A Seleção - Interativa escrita por Lady Ann


Capítulo 19
Abrigo


Notas iniciais do capítulo

OE AMORES :3
Vocês são lindos!



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Skyler Rose Young

Estar naquele palácio sempre foi uma aventura. Eu estava adorando cada segundo.

Como tinha feito uma semana desde que chegamos ao palácio, eu não me comovi de não ser chamada para nenhum encontro com os príncipes. Sabia que estava ali inteiramente por eles e pela oportunidade que aquilo poderia me trazer... Mas, sinceramente, eu não estava ligando nem um pouco para ser chamada ou não para um encontro. Eu daria o tempo que os príncipes precisassem.

Naquela manhã, algumas meninas que não foram chamadas para encontros colocaram roupas bem sugestivas. Uma delas foi Dakota. Eu achava aquilo desnecessário, mas os príncipes pareciam ter gostado.

Eles chegaram antes de nós para o café da manhã, de modo que tivemos nos arrumar nos lugares com o rei e a rainha observando tudo. Eu fiquei muito nervosa, não pelos príncipes, mas sim pelo rei. Ele sempre tinha aquela cara de quem vai acabar com nossa vida.

E naquele dia foi ainda pior. Eu sentaria na cadeira mais perto do rei possível, por que Mackenzie tinha sido eliminada no dia anterior e ela era a única barreira entre mim e o inabalável rei de Illéa. Agora ele teria toda a visão do mundo para analisar meus modos à mesa.

Enquanto eu me sentei o mais rápido possível sem perder a graciosidade (que cá entre nós eu já nem tenho nessas situações), algumas meninas pareciam estar adorando ficar em pé e de lado com seus vestidos justos. Óbvio, os príncipes olhavam. Dakota deixou cair algo só para se abaixar e subir com a bunda empinada. Matthew deu risada, porém Thomas parecia mais desligado.

– Chega a ser ridículo, né? – falou Gina para mim.

Gina sentava à minha direita e sempre comentava comigo algumas coisas na hora das refeições. Ela e Mack eram minhas “amigas do Salão de Jantar”. Elicha sentava ao lado de Gina e entrou na conversa com facilidade.

– Acho que está mais para engraçado do que para ridículo – ela disse, rindo.

Eu ainda tentava manter a postura perto do rei Richard. A rainha desaprovava Dakota com o olhar. Ela falou algo para Matthew e ele fez que sim com a cabeça. Naomi disse mais alguma coisa e ele fez que não. Pude notar um “Que bom” saindo da boca de Naomi para dar fim à conversa.

– Selo Rainha Naomi de desaprovação – falei, Gina e Elicha começaram a rir.

Continuamos a comer sem mais surpresas. Naquele dia, nem Thomas nem Matthew tiveram a necessidade de chamar alguém para um encontro em público e na frente dos pais.

● ● ●

Depois do café as oito, a próxima refeição seria meio dia e, como eu não era chamada para encontro nenhum, poderia ficar sem fazer nada o dia todo. O dia a dia das Selecionadas chegava a ser chato, bem, pelo menos para aquelas que não se encontram o tempo todo com os príncipes.

Não queria ficar no Salão das Mulheres, queria sair para o jardim, andar de skate, fazer algo que eu faria se não estivesse presa naquele lugar. Fui para o térreo andando sem destino.

Peguei-me pensando nos meus amigos. Em como Sam me tratou diferente no dia em que eu fui escolhida para a Seleção e como ele manteve certa distância depois. Percebi como aquilo tudo fazia sentido agora que eu estava longe. E eu tinha ficado tão chateada com ele... Ele só estava tentando proteger a ambos.

– O que faz uma dama sozinha a essas horas do dia? – Era a voz de Alec.

Eu estava sentada em um sofá que ficava em alguma parte do palácio. E Alec estava bem à minha frente. Aquele não era dia dele estar no palácio.

– Eu “moro” aqui. E o que você faz dentro do palácio a essas horas do dia? – perguntei, quase o desafiando, mas com um sorrisinho no rosto. Era bom poder falar com alguém tão engraçado.

– Vim resolver algumas coisas para o Jornal Oficial de amanhã, você sabe... Às vezes o rei pode não gostar da programação, então todos responsáveis pelo Jornal vêm um dia antes para colocar tudo na pauta.

