SCORPIUS

Aula de História da Magia simplesmente deveria ser considerada tortura, tanto para aqueles que aprendem quanto para os que ensinam. Merlin, o professor Binns deve ter morrido de tédio e o seu espírito continuou aqui para ele descontar as horas da vida que ele passou entendiado, entediando as pessoas!

A aula de hoje era com a Grifinória, então pelo menos a Ro... Deixa pra lá. Esquece. Ignore isso. Vamos voltar para o meu tédio, porque além de entediado, eu estava morrendo de sono por ter ficado até tarde fazendo um dever de poções, que eu acabei descobrindo que era para a semana que vem. Maravilha, não?

Anthony não colaborava nem um pouco comigo, o assunto dele não servia para me acordar e tampouco me ajudava a dormir. Qual assunto era? Angeline Vellar, a garota francesa, que tem o tamanho de uma criança e o cabelo gigante. Tony não cansava de falar dela e olhar para ela, aquilo estava me irritando.

– Você gosta dela, Tony, já deu para perceber. - suspirei ao falar. Anthony se virou para a frente pela primeira vez naquela aula com o rosto mais vermelho que o brasão da Grifinória e me encarou.

– E-eu? V-você acha que eu gosto da A-angel?

– Não acho, eu já tenho certeza. Faz meses desde que ela chegou aqui e você está com essa droga de paixonite irritante e eu tenho que aguentar tudo. Por que não fala com ela de vez? - encarei Tony enquanto dava um sorriso cínico. Ele soltou uma espécie de grito frustrado (até então estávamos sussurrando), o que acordou algumas pessoas e fez outras virarem em nossa direção, enquanto o Professor Binns apenas fazia sinal com os dedos de fantasma para fazermos silêncio.

Tony, que havia tampado a boca e abaixado a cabeça após o grito, se voltou para mim, com o mesmo sorriso cínico que eu havia dado a ele há poucos segundos. Merda.

– Por que você não fala com a Rose, então, Sr. Sou-esperto-demais-para-admitir-que-gosto-de-alguém?

– Eu nunca disse que era esperto demais para... - resmunguei e inconscientemente olhei para frente, onde Rose estava sentada. - Vou dormir, Anthony, vê se não me acorda dessa vez, o.k?

– Tudo bem.- Tony ainda sorria um pouco e se virou para trás de novo.

Deitei minha cabeça na mesa e me preparei para recuperar um pouco do sono perdido. Ah, sim, finalmente!

***

Waaa... Eu já acordei? Como... Como assim? Eu jurava que tinha acabado de adormecer! Ah, dizem que o tempo passa rápido quando estamos fazendo algo que gostamos, não é? E todo mundo gosta de dormir!

– Hmmm - resmunguei ao me espreguiçar. Após isso, encostei minhas costas na cadeira e me larguei sentado de qualquer jeito. Deixei meus lhos fechados por mais um tempo e então os abri e reparei que tinha um pedaço de pergaminho no chão e resolvi pega-lo. Me inclinei e... Cabelo? Por que tem cabelo caindo na minha cara? Empurrei o cabelo para trás e me voltei para o pergaminho e... Por que minhas mãos parecem tão femininas?! Espera, por que eu estou vendo minhas coxas? EU ESTAVA DE CALÇA, CARAMBA! E... Peitos? MAS QUE DROGA É ESSA???

AH, JÁ SEI! EU FUI MANDADO PARA OUTRA DIMENSÃO, UMA DIMENSÃO EM QUE EU SOU UMA MULHER, NÃO É MESMO? Urgh, acalme-se, Scorpius! A idiotice dramática do Tony está te contagiando, é óbvio que isso é apenas um sonho estranho! É óbvio!

– Que cara estranha é essa? Quer dizer, a sua cara normal é estranha, mas está mais estranha que o normal. - Sotaque francês? Por que diabos sotaque francês...?

Me virei, apenas para me deparar com ninguém menos que Angeline Vellar, que comia um bolinho de baunilha. Mas que droga de sonho é esse?

– Cat, que cara estranha é essa? - Cat? Eu me chamo Scorpius, caramba! E eu não gostaria de me chamar Cat, se eu fosse uma mulher eu me chamaria Erianosvalda e todo mundo sabe disso!

Não respondi e olhei para onde era o meu lugar antes. E... E... EU ESTAVA LÁ! COMO ASSIM?

