A Sad Courtesan Story escrita por Isolde


Capítulo 5
The Lesson


Notas iniciais do capítulo

Desculpem pela demora e por esse capítulo não tão grande, maaas, é o que está dando para escrever ultimamente. Vou tentar ser mais pontual e terminar a fanfic nas férias :3



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Uma brecha na porta abria suas angústias para o mundo exterior. Quem não teria compaixão por aquela criança perdida? Uma pétala de flor, queimando ao lado da lareira.

Uma mulher de vestido azul entrou no quarto. A suavidade com que dava seus passos, não permitiu que Yu Mai percebesse sua presença. Apenas levantou a cabeça quando sentiu uma mão pousar de leve em seu ombro.

– Por que está chorando, menina? – ela deu um suspiro – Quando tem ouro aos seus pés, uma cortesã jamais deve chorar... – disse com um sorriso, balançando a cabeça em direção as moedas que Mai havia ganhado.

– Eu preferia estar sem ouro nenhum... – respondeu a Yu. A voz enrolada pelo choro.

A mulher deu um sorriso calmo.

– Você nem está aqui a tempo suficiente, para saber o quão difícil é essa vida...

A jovem suspirou.

– Era para o cliente se sentir amado, não é? Se acontecer o contrário, eu não acho que signifique algo bom.

Uma lágrima solitária caiu de seu olho esquerdo e então a mulher a secou.

– Nós, menina, somos damas do amor. Hoje nos apaixonamos, e amanhã temos a habilidade de nos apaixonarmos novamente, enquanto deixamos montanhas de homens enamorados aos nossos pés... – a mulher riu – Uma cortesã requisitada tem um poder enorme, Yu Mai.

– Como sabe o meu nome? – perguntou a jovem, interessada.

Ela levantou-se, agitando seus longos cabelos brilhantes para trás.

– Não é muito difícil saber das coisas por aqui.

Diante de sua visão embaçada, ela contemplou a beleza imaculada da mulher. Ela era alta, e mesmo sem maquiagem ou adorno nenhum, parecia tão perfeita como uma lótus flutuando num rio.

Antes de sair, ela sorriu mais uma vez.

– Aprenda essa habilidade... E então, nunca mais, chorará por cliente nenhum...

Aprender, aprender e aprender, pensou ela. A vida em Qin Huai parecia ser tão complexa quanto à vida na aristocracia. De certo, como Yan Yan dissera, ali estava cheio de moças devassas e deselegantes, mas, não seriam elas apenas vítimas?

A garota suspirou. Refletiu seriamente sobre o que a mulher tinha lhe dito. Talvez antes não fosse, mas agora, ela era uma dama do amor, uma das flores do rio Qin Huai. Todas ali eram tão belas quanto Yu Mai.

Uma memória tênue passou por sua cabeça. Havia entendido o que a flor de lótus quis dizer com damas do amor.

Havia uma canção para todas aquelas mulheres.

Cantava sobre a imortalidade, pois sua beleza fazia jus as suas vidas eternas. Eternamente flutuando no rio Qin Huai.

Não era uma canção que sua mãe costumava cantar, pois só a viu murmurar uma vez, quando lhe contava sobre o paraíso de Jade. E ela sabia que aquelas belas joias imortais, também teriam uma canção tão bonita quanto elas.

‘’ Eu tenho uma história,

deixe-me colocá-la em uma canção.

Eu espero que cada um de vocês,

possa me ouvir pacientemente...’’

Era assim que começava, com um sussurro aveludado. Mas infelizmente, ela não se lembrava do fim. Talvez a graciosa flor de lótus soubesse terminá-la. Quem sabe, depois de ouvir aquela música, ela não pudesse cantá-la para os homens e encantá-los com sua beleza? Com sua suavidade e discrição, com seu cheiro de flores e sua voz suave, tão bonita quanto uma imortal do Palácio de Jade...

Levantou, enchendo os bolsos de seu vestido amarrotado com as moedas de ouro que havia ganhado.

Dentro do pavilhão estava frio e escuro, embora o sol brilhasse dourado lá fora, acariciando gentilmente as flores do jardim.

Mai desceu tímida as escadas, não tinha Yan Yan para protegê-la agora, mas naquele lindo e quieto salão, com pinturas tão belas e suaves, do que poderia ter tanto medo?

Ao passar pelo portão de saída do pavilhão, encontrou Yan Yan dormindo aos pés de uma árvore.

Tinha consigo uma tombada garrafa de porcelana e o quimono azul estava amassado. Os brincos de marfim que estava usando na noite passada não estavam mais ali e vestígios de ouro também não foram encontrados.

