Salute escrita por Milady Malfoy


Capítulo 1
First And Last




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Três de Fevereiro de 3124

Eu era muito pequeno para lembrar-me exatamente do que aconteceu. Tinha apenas sete anos, e só tenho alguns flashes de memória sobre o acontecimento que é chamado de “A Grande Revolta”. Pelo que o meu pai me contava, as mulheres se revoltaram com o jeito que nós, os homens, estavam as tratando. Então elas declararam guerra. Tenho algumas lembranças daquele dia, a maioria delas era meu pai me arrastando a força para longe da minha melhor amiga, Nicolleta. O mundo se dividiu em dois, as mulheres do lado Ocidental, e os homens do lado Oriental. Cada lado, Ocidental e Oriental, tinha uma família comandante. Infelizmente, quem comandava os homens eram os Black, a minha família. E como se fosse ironia do destino, quem comandava as mulheres era a família de Nicolleta, as Hunter. Todos os anos as nossas famílias se encontravam para tentar selar um acordo de paz, porém eles nunca conseguiram. Nicolleta e eu aproveitávamos o tempo de todas as reuniões para matar a saudade um do outro. Mesmo nos encontrando apenas uma vez ao ano, eu pensava demais em minha melhor amiga. Eu já pensava o suficiente em seus cabelos negros e em seus olhos cor de ônix que faziam uma perfeita combinação com a sua pele tão branca como o leite.

– Jason. – meu pai adentrou meu quarto, interrompendo os meus pensamentos sobre Nicolleta. Sempre me disseram que eu era igual a me pai, só que com quinze anos. Ambos temos os mesmos cabelos loiros e os mesmos olhos azuis elétricos. A nossa maior diferença era que eu mantinha em minha boca uma pequena cicatriz, de quando tentei comer o grampeador. Eu tinha dois anos na época.

– Jason meu filho, - meu pai começou – você já está crescido, não tem mais sete anos. Eu acho que você deveria parar de pensar no passado e se concentrar no futuro. – ele fez uma pausa e puxou um garoto para dentro de meu quarto. Ele era alto e tinha o mesmo porte físico que o meu, musculoso devido ao treinamento militar. Aparentava ter a minha idade e tinha cabelos negros e olhos verdes. – Este é Perseu. Ele é filho de um ex-magnata do petróleo. – os olhos de meu pai continham um brilho malicioso. – Espero que vocês se entendam. – depois dessa frase ele saiu do meu quarto, me deixando sozinho com Perseu. Fiz um sinal para que ele se sentasse em um pufe que tinha ao pé da minha cama, e ele o fez.

– Hum... Ééé... Sabe Jason... – ele começou a falar gaguejando – É que... Eu não sou... Bem, hum... Você sabe...

– Gay? – perguntei interrompendo o ataque de gagueira dele. Perseu assentiu. – Não se preocupe cara. Também não sou gay. -ele sorriu para mim, aliviado.

– Então porque o seu pai tentou me arranjar com você? - suspirei diante da pergunta do meu (talvez) novo amigo.

– Ele se sente muito culpado em relação a mim. – expliquei. – Quando eu nasci, minha mãe morreu no parto e meu pai passou a minha infância inteira me culpando. Quando a guerra estourou eu tinha sete anos e aparentemente um choque de realidade atingiu o meu pai, e ele começou a me proteger. – suspirei. – Ele vem sendo um pai bem super protetor nos últimos oito anos. - Perseu apenas mexeu a cabeça como uma afirmação, sem palavras diante a minha história de vida.

– Você tem alguém do outro lado? – perguntei subitamente. Perseu olhou para mim e deu um sorriso que só uma pessoa apaixonada daria.

– Tenho. –ele falou orgulhosamente. – O nome dela é Annie. Ela é loira e seus olhos são cinza, o tom mais perfeito que eu já vi. Ela era a minha namorada. Ela era... – ele suspirou. – Ela é o amor da minha vida. – apenas balancei a cabeça, incapaz de dizer qualquer palavra diante daquela declaração.

