"Imagino que uma chama que queime com tanta intensidade não seja feita para durar."

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Se a presença dela estivesse aqui, a primeira coisa que eu diria jamais seria eu te amo. Aliás, eu não falaria nada. Iria apertá-la tanto contra o meu peito, tão fortemente, até nós dois cairmos exaustos e sem fôlego no chão. Eu estaria ouvindo o peito dela bater, sua respiração, tudo contra meu ouvido e me sentiria salvo de novo.

Depois, eu iria gritar até meus pulmões precisarem de um tempo. Acho que passar um sermão imenso nela me distrai do fato de que eu provavelmente iria chorar.

Tem dias que são tão insuportáveis que preciso tomar remédio para dormir a tarde inteira. Ou chamar Zeke e pedir para que ele não pare de falar um segundo, que não sobre espaço para eu pensar. Treinar luta com Christina costuma resolver as vezes também. Mas a maneira mais excruciante de passar é imaginar durante horas e horas como seria nossa vida.

É uma dor tão negra e sólida. Quero sentir tanto sofrimento físico para ultrapassar meu emocional extremamente violado e sofrido.

Quando estou com raiva, finjo que ela não existe, que não passa de um buraco no planeta. Parece muito distante a ideia que já estive com uma pessoa que eu amava.

Christina disse que eu precisava falar com alguém sobre isso, um profissional. E eu achei a ideia tão absurda, tão impossível, que se eu abrisse a boca para falar disso, não iria parar nunca mais. Eu realmente não sei viver em uma imensidão onde não haja Tris. Afinal, ela sempre foi tudo que há de imenso. Então eu disse apenas que tudo bem. Ela marcou uma consulta pra mim e é claro que não fui. Nem em mil anos eu seria capaz de falar abertamente sobre isso com um estranho, nem com uma arma apontada na cabeça (o que não seria grande coisa. Honestamente, eu agradecia uma bala na cabeça).

Não lembro quem, me disse que seria um grande alívio se eu escrevesse sobre a situação. Eu disse "tudo bem". São as palavras mais sensatas ultimamente. Achei assustador. É difícil pronunciar o nome e acho que escrever para ela ou sobre ela seria ainda mais terrível.

Então, chegou meu aniversário. Comemorei com Zeke, Christina, Amah, George, Shauna e um cara do trabalho; fomos a um boliche. Quando cheguei em casa eu queria me afundar em álcool - porém seria pior porque me lembraria intensamente da audácia. Queria que minha existência zerasse naquele instante.

Aquele dia tinha um poço tão grande dentro de mim que nada poderia ser capaz de piorar. Meu peito doía. Quando dei por mim, tinha rascunhado trinta e seis folhas e somente uma me deixou em paz.

Uma folha.

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Tris,

Eu não sei... Estou bem. Não quero escrever sobre o que estou sentindo. Nunca tive tanto medo de algo do que meus sentimentos agora. Sei que uma das coisas que mais bastava para você era saber que eu estava bem. Então, é isso.

O dia mais aterrorizante da minha vida não foi quando você morreu. Uma cratera se abriu no meu peito quando vi seu corpo, sim, mas fechá-la não é importante, é impedir que se abra mais. O pior, e só vou dizer isso uma vez, foi espalhar suas cinzas no Hancook. Eu subi até lá em cima com tanto medo, Zeke me prendeu no equipamento e eu pensei que não ia dar. Eu quase não consegui. Mas a sua extraordinária força, a chama que você ascendeu em mim fez eu ir e contornei a cratera. Durou pouco tempo. Quando cheguei lá embaixo, só tinha vazio. Me deu uma sensação estranha, parecia que eu estava te esperando. E isso me fez perceber que seria para sempre assim.

Você foi a única roda gigante que eu subi até o fim. O ponto mais alto da minha vida, a parte que brilhou como luzes fluorecentes no meio de tanto estrago. E, bem, acreditou em mim, o que eu agradeço, porque honestamente eu não acredito.

E você...Tão bonita. E sempre que eu pegava em suas mãos eram quentes.

Eu me sinto protegido por você.

Amanhã eu quero tatuar um pássaro no peito.

Isto é o máximo do que eu sou capaz.

Tobias.

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" Ninguém a enxergava como ela era de fato, até que ela pulou."