– Deve ser desgastante vir todo dia para cá.

O palácio ficava um pouco afastado de tudo. Era o final de uma rua e não havia prédios por perto, de modo que a segurança fosse mais eficiente e a realeza não tivesse que se importar com pessoas postando vídeos deles de roupas de banho se queimando de sol no jardim.

– Vale a pena quando posso ficar perto de pessoas como você – ele sorriu.

Alec tinha um jeito todo próprio de ser charmoso. Como não era príncipe, ele não tinha aquela pressão toda por cima de seus ombros e parecia bem mais “leve” se comparado a Thomas e Matthew. Além disso, até suas roupas eram diferentes: eu nunca tinha visto Thomas de calça jeans ou Matthew com uma camisa comum. Aliás, eu não via homem algum usando uma camisa ou camiseta desde que entrei no palácio. Todos usavam camisa social.

Alec segurava óculos escuros e eu percebi que também não tinha visto ninguém com um desses desde que chegara ali. Eu tinha até esquecido que aquilo existia.

– Nunca viu óculos? – perguntou Alec, rindo.

Corei.

– Não... É que eu não vejo muitos desse aqui no palácio – expliquei-me, ficando com vergonha. Detestava ser questionada.

Ele ergueu a mão com os óculos para mim.

– Toma, pra você não perder o costume de usar.

Só peguei por ter ficado muito sem reação, pois eu nunca pegaria algo que não é meu. Ainda mais dentro do palácio real. Levantei-me, me preparando para dar o fora dali antes que alguém nos visse conversando. A última coisa que eu queria era que alguém me chicoteasse até a morte por estar conversando com alguém além dos príncipes. Além do mais, Alec não era lá essas coisas. As outras meninas poderiam ter gostado muito dele, mas para mim ele era só alguém com quem eu falava por obrigação.

– Tchau, Alec, até amanhã – falei. E me virei para ir embora.

Ele não disse mais nada e me deixou ir. Que bom, pensei. Ele é engraçado, mas meus amigos eram mais. Se fosse para ficar com alguém muito engraçado, ficaria com Travis.

– Opa, cuidado por onde anda, Angeles – disse um guarda para mim. Nós quase batemos um no outro.

Achava engraçado o modo como os guardas nos tratavam pelos nomes das províncias quando não sabiam nossos nomes. Respirei fundo e passei a prestar um pouco mais de atenção no meu caminho.

Por onde Sam Collins estaria andando naquele momento? Será que ele estaria com outra menina na pista de skate? Será que os meninos torciam por mim? Bem, eu não tinha muitas dúvidas disso, já que eu era a única Selecionada que eles conheciam de verdade, mas se bem que...

Ouvi uma janela se espatifar. E logo mais uma e outra. Eu estava na frente do palácio, na porta que dava para o jardim e a janela do jardim fora totalmente quebrada. Alguns guardas se colocaram a postos.

– Senhorita! – um deles gritou para mim. – Você deve sair daqui!

– O que está acontecendo?

Uma janela parecia ter sido quebrada no segundo andar e eu ouvi som de tiro. Eu não escutei nada por três segundos e nos quatro seguintes eu escutava um ruído. Os guardas gritavam e eu não conseguia escutar nada. Olhei envolta, o que fazer? O que estava acontecendo?

Um guarda veio até mim e me puxou. Eu não sabia para onde ir e ele também parecia na mesma situação. Alguns guardas falavam coisas para ele e eu não conseguia escutar. Meus ouvidos voltaram a funcionar e eu queria continuar ser ouvir nada: eram gritos por toda parte. O palácio estava sendo atacado.

Um dos guardas que estava falando conosco foi baleado e eu perdi o chão. Sempre achei que fosse forte o suficiente para ver alguém ser baleado e ainda manter a calma, mas quando isso aconteceu na vida real, foi como se o tiro tivesse sido em mim.

– Senhorita, corra para lá! – O guarda se abaixou para falar comigo e me pôs de pé.

– Não consigo – Comecei a chorar.

– Consegue sim, merda, rápido, você pode se machucar.

O guarda olhava para trás freneticamente e outro tiro ecoou pelo térreo. Eu fechei os ouvidos e os olhos. Não queria ouvir mais nada nem escutar mais nada. Aquilo tinha que passar o mais rápido possível, e eu iria ficar ali até que acabasse. Eu não sabia como continuar.

