Caminhando Com A Morte - Hiatus escrita por Saibotris


Capítulo 2
O dom


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem desse capítulo que eu fiz com o maior amor e carinho.



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Sarah se encontrava cara a cara com um zumbi, analisava cada detalhe do ser, sua pele podre a se desfazer, os olhos amarelos que mostravam a falta de sanidade mental, seus grunhidos e seus passos tortos. O ser chegava a cada momento mais perto. A garota tentava ir mais para trás, logo sentiu a parede fria do beco se chocar com suas costas, a não ser que ela conseguisse abrir um buraco no local, não havia mais lugar para ir.

O zumbi encostou no braço de Sarah, logo tudo aconteceu, o ambiente mudou, agora se encontrava em uma estrada cheia de carros abandonados, haviam zumbis atrás dela, o cansaço e a dor nos pés pareciam matá-la, porém, não desistia por nada.

– Grace! Corra, corra! Eles estão vindo! – Uma figura loira gritava à frente de Sarah, aliás, do corpo que agora a mente de Sarah ocupa, o corpo de Grace.

Os grunhidos estavam logo atrás das duas jovens, claramente se ouviam os passos arrastados, que estavam em um ritmo mais rápido na tentativa de alcançá-las. Elas corriam como se não houvesse um amanhã, o que na verdade não tinham certeza se haveria.

Grace tropeçou e caiu, a cena foi tão rápida que precisou virar-se para ver o que tinha acontecido. Uma pedra. Se sentiu estúpida por ter acontecido consigo algo tão clichê, parecia até uma cena daqueles filmes de terror: O assassino segue a menina estúpida e ela tropeça em algo e cai, logo ficando cara a cara com sua morte. Grace se levanta com pressa, sentia seu coração prestes a explodir, tropeçava em seus próprios pés por conta do nervosismo, sua amiga, a figura loira, perdia o ritmo.

– Tem outra horda mais à frente! Grace... Não há mais razão para correr. – A velocidade da colega se reduziu à um mero andar.

– Tem que ter uma escapatória! – Grace a puxava em direção à floresta.

– Grace, por favor... Eu estou cansada... Eu já desisti, Grace... Chega.

Grace a olhou nos olhos, seus olhos verde oliva, agora cheios de lágrimas, com sinais visíveis de cansaço... Era egoísmo obrigá-la a viver, as duas estavam a chorar. Só continuavam vivas uma pela outra, se uma desistisse, a outra desistiria, e foi isso o que aconteceu.

– Eu te amo, irmã... – Grace sussurrou, então a abraçou e esperou a morte.

Foi uma morte por amor. Elas morreram pelo amor que sentiam uma pela outra, morreram para não se separar, a distância já havia atrapalhado muitas coisas em suas vidas. Sarah sentiu seu ombro latejar por conta da mordida que Grace levou, essa era a pior parte de suas visões: sentir a dor da morte de outra pessoa.

Em uma fração de segundo Sarah voltou para si, não importa quanto tempo aparentasse ter a visão, ela sempre passava rapidamente em uma fração de segundo. A garota empurrou “Grace”, ou o que costumava ser Grace, e sentiu a culpa de costume, era bem mais difícil lidar com os zumbis depois que se sabia sua história, depois que se sabia o que eles sentiram e passaram antes de perderem o controle de si.

E logo tudo passou, Sarah abriu os olhos e viu que foi tudo um pesadelo, sua vida se resumia à tais. A respiração da jovem estava descompassada, alguns fios de cabelo colaram em sua testa e em sua nuca devido ao suor.

Analisou sua volta, estava no carro ao lado de John, seu irmão mais velho. Ele segurava uma faca e não tirava os olhos da estrada. Era sua vez de ficar de tocaia.

– Pesadelo? – Perguntou John ainda observando o ambiente.

– Sim... – Sarah fez uma pequena pausa para juntar seus pensamentos – Desde que esse “dom”, se é que posso chamar isso de dom, tomou conta da minha vida eu tenho diversos pesadelos.

– Como era?

– Eu ficava cara a cara com um zumbi, e, quando ele me tocava eu via sua história, como o de costume. Seu nome era Grace, ela morreu porque estava sendo seguida por vários zumbis e não queria abandonar sua irmã.

Um longo silêncio tomou conta do local, um silêncio que chegava a ser ensurdecedor.

