Seven Souls escrita por Sawatari


Capítulo 6
Elena - Com certeza, a pior viajem de todas


Notas iniciais do capítulo

Yeah, voltando dos mortos! o



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            Eu não agüentava mais andar quando chegamos a Manhattan, depois de alguns duros e loooooooooooongos quilômetros acompanhando o passo sempre igual de Will. Mas pelo menos eu conseguia respirar, diferente de Mike, que parecia estar tendo um ataque do coração. Acho que se ele tivesse caído no meio da rua teria que se arrastar com a língua, já que Will não parava.

            Já estávamos andando fazia horas pela cidade, sem nenhum lugar certo para ir. Acho que Will também percebeu isso, porque parou de imediato. Estávamos no centro, perto do Empire State, com pessoas demais para uma hora tão tarde da noite.

 

            - Aff! – Mike quase desmaiou em cima de um banco, dramaticamente, como sempre. – Ainda bem que paramos. Meus pulmões estão pedindo demissão.

            Will se virou para ele, com seu eterno mau humor e ergueu metade da sua monocelha. – Precisamos de um plano. Não podemos ir simplesmente andando até Los Angeles.

            - Não mesmo! – frisou Mike.

            - Podemos pegar a Carruagem da Danação. – sugeri. Tudo bem, as três velhas podiam ser loucas, suicidas e completamente sem noção, mas pelo menos eram rápidas.

            - Por mim, tudo bem. – concluiu Will, mas Mike me olhou com uma cara de “WTF?”, que preferi ignorar. – Só que vamos precisar de um lugar vazio para trazê-lo.

            - A Névoa não pode cuidar disso? – perguntou ele, tirando o boné de beisebol e passando a mão nos cabelos loiros e em total confusão. Sua marca ficou bem visível para quem quisesse ver, mas ele não parecia se importar, então dei-lhe um tapa do lado do ouvido.

            - A Névoa não cobre tudo, - respondi. – e isso inclui a sua marca!

            Will bufou impaciente enquanto Mike recolocava o boné com um humor parecido com o dele. – Vamos logo.

 

            Quase tive que arrancar Mike daquele banco para seguirmos Will, que abria espaço entre as pessoas, e tivemos que correr para não o perdermos de vista. Deuses, esse cara não parava nunca! Parecia que nunca iríamos achar um lugar sozinhos, pois o centro estava lotado de pessoas, e eu tinha que ficar puxando Mike comigo e não tirar os olhos das costas de Will para não nos perdermos.

            Se passaram uns vinte minutos de procura, quando Mike me cutucou. Me virei para ele irritada, eu odeio que me cutuquem, mas esqueci disso quando vi que ele estava sério, algo muito estranho para ele.

 

            - Elena, não sei se você notou, mas tem uns caras estranhos atrás da gente. – ele disse em tom baixo, antes de desviar os olhos para trás rapidamente.

 

            Olhei para trás, onde ele havia virado, e levei menos de um minuto para ver de quem ele falava. Atravessando no meio da multidão, havia dois caras vindo na nossa direção. O da direita era mais alto, com cabelos pretos cortados curtos e uma barba por fazer pequena nas feições fortes. Devia ter uns trinta, alguns anos mais velho que o outro. Ambos usavam ternos, tipo aqueles tiras, e óculos escuros.

            Eles não tiravam os olhos de nós.

 

            Estava prestes a avisar Will, quando ele dobrou uma esquina e entrou em um beco sem saída. Um dos prédios devia ser uma boate ou coisa assim, porque a música que saía de lá era quase ensurdecedora. Parecia uma boa idéia para convocar a Carruagem, só que aqueles caras podiam nos cercar ali. Peraí! Eu estava toda preocupada por que dois caras seguiam a gente, sendo que eles podiam ser só dois mortais comuns?

            Puxei Mike para entrar comigo no beco, mas parei ao lado de Will para avisá-lo.

 

            - Hey, tem uns caras atrás de nós, acho que estão...

            - Parados! – ouvi uma voz grave dizer.