Mai olhou para os lados e cautelosa, pulou a pequena cerca vermelha que separava a ponte do jardim. Ergueu com cuidado a saia do vestido para não molhá-lo no pequeno lago.

– Yan Yan?

Ela não respondeu. Seu peito subia e descia acompanhando uma respiração calma e lenta. Um sorriso estava estampado em seus lábios avermelhados, como se estivesse sonhando.

– Yan Yan! – disse Mai, cutucando-a.

Ainda de olhos fechados ela se remexeu, agarrando com força a garrafa vazia.

– Yan Yan, acorde! – gritou Yu Mai, preocupada.

Ela despertou com um susto, mas voltou ao semblante sonolento quando olhou para Mai.

– Você está bem?

– Sou eu quem deveria perguntar, você dormiu no jardim!

Ela se levantou um pouco tonta.

As cortesãs que passavam elegantes pela ponte abafavam risinhos maldosos com as mãos, mediante a situação de Yan Yan.

– Estou tão horrível assim? – perguntou cansada, passando a mão pelos cabelos desarrumados.

– Bem... Eu não diria...

– Espere.

Os olhos sonolentos de Yan Yan se abriram de pavor quando ela revistou os bolsos. Não havia ouro ou joias ali, onde supostamente deveriam estar.

– Onde está o pagamento?

Mai iria abrir a boca pra falar, mas não tinha nada a dizer. O roubo era claro. Não seria sensato fingir que não havia acontecido.

Yan Yan abaixou a cabeça suspirando pesadamente.

Cruzou os braços como se quisesse transmitir um conforto para si mesma e marchou devagar para dentro do pavilhão.

– Yan Yan! – disse Mai, preocupada.

– Não venha atrás de mim – disse ela um pouco irritada.

Yu Mai suspirou.

Decidiu que tomaria um banho e depois agradeceria aquela gentil mulher por ajudá-la. Talvez pudesse ajudar também sua amiga.

Virou-se, deu meia volta no jardim e foi para a casa das cortesãs.

Procuraria por algum quimono limpo nas coisas da cortesã que não estivessem trancadas em seu baú.

Enquanto subia as escadas, observava a amizade que as moças nutriam umas pelas outras. Pensando bem, estava sozinha, a não ser por Yan Yan e aquela mulher misteriosa.

Há algumas horas, desejaria de bom grado não ter nenhum contato com aquelas prostitutas, mas agora, sentia o peso da solidão, algo forte, como jamais sentira em sua antiga casa.

Abraçou a si mesma, percebendo o quão gelada estava.

Chegou perto da cama de Yan Yan e ali, dobrada em cima do baú estava sua capa, branca como a neve, com o cheiro de jasmim de sua casa.

Ela sentiu vontade de chorar. Lembrou-se de Mei, abraçando-a pela última vez como uma mãe. Apesar das coisas que tinha feito, ainda era uma criança, uma criança que precisava de carinho. O carinho terno que vinha daquela dos cabelos negros, que lhe contava histórias no fim das tardes e a afastava do medo lá fora, das coisas ruins que ficavam além do jardim da casa Wan.

Ela chorava por uma ferida que talvez nunca cicatrizasse. Secou os olhos em sua capa e pegou um quimono limpo em cima do baú.

Enquanto cruzava a ponte de volta para o pavilhão, lembrou-se de uma das histórias de sua mãe. Uma princesa das montanhas, que a todo custo tentava sobreviver, desde saqueadores até aos ataques de tigres e dragões.

Se a princesa da montanha havia aprendido a lutar contra tigres e dragões, porque ela não poderia fazer aquilo? Fingir um amor, criar um mundo, por apenas uma noite e tudo seria seu.

Aquilo a fez sorrir.

Esperou que a casa de banho estivesse quase vazia para que pudesse tomar seu banho.

...

Uma anciã vestida de verde tocava um velho instrumento de madeira naquela sala escura.

Aquelas paredes mergulhadas em dor choravam ao som triste que o Guqin produzia.

A água escorria suave pela fonte de bambu, levando calma e serenidade para aquele cenário mórbido.

Amolecia os mais fortes e destruía os mais fracos, mas ele não era um fraco, não é mesmo?

Mei estava sentada à sua frente.

A flor de jasmim aberta, no chá frio em cima da mesa era um laço quebrado de silêncio entre os dois.

As sombras secas de lágrimas em seu rosto delicado fizeram Wan Yu estremecer.

– Por que você veio aqui, Mei?