– Pode deixar – disse uma voz conhecida perto de mim. Não consegui decifrar por ainda estar com a mão em concha perto do ouvido.

– Tomem cuidado – falou o guarda.

Eu só via o breu na minha frente.

Alguém passou os braços a minha volta. Eu tinha sido sequestrada. Não queria abrir os olhos, não queria ver meu sequestrador, mas também tinha que fazer alguma coisa. Minha mãe me mataria se eu fosse sequestrada dentro do palácio. Toda uma vida me protegendo de ser sequestrada em Angeles e eu chego no lugar mais seguro de Illéa e tenho minha chance.

Abri os olhos para ver onde eu estava. Era o corredor por onde eu tinha vindo. A pessoa me levava e estava correndo tanto que eu ia para cima e para baixo em seus braços. Era um garoto, mas não vi seu rosto. Meu deus, eu seria estuprada.

– Me larga! – gritei.

Joguei minhas pernas para o lado esquerdo, para longe do cara e nós dois quase caímos. Ele me jogou por cima dos ombros.

– Para, Skyler! – falou o cara.

– Me solta! – exigi.

Chutei sua barriga. Com o salto que eu estava, esperava ter doído.

– Caralho! Skyler! É o Alec!

Pude sentir Alec se contorcer de dor. O que eu tinha feito? Estava lutando contra a força aliada. Eu parei de fazer qualquer movimento. Não queria atrapalhar Alec e seu maravilhoso momento de salvação. Olhei para frente (para trás se for ver por Alec) e tinha uma garota usando roupas de camuflagem. Ela olhou para nós e fez com os braços como se chamasse mais gente.

– Alec! Alec, vão nos pegar!

Alec virou à direta e eu não vi mais nada. Entramos num corredor escuro. Alec continuava a correr como se conseguisse ver alguma coisa e eu tentava parar o choro. Iria morrer. Ela chamou todo o exército para vir atrás de nós.

Alec se abaixou e me colocou no chão em algum ponto do trajeto. Eu não tinha mais ideia de onde estávamos. Eu só queria ir para casa, queria estar segura de novo. Encolhi-me. O que eu estava fazendo naquele palácio?

Alec começou a tapear a parede e eu não via como aquilo podia nos ajudar até perceber que, em algum canto do meu lado, a parede abriu e lá dentro tinha uma luz.

– Isso! – comemorou Alec. – Entra, Sky, rápido.

Eu não esperei nem um segundo. Engatinhei até lá. Não me importava se o vestido fosse sujar ou coisa parecida, eu só queria estar segura. Só podíamos ficar sentados naquele lugar. Eu achei que fosse uma passagem secreta para o paraíso onde ninguém poderia nos achar, mas era apenas um espaço dentro da parede. Lá fedia a mofo e era frio eu me encolhi em algum canto e Alec entrou. Ele apertou um botão e a porta se fechou.

Lembrei-me do antigo freezer lá de casa que, quando você fecha, ele não abre até que a pressão diminua. Talvez seja a mesma coisa, só que só abrindo pelo lado de dentro. A luz lá dentro apagou e Alec mais uma vez tateou a parede. Ouvi um metal rangendo e uma lanterna foi acesa. A luz era tão precária que eu quase não conseguia ver o rosto de Alec. Ele tinha tirado aquela lanterna de um tipo de gaveta embutido na parede do quadrado onde nos encontrávamos.

– Pegamos um médio, má sorte – Alec equilibrou a lanterna no chão e a luz ficou mais bem distribuída pela minúscula caixa onde nos encontrávamos. - Pelo menos estamos seguros.

– O que está acontecendo? – Aquilo saiu mais como um resmungo do que como uma pergunta. Minha voz de choro era deplorável.

– Estão invadindo o palácio – respondeu Alec, ele checava a parede.

– Quem está invadindo o palácio?

– Rebeldes.

Alec encontrou um botão e o apertou. A luz do lugar acendeu.

– Bem melhor, não? – Ele sorriu para mim e checou o lugar a procura de mais botões.

Não era melhor, mas na falta de algo melhor era o que tínhamos. Pude ter uma visão melhor do lugar. Era alto o bastante para Alec ficar de joelhos, mas pequeno, de modo que não tinha lugar para esticar minhas pernas se eu quisesse.

