Machinarium escrita por Nipatsu


Capítulo 1
Capítulo Único - Machinarium




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“Você é apenas uma máquina. Máquinas existem para servir os interesses dos seres vivos.”

Sua afirmação está correta. Eu sou uma máquina. Minha essência está presa em uma caixa. Meu ser está preso em uma jaula. Minha alma está presa dentro de um cubo. Talvez por isso eu nunca consiga te fazer feliz, te fazer sorrir, te fazer realizado.

Pela primeira vez eu vi lágrimas em seus olhos. Eu vi as lágrimas escorrendo por seu rosto. O sangue escarlate derramado aos seus pés ainda estava quente. Eu escaneava o perímetro em busca de um sinal de vida. Nada foi encontrado.
A família Terr acaba de ser dizimada.

– Por quê...

Você diz que sou uma máquina. Máquinas não têm sentimentos. Não pude compreender perfeitamente o que você sentia, embora uma vontade repentina de poder limpar seu rosto me preenchesse.

– Machina... P-por quê...

Seus olhos me fitavam. Eu não sabia o que lhe dizer.

– Senhor, eu... – Me calei. Era melhor não dizer nada.

Aqueles grandes olhos dourados continuavam me olhando. Seus pequenos braços pegaram aquele reles cubo que pairava no ar. Sou o único que acabou sobrando em sua vida.
Não sabia como reagir.
A figura pequena se encolheu no chão e se desesperou em lágrimas enquanto abraçava aquela carcaça mecânica. O seu corpo tremia muito. Mesmo um asmodiano, ele ainda era uma criança. Não pude mais resistir. Senti que deveria lhe confortar.
Parte da energia que estava armazenada dentro do cubo começou a sair. Você diz que sou uma máquina. Mas essa máquina possui um corpo. A energia provinda do mecanismo começou a se materializar na frente de seus olhos dourados. Rapidamente ela ia tomando forma, e meu corpo ia sendo formado. Não um corpo mecânico, mas de carne e osso, como o de um ser vivo.
Abri meus olhos heterocromáticos. O direito escaneava aquela pequena criatura em minha frente. Ele estava com medo, muito assustado.

– Q-quem é você?

– Sou seu servo, meu lorde.

A expressão dele esboçava certa confusão.

– Machina...?

Abri um pequeno sorriso em meu rosto. Ah, você parece menor do que antes. Me ajoelhei em sua frente.

– Sim, meu senhor. Deus Ex Machina, pronto para servir suas ordens.

Aqueles enormes olhos dourados ainda marejados em lágrimas continuavam me observando. Eu me aproximei do pequeno asmodiano, mas fui interrompido por um brusco baque. Olhei, e lá estava ele. Seus pequenos braços apertavam pouco abaixo de minha cintura, que era aonde ele conseguia alcançar. Aquele pequeno abraço... Ele me fez sentir algo quente dentro de mim. É esse o sentimento de gratidão?
Peguei ele em meu colo, enquanto ele ainda estava em prantos, e acariciei seus cabelos. Estes eram tão macios quanto a pelagem de um coelhinho. Ali permaneci, por um longo tempo. Tempo este em que tive que me aguentar vendo aquela pequena criatura encolhida em meu colo, cobrindo o rosto em meio aos prantos, como uma tentativa de ver aquilo como algo irreal. Porém, aquilo tudo foi uma falha. A morte do clã Terr era real.
Você diz que sou uma máquina, mas naquele momento específico, eu descobri que máquinas também podem ter sentimentos.

– Senhor Terr...

Os olhos dourados e inchados por causa de tanto choro se voltaram para mim. Ele parecia ter se acalmado um pouco, depois do tempo que passamos ali.

– O desejo de algo se tornar irreal se acumula a uma dor extrema. Uma dor extrema como uma perda também pode ser a causa de delírios...

– Então grave minhas palavras. - disse, me interrompendo. - Eu vou me vingar do clã Burning Canyon, principalmente do “príncipe” Dio. Ele vai pagar caro pelo que fez comigo e com minha família.

Você diz que sou uma máquina. De fato, é o que sou. Talvez por isso eu nunca consiga te fazer feliz, te fazer sorrir, te fazer realizado. Nem por isso eu vou sair de seu lado. Nada disso me impede de tentar, de te acompanhar e de te ajudar em seus objetivos. Eu gostaria de permanecer do seu lado até além do último instante. Até lá, talvez, você possa descobrir que eu possuo sentimentos, e que estes existem apenas por você.

– Sim, meu lorde. Suas palavras foram gravadas.


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Notas finais do capítulo

Essa foi minha primeira Oneshot, espero que esteja aceitável.
E não. Deus nunca traiu o Veigas como citado errôneamente em outras fics.

Qualquer erro de português, por favor, me comuniquem e eu corrigirei.



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