Capítulo 28 – Death

– Como assim vocês trouxeram um assassino para morar na Torre?! E pior, nem se importaram em nos comunicar disso. – o tom alterado de Bobbi era nítido, não tinha como não perceber que ela estava irritada.

Adentro a sala comum com dois sacos de gelo nas mãos, aproximando-me de Barton e Barnes que permaneciam sentados em um dos sofás, ambos separados pelo espaço vago entre eles, onde pretendo me acomodar.

– Em primeiro lugar, a Torre é minha, posso muito bem decidir quem vai morar aqui sem precisar "comunicar" qualquer um de vocês. – Tony retruca, parecia um tanto calmo diante da situação, mas era notável seu leve sarcasmo – E em segundo lugar, já tínhamos dois assassinos morando aqui antes do Barnes. – o moreno dá de ombros, e aquilo só serviu pra irritar ainda mais a loira.

– Ah, Stark, nem tente comparar a Natasha e o Clint com esse sociopata genocida. – Bobbi rebate, totalmente encabulada e furiosa, enquanto eu entregava os sacos de gelo para os dois que permanecem jogados ao meu lado, ambos com expressões fechadas.

– Por acaso ela esqueceu que eu ainda estou aqui?! – ouço Bucky resmungar incomodado, e isso só me faz lançar-lhe um olhar reprovador e frio.

– Calado. – é tudo o que digo, antes de voltar minha atenção para a discussão entre Tony e Bobbi – Será que vocês dois podem parar com essa discussão desnecessária?! – recebo os olhares de todos, talvez meu tom seco e autoritário tenha funcionado realmente.

– Natasha tem razão, vocês dois estão agindo de forma imatura, e isto já está me cansando. – Pepper me apoia, a mesma permanecia sentada no sofá menor, sua expressão nitidamente séria.

Ao lado Steve estava em pé, sem dizer uma sequer palavra, os braços cruzados sobre o peito, apenas observando toda a cena, tentei descobrir o que ele estava pensando naquele momento, a respeito da situação que nos encontrávamos, porém o rosto inexpressivo não ajudou-me nem um pouco.

– Vocês só podem ter enlouquecido! – Bárbara exclama outra vez, ignorando meu pedido para que parasse de gritar – Trazem ele pra morar aqui, depois de tudo que ele fez, e ainda esperam que eu aceite numa boa?! – seu tom indignado era perceptível, e notei os olhos azuis caírem em mim – E de todos aqui Natasha, eu realmente achei que você seria a primeira a discordar dessa decisão.

Reviro os olhos, levantando e bufando levemente. Eu tinha 90% de certeza que toda aquela cena e demonstração de raiva estava sendo influenciada pelos hormônios da gravidez.

– Bobbi, tente pelo menos se acalmar e...

– Não! – sim, eu nem conseguira concluir a frase e a mesma já retornara com a explosão de hormônios – Eu não vou aceitar isso. Não posso ficar no mesmo lugar que ele. – a loira afirma, referindo-se a Bucky, e rapidamente dirige seu olhar na direção de Clint – Vamos voltar para o seu apartamento amanhã.

Apenas observo Bobbi subir as escadas, segurando suas malas nas mãos, deixando as de Clint para trás, e logo sumindo escadaria acima. Volto meu olhar para Clint, de forma sugestiva, e o mesmo respira fundo, levantando do sofá e pronunciando-se em seguida...

– Eu vou conversar com ela. – e com isso, ele também some de nossas vistas, levando suas malas para o quarto em que ambos estavam hospedados no andar de cima.

[...]

Os passos lentos, a respiração controlada, e os olhos estreitos tentando acostumar-se com a claridade excessiva do ambiente. Eu observava tudo a minha volta, porém minha visão turva não me permitia distinguir quase nada. O ar gélido podia ser sentido, penetrando minhas roupas e acariciando minha pele, uma sensação boa pra mim, afinal eu sou russa, estou familiarizada com o frio intenso.