– E você? - ele perguntou. – Você tem alguém? – com os olhos verdes de Perseu sobre mim, pensei em Nicolleta. Pensei no jeito que suas madeixas negras voavam enquanto corria. Pensei no jeito que seus olhos brilhavam quando ela me via. Pensei no jeito que nossas mãos se encaixavam perfeitamente.

– Sim. – respondi finalmente. – Sim, eu tenho.

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Primeiro de Agosto de 3127

Estava socando o robô de luta com toda a força. Ele tinha que se consertar a cada cinco minutos, mas eu não ligava. Era o aniversário de Nicolleta, e também o dia do encontro para o acordo de paz. Ainda eram oito e meia. A reunião só começava meio dia e eu não fazia ideia do que dar de presente para ela. E ainda como se não fosse suficiente, meu pai tinha dito que ia escrever novos termos para o acordo, mas estava lá em seu quarto, com o namorado. O robô apitou. Ele precisava se consertar de novo. Irritei-me e decidi sair para comprar um presente para Nicolleta. Fui para o meu quarto e tomei uma ducha já que estava todo suado de tanto treinar. Enquanto me trocava comecei a pensar no que daria para Nick. Ela era apenas um ano mais nova que eu, então ela faria dezessete anos e não era o tipo de garota que se vestia toda arrumada, ela usava mais roupas de treino. Nada de roupas então. Maquiagem também não. Conheço Nick desde pequena e nunca a vi com maquiagem. Decidi então que daria um colar para ela. Uma coisa que sei que ela iria usar e se lembrar de mim. Peguei as chaves de minha moto, uma Honda 3126 e saí. Ela tinha a opção para ligar as turbinas, mas não estava no clima para voar. Parei em frente a uma joalheria que parecia ser antiga. Entrei lá e me impressionei, pois não tinha nenhum robô trabalhando por lá, só tinha apenas um senhor que parecia muito velho.

– Com licença. – chamei a atenção do vendedor, que olhou para mim.

– Em que posso ajudar meu jovem? – ele perguntou.

– Estou procurando um presente para o meu namorado. – menti. Não poderia dizer que o presente era para uma mulher, provavelmente me denunciariam para o meu pai.

– Oh sim. Tem algum preço em mente? – ele perguntou, me olhando de alto a baixo. Homens começavam a trabalhar na minha idade, e normalmente não começavam com dinheiro. Essa era uma das únicas vantagens de ser filho do líder.

– Tenho dinheiro, não se preocupe. – falei e vi o senhor relaxar.

– Oh! – ele exclamou. – Se aproxime da bancada garoto, vamos ver se conseguimos arranjar um presente para o seu namorado. – me aproximei da bancada como ele pediu, e vi diversas joias, uma mais linda que a outra, mas nada que combinasse com Nicolleta.

– Do que seu namorado gosta? – o senhor, que eu ainda não sabia o nome, me perguntou.

– Ele não gosta de coisas que chamem muita atenção, mas sim de coisas que são extremamente detalhadas. – e era verdade. Nicolleta odiava coisas chamativas, mas adorava aquelas coisas simples cheias de detalhes.

– Acho que tenho a coisa perfeita. Espere um pouco meu jovem. – ele adentrou os fundos da loja, me deixando sozinho. Quando ele voltou, trazia consigo uma caixinha de veludo azul.

– Dê uma olhada nesse meu filho. – ele me disse indicando a caixinha. Abri a caixinha e não contive a surpresa. Era um colar, e o seu pingente era um floco de neve, com pequenos diamantes e pequenas safiras o enfeitando. Parecia muito antigo e tinha muitos detalhes, assim como Nick gostava.

– Este colar tem uma história muito interessante. – o senhor começou a me contar. – Dizem que este colar foi um presente do Rei Maxxuel Hunter pra a sua mulher, Rosalie, quando ambos tinham dez anos. Este colar passou para a filha dele e assim foi só que uma das descendentes dos Hunter o perdeu e ele veio parar aqui.

