Seven Souls escrita por Sawatari


Capítulo 8
Jake - Garotas gostosas são sempre as piores




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Sabe a pior parte de ser um meio-sangue? Os sonhos. A gente fica o dia todo tentando não morto ou preso, e quando você pensa que pode ter um pouco de paz quando dorme, começa a ter visões. E essa era daquelas que você não entende nada. Eu tava em alguma construção grande e escura. Tipo, sabe aquelas casinhas que fazem nos cemitérios pra guardar caixões juntos? (Não sei o nome, mas pergunte ao Gray, ele deve saber tudo de cemitério) Era mais ou menos assim, só que maior.
E quando eu me perguntei que tipo de pessoa iria querer morar ali, uma mulher entrou. Deuses, era provavelmente a mulher mais gostosa que eu já vi (Katie não vai ler isso, vai?). Era quase perfeita, pele branca, cabelos ruivos compridos trançados com fitas negras como o vestido curto (beeem curto) que usava. E vou parar por aqui com os comentários, antes que o autor tenha que por censura nisso aqui.
Mas sua expressão era fria. Ela fechou a porta, tomando cuidado para ver se havia sido seguida, e depois correu (sem perder a compostura, o que era impressionante) até o canto, onde havia uma bancada preta. Havia todo tipo de coisa ali, que pareciam velhas, mas ela apenas pegou um cálice de prata envelhecida. De alguma parte do vestido, eu não vi qual porque quando ela se mexeu aquilo se colou mais ainda no corpo, e puxou um frasquinho de vidro, e despejou o pó dentro dele dentro do copo.
Nesse momento a porta se abriu, e ela jogou o frasco vazio pela janela antes que outra pessoa entrasse. Senti um arrepio só de ver aquele cara. Deixe eu ver se consigo descrever bem. Ele era alto, musculoso, usava uma armadura negra de batalha completa e sua pele azeitonada era pálida. Tinha cabelos pretos que caíam pelas costas, em cima da capa vermelha que usava e do seu rosto. Seu rosto? Bem, ele tinha aquelas mesmas feições “de super vilão” que o Grayson, talvez de todos os filhos de Hades, só que muito pior.
Tinha olhos negros e profundos, como um poço sem fim, emoldurados por olheiras quase da mesma cor, sobrancelhas arqueadas numa expressão de eterno escárnio e o resto distorcido em uma de eterna raiva. Com três passadas, já tinha atravessado o lugar e parado a frente da mulher. Impressão minha, ou o lugar tinha ficado mais frio quando ele entrou?

- Senhor Lúcifer. – disse ela, abrindo um sorriso falso que quase me convenceu também.

Ah, isso explicava muita coisa. Caso você não sabia (é claro que não sabe, é só um mortal. Sem ofensa), Lúcifer não era o diabo, ou um anjo caído. Era um filho de Hades, o pior de todos. Tipo, o cara foi tão, bem, do mal, que Hades não tem tantos filhos quanto os outros deuses com o risco de criar outro como ele. E se o cara foi considerado o diabo pelos mortais, acho que deve imaginar como ele devia ser. E a parte dele se revelar e tentar destronar Deus, é verdade, mas é claro que eram os deuses que ele queria chutar do Olimpo.

- Não precisa me chamar se senhor, Lilith. – a voz de Lúcifer era aguda, baixa, controlada e de dar medo. – Logo serás minha esposa.
- Como queira. – retrucou Lilith, com uma pequena pontada de frieza.
- O que é isso? – ele puxou o cálice de Lilith. – Estais a tentar me envenenar?

Ah, meus deuses, eu odeio gente que fala assim, com jeito antigo, me dá uma puta do de cabeça e levo uns dois minutos pra entender o que eles falam. Enfim, só depois de uns segundos deu pra entender que o Lúcifer tava achando que a futura mulher queria matar ele. Também, com aquela simpatia toda...

- Claro que não. – Lilith se mantinha impassível. Eu devia aprender a mentir assim, seria bem útil. – Sentirias a morte antes, não?
- Sem dúvida. – retrucou Lúcifer, e virou o copo de um gole. Deuses, o que tinha ali, tequila? Vodca? Aquelas coisas que o Mike rouba, esconde no chalé e embeba metade do acampamento? Ah, aquelas eram das boas...
O que? Eu tenho idade pra beber, vá reclamar com os outros!