– É só pra uma pessoa, por isso é pequeno assim, mas é melhor que os mínimos.

Observei-o abrir mais uma gavetinha e pegar uma faca e um kit de primeiros socorros. Ele colocou a faca no chão e olhou para mim. Pareceu perguntar-se se eu estava machucada. Meu vestido era curto e eu não sabia como não tinha subido enquanto estávamos correndo. Alec olhou para minhas pernas e checou se tinha algum machucado. Colocou o kit de volta na gavetinha e puxou a gaveta do lado, bem perto da minha cabeça. Essa era bem grande. Ele pegou uma garrafinha de suco de uva e pôs do meu lado. E fechou a gaveta.

Ele se sentou na parede que estava de frente para mim. O lugar era tão pequeno em área que minha perna chegava perto da dele o tempo todo. Eu estava sentada sob minha perna esquerda e minha cabeça estava apoiada na parede.

– O que os rebeldes estão fazendo no palácio? – perguntei para quebrar o silêncio.

– Coisas de rebeldes, sabe? Matar gente, roubar coisas, pichar os muros...

– Como você consegue ficar tão tranquilo? – reprovei.

Ele riu.

– Você não me conhece mesmo?

Pensei por um segundo. Acho que a resposta adequada seria não, já que só quando a Seleção começou que eu o conheci. E nada além do apresentador. Acho que se Julieta ou qualquer outra menina estivesse ali estaria falando coisas e mais coisas sobre a vida dele enquanto tudo o que eu sabia sobre ele era que ele era o responsável pelas entrevistas relacionadas com a Seleção. Decidi não responder e ele sorriu.

– Eu cresci aqui. Thomas e Matthew são irmãos pra mim. Eu já presenciei tantos ataques que não consigo contar quantos foram. Sei todas as passagens escondidas desse lugar. Menos as do terceiro e quarto andar.

Alec já tinha presenciado tantos ataques, já devia ter presenciado várias mortes. Por seus olhos, eu diria que ele já tinha visto pessoas morrerem em suas mãos e não pode fazer nada. E, em um ataque onde nada aconteceu comigo, eu tinha acabado de chutar sua barriga e chorar como um bebê.

Comecei a chorar de novo.

– Ei, ei – Alec se moveu na minha direção.

– Me esquece – murmurei.

– Tudo bem, apenas achei que iria querer saber algumas curiosidades sobre esses lugares... – Alec encostou de novo na parede.

Parei de chorar. Sabia bem o que ele estava tentando fazer, será que ele achava que eu tinha cara de criança?

– Conta – pedi.

Só para constar, eu só deixei-o contar por que não queria passar todo o tempo que ficaríamos trancados ali chorando feito garotinha assustada. Sabia que se Isaac, Sam, Hector ou Travis estivesse ali eu estaria pensando em algum jeito de ajudar, mas ali, no meio de um lugar onde eu não conhecia nada e tudo o que eu fazia estava errado, eu simplesmente não sabia como agir.

– Vou te mostrar uma coisa, mas você tem que prometer que não contará a ninguém – falou.

– Prometo.

Afinal, pra quem eu iria contar? Pras paredes? Nunca tive amigas e não era com a Seleção que eu iria ganhar amigas pro resto da vida.

– Ok!

Ele fuçou no bolso da calça e pegou um celular. Eu fiquei surpresa.

– Você pode chamar alguém? – perguntei.

– Não, quando o palácio está sob ataque o sistema de bloqueio de rede se ativa para dificultar a comunicação dos rebeldes. Assim, não podemos ligar para ninguém também. Não são todas as pessoas daqui que têm celular, então não foram muitas as pessoas prejudicadas por isso...

– Ah, sim... – Admito que fiquei um pouco chateada. Mas para quem iríamos ligar? Os guardas mais bem treinados estavam bem ali.

– Vem aqui – chamou Alec.

Fiz uma manobra para ir parar na parede de Alec e poder observar o que quer que fosse que ele iria querer me mostrar. O lugar era tão pequeno que tive que ficar encostada a Alec.

Olhei para Alec. Estávamos perto demais um do outro, mas como não tinha para onde fugir eu não podia fazer nada.

– Prometo que não contarei.