– Perdão, - o interrompi – mas filha dele? – o senhor suspirou.

– Tinham boatos que o Rei Maxxuel traía sua esposa com um criado do castelo, se não me engano o seu nome era James Black. Enfim, acredita-se que a Rainha Rosalie não era fértil, já que acharam o seu cadáver e fizeram teste de DNA para comparar com o corpo de sua filha e não era compatível, porém foi compatível com o corpo do Rei Maxxuel.

– Espere um pouco. – pedi. Estava atordoado. Os sobrenomes do Rei e de seu amante eram os mesmo que o meu e de Nicolleta. Poderíamos ser descendentes deles? – Você sabe algo sobre os descendentes do Rei Maxxuel e de seu amante? – o senhor suspirou.

– Infelizmente sei. A descendente viva do Rei Maxxuel, é a filha da comandante das mulheres, Nicolleta Hunter. E o descendente de seu amante, James Black, é o filho de nosso comandante, Jason Black. – fiquei chocado, porém um pouco feliz. Meu antepassado e o de Nick foram apaixonados um pelo outro. Perguntei-me se a Rainha Rosalie sabia do caso de seu marido, mas decidi deixar para lá.

– Vou levar o colar. – decidi. Que presente melhor que uma joia antiga de família? Nicolleta iria gostar.

– Espero que seu namorado goste. – o velhinho falou, antes de eu pagar o colar e sair da joalheria. Dirigi até em casa, mas voltei voando. Estava me sentindo melhor agora que já tinha um presente para Nick. Optei por não colocar o colar em um papel de presente, pois Nicolleta odiava esse tipo de coisa. Cheguei à minha casa e olhei o relógio. Eram quinze para meio dia, e meu pai já me esperava na sala pra irmos à reunião.

– Está pronto? – ele me perguntou. Assenti. – Pegou alguma arma? – neguei e meu pai suspirou. – Suba e pegue pelo menos uma faca, mas vá rápido. – subi rapidamente e peguei duas facas, não que pretendesse usá-las. Desci rapidamente e eu e meu pai nos dirigimos para o nosso carro voador. Uns dez minutos depois chegamos à pequena casa na montanha que os homens e as mulheres negociam. Tinha uma floresta ao redor da montanha em que a casa ficava. Nicolleta e eu nos encontrávamos em uma árvore no início da floresta. Meu pai aterrissou o nosso carro e nos dirigimos até a casa. Quando entramos, a mãe de Nick já nos esperava na sala de estar. Vi que quando chegamos o ar ficou mais tenso.

– Vou treinar arremesso de facas nas árvores, me chame quando vocês acabarem aqui. – sussurrei para meu pai, que apenas assentiu, ainda mantendo contato visual com a Hunter mais velha. Saí da casinha e fui em direção ao meu ponto de encontro com Nicolleta. Ela já estava escorada na árvore quando cheguei lá. Ela estava perfeita, mesmo estando só com as suas costumeiras roupas pretas. Coloquei minhas mãos sobre seus olhos.

– Adivinha quem é? – sussurrei no seu ouvido. Ela nem respondeu, apenas se virou e me abraçou fortemente. Retribui o abraço o mais forte, e ao mesmo tempo carinhoso que consegui. Afundei a minha cabeça em seus cabelos. Ela tinha um cheiro de baunilha que me acalmava. Assim que nos separamos fui o primeiro a me pronunciar.

– Feliz Aniversário! – exclamei e ela corou.

– Pensei que não ia se lembrar. – ela murmurou com a sua voz melodiosa.

– Eu nunca ia me esquecer desta data. – retruquei olhando em seus olhos. Ah como eu estava com saudades dela. Retirei o pacote do colar do bolso da minha calça e entreguei para Nick, que claramente ficou surpresa. Ela pegou a caixa e a abriu. Ela pegou o colar começou a analisa-lo. Quando terminou de olhar o colar me olhou e sorriu para mim.