Finalmente meus olhos estabilizam-se conforme a claridade desaparece aos poucos, voltando a iluminação ambiente normal, revelando uma sala ampla e vazia, envolta de altas e densas paredes cinzas, o ar gélido emanando delas. Mas eu me enganei, a sala não estava vazia. Olho para os meus pés e avisto uma poça de sangue que aumentava lentamente, o líquido de cor rubra banhando a sola de meu calçado. Analisei-me rapidamente tentando encontrar algum ferimento de onde aquele sangue pudesse estar escapando, e não demorei muito para descobrir que o líquido manchando o chão abaixo de mim não era meu.

– Natasha... – ouço um sussurro, a voz de uma mulher que parecia ter usado seu ultimo fôlego e energia para apenas sussurrar o meu nome.

Viro-me devagar, buscando por quem me chamara, e senti meu corpo tremer quando encontrei Bobbi deitada sobre o piso gelado, seu rosto com uma expressão vazia, os olhos semiabertos, a boca cuspindo bolhas de sangue. Uma de suas mãos pressionava o ferimento profundo em sua barriga, pouco abaixo de seus seios, e percebi que a mesma estava lutando para se manter viva, mas a possibilidade de conseguir estava se esgotando.

– Oh meu Deus, Bobbi! – eu exclamo, um pouco chocada com a situação, aproximando-me de minha amiga a passos largos, seguindo a linha de sangue que emanava de seu ferimento.

Assim que me ajoelho diante do corpo quase inconsciente de Bárbara, sinto sua mão ensanguentada que antes pressionava a ferida agarrar minha roupa, seus olhos abrindo-se um pouco mais, a boca tentando pronunciar algo enquanto o sangue ainda escapava dela.

– Eu disse... Você não devia ter deixado isso acontecer... Não devia ter confiado nele. – confesso que não entendi o sentido daquelas palavras.

Do que Bobbi estava falando? Ou melhor, a quem ela estava se referindo?

Antes que eu pudesse tentar entender o que estava acontecendo, vejo a loira dar seu ultimo suspiro, completamente fraca e a um passo da morte.

– Não... – eu apenas balbuciei, nenhum som saiu de meus lábios, eu estava travada, vendo minha amiga, uma pessoa importante pra mim, morrer diante dos meus olhos, sem que eu pudesse fazer algo para impedir.

Eu queria gritar. Queria levantar e sair correndo, encontrar quem tinha feito isso com Bobbi, e enfiar uma bala em sua cabeça, uma adaga em seu coração, ou apenas quebrar o pescoço do ser desgraçado que matara minha amiga. Mas eu não consegui me mover, pela primeira vez não consegui fazer absolutamente nada além de observar o corpo sem vida de Bobbi, sentindo lágrimas escorrerem de meu rosto vazio, como se chorar fosse uma reação automática que eu deveria ter, porém eu não sentia nada, nada além de um buraco imenso que se abriu dentro de mim.

"Todos os seus amigos, as pessoas que estão ao seu redor, nenhum deles sobreviverá, pois você será a própria morte que os arrastará para o inferno." a voz de Loki ecoa em minha cabeça, lembrando-me o que ele me dissera em um dos meus vários pesadelos.

Levanto-me num salto, meus olhos arregalados ainda focados no corpo de Bobbi, porém meus pensamentos não estavam mais ali. Eu lembrava das pronuncias frias e acusadoras feitas por Loki naquele sonho, o que aconteceu com Bobbi obviamente deve ter sido por minha culpa.

"Você não devia ter deixado isso acontecer" as palavras sussurradas por ela ecoam em minha mente outra vez " Não devia ter confiado nele".