Alec acessou a galeria e entrou em uma pasta chamada "Palácio". Lá estavam fotos de todos os tipos, plantas do castelo, planilhas, tabelas, listas, eu fiquei surpresa com a quantidade de arquivos que ele tinha sobre o palácio. Coisas que você não vê em lugar algum estavam no celular de Alec.

Ele clicou na foto de uma planta que tinha algumas partes mais claras que outras. Eram vários quadrados em vários cantos, ficava até difícil de saber o que era o que.

– O que é isso? - perguntei.

– É uma das plantas do palácio. Ela é só para os abrigos. Aqui estão localizados todos os abrigos.

Ele passou a imagem e outra do mesmo estilo apareceu, e mais quadradinhos no meio de quadradões foram sendo apresentados. Cada rabisco parecia ter sido meticulosamente planejado, todos em seu lugar. Eu nunca vi um trabalho tão espetacular. Aquelas plantas haviam sido feitas por alguém muito experiente. Eu nunca vinha visto uma planta do palácio antes, então só por ter visto aquilo, já estava feliz.

– Onde estamos?

Ele virou a imagem e deu zoom em um quadradinho minúsculo dentro de outro maior.

– Bem aqui. - Respondeu, sorrindo.

– Nossa! Quem fez isso? Tem todas as partes do palácio mesmo?

Ele olhou para mim, seus olhos verdes eram mesmo penetrantes como dissera Gina para mim. Eu fiquei com vergonha por estar sendo encarada daquela maneira por um estranho.

– Vamos brincar de ligar os pontos - falou. Seus lábios formavam um pequeno sorriso ao final de cada frase. - Eu disse que sempre vim aqui.

Já sabia onde ele queria chegar.

– Também disse que sabia onde ficavam todos os abrigos.

– Já entendi. Você os fez.

Eu sempre achei que Alec fosse apenas o rostinho bonito do castelo. Que só haviam o escolhido para fazer as entrevistas por que era lindo e falava bem, mas a capacidade de Alec ia além daquilo. Amelie trabalhava com arquitetura, ela iria adorar saber que Alec fazia plantas tão perfeitas como aquela. Alec não era só o bobo da corte, afinal.

– Achou que eu ganhasse dinheiro por ser bonito assim? - perguntou, fazendo careta.

Eu sorri fraco. Me senti idiota por julgá-lo tão cedo. Ele até poderia fazer piada da situação, como se não se importasse, mas eu sabia como importava a opinião dos outros. Desde pequena eu sempre fui julgada, e as pessoas não esperavam me conhecer para falar de mim. Eu não devia estar fazendo o mesmo com Alec. Me senti mal. Queria sair dali o mais rápido possível, nem que eu tivesse que ser baleada.

– Eu disse alguma coisa estranha? - perguntou.

Sabe quando do nada você corta todo o clima da conversa e fica com aquela vontade de ir embora? Em uma festa ou em uma conversa em sala de aula, eu poderia facilmente fazê-lo. Mas no meio de um ataque ao palácio, dentro de um cubículo como aquele, eu estava presa.

– Não. - Não deixava de ser verdade, a única que tinha feito algo errado era eu.

– Está tudo bem?

– Está... - Vamos, Sky, invente alguma desculpa! - É só que... Eu fico pensando se as pessoas conseguiram encontrar qualquer um desses abrigos.

Alec se ajeitou e ficou de frente para mim.

– Os funcionários do palácio têm um tratamento especial para esse tipo de ocasião. Todos sabem para onde correr. Foi exatamente para eles que fiz essa planta. Não precisa se preocupar...

Aquilo só me fez ficar pior. Alec ajudou todos do palácio com aquela planta tão bem feita e eu estava aqui o julgando e zombando de como ele parecia não ter nada para fazer da vida. Ele tinha sim, e era bem melhor do que qualquer coisa que eu poderia estar fazendo.

– Posso ver mais? - perguntei.

Pode parecer que eu queria sofrer mesmo, mas na verdade eu só estava curiosa. Queria ver até onde a capacidade de Alec ia.

– Claro - ele sorriu.

Me permiti sorrir por um minuto. Alec foi rápido e colou as costas na parede, facilitando minha visão. Apoiei-me ao ombro de Alec. Fechei cada passagem de ar (que já não existiam dada a situação) entre nós. Alec começou a falar de outra planta. Essa era muito mais detalhada, tinha móveis e os móveis tinham decorações. A próxima era menor, mas tinha o mesmo nível de sofisticação. Era maior que a casa da maioria dos meus amigos.