– Eu amei Jay. – ela falou carinhosa. Ela esticou o colar para mim. – Coloca para mim? – assenti.

– Você não vai acreditar na história desse colar. – comentei enquanto fechava o fecho do colar com delicadeza. Curiosamente, quando tirei as mãos da nuca de Nick, senti frio nos pontos em que minha pele se encontrou com a dela.

– Me conte lá na clareira então. – Nicolleta segurou a minha mão e me puxou em direção à clareira. A clareira está mais para um campo com algumas flores, mas eu e Nick a chamamos assim. Quando chegamos lá, deitamos embaixo de uma árvore com a minha mão em torno da cintura de Nick, e a sua cabeça apoiada em meu peito. Contei á Nicolleta à história que o senhor da joalheria me contou.

– Isso é interessante. – ela comentou sonolenta.

– Não é mesmo? – comentei, me questionando se ela ainda estava acordada.

– Hum. – ela resmungou já dormindo em meus braços. Suspirei. Nicolleta não tinha tanta disposição quanto eu. Fiquei a admirando por um tempo. O modo que seu corpo se encaixava perfeitamente no meu me encantava de um jeito que nunca percebi. Nick resmungou alguma coisa durante o seu sono.

– O que foi Nick? – eu perguntei, como um impulso, mesmo sabendo que ela estava dormindo. Ela suspirou durante seu sono

– Eu te amo Jay. – ela murmurou dormindo. E foi aí que eu percebi. Talvez tenha sido pela alegria que eu fiquei por ela ter tido as três palavras, ou talvez pelo jeito encantador que ela falou. Eu só tinha certeza de uma coisa.

– Eu também te amo Nick.

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Doze de Junho de 3130

Estava na clareira com Nicolleta. Ela estava deitada no meu peito, contando-me uma de suas histórias mirabolantes. Estávamos deitados embaixo da mesma árvore onde percebi que a amava e onde, um ano depois, a pedi em namoro. Ela fez a minha vida mais feliz quando respondeu sim e disse que me amava. Neste dia especialmente ela estava mais linda do que nunca. As mulheres, ao longo dos tempos decidiram adotar as antigas armaduras dos romanos como roupas de batalha, e era isso que Nick estava usando. Ela estava deslumbrante e perigosa ao mesmo tempo.

– Jay? – ela chamou, tirando-me de meus devaneios. – No que você estava pensando? - olhei para ela.

– No dia que te pedi em namoro. – respondi, omitindo a parte de meus pensamentos que me deixaria constrangido. Ela sorriu carinhosamente.

– É o dia mais feliz da minha vida até hoje. – ela comentou me dando um selinho e depois se aconchegando ainda mais em meu peito. – Quero te contar uma coisa que me aconteceu.

– Diga Nick. – disse para ela, deixando-a a vontade para falar do que quisesse.

– Minha mãe tentou fazer eu me envolver romanticamente com uma das garotas. – ela falou e eu fiquei tenso. Provavelmente ela deve ter percebido, já que tentou me acalmar. – Não se preocupe Jay, a garota não era lésbica. – ela falou e eu me surpreendi. – Ela tinha um namorado, por isso que estou comentando com você.

– Quem era o namorado dela? –perguntei curioso.

– O nome era Perseu. – Nicolleta respondeu e então eu sorri. Perseu e eu tínhamos virados grandes amigos e ele sempre falava de Annie.

– O conheço, é meu amigo. – falei para Nick que sorriu. – Me conte como é a Annie.

– Perseu não fala sobre ela? – Nicolleta perguntou curiosa.

– Ele fala. – afirmei. – Mas vai ser interessante ouvir algo sobre ela que não venha de um cara apaixonado. – Nick riu, porém assentiu.