Me afasto de seu corpo alguns passos, parando apenas ao ouvir o desembainhar de uma espada alguns centímetros atrás de mim. Viro-me rapidamente e encontro Bucky, com sua expressão fria, o olhar sombrio de um assassino, nem um pouco parecido com o Bucky Barnes de quem tanto Steve falava, mas realmente idêntico ao assassino que ele já foi num passado não distante.

Mudei meu foco para a espada que ele mantinha em uma das mãos, completamente banhada em sangue, o sangue de Bárbara. Eu estava surpresa, chocada, e completamente confusa, porém, ao ligar todos os fatos eu senti, a raiva estava crescendo dentro de mim e espalhando-se por todo o meu corpo, um calor furioso e intenso que clamava pelo derramamento de sangue, a vontade incontrolável de matar retornando.

Sem esperar por mais nada, eu avanço alguns passos, minhas intenções eram nitidamente notáveis através de meu olhar, uma escuridão intensa tomando conta de mim, eu deixara a antiga Viúva Negra voltar á tona, trazendo junto todas as atrocidades que ela é capaz de fazer. Mas eu não estava me importando com isso no momento, tudo que eu queria era ver o olhar de Bucky implorando por misericórdia enquanto eu o matava lentamente da pior forma que se pode matar uma pessoa.

Desvio da espada que fora lançada contra mim, iniciando um combate contra o assassino, acertando-lhe um soco no rosto, e rapidamente desviando outra vez de sua espada. Lhe acerto um chute no estômago, logo em seguida acertando outro em sua mão, lançando a espada para longe, e novamente corro impulsionando um salto, envolvendo minhas pernas em seu pescoço, girando meu corpo e derrubando Bucky bruscamente, aterrissando agachada sobre o chão. Mas o moreno consegue se recompor mais rápido do que eu esperava, avança contra mim, e antes que eu pudesse fazer qualquer coisa, sinto seu braço metálico agarrar meu pescoço.

Sou lançada alguns metros para trás, meu corpo atravessando a sala até encontrar uma das paredes, chocando-se de forma violenta, um urro de dor rasgando a minha garganta. Estirada sobre o chão, avistando Bucky correr até mim, pronto para me matar, eu mexo um de meus braços, tateando o chão a minha volta com a mão, tentando encontrar algo que eu pudesse usar para me defender. Sinto a textura gélida da lâmina da espada misturada com o líquido rubro que a banhava. Pensei rápido, e me preparei.

Bucky se aproximava cada vez mais, e eu mal podia esperar para enfiar a espada em seu corpo. Levanto-me, a espada ainda sobre o piso, bem próxima a mim, e enquanto aguardava o ataque, uma voz ecoou na sala...

– Não faça isso! – era Steve, e ele estava implorando-me, mesmo que eu não pudesse vê-lo, podia imaginar seu olhar de súplica direcionado a mim – Por favor, não o mate!

Não sei se Bucky também estava ouvindo, pois ele sequer parou de avançar, o olhar ainda sombrio focado em mim, o que me deu a certeza de que eu era a única que ouvia aquela voz.

E eu a ignorei.

Bucky enfim me alcançou, seu punho metálico prestes a me acertar, porém joguei-me no chão, alcançando a espada, empunhando-a enquanto me virava levantando um pouco meu tórax, descolando minhas costas do chão. No momento que Bucky percebeu a espada em minhas mãos, já era tarde, eu havia enfiado a mesma em seu peito. Sua boca abriu-se, o sangue escorrendo por ela. Ele gemeu, e tentou levar as mãos até a espada fincada em seu coração, porém o impedi de fazer isso empurrando-a ainda mais, e sentindo prazer ao vê-lo morrer lentamente diante de mim, pelas minhas mãos.

Encosto meu pé em sua barriga e empurro seu corpo, o observando cair para trás sobre a poça de sangue que se formara no piso, desprendo-se da espada que eu ainda segurava firmemente.

Foi então que analisei com mais clareza o que acabara de acontecer... Bucky Barnes estava morto.

Eu o matei.