– Essa é a planta da minha casa. Eu cuidei de toda a construção dela. É bem engraçado quando você tem tanto trabalho para lidar aqui no castelo e ainda tem que cuidar da sua própria casa. - Ele sorriu, acompanhei os desenhos de seus lábios. - Mas não reclamo, os mapas que fiz para o rei foram de grande ajuda.

– Mapas? - surpreendi-me.

– Sou algo como a mão pra toda obra. - Ele riu.

E eu aqui sentada tentando ser bonita o suficiente para algum príncipe gostar de mim e eu ter minha vida feita. O que eu estava fazendo? Iria viver a vida toda às custas de um cara? Onde eu estava colocando minha felicidade? Aquele tempo só me serviu para perceber que a felicidade não se encontra no dinheiro e nem na coroa que a Seleção poderia trazer. Alec encontrou sua felicidade em algo que ele tinha orgulho de fazer. Onde estaria a minha?

● ● ●

Christal Grayffin

Eu e Amber estávamos com a Rainha quando tudo começou e continuamos com ela até aquele momento. Nós estávamos na sala de estar do segundo andar. Estávamos conversando sobre como foi a Seleção da rainha e ela insistia em nos contar detalhes só no final da Seleção quando ouvimos as janelas quebrarem. Primeiro foram as do primeiro andar e, logo depois uma no nosso andar também quebrou.

A rainha foi rápida. Enquanto eu e Amber estávamos nos cagando de medo, ela correu para um dos móveis e, do fundo de uma gaveta tirou uma arma e checou as balas.

– Me sigam meninas, fiquem atentas – recomendou a Rainha.

Eu sentia vontade de chorar, mas não ia fazer aquilo na frente da Rainha. Ela parecia tão mais madura e esperta naquele “modo batalha”. Parecia ter sido treinada para aquilo.

– Rápido, por aqui.

Ela nos levou para um corredor que eu nunca tinha ido. Começou a andar por lá e abriu uma porta na parede direita. Lá parecia uma escada de apartamentos, não tinha muita luz, mas era o suficiente para conseguirmos observar onde pisávamos. Naomi tirou os saltos. Ela chegou perto da escada e olhou para baixo até onde seus olhos podiam ver. A escada era de cimento, talvez para dificultar a visão dos rebeldes.

– Rainha, vamos para um abrigo – falou Amber, tirando os saltos.

Eu fiz o mesmo com os meus e os taquei em um canto qualquer. O chão era gelado e eu senti um arrepio correr por toda minha costela.

Estávamos encurraladas, se alguém abrisse a porta estaríamos mortas.

– Não! Vamos para o abrigo do rei. Richard deve estar lá, preciso chegar até ele.

– Onde é isso? – perguntei. Por que diabos ela estava arriscando sua vida se poderíamos ficar em um abrigo mais próximo?

– No primeiro andar. Venham.

Ela começou a descer as escadas e Amber e eu a seguimos. Eu estava morrendo de medo. Já tinha ouvido som de tiro e definitivamente não queria morrer. Eu nunca tinha passado por uma situação daquelas.

A rainha foi descendo até que ouvimos sons de passos. Eu comecei a chorar no mesmo instante. Eu morreria. Naomi fez um sinal para que eu ficasse quieta e eu chorei em silêncio. Ela fez um gesto para que abaixássemos e tentou ouvir de onde vinham os passos: de baixo. E, até onde eu podia ouvir, era só uma pessoa.

Olhei para Amber perguntando com os olhos se íamos morrer. Ela não estava chorando, mas parecia apavorada também. Ela fez que não com a cabeça e segurou minha mão.

Os passos ficaram mais altos e eu podia ouvir a respiração pesada da pessoa. Quando pude ver sua sombra se aproximando de mim, senti que aquela era a hora. E quando eu finalmente pude vê-lo, a rainha fez o inimaginável: pulou em cima do homem e o atirou no chão. Ele tentou chegar para o lado, mas a rainha o segurou. Fechei os olhos. O homem urrou de dor e eu não consegui prender o choro. Era demais até para mim.

– Venham meninas! – gritou Naomi. Amber levantou-se e eu fui atrás.