– Tudo bem, eu vou contar. – ela falou. – Provavelmente você já sabe que ela é loira e tem olhos cinza. – assenti. – Annie é uma amiga incrível. Ela pode ser louca, agressiva, grossa, mal educada, pode ter uma voz e hábitos irritantes e pode ser viciada em chocolate... - lembro-me de ter rido nessa parte -... mas ela é uma das amigas mais preciosas que tenho.

– Que bom que você acha isso. – comentei e Nick franziu as sobrancelhas.

– Quando você conheceu Perseu? – ela perguntou, e eu fiquei com medo de sua reação.

– Há seis anos, quando tinha quinze anos. – comentei, tentando parecer indiferente. Ela assentiu pensativa.

– Vocês são muito amigos? – ela perguntou. Pensei um pouco e decidi responder.

– Sim. – falei para ela. – Perseu pode ser considerado meu melhor amigo no momento. Tirando você, é claro. – acrescentei e ela sorriu para mim.

– Ás vezes eu penso, - ela começou – se nós ainda seríamos amigos deles se essa guerra nunca tivesse começado, e também se eles estariam namorando, se nós – ela reforçou – estaríamos namorando.

– Não sei se um dia iremos descobrir. – falei para Nick, que levantou e assumiu uma pose de revolucionária, que me lembrava a mãe dela.

– Eu acho que nós devíamos contar para os nossos pais que estamos juntos. – arregalei os olhos. – Eles podem fazer uma trégua, e pessoas como o Perseu e a Annie podem se reencontrar. – Nicolleta falou sonhadora.

– Nick, isto não é um conto de fadas. É a vida real. – falei calmamente, mas ela estava extasiada demais para me ouvir. – Nick. – a chamei, então ela me olhou. – Não vai dar certo, eles não vão nos ouvir. – falei e ela me olhou indignada. – Aliás, – acrescentei – o que as outras pessoas vão pensar?

– Foda-se. – ela falou e eu me espantei. Nós não costumávamos usar palavrões, já que todos receberam uma educação muito rigorosa. – Foda-se o que os outros vão pensar. Eu não ligo. FODA-SE! – ela gritou e olhou para mim. – Eu só ligo para o que você pensa Jay. – ela falou carinhosamente. – E então? – ela perguntou. – O que vai ser?

– Foda-se. – experimentei a palavra. – Foda-se. – repeti. Olhei para Nicolleta, que me encarava de volta com os olhos brilhando. Levantei e peguei Nick pela mão e sai correndo com ela em direção a casa onde nossos pais estavam.

– Onde nós estamos indo? – ela me perguntou.

– Contar sobre nós para nossos pais. – respondi. Ela riu e começou a correr mais rápido. Em alguns minutos chegamos à casa da montanha onde nossos pais estavam. Nem bati, apenas adentrei a casa. Meu pai e a matriarca das Hunter estavam sentados um de frente para o outro, apenas uma mesa os dividia. Quando invadi o local de negociação, eles me olharam com cara de dúvida.

– O que você esta fazendo aqui cria dos Black? – a mãe de Nicolleta falou meu sobrenome com nojo. Quando ela percebeu que sua filha estava atrás de mim, ficou mais furiosa. – O que você está fazendo com esse homem? – ela falou o meu sexo com desprezo.

– Mãe, eu e Jason precisamos falar uma coisa. – ela olhou para o meu pai. – Para vocês dois. – Nicolleta respirou fundo antes de soltar a bomba. – Nós estamos namorando. – os nossos pais ficaram mais vermelhos do que um tomate.

– COMO ASSIM? – meu pai gritou indignado. – EU PENSEI QUE VOCÊ O PERSEU ESTIVESSEM...

– EU AMO A NICOLLETA! – o interrompi gritando. A mãe de Nick respirou fundo.

– Eu não posso lidar com isso agora. – ela falou suspirando.

– Eu muito menos. – meu pai concordou. – O que você acha de deixá-los passarem a noite aqui e decidimos algo amanhã? – a Hunter mais velha concordou com meu pai e olhou para a filha.

