That's what it mean to be the most resilient. escrita por Hellie Lestrange


Capítulo 1
That's what it mean to be the most resilient.


Notas iniciais do capítulo

Lembrem-se: A fic é baseada não só no seriado Once Upon a Time, mas também no filme Malévola, lançado em 2014. As histórias se conectam porque acredito que a amizade entre a Rainha Má e Malévola é muito mais além do que a amizade entre duas bruxas de negro coração.
Espero que gostem.



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Vermelhas como sangue; Brilhosas e convidativas à luz do sol; Aos lábios, suculentas e doces com um sabor de nostalgia que tomava-lhe a mente, mais que o paladar. A tão bela e robusta macieira, que mais parecia uma peça errada do quebra cabeça que constituía o castelo, fora trazida na esperança vã de iludir a triste rainha que, assim como a árvore, não pertencia àquele lugar. Pouco mais de um ano atrás, fora-lhe prometido um trono, um reino a governar e uma vida de glórias, em troca de um amor que, dentre todas as riquezas, já lhe era suficiente. A magia que gradativamente impregnava em suas veias dava-lhe a falsa sensação de liberdade, asas da qual sentia nunca ser capaz de usar.
Apreciando o sabor de uma das maças, a Rainha observava a árvore robusta, a única figura que a fazia lembrar-se de casa; Desejando que o suco da fruta que lhe tomava os lábios fosse um veneno que a fizesse dormir por toda uma eternidade, veneno que a desconectasse da doce amargura de ser rainha, até o dia em que pudesse enfim encontrar seu final feliz.
Quem dera pudesse eu dormir eternamente, para estar nos seus braços mais uma vez. Seus pensamentos ecoavam em sua mente como gritos de desespero, sua cabeça divagava em expectativas num futuro roubado. Em seu dedo anelar havia um anel dourado, simples e de pouco valor capital, mas que por outro lado, custava um mundo para a Rainha. O peso do fino metal trazia doces lembranças, fazendo-a alucinar que o doce sabor da maça fosse o sabor dos lábios de seu amado.

Podia sentir das mãos dele em sua cintura, o olhar inocente e apaixonado que trocavam, à sensação de arrepio quando seus lábios se encontravam. Com tais lembranças, uma lágrima solitária desceu por sua face, porém logo foi censurada. Na fortaleza do castelo não poderia demonstrar tais sentimentos tão abertamente; Era ali um exemplo ao reino, mesmo que ainda duvidasse de sua posição na realeza. Embora fosse casada com o Rei, sentia-se que apenas estava ali para que o povo se lembrasse que, um dia, houvera uma rainha de verdade em seu lugar.

Nem mesmo o próprio Rei, e a princesa Branca de Neve pareciam notar sua presença. Tal invisibilidade fazia com que Regina questionasse o real motivo de estar ali, nunca tendo sucesso com respostas. Podia se lembrar com clareza das palavras do Rei Leopold, quando a pediu em casamento. “Minha querida Branca tem muitas coisas, mas uma mãe não é uma delas. A perdemos há alguns anos [...] Desde então procurei o reino todo por uma esposa. Não achei mulher alguma com interesse em minha filha, até agora…” O que eram aquele discurso, senão um modo de dizer que gostaria que Regina cuidasse de Branca de Neve?

Branca de Neve fora a grande culpada da grande desgraça de sua vida, porém era ela apenas uma criança. Consciente de que seu dever como Rainha era cuidar da princesa, Regina se esforçou muito para ganhar a atenção da garota, tentando se aproximar todos os dias para que pudesse fazer parte de sua vida, como a boa madrasta que fora encarregada de ser. Porém, apesar de todo seu esforço, aos olhos de Branca de Neve, apenas o pai existia; À Regina, fora dada nenhuma chance.

Restava-lhe apenas ficar a sós pelo castelo, esperando o tempo passar. Em dias como aquele, quando o Rei e Branca de Neve viajavam, Regina podia vagar sem quaisquer interrupções, sem a obrigação de posar como a boa esposa. Enquanto nos dias que estavam eles presentes, Regina mantinha-se calada ao lado do marido, para que ele pudesse expor sua família feliz.

Em um suspiro de rendição, levantou-se rumo aos seus aposentos. Não havia nada para fazer, nem lugar algum para ir. Seu presente e as memórias do passado a deixava triste, divagando e buscando soluções para sua situação insolucionável; Porém a expectativa de um futuro roubado trazia-lhe lágrimas aos olhos. A nostalgia e a esperança eram grandes aliadas, ao passo que lhe traziam uma dor sufocante pela vida que lhe fora roubada. Era melhor voltar ao seu quarto, onde suas lágrimas não precisavam ser escondidas, onde poderia ser quem era sem que houvessem censuras; Era também onde a falsa sensação de que tinha controle da própria vida a dominava.