 

            Nós três nos viramos surpresos. Na entrada do beco estavam os dois homens de terno, o mais velho se aproximando com passos largos. Will fechou os punhos, mas estendi a mão a sua frente para que se acalmasse. Ficar irritado e sair batendo nas pessoas pode não ser uma boa idéia nesse tipo de situação.

 

            - O que foi? – perguntou Will, fazendo mais uma vez aquela horrível cara de mau humor.

            - Policiais McLane e Matthews – disse o outro, puxando um distintivo do casaco. – É melhor você virem conosco.

            - Isso é falso! – disse Mike de repente. – Também tenho um desses!

 

            Eu só olhei para ele. – Porque você tem um distintivo falso?

            - Por nada! – ele se apressou a responder.

            - Quem são vocês de verdade? – interrompeu Will, sua mão descendo para o bolso. Eles se entreolharam, como se decidissem se contavam a verdade, mas o maior deu de ombros.

            - Sam e Dean Winchester, filhos de Phobos. – disse o mais novo, falando pela primeira vez.

            - Parece que vocês andaram irritando a patroa, e agora...

 

            Eles começaram a avançar, mas puxei a pulseira do braço esquerdo e a levantei. Quando a abaixei, a pulseira tinha a forma do meu chicote de bronze celestial. Aquilo pareceu assustá-los por alguns segundos, mas foi tempo suficiente para que Mike puxasse a lança do bolso e Will a espada. Ok, essa frase soou estranha, mas não deixa de ser verdade.

            O problema era que os dois caras também tinham armas. Cada um puxou um crucifixo de dentro da camisa, dois pingentes de prata polido exatamente iguais, que ao serem arrancados, tomaram a forma de duas espadas. Bem, elas eram diferentes, mas acho que faziam o mesmo estrago.

            Tudo bem, hora de analisar a situação. Estávamos em um beco sem saída, no meio da noite, com dois meio-sangues adultos armados bloqueando o caminho. E eles podiam se passar por policiais. Não tinha muita chance de nós sairmos inteiros dessa, a menos...

            Olhei para o lado. No prédio do qual a música saía, havia uma porta de metal, provavelmente uma saída de emergência. Parecia perfeito, exceto pelo fato de que o cara mais velho, acho que era o tal de Dean, estava bem ali. Ergui o chicote de novo e o acertei na porta. Como sempre, ele destruiu a maçaneta, deixando ela aberta, mas o cara tinha visto e ergueu a espada. Graças aos deuses os meninos entenderam o meu plano, porque Will levantou o escudo e o acertou com tanta força que ele caiu no chão com o nariz sangrando.

 

- Dean! – disse o outro, se aproximando do companheiro.

 

            Enquanto isso, corri para abrir a porta, e fechando depois que os meninos passaram. Era quase impossível ver alguma coisa ali, a única iluminação era colorida e estava no placo, onde havia mulheres dançando em postes com umas roupas meio...

            Deuses, tínhamos acabado de invadir uma boate de strippers!

            Vários rostos de adultos se viraram para nós furiosos, e, graças aos distúrbio déficit de atenção, consegui ver que alguns seguranças já estavam vindo na nossa direção. Mas era o menor dos nossos problemas, porque a porta voltou a se abrir e os Winchester entraram.

 

            - Separar! – gritou Mike, antes de sumir a minha direita.

            - O que? – perguntei confusa. Olhei para o outro lado esperando ver Will, mas ele também tinha sumido.

 

            Lembrete para mim mesma: nunca vir a uma missão perigosa em uma boate com filhos de Hermes. Ou de Ares. Ou de Phobos. Ou de outro deus. Ou de qualquer pessoa.

            Comecei a correr, tentando passar pelas pessoas no meio do caminho, mas parecia que isso só me deixava mais devagar. Não precisei olhar para trás, podia sentir a aura quase assustadora de um dos filhos de Phobos logo atrás de mim. E o pior era que eu não tinha espaço suficiente ali para usar meu chicote no cara.

            Olhei a volta, tentando achar algum jeito de sair dali, mas um segurança saltou na minha frente. Ia virar e correr para longe dele, mas antes que desse um passos distingui o rosto do Sam vindo também na minha direção. E fiz a coisa mais idiota de todas, saltei para o palco.