Enfim, assim que Lúcifer virou o cálice, a porta se abriu. Quer dizer, quase foi arrancada, e mais uma pessoa chegou. Esse era dos bonzinhos, dava pra saber só de olhar pra ele. Alto, forte, cabelo loiro, olhos azuis, armadura brilhando, espada em punho. Perae, aquele brilho era de faíscas?

- Mikael! – gritou Lúcifer, num misto de choque e raiva.

Ae, mano Mikael! Sim, o Mikael que chutou tio Lu pro Tártaro era filho de Zeus. Ninguém mais tinha conseguido vencer ele. É de família, sabe?
Lúcifer puxou a espada da bainha no mesmo segundo. Era comprida, de metal do rio Styx, cabo de dois gumes com uma caveira incrustada em cada um... Aquela era a Diaboles?! Era difícil olhar melhor, porque ela desceu sobre a espada do Mikael e logo os dois estavam se matando. Seus golpes eram tão rápidos que chegava a ser difícil de acompanhar.
Mas aí chegou a hora da virada. Lúcifer ergueu a espada para um golpe que provavelmente cortaria Mikael ao meio, porém parou no meio do movimento. Ele agarrou o peito, como se não conseguisse respirar, e caiu de joelhos. Mikael chegou mais perto, mas ele se virou para Lilith com ódio.

- Veneno... – ele tentava falar, com a voz rouca. – Como...
- É aí que se enganastes, Lúcifer. – Lilith deu uma risada fria. – Eu sabia que você sentiria a morte que carrega um veneno... mas não uma droga.
- Traição...

Mikael parou a sua frente, mas um vento forte e frio chegou até a sala, abaixando a temperatura de modo anormal. Lúcifer ergueu o rosto para ele, mas seus olhos foram ficando cada vez mais negro, até que já não houvesse mais nenhuma cor ali. Pequenas rachaduras surgiram em seu rosto, deixando-o inumano.

- Vocês podem destruir meu corpo, por hora. – sua voz estava mais funda, e mais aguda. Dava calafrios só de escutar. – Mas nunca minha alma. Não importa quantas eu terei que esperar, eu voltarei. Quando surgir outro filho do Mundo Inferior com meu poder...

Ele jogou a cabeça para trás e começou a rir de um jeito completamente demente. Mikael ergueu a espada para um golpe final. E aí eu acordei. Eu sentei rápido, tossindo e pingando. Ah, sim, eu tinha sido acordado ao modo Katie, o que quer dizer quase ser afogado.

- Acordou agora? – ouvi a voz de Shaunee perguntar. Olhei pra cima sem responder. Ainda era noite, umas quatro da manhã, pelo visto. Havíamos parado pra descansar ao lado da rua mesmo, já que ninguém parecia capaz de andar muito. Mas estava começando a concordar com Shaunee, ficar no meio do mato é um saco.

- Que foi? – perguntei de mau humor. Você também estaria se tivesse dormido no mato, tido pesadelos com o anti-cristo e sido acordado com um banho!
- Tem um carro vindo aí, bela adormecida. – retrucou Katie. É, pelo visto não fui só eu quem acordou de mau humor.

Me levantei com um esforço incrível, e fui até a beira da estrada. Agora você pensa, que tipo de pessoa andaria por uma estrada velha rodeada por mato em uma dia quente de verão às quatro da manhã? A resposta, nenhuma. Antes que eu visse ela se aproximando, uma baita limusine branca parou sem um ruído, como se sempre tivesse estado ali.
A porta se abriu, e de lá saiu talvez o maior cara que eu já vi. Usava umas roupas militares, óculos escuros e carregava um facão quase tão grande quanto o meu braço. Tinha cabelos pretos cortados curtos, e a cara, não muito amistosa, coberta por cicatrizes. Ele parecia prestes a atacar alguém, mas em vez disso resmungou alguma coisa que não escutei bem, e abriu a porta do carro.

- Quem é ele? – escutei Katie perguntar para o Percy, que estava do lado dela.
- Ares, o deus da guerra.
- O pai do Will? – perguntei, e nesse momento Ares voltou a olhar para nós.
- Isso aí, otário. – ele rosnou.
- Vocês não são lá muito parecidos. – disse Shaunee, pensando o mesmo que eu. Ares grunhiu de indiferença.
- É, mas eu lembro que Clarisse era quase igual a Ares. – Percy deu de ombros.
Eu olhei pra ele e para Ares. – Deuses, ela era o que? Um traveco, pra ser igual a Ares?