À robusta macieira foi dada um último olhar, como um brinde aos próprios devaneios e em respeito ao passado. Só então notou uma silhueta alada que descia dos céus com graciosidade semelhante a de um anjo. Os guardas que tomavam conta do castelo não tomaram iniciativa de impedir àquela que se aproximava, pois, assim como Regina, sabiam de quem se tratava. Leve e graciosamente, uma mulher com os cabelos amarelados e com grossos cachos, um vestido longo e esvoaçante, e de pés descalços, pousou já direcionando-se à rainha.

- Regina! Espero que não seja má hora. - disse uma voz doce, vinda da mulher de longas asas negras que tocavam o chão. - Recebi suas cartas há algumas semanas, mas não pude vir antes. Os Moors estão uma bagunça! - se aproximou e tomou as mãos de Regina, antes de dar-lhe um abraço acolhedor.

- Malévola! - afirmou seu nome, satisfeita por ver um rosto comum em meio àquele lugar. - Eu sei como é difícil deixar os Moors para cruzar os reinos e me visitar, mas eu precisava de você. - foram ditas as palavras assim que separaram-se do abraço.

- Sua última carta me preocupou, Regina. Há algum tempo, me escreveu dizendo que estava bem, que seu futuro estava para mudar e que poderia se livrar de tudo isso. E então, parecia que tudo havia se perdido. - disse a ela com um ar preocupado. Sentaram-se uma de frente à outra no banco próximo à macieira.

- Eu fiz uma coisa horrível… - sua voz saiu cortante, assim como melancólica.



Um período em silêncio e uma respiração profunda bastou para Regina se preparar para contar sua história, e mesmo assim foi pega por gagueijos e fraquejações. Contudo, transmitiu sua mensagem com quase total clareza. Mesmo que estivessem ambas habituadas com a magia e com as coisas que pelos reinos mágicos aconteciam, ainda era deveras difícil acreditar que tais coisas eram reais.

A história se resumia à visita de uma fada nos aposentos da Rainha, após um dia em que seu limite emocional foi atingido, e que desejou sumir, como nunca desejou antes. Tentou descrever a sensação de cair da varanda de seu quarto, e de ser segurada por uma sensação engraçada. Uma segunda chance foi dada à Regina aquela noite, e junto desta, conheceu a fada Sininho. O tempo em que a Rainha e a Fada Verde ficaram juntas foi curto, porém de grande significado. Talvez por passar tanto tempo no castelo, ou de seu histórico de dor, que a conexão entre elas fora tão forte. Não muito tempo juntas, e Sininho fora capaz de identificar onde estava o problema de Regina, e como solucionar. Escutando da boca da fada, foi como uma irônica e cômica brincadeira sobre a própria vida; Precisava de amor, e era tão óbvio que chegava a ser deveras deprimente. Foi lhe dada a promessa de que seria encontrado a Alma Gêmea da Rainha, e que uma vez que o encontrasse, poderia se livrar da raiva que a puxava para baixo e construir seu final feliz.

Àquela altura da história, Malévola sustentava um sorriso nos lábios; Parecia ter se esquecido da carta final que Regina lhe enviou, onde dizia que tudo havia se perdido. Esperava ansiosa pela notícia do final feliz de Regina. Mas esta nunca chegou. Logo Regina narrou como foi voar com a fada, seguindo um rastro de Pó de Fada roubado por Sininho que a levaria até sua alma gêmea. Os eventos que se seguiram passaram tão rápido que os detalhes pareciam fugir da mente de Regina: estava diante à uma taverna, uma luz esverdeada iluminava um homem, a confirmação de que aquele homem portador de uma tatuagem de leão no pulso era aquele que lhe fora destinado; E então a ansiedade que logo tornou-se medo. Tudo que podia se lembrar era do vento batendo forte em seu rosto, enquanto corria para longe de seu destino.

Por alguns instantes, Regina parecia ter esquecido o que estava fazendo, pois mantinha o olhar perdido, divagando em seus pensamentos. De viés, percebeu que Malévola a observava curiosa, ao passo que também mantinha-se estupefata com o que havia escutado. A Rainha sentiu a mão macia de sua amiga segurar a sua, num gesto de força e doçura, e de seus olhos, uma grossa lágrima rolar sobre sua face.

- Eu estraguei tudo, Malévola. Era minha única chance de ser feliz, e eu a arruinei. - disse, com clara dor em sua voz.

- Ainda pode consertar tudo. Essa tal Sininho… Pode procurá-la, e pedir uma segunda chance.

- Chamo pelo nome dela todas as noites, clamo para que apareça e para que não desista de mim. É tarde demais… - Regina olhou para a amiga, com os olhos avermelhados. - Não sei o que pode ser pior. Imaginar que ela nunca mais me dará uma chance, ou que algo possa tê-la acontecido pela minha covardia.