Perguntou ele, enquanto fingia ler pergaminhos importantes.

– Eu a quero de volta – respondeu, séria.

Ele forçou uma risada de deboche, pois queria Qiu tanto quanto ela.

– Quem? A meretriz que você insiste em chamar de filha?

– Ela não é uma meretriz! – gritou Mei, jogando para longe a xícara de chá.

O pequeno pote de porcelana estourou ao lado da fonte de bambu, fazendo com que a velha tocadora de Guqin parasse de dedilhar o instrumento.

Estava ali há muitos anos, e era seu dever manter o Guqin sempre tocando, sem prestar atenção ou questionar o assunto de seus senhores, mas, naquele dia, ela parou de tocar.

Yu assustou-se por alguns segundos. Tentou manter a calma, mas sua frase saiu como uma ameaça:

– Aquela prostituta nunca mais colocará os pés nesta casa, e se colocar, vou cortá-los eu mesmo!

– Como pode dizer isso? Qiu é minha filha e não permitirei que ela fique longe de mim!

Ele mirou os olhos de Mei com raiva. Não costumava fazer aquilo, mas tinha que mostrar para os outros como nenhuma mulher lhe dava ordens.

Virou a mão contra o rosto de Mei. O tapa estalou quente por seu rosto delicado, derrubando-a no chão.

Ela se ergueu tremendo, mas não estava chorando. Os olhos semicerrados de ódio. Um filete vermelho escorria do canto de seus lábios até o queixo, manchando o quimono amarelo.

– Ela é a minha filha... – disse Mei, pausadamente.

Os conflitos em sua cabeça eram complexos demais para raciocinar tão rápido, mas de uma coisa Yu tinha certeza. Nenhuma mulher o questionaria.

Wan Yu aproximou-se da mulher, agarrando com força seus pulsos.

– Se você sair para procurá-la, ou ajudar aquela prostituta de alguma maneira, você nunca mais irá voltar!

Dizendo isso, largou-a no chão, arrastando a porta do aposento com força.

– Me deixe sozinho.

Mei estava com medo. Não só por Qiu, mas por si mesma também.

Estremeceu sob o olhar ameaçador de Yu e saiu do lugar, secando o sangue que manchava sua pele.

A anciã voltou a tocar o Guqin, como se jamais tivesse parado e a paz mórbida voltou a reinar no lugar.

...

Os corredores coloridos do pavilhão estavam sempre decorados.

Havia uma regra.

Quanto mais próximo se estivesse do quarto da mestra, mais bonita e deleitável deveria ser a visão. Mas Yan Yan sabia que o quê olhe aguardava não era nada bonito.

Quando chegou aos aposentos de Lin, ela permanecia na mesma posição que sempre era encontrada.

Sentada elegantemente em um divã de seda dourada.

Desta vez, estava lendo uma história descrita em pinturas.

– Eu esperava que viesse até mim, Yan Yan.

Ela não respondeu o que fez Lin sorrir.

– Vocês não trabalham para nada, sabe? Temos um negócio aqui, que não vai ser sustentado apenas com a beleza das minhas flores... Acha que pode sair por aí oferecendo seus serviços de graça?

– Não senhora.

Ela puxou um cachimbo de bambu e o entregou para Yan Yan.

– Ele gosta de ópio.

– Mestra... Por favor, foi um engano... E-Ele me roubou! – gaguejou ela.

– Olhe para mim, Yan Yan.

– Estou olhando, mestra.

– Repita as palavras, e saia.

Ela sentiu os olhos se encherem de lágrimas, mas chorar só pioraria a situação.

– O caminho das lanternas é só para os que pagam.

– Boa menina. Você provará o escuro hoje.

Yan Yan estremeceu. Fez uma reverência desajeitada e saiu do lugar, acomodando o cachimbo dentro das mangas longas de seu vestido.

Depois de um longo banho, tentando se recordar de lendas e canções, quando voltava para a casa das cortesãs Yu Mai ouviu algo incomum vindo da sala de chá.

Os portais estavam entreabertos. De lá vinha música e risadas, além do cheiro forte de chá de jasmim e maquiagem.

Imaginou que a maioria das mulheres já tinham se levantado para o café, mas ao entrar ali, viu que havia se enganado.

No centro do salão de chá, em uma grande mesa quadrada, reuniam-se dez das mais lindas cortesãs do pavilhão. Estavam elegantemente arrumadas e perfumadas, já àquela hora da manhã. Só havia uma que não estava maquiada e enfeitada com adornos, mas, como Yu Mai já esperava, superava todas as outras com sua beleza natural.