O eu-não-eu-mas-ainda-sim-eu também estava olhando para trás e me encarando. Espera... Sentada ao lado de Angeline... Cabelo loiro... Cat... Catherine Madson? Como... Como assim? Eu-não-eu , que estava com os olhos arregalados, fez algum sinal com a mão que eu não entendi, e depois virou para frente. NÃO ESTOU ENTENDENDO MAIS NADA!

– Cat?

– Hm? Oh, nada, eu estou com fome, só isso. - respondi. Sim, essa foi a melhor resposta que eu consegui pensar, mas pareceu dar certo.

– Novidade... Bem, pelo menos a aula já está acabando.

– Sim... Ainda bem. - parei de falar e fingi prestar atenção na aula, enquanto Angeline voltava a ler alguma coisa que estava em seu colo.

***

– Que merda está acontecendo? - perguntei para o eu-não-eu. A aula havia acabado, e aparentemente os sinais estranhos com a mão significavam "falo com você depois da aula".

– Não faça meu corpo pronunciar palavras de baixo calão, muito obrigada. - foi a resposta que recebi.

– Como se você nunca as usasse!

– Não em minha língua nativa. E para sua informação, eu sei xingar em grego, latim e japonês, além de inglês!

– Por que estamos discutindo isso? Não deveríamos nos preocupar com o fato de que nós simplesmente trocamos de corpos?

Eu, que na verdade era Catherine presa em meu corpo, suspirou e levantou a mão para, aparentemente, colocar o cabelo atrás da orelha, mas após perceber que meu cabelo era curto demais para isso, desistiu e cruzou os braços.

– Acho que devemos procurar a Angel. Ela lida muito bem com situações estranhas!

– Você tem certeza? Essa situação é mais que estranha!

– Ha, Angel e eu já vimos tanta coisa estranha que você se assustaria. Confie em mim, ela não vai sur... - eu-não-eu parou de falar e encarou fixamente a parede. Minha vista tremeu um pouco e eu senti algo estranho, e então... Estava novamente em meu corpo.

– Que diabos...? - perguntei para mim mesmo. Catherine também murmurou alguma coisa e depois saiu correndo dizendo que não podia se atrasar para a aula.

O resto do dia foi completamente normal, o que me fez pensar que aquilo talvez tenha sido um feitiço confundus bem feito ou uma alucinação, pensamento que descartei quando acordei de madrugada no dormitório da Grifinória. Merlin, o que diabos é isso?!

TONY

– Friday night and the lights are low, looking out for a place to go, where they play the right music, getting in the swing, you come to look for a king! - eu cantei.Se era quatro e meia da manhã e eu deveria estar dormindo? Claro que sim! Se cantar músicas do ABBA (melhor coisa feita por trouxas!) era mais importante? É óbvio! E se eu ia estar morrendo de sono depois? Duh!Então, vamos voltar a minha atividade importantíssima, cantar.

– Anthony, cala a boca! - alguém não importante resmungou. HA! NÃO MESMO! ESTÁ CHEGANDO NO MELHOR PEDAÇO DA MÚSICA!

– Anybody could be that guy, night is young and the music's high, with a bit of rock music, everything is fine, you're in the mood for a dance, and when you get the chance... YOU ARE THE DANCING QUEEN, YOUNG AND SWEET, ONLY SEVENTEEN! DANCING QUEEN, FEEL THE BEAT OF THE TAMBOURINE, OH YEAH!

Que estranho, minha voz pareceu mais fina... Eu podia jurar que... MERLIN, O QUE EU ESTOU FAZENDO NO MEIO DO SALÃO COMUNAL DA SONSERINA?! E POR QUE EU ESTOU USANDO UMA PANTUFA DE UNICÓRNIOS ZUMBIS??? TODOS SABEM QUE EU PREFIRO UNIPEGALHAMACÓRNIOS! Argh, que coisa desprezível!

– POR QUE EU ESTOU USANDO UMA PANTUFA DE UNIPEGALHAMACÓRNIOS??? TODOS SABEM QUE EU PREFIRO UNICÓRNIOS ZUMBIS! - alguém gritou. Poucos segundos depois, esse alguém apareceu no Salão Comunal e... ESSE ALGUÉM ERA EU! COMO ISSO É POSSÍVEL? Espera, já sei, esse é o meu irmão gêmeo do mal que eu nunca conhecei, Eugene!

– Então, finalmente nos encontramos, Eugene... - falei. Eu queria parecer legal para o meu irmão gêmeo do mal sabe?

– Finalmente, depois de anos separados... Espera, eu não me chamo Eugene! - Eugene gritou. O QUE?????

– Então como você se chama?