            As mulheres gritaram confusas e algumas caíram dos saltos altos. Não prestei atenção no resto, enquanto as empurrava. Quando cheguei no meio do palco, o cara já estava subindo até lá. Corri para sair por trás de lá, mas tropecei em uma das dançarinas e ambas caímos no chão.

 

            - Ei! – ela gritou, com uma voz aguda, arrumando o cabelo armado.

            - Porque não arruma um emprego que não seja tão degradante? – perguntei, irritada. Tudo bem, eu sei que era uma coisa idiota para se dizer naquela situação, mas não deixava de ser verdade.

 

            Enquanto ela me olhava espantada, levantei e olhei a volta. Perto da porta de entrada, estava Mike, agitando os braços para mim enquanto Will corria até lá, assim como Dean. Olhei então para cima, e encontrei o que procurava, o complicado amontoado de barras de ferro que sustentavam as luzes daquela lugar. Calculei que não era longe, mas eu só teria uma chance de fazer isso.

            Joguei meu chicote naquela direção, rezando para os deuses (principalmente pra você, mamãe!). Ele se esticou ao máximo e enroscou nas barras de ferro, como videiras vorazes, e enrolei sua base no pulso. Sem acreditar que ia mesmo fazer aquilo, corri até a ponta do placo e saltei de lá.

            Tudo estava dando certo, a principio. Já estava quase lá quando um maluco ergueu a mão, talvez um segurança, tentou me pegar, mas só arrancou um pedaço da minha saia. Mas foi o suficiente para perder a concentração, e com isso não vi quando o chicote esticou-se ao limite, antes de se soltar. Por sorte, as pessoas a frente da porta, a exceção dos meninos, se afastaram quando me ,bem, me estabaquei no chão. Jurei que nunca mais faria uma coisa dessas na vida.

 

            - Vamos! – disse Mike, abrindo a porta, e gesticulando com a mão. Will, no entanto, me ajudou a levantar, antes de passar a frente de Mike e acertar o porteiro com um soco de direita que costumava desacordar todos as vítimas dele.

            - Precisava acertar o cara com tanta força? – perguntei, enquanto corria ao seu lado para fora.

            - Não. – ele sorriu, o que foi quase assustador. – Mas gosto de fazer isso.

 

            A noite continuava quente, mas parecia menos se comparado ao inferno que estava dentro da boate. O céu já não estava mais tão escuro, provavelmente amanheceria logo, e as coisas iam ficar mais complicadas se não saíssemos dali agora. Já não havia ninguém ali, exceto nós, o porteiro caído, um cara apavorado e um carro parado a meio caminho dele, com o manobrista confuso. É, acho que nossas armas, mesmo com a Névoa, chamavam atenção.

 

            - Will! – chamou Mike, correndo para o carro.

 

            Ele correu atrás, e segui confusa, tentando imaginar o que ele estava pensando em aprontar. Só entendi seu plano quando Will abriu a porta do carro com tanta força que quase a arrancou e puxou o manobrista pelo colarinho. O que nenhum dos dois percebeu foi que o outro cara, que devia ser o dono, estava gritando furioso e correndo até nós.

 

            - Meu carro não, seus delinqüentes! Meu carro nã...

            - Cala a boca! – gritei, furiosa, descendo o chicote nos seus pés. Ele recuou surpreso, caindo de costas no chão.

 

            Me virei e corri para o banco do carona, ao lado de Will. Mike jogou-se atrás, quando ele já estava mudando as marchas. Olhei pelo retrovisor, onde os dois caras já estavam levantando, e pela porta da frente, apareceram quem? Se os Winchester não tivessem afirmado serem meio-sangues, juro que pensaria que eram monstros.

 

            - Will, anda logo!

 

            Não foi a melhor coisa que eu podia ter dito, porque ele fincou o pé no acelerador com tanta força que eu quase voei pelo para brisa. Em menos de um minuto já estávamos deixando aquela boate bizarra e os filhos de Phobos para trás. Indo para Los Angeles, eu acho. Antes que alguém nos prendesse ali.

            Deuses, onde eu me meti?


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