– Eu sinto pena de você. – e com essa frase os nossos pais se retiraram da casa e trancaram a porta. Nicolleta começou um choro desesperado. Eu a peguei no colo e a levei para o pequeno quarto que foi construído ali. Deitei-me na cama com Nick em meu colo ainda chorando.

– Eu achei que daria certo. – foi a primeira coisa que ela falou quando parou de chorar.

– Eu sei. – a confortei.

– Eu sinto muito Jay. – ela falou me abraçando.

– Não sinta. – respondi. Segurei seu queixo e a fiz olhar para mim. – Você fez o que achou certo. – e então a beijei. Naquela noite nós nos entregamos. Foi a nossa primeira e única noite de amor. De manhã, fomos acordados por um segurança dos homens, que quando nos viu abraçados, fechou a cara em uma expressão de nojo.

– Seus pais estão esperando. – ele falou. – Se vistam e depois me sigam. – nós obedecemos ao segurança e quando saímos da casa, levamos um choque. Todos os homens e mulheres restantes do planeta estavam ali. Eles gritavam, e pelo que entendi, eram apelos para mim e Nicolleta sermos mortos. Procurei Perseu pela multidão e o identifiquei. Um pontinho verde, mais distante do caos, beijando uma figura de cabelos loiros. Sorri. Pelo menos eles tiveram a oportunidade de se reencontrar. Olhei para Nick com o canto do olho e percebi que ela também tinha enxergado eles, já que estava sorrindo.

– Por aqui. – o segurança nos empurrou, e fomos caminhando até uma árvore com duas cordas amarradas onde nossos pais nos esperavam. Cada um segurava um banquinho. Meu pai fez um gesto com a mão e todos os homens se silenciaram. A Sra. Hunter repetiu esse gesto e foi a vez das mulheres se silenciarem.

– Estamos aqui hoje, em conjunto, para punir os amantes Jason Black e Nicolleta Hunter. – meu pai anunciou com pesar.

– Ambos os conselhos deliberaram. - a mãe de Nick se pronunciou – E foi decidida que a punição de Jason e Nicolleta, será a forca. – Nicolleta e eu seguramos a respiração. – Quem estiver a favor dessa decisão, faça uma saudação. – no momento que a matriarca das Hunter terminou de falar, todos os presentes fizeram uma saudação, aprovando o meu destino e o de Nicolleta. A mãe de Nick suspirou.

– Que assim seja. – ela falou. O guarda que escoltou Nicolleta e eu até o local segurou a nós dois pelo braço enquanto nossos pais colocavam os banquinhos embaixo das cordas. O segurança nos obrigou a subir nos banquinhos e nossos pais amarraram as cordas nos nossos pescoços.

– Por favor. – Nicolleta tentou uma última vez. – Vejam só o que vocês estão fazendo. – ela sinalizou para a multidão. – Estão trabalhando juntos por uma só causa. Por favor, acabem com a guerra. – Nick olhou para a mãe – Por favor mãe. –a mãe olhou para a filha, dura como uma pedra.

– Você não é minha filha. – se Nicolleta ainda tinha alguma esperança, aquela frase destruiu todo o resto. – Últimas palavras? - ela nos perguntou friamente. Eu e Nicolleta nos olhamos. Nós dividimos um único pensamento.

– Sim. – eu respondi. – Nós saudamos o amor. – assim que terminei de dizer o que seriam as minhas últimas palavras, eu e Nick chutamos os nossos banquinhos ao mesmo tempo. Não doeu. Foi como se eu sentisse um fio me puxando em direção ao sono. Sinto como se estivesse flutuando. Sinto uma sensação gelada em minha pele e sei que é Nicolleta me abraçando do outro lado e durante a minha eternidade como espírito, minhas últimas palavras me assombrariam, como um sussurro doce e frio ao mesmo tempo. Como um eco no vazio da morte.

“Nós saudamos o amor.”


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