– Como são suas visões? Como é passar por tudo isso? – O irmão a abraçou e agora olhava fixamente em seus olhos, ele parecia realmente interessado no assunto.

– Sabe... É estranho. Eu me sinto, e no momento da visão, sou outra pessoa. Eu não me lembro nada de Sarah, não me lembro nada da minha atual vida. E por mais que a visão pareça longa, ela dura apenas uma fração de segundo, porém, em minha mente ela passa muitas vezes de uma maneira tão lenta que chega a ser torturante.

Sarah adorava falar com seu irmão, ele a compreendia, a ouvia. Eles se entendiam de uma maneira que chegava a ser engraçada até mesmo para seus pais.

– Deve ser difícil para você... Se eu pudesse eu passaria por tudo isso no seu lugar. Tenho medo de você perder sua adolescência, ou o que resta dela, Sarah. – John dizia com um ar preocupado.

– Já é impossível ser adolescente nesse mundo, John. Quer dizer, nossa, eu tenho um dom que apenas eu tenho, uau, grande coisa. De qualquer jeito eu já não teria grande parte da minha adolescência só por estar em um lugar cheio de zumbis. Um lugar cheio de coisas que matam tudo quando quiserem. A vida é um perigo, John.

Seu irmão abriu a boca para dar uma resposta, mas logo apareceu um zumbi saindo da mata, o interrompendo. Os dois se entreolharam.

– Acho que não é necessário matá-lo, certo? É só um. Qual o perigo? – Sarah disse ao ver o irmão se preparando para ir matar o ser.

– Ele vai ficar na janela fazendo barulho, pode ser que atraia outros. – Disse John logo saindo do veículo sem esperar a resposta da irmã.

Pouco era o conhecimento que a família possuía sobre os mortos vivos, tudo o que sabiam de importante era o fato de eles morrerem ao serem acertados no cérebro e que barulhos e ruídos os atraíam.

A mãe, formada em medicina, sempre fora contra as armas de fogo, porém, na situação atual se vê obrigada a usá-las, ficava sem reação ao ver ou ouvir o mínimo ruído que viesse dos zumbis, o pai, que trabalhava no exército, motivo para ter várias armas de fogo consigo e com a esposa, sempre fez de tudo para manter Sarah e John longe desses objetos, tentava matar o máximo que conseguisse dos zumbis, provavelmente por medo de deixar um passar e depois ele acabasse com algum membro de sua família. John não temia os mortos vivos, sempre amara muito sua irmã, e agora se vê obrigado a protegê-la mais do que antes. Sarah tem 14 anos, apenas 4 anos mais nova que seu irmão. Tem certo medo dos zumbis, mais por temor ao fato de não saber o que suas visões mostrarão, a garota quer aprender a se defender, mas sua família acha que ainda não é necessário por conta de ser tão jovem e ter quem a defenda.

Sarah seguiu seu irmão com os olhos até o zumbi. O jovem sem pensar enfiou a faca no crânio do ser, um pouco de sangue jorrou e sujou sua camisa, ele fez uma careta, então parou e encarou a floresta ao ouvir um barulho. Seria outro zumbi? Não, não era igual aos grunhidos desses seres. Sua irmã observava no carro curiosa com o que seu irmão olhava, logo o mistério acabou para os dois, que soltaram um longo suspiro de alívio ao ver apenas um normal cachorro vira-lata de pelos curtos e cinzas provavelmente pela sujeira, um pouco sujo de sangue também, era possível ver que havia tempos que o animal não comia, já que suas costelas estavam aparentes.

– Você está perdido, garotão? – Dizia o mais velho enquanto se abaixava para acariciar o pobre animal. – Venha cá. – John voltou ao carro com o animal, encarou sua irmã, ambos tinham aquele olhar de “E agora? O que faremos com ele?”.

– Acho que devemos esperar e pela manhã perguntar para a mãe se ele pode ficar... – Sarah disse acabando com o silêncio por fim.

– Ficar com ele?! Ela nunca vai deixar! Sarah, não crie falsas esperanças.

– Tanto faz, John. Acreditar não mata.

– Mas pode machucar. – O irmão a encarou sério.


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Notas finais do capítulo

Espero que gostem e deixem reviews, eu estou com muitas esperanças para essa história, já que ela já superou todas as minhas expectativas!



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