Foi possivelmente a coisa mais idiota que já disse na vida. Ares virou, furioso, e no segundo seguinte eu estava me chocando contra uma árvore. Ele puxou uma espada e foi se aproximando devagar, fogo saindo de cima das lentes dos óculos. Preciso aprender quando calar a boca.

- Ares, por favor. – disse uma voz feminina de dentro do carro. Ares me olhou, ainda furioso, mas se virou e abriu a porta do carro.

Meu queixo despencou quase até o chão. Graças ao meu transtorno déficit de atenção, ainda tinha uma pequena consciência de Katie bufando enquanto olhada para mim, mas eu não conseguia virar o rosto da mulher que desceu da limusine. Seus sapatos de salto alto flutuavam alguns centímetros acima do chão, deixando-a ainda mais alta. Seu corpo era perfeito, assim como seu rosto, seus cabelos em cascata... Tudo!
Cara, não dava para descrever aquela mulher. Ela abriu um sorriso estonteante e deu um pequeno riso, que quase me fez cair de quatro na frente dela. O fato de que estavam me olhando foi a única coisa que me conteve.

- Mãe. – disse Shaunee, em voz baixa. Ah, meus deuses, aquela era Afrodite?
- Shaunee! – disse Afrodite, indo até a filha. Seus cabelos caíram sobre o rosto, cobrindo-o enquanto dizia algo a ela. Eu não queria ficar sem ver seu rosto! Mas no momento em que eu pensei nisso, ela se virou de novo para a frente.
- O que você... a senhora... veio fazer aqui? – perguntou Percy. Deuses, como ele conseguia falar com aquilo olhando pra ele?
- Ah, eu vim apenas dar um recado. – Afrodite balançou a mão num gesto de descaso. – E mandar um pedido de Hefesto.
- Que recado? – me forcei a perguntar. Foi difícil erguer o queixo caído.
- É melhor vocês se apressarem, - disse ela, erguendo os olhos. – os deuses estão discutindo de novo. E essas discussões sempre acabam em guerras se demoram para serem resolvidas.
- Discutindo porque? – perguntou Katie, que ainda estava com os braços cruzados e irritada.
- Porque Prometheus sumiu de novo, os titãs estão planejando algo, o de sempre. – Afrodite desviou os olhos para as unhas, como se realmente fosse possível ter algo errado com elas. – E seu amigo filho de Hades pode tentar causar uma revolta como Lúcifer...
- Perae! – gritei. – Volta pra parte da revolta do Lúcifer. O que isso tem a ver com o que a gente tá fazendo?
- Ah, eu pensei que ele tivesse contado para vocês... – Afrodite pareceu confusa.
- Contar o que? – até Shaunee tinha ficado curiosa com aquilo.
Um trovão cortou o céu acima, o que foi bizarro, porque não tinha nenhuma nuvem no céu. – Desculpe, mas parece que não posso contar. – Afrodite deu de ombros. – Agora quanto ao pedido, meu marido andou observando vocês depois que saíram do acampamento. Ele quer por vocês sete, desculpe Percy, em um reality show.
- Ele quer o que? – ela tava de sacanagem comigo, né? Tipo, Uranos pode estar prestes a voltar e Hefesto pensa em fazer um reality show?
- Nós não vamos concordar com isso. – rebateu Katie, que foi o que todo mundo pensou.
- Eu disse que ele pediu a vocês? – Afrodite deu de ombros. – Hefesto pediu para seus pais. E eles aceitaram.
- Eles O QUE?!!! – gritamos todos ao mesmo tempo. Não, Zeus não ia me por num reality show sem me perguntar, eu acho. Que tipo de pai faz isso?!
- Isso mesmo. – ela abriu um sorriso, mas não conseguiu me distrair mais.
- Mãe! – Shaunee exclamou, furiosa.
- Ah, você vai me agradecer depois, querida. E agora que já banquei o Hermes para vocês, vou indo. Adeus.

Ela acenou enquanto virava e passava os braços em volta de Ares, que estava rindo da nossa cara de choque. E antes que eu pudesse pensar no que eles iam fazer, os dois já haviam desaparecido, deixando um cheiro adocicado e forte no ar. Ficamos em silêncio, tentando entender o que tinha acontecido ali, quando uma buzina soou tão alto que eu pulei e fiquei de pé.
A porta da frente da limusine se abriu e um rosto irritado apareceu. Era um motorista aparentemente comum, nariz grande, olhos pretos pequenos, ficando meio velho demais para dirigir. Ele acenou para nós com a mão enveludada de branco impaciente.

- Vamos, subam logo! Não temos a noite toda!

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