– Ah? Não é óbvio? Eu sou a... AH MEU PAI, VOCÊ É MINHA IRMÃ GÊMEA DO MAL?????

– Irmã? O que? Você deve estar se confundindo, eu sou um cara!

– Ha, não, você... - Eugene parou de falar quando passou em frente a um espelho (que eu não sei porque estava lá ou de quem era) - O QUE ACONTECEU COM A MINHA LINDA PESSOA?

– Eugene, o que aconteceu?

– Já disse que eu não sou Eugene nenhum, eu sou... Por que você está no meu corpo, criatura? A propósito, quem é você?

– Uh? Eu sou o Tony, ué.

– Tony...? Ah, então a Cat não estava alucinando... Bem, nós trocamos de corpo. Isso aconteceu mais cedo com a Cat e com o Scorpius, você não percebeu?

– Ah, sim! Faz sentido! Por isso ele estava parecendo estranho na aula de História da Magia, não é?

– Sim, sim, deve ser por isso mesmo. Bem, eu não sei o que podemos fazer no momento porque não tenho ideia do que fez isso acontecer e estou com sono.

– Então... - falei - Só temos uma coisa para fazer. Vamos nos encarar até pegarmos cairmos de sono!

– Oh, ótima ideia!

E então fizemos isso. Sabe, eu tenho quase certeza de que eu ganhei!

***

Guaxinins. Guaxinins por todos os lugares. Para onde eu olhava, guaxinins de todos os tamanhos.

– Squesh, squesh! - um deles chegou perto de mim e segurou na barra da minha blusa com a patinha.

– Squesh! - eu respondi. E então, os outros guaxinins abriram espaço e eu estava dançando valsa com o guaxinim das patas fofas.

– SQUESH! SQUESH! SQUESH! SQUESH! - os outros guaxinins gritaram. De repente, a música mudou e estava tocando Macarena. Eu e Patinhas nos separamos e fizemos o passinho da macarena.

– Squesh squesh squesh quesh quesh, squeeeeeeeesh quesh quesh! - todos cantamos. E então a valsa voltou e eu estava novamente dançando com Patinhas. Agora, eu não sabia se Patinhas havia crescido ou eu havia encolhido, mas nós estávamos do mesmo tamanho e Patinhas me encarava profundamente nos olhos.

Tudo ficou estranho, então. Patinhas estava tentando... Me beijar? O que? Não! Patinhas e eu éramos apenas amigos!

– Squesh! Squesh! Squesh!

– Sque... ANTHONY, VOCÊ VAI SE ATRASAR DE NOVO!

– O que...? Patinhas...?

– Tony, essa é a terceira vez que você sonha com esse Patinhas em uma semana, você deveria procurar a Madame Pomfrey, isso não pe normal. - Scorpius respondeu. Espera, ele falou comigo-comigo! Estou de novo em meu corpo lindo e sexy!

– Patinhas é muito legal, se você quer saber. Menos quando ele da em cima de mim, ele não é o meu tipo. Cara, o Patinhas não gosta de queijo com açúcar, eu não posso conviver com pessoas que não gostam de queijo derretido com açúcar!

– Então por que você diz que o Patinhas é seu amigo?

– Porque ele é gente boa, oras! - respondi. Isso não é óbvio?!

– Ah, claro... Por que nós estamos falando do Patinhas? Nós vamos nos atrasar, vamos logo.

***

As aulas foram... Estranhas. Durante a aula de poções com a Lufa-Lufa, a coisa estranha aconteceu de novo, ou seja, Scorpius era Cat, que disse que ela havia falado com Angel e nós deveríamos nos encontrar depois das aulas no corujal (explicação para isso: corujas são legais) para descobrirmos o que fazer sobre isso. Depois, na aula de Feitiços, Angel e eu trocamos novamente, mas foi por um tempo bem curto. Aconteceu de novo na aula de DCAT, por um tempo maior. Agora, era a hora do almoço e todos estávamos em nossos corpos certos.

– Nada pode atrapalhar o meu almoço, e se tentar eu mato. - Angel comentou enquanto enchia seu prato.

– Almoço é importantíssimo! - Scorpius disse enquanto colocava um bife maior que a cara dele no prato.

– Viva o almoço! - falei bebendo meu suco.

Ainda bem que nada atrapalhou nosso almoço, porque almoço é importante demais para ser atrapalhado. Agora... Vamos torcer para descobrir o que está acontecendo, porque não acho que Patinhas se acostumaria facilmente com um eu-que-não-sou-eu-mas-sou-eu. Ele fica confuso muito rápido.