–Bom, o que fazemos agora? – perguntei.

–Matamos elas, e vamos para a fortaleza.

–Simples, faço isso todo o dia. – comentei, irônica.

–Sério?

–Claro que não. – respondi. – Eu estava de brincadeira.

–Ah...

–Agora, vamos focar nisso aqui.

Mirei o arco na direção de uma aranha. Respirei fundo, me preparando. O clima estava tenso e ninguém dava o primeiro ataque. As aranhas nos cercavam, também se preparando.

–Vamos! – gritei.

Então, começamos o contra-ataque.

Nós atirávamos com os arcos incontáveis vezes. Acertamos milhares de aranhas em questão de segundos, mas mesmo assim elas pareciam nunca acabar.

Então começamos uma rápida luta de trocas. Lutávamos um pouco com as adagas e quando elas estavam mais distantes, pegávamos os arcos. De alguma forma, mesmo que não falássemos nada, parecíamos sincronizados. Mesmo que eu não o mandasse fazer alguma coisa ele instantaneamente fazia, como se pudesse ouvir os meus pensamentos...ou como se pensasse o mesmo que eu.

Estava sendo uma batalha bem intensa, para nós dois, mas tínhamos forças para continuar, nenhum de nós estava pronto para desistir.

Então, eu deixei meus instintos me guiarem. Quase que como se dançasse, eu lutei contra as aranhas. Esquivava de golpes, acertava meus inimigos. Nada podia me parar.

Porém, depois de um tempo, eu comecei a ficar impaciente.

–Por acaso essas malditas não acabam?

–Parece que muitas delas foram atraídas para cá por alguma razão.

Será que as aranhas também podiam sentir magia? Pelo menos aquelas aranhas...É verdade que pareciam haver muito mais delas do que antes de eu ter curado Legolas.

Meu erro foi aquilo. Ter parado para pensar na situação no meio da luta. Quase custou minha vida.

–Cuidado! – ouvi o príncipe gritar.

Então, eu senti uma aranha me empurrar, e minha cabeça bateu no chão. Foi tudo tão rápido...como eu tinha perdido minha atenção tão fácil assim? Eu nem senti a aranha se aproximar...

Rapidamente me virei para a aranha, e ao perceber sua aproximação, comecei a me arrastar para trás. Tinha deixado o arco cair, mais uma vez. Peguei a adaga e segurei forte o punho. Eu não teria mais de uma chance para terminar com ela.

No fundo, Legolas tentava me ajudar, mas estava ocupado com um grande aracnídeo o atacando.

O que fazer agora?

Só tinha uma chance...uma chance.

Uma única chance.

Era vida ou morte.

Ou talvez não.

Foi então que vi a cabeça da enorme aranha ser atravessada. A flecha que furou perfeitamente o bicho passou quase que na velocidade da luz para meus olhos, assim como outras.

Demorei um pouco para processar o que estava acontecendo. Então fiquei meia hora encarando a flecha parada bem na minha frente, entre as minhas pernas.

Eu não estava morta. E também não tive que usar daquela chance. Legolas...ele tinha me salvado?

Não...não tinha sido ele. Mas...onde ele estava?

Logo vi vários arqueiros aparecendo e lutando contra as aranhas. Alguém tinha aparecido para nos salvar?

Eles usavam roupas verdes e leves...

Eram os elfos da floresta. Quem mais poderia ser?

Mas ninguém se aproximou de mim, era quase como se não tivessem notado a minha presença. Eles só estavam lá para matar as aranhas.

Mas eu não via o príncipe elfo, não o via em lugar nenhum. Onde estava aquele homem que mesmo quase não conhecendo já conseguia me passar uma sensação de conforto? Porque perto dele eu...eu me sentia segura?

Onde ele estava? Onde ele estava?

Não podia perder tempo. Enquanto eles davam conta das aranhas, eu teria que encontrar o príncipe.

Rapidamente voltei a ficar totalmente consciente. Eu me sentia um pouco...drogada nos últimos segundos...meio tonta. Será que estava sofrendo os efeitos da Floresta mais uma vez?

Então, me levantei e me coloquei novamente em posição de alerta. Peguei o arco e tirei uma flecha, teria que estar pronta para tudo. Eu talvez não tivesse uma chance da próxima vez, então não poderia haver uma próxima vez.

A batalha continuava intensa, mas eu sabia que os elfos poderiam dar conta daquelas malditas aranhas.

Foi olhando que eu percebi que eles estavam sendo liderados por uma elfa, bem alta, de longos cabelos ruivos, que quando lutava parecia dançar, de tanta graciosidade. Todos os elfos lutavam muito bem, mas ela, de alguma forma, parecia assustadoramente superior. Ela era realmente muito boa, não levava um arranhão se quer. Quem era ela, afinal?