A mulher misteriosa, por quem adotou o nome secreto de Flor-de-Lótus, deu um sorriso mágico, e então, a música parou e todas as cortesãs pararam de rir e conversar.

– Junte-se a nós Yu Mai... Quer um pouco de chá?

Ela olhou para todas as mulheres, um pouco envergonhada e se dirigiu insegura até a mesa.

A mulher lançou um olhar muito doce e gentil para a cortesã sentada ao seu lado e rapidamente ela saiu do lugar, dando espaço para Yu Mai.

– Você gosta de chá de Jasmim? – perguntou, ainda sorrindo.

– Sim, muito, Lian Huá¹.

– Lian Huá?

E então ela percebeu que tinha revelado a sua especulação de nome. Ruborizou e formulou um pedido de desculpas, mas foi interrompida pela moça.

– Já me chamaram disso antes... Não a culpo já que eu não me apresentei corretamente...

Então, ela deu pequenos risinhos, instigando todas as outras moças a rirem também.

– Meu nome é You Ya.

– Realmente bonito.

Ela agradeceu com um aceno de cabeça e lançou um olhar significativo para todas as garotas ali.

– Vejo vocês depois, sim?

Todas assentiram com a cabeça com uma expressão de pleno contentamento e se levantaram, saindo em fileira do salão de chá.

Sem todos aqueles olhos curiosos voltados para ela, Yu Mai sentiu-se livre para respirar melhor e se acomodar na cadeira.

– São todas suas amigas?

– Não há amigos aqui, Yu Mai. Vendemos amor, não amizade, e sinceramente, não costumo vendê-lo para outras cortesãs.

– Desculpe.

– Não peça desculpas... Você tem muito para aprender – disse, tomando um gole de chá.

– Então, quem são aquelas mulheres?

Ela sorriu.

– Ficou curiosa? – perguntou, pousando a xícara elegantemente na mesa – Elas me seguem para aprender meus segredos.

– Segredos? Que segredos?

Ela abafou algumas risadinhas com as mangas do quimono preto.

– É fascinante como você ainda vive no mundo lá fora... Bem, eu sou boa no que faço. Elas querem ser iguais a mim.

– No entanto elas falham, não é? – disse Yu Mai em um tom divertido.

– Para falar a verdade, eu nunca me ofereci para treinar nenhuma delas... Essa arte não é algo que foi feito para se ensinar para alguém.

– A habilidade de se apaixonar de novo e de novo... – disse, citando a frase de You Ya.

– Exatamente – falou, dando um sorriso suave - Não é algo difícil de aprender, tudo que precisa fazer é entender o conceito, e acima de tudo, não ter medo.

Yu Mai se sentiu ligeiramente afetada, direcionou o olhar para o seu chá e esperou a conversa fluir.

– Mas eu estou interessada em você.

Ela sentiu uma pequena fagulha acender em seu interior.

– Interessada... Em me ensinar? Por quê?

– Você veio de um lugar muito diferente... E suas habilidades me pareceram bastante interessantes. Acho que com sua noção de vida aristocrata você nunca sobreviveria aqui.

As palavras de You Ya caíram como tijolos nos pés de Mai. De certa forma, ela se sentia segura perto daquela mulher, mas como as lágrimas haviam secado, só restou o sentimento gritante que lutava para sair.

– Eu não quero estar aqui.

Ela sorriu, se levantando graciosamente.

– Se quiser sair deste lugar, você tem que subir pelas categorias. Além do mais, a quantia para libertar uma cortesã é cara... Você precisará pagar por tudo o que obter da Mestra, como roupas, joias e perfumes.

– Você conseguiu pagar a sua?

You Ya suspirou, forçando um sorriso para Mai.

– Um bordel como esse precisa de uma cortesã de alta classe, não é?

Ela não entendeu. Abriu a boca para perguntar algo, mas foi cortada pela suave voz da cortesã.

– Depois da casa das cortesãs, tem mais uma construção. Venha me visitar hoje na hora do almoço. Ensinarei à você a mais importante de suas lições.

– E qual seria?

You Ya sorriu.

– Sedução.

Yu Mai observou-a deixar a sala com seus passos graciosos. Aquele clássico jeito de andar, como se flutuasse pelo chão. Era esse um dos elementos que aquelas moças desejavam aprender?

Pois Mai aprenderia. Aquele seria seu primeiro passo para sair daquele lugar. Tudo o que precisava era empregar uma nova palavra em seu vocabulário.

Sedução.

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¹ - Lian Huá (蓮花 - Chinês tradicional) Significa flor de lótus


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