luganno.


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