O homem estava caído no chão e sua camisa tinha um rasgo enorme no peito. Uma mancha de sangue escarlate estava sobre o piso e cobria metade da camisa do homem, mais concentrado na região do peito. Lembrava-me de ter visto sangue pela televisão, mas aquilo era insano. Eu nunca tinha visto alguém morto, nem presenciado a morte de ninguém. E ver alguém ensanguentado me deixou muito mal. Quis vomitar, mas continuei a correr.

Naomi ia descendo as escadas a toda velocidade. Quando ouviu mais passos, a rainha que tinha acabado de matar um homem apontou para um corredor escuro que ficava virando à esquerda. Amber e eu corremos para lá e nos encolhemos. Naomi ficou da esquina, pronta para atacar.

Eu nunca tinha visto a rainha assim, nunca imaginaria que, por trás daqueles vestidos lindos e da maquiagem fofa, ela seria capaz de matar um homem como fez com o rebelde. Querendo ou não, ele também fazia parte do povo, era errado matar.

Os passos ficaram mais fortes e mais altos. A rainha chegou para trás. O rebelde passou por nós subindo as escadas sem nem olhar para o corredor escuro em que estávamos.

– Aqui tem um abrigo – sussurrou Naomi para nós. Ela se abaixou para ficar da nossa altura.

Com a pouca luz que vinha das escadas, eu podia ver seu rosto e ele estava com uma mancha de sangue horrenda.

– Vocês podem ficar aqui – explicou.

– E vamos – reforçou Amber. – Não quero correr até o abrigo principal, se Richard fosse esperto, não ficaria lá.

Naomi olhou para ela com uma cara feia. Como Amber tinha coragem de insultar assim o rei? Tinha certeza que, assim que tudo aquilo acabasse, ela seria a isca para outros rebeldes.

A rainha se levantou e apertou um botão na parede. A parede se abriu e uma luz vinha de lá de dentro. Eu fui a primeira a entrar, achei que seria uma porta, mas era um quadrado minúsculo embutido na parede. Amber se espremeu para caber.

– Venho tirar vocês daqui assim que for seguro – falou Naomi, e fechou a porta do abrigo com toda a força do mundo.

Eu nem a ouvi indo embora.

– O que está acontecendo? – perguntei.

– O palácio está sendo atacado por rebeldes. A rainha quer encontrar o rei no abrigo do primeiro andar, mas ele fica muito longe e eu não quero ir até lá. Se ela quer se suicidar, que vá sozinha.

– Porque ela não fica aqui?

– Não sei... – Amber se encolheu. – Ela se sente segura na presença do rei.

– Ela me pareceu saber bem como se proteger.

Lembrei-me da imagem do homem e fechei firme os olhos, tentando afastar a lembrança.

– E sabe. Ela não é nenhuma boba, por isso se garante. Mas nós não temos armas nem nada, não podemos ficar desfilando pelo palácio desse jeito.

– O que os rebeldes querem?

– Essa é a pergunta que ninguém sabe ao certo responder. Antes, capturavam os rebeldes e os interrogavam, mas eles não dizem nada por mais duras que sejam as torturas.

– Torturas? – fiquei chocada.

O palácio não estava sendo nada do que eu imaginei.

– Claro. Precisamos de respostas. Mas a rainha Naomi disse que se eles não fossem contar nada, eles seriam mortos um por um, e decidiu que era a hora de começar a matar.

Comecei a chorar baixinho. Queria que aquele pesadelo acabasse logo. Mesmo que eu quisesse muito ficar pelos príncipes, eu nunca seria como a rainha Naomi, nunca mataria uma pessoa do jeito que ela fez. Eu não tinha aquela coragem.

Amber me abraçou. Encostei-me a ela. Quando a Seleção começou, me lembro de ter ficado com muita raiva ao ver ela ali. Era injusto que uma princesa participasse da Seleção para plebeias. Todavia, eu agradecia por estar ali com ela.


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Notas finais do capítulo

FAQ: A Sky gosta do Alec? R: NÃÃÃO, ela só sente uma mínima admiração por ele fazer sempre as coisas tão bem feitas. Mas isso não é amor. Como ela mesma disse, aquele "encontro" só serviu pra ela perceber algumas coisas sobre a Seleção.

A planta do palácio não está nesse capítulo por que o PS parou de funcionar no meu notebook e eu teria que pegar o do meu irmão pra fazê-la. Quem sabe em algum dos próximos.



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