Não tinha tempo para pensar nisso, tinha que encontrar Legolas! Sim, isso aí.

Fiquei um bom tempo procurando. Ele não parecia estar em lugar algum? Por que ele viva sumindo da minha visão? Pela lógica ele deveria estar com os outros elfos, mas não estava...será que alguma coisa tinha acontecido com ele?

Tentei me lembrar, usando todas as minhas forças, da última vez que tinha visto ele. Já que estava um pouco fora de mim mesma, parecia ser uma visão embaçada, mas..., mas...

Algo que no momento não pareceu importar, mas era realmente importante...

Ele se afastou do lugar que estava antes, saiu do meu campo de visão.

Algo tinha definitivamente acontecido com ele.

Comecei a procurar desesperadamente. Onde ele estava?

Não conseguia acha-lo de jeito nenhum. Talvez ele estivesse no meio das aranhas mortas?

Depois de um bom tempo procurando, vi algo disfarçado no chão.

Foi embaixo de uma aranha que eu o encontrei. Estava desmaiado mais uma vez. Não sabia que era tão fácil fazer elfos desmaiarem assim.

Então vi que ele estava suando um pouco e notei que algo vinha de seu pescoço. Cheguei e percebi algo.

Meu feitiço não tinha o curado, só atrasado o veneno. Se eu tivesse feito com mais cuidado talvez...

Ele deve ter ficado tonto e isso o prejudicou na batalha. Mas não tínhamos tempo para isso. Eu precisava leva-lo para os outros, eles podiam ajuda-lo.

Comecei a tentar tirar seu corpo inconsciente de debaixo da aranha, mas aquilo não parecia funcionar. O que eu deveria fazer?

Foi então que eu ouvi um barulho e olhei para cima. Vi então uma mancha negra se aproximando. O que era aquilo?

Finalmente notei que a mancha era na verdade uma aranha, mas foi tarde demais.

Em questão de segundos, uma enorme aranha caiu em cima de mim, e eu bati no chão, ficando inconsciente.

Mais uma vez...que coisa, não é?

***

Uma vez que acordei, estava um silêncio completo. Não havia movimentos nas redondezas...absolutamente nada. Com grande dificuldade, consegui mover a aranha em cima de mim para o lado.

Estava viva, que ótimo. E aquele pesadelo? Ainda acontecendo.

E do meu lado, notei que Legolas ainda estava ali. Pelo visto os elfos não tinham nos notado, que notícia maravilhosa!

Empurrei com força a aranha em cima dele, finalmente a tirando de lá. Com dificuldade, ergui o que pude do corpo de Legolas e comecei a arrastá-lo, para a direção que acreditava ser nosso caminho para a fortaleza.

Não iríamos muito longe daquele jeito. Juntando força e determinação, ergui seu corpo, colocando-o no meu ombro. Só Deus sabe de onde eu tirei força para aquilo.

Fui o mais rápido que pude em frente. Deus...será que ainda demoraria muito para chegar na fortaleza? Por que ela ainda parecia tão longe?

Depois de andar um pouco, eu comecei a ver mais feixes de luz, e meu coração se preencheu com um pouco de esperança...aquilo devia ser um sinal de que estava me aproximando da fortaleza...a floresta parecia se abrir.

Comecei a andar mais rápido, só podia ser aquilo. Finalmente!

Sentia fome e sede, verdade que já estava um bom tempo sem comer...quanto eu não sabia, mas podia sentir que era bastante. Mas não podia parar naquele momento! Sentia que estava quase lá.

Eu não conseguia me aquentar! Estava tão perto, quase como pudesse alcançar com a ponta de meus dedos.

Então, encontrei a trilha novamente, e um caminho se abria bem na frente dela, este cercado por árvores belas e luz. Sim, luz. Não estava mais o breu de antes. Podia finalmente respirar ar puro, eu conseguia sentir.

Então, já com o ombro doendo e as pernas bambas, vi uma ponte com um portão logo na frente. Estava quase lá. Estava quase lá.

Mas eu ainda tinha que carregar o peso de Legolas.

E ele parecia pesar cada vez mais.

E meu ombro parecia que ia despencar.

Caí no chão, involuntariamente. Não...aquilo não podia estar acontecendo. Não...eu tinha que...tinha que continuar...faltava tão pouco.

Estiquei a minha mão, como se pudesse alcançar o portão com ela, o que claramente era impossível.

Não podia desistir...

Minha visão começou a ficar turva. Estava muito cansada. Estava destruída. Tinha fome e sede...não tinha parado um segundo para reabastecer...

Eu por acaso iria morrer? Iria morrer na vontade eterna de chegar na fortaleza?

Não...aquilo não podia estar acontecendo...

Então minha visão começou a escurecer...

Mas eu jurei ver pessoas se aproximando em meus últimos momentos acordada.