A magnificência de uma ligação como a das duas é que entendiam a dor uma da outra; Dor esta de perder alguém que se amava muito, e de sentir nunca ser capaz de recuperar a sensação de calor que o coração lhes dava ao se sentir amado.

- Sei como se sente. Se Stefan voltasse para mim, se devolvesse o beijo verdadeiro que me dera anos atrás, me prometendo um futuro, mal sei como reagiria. - apertou a mão de Regina, carinhosamente. - Não está errada, minha amiga. Se ir atrás desse homem com a tatuagem de leão é o que seu coração deseja, então é o que deve fazer. Se arrisque, Regina! Não se deixe viver pela sensação de nunca ter corrido atrás. Não viva no mesmo arrependimento que eu vivo hoje.

Como um lampejo de luz dentre a escuridão, o sorriso de Regina se acendeu. Nem tudo estava perdido, ela sabia. Sentira, no momento que escutou a voz de sua amiga, que seu futuro ainda não estava completamente traçado por conta daquele erro covarde.

- Tens toda razão! Não posso desistir. Não é o fim! - disse a Rainha, sentindo as forças a aquecerem novamente com a esperança de um futuro melhor. Puxou a amiga para cima, ao passo que se levantavam, e deu-lhe um caloroso abraço. - Malévola, preciso mais do que nunca de sua ajuda. - voltou-se à olhar para a amiga, mantendo a voz baixa e sussurrosa. - Suas asas, minha amiga. Suas asas podem me tirar daqui. Mesmo tendo Rumplestilstkin como meu mentor, minha magia ainda não é suficiente para quebrar o encantamento que minha mãe lançou para me manter presa neste castelo. Sem o rei, não posso sair. Mas sei que se me levar, suas asas quebrarão esta barreira, assim como quebram as barreiras entre os reinos. São assim que funcionam, não são? Li sobre a calda das sereias, que as permitem atravessar reinos sem objetos encantados. E você… vem me ver sempre que pode, e sei também que não usa feijões mágicos ou outras magias. São suas asas! - segurou os ombros de Malévola, olhando-a nos olhos, com uma expressão de desespero misturado à ansiedade. - Me tire daqui, Malévola! Me ajude a achar o homem da tatuagem de leão. E vá atrás de Stefan quando eu escapar. Vá atrás do seu final feliz!

Nenhuma palavra fora dita, apesar do sorriso de ambas contar histórias silenciosas. Bastava aqueles sorrisos trocados para confirmar que cumpririam o plano e fugiriam, ambas atrás dos homens que amavam. Era o plano perfeito, e provava que nada estava perdido. Malévola levou a mão até a da amiga, fechou os olhos e sussurrou um feitiço. Entre as palmas das mãos, sentiu um pequeno e fino pedaço de papel, e antes que Regina pudesse abri-lo e lê-lo, Malévola bateu as asas para longe.

Era um bilhete simples, porém que significava a reescrita de um futuro que não fora perdido, e que talvez apenas rumou passos mais longes de seu caminho, mas que logo voltaria aonde pertencia. “Meia noite. Uma semana. Assim que os Moors dormirem, nossos sonhos se tornarão verdade”, dizia o bilhete. Regina apertou o papel contra o peito, com um sorriso tão doce nos lábios que podia jurar sentir o céu. Ainda havia cuidados a serem tomados, e aquele papel era, não só uma esperança, mas uma ameaça. Fechou-o por entre as mãos, e concentrou-se. Vamos, Regina. Pode fazer isso novamente! Sinta a chama, faça queimar! , pensou ao se concentrar. E assim, mesmo que suas mãos ainda sustentassem o frio do fim de outono, podia ver labaredas arderem por entre seus dedos, e o papel tornar-se cinzas. Ninguém poderia saber de seus planos, e assim tudo poderia se concretizar.

A Rainha do sorriso esperançoso, rumou até seus aposentos. Mesmo que não pudesse contar a ninguém sobre seus planos, não resistiu à escrever um pequeno enigma em seu diário.

Há meia noite, correrei até ti, Leão. Seu sorriso vou conhecer, e de seu sabor vou provar. O calor, mais uma vez sentir, assim que as asas dela vierem me levar. Salve-me daqui, Príncipe Misterioso sem reino algum, e leve-me para onde eu realmente me sinta merecedora de um trono; Não de um reino, e sim de seu coração. Salve a Rainha, vida longa à Rainha. Mas bem longe do Reino que é seu por direito.

Colocando o caderno à cabeceira da cama, Regina adormeceu com um sorriso nos lábios. Logo, a solidão de ser a Rainha de um reino que não era seu, de dormir numa cama vazia, mesmo sabendo que havia um rei que chamava de marido, tudo e todas as dores que a fazia derramar lágrimas ao encostar a cabeça no travesseiro passariam, e restariam apenas lembranças de dias que fingirá nunca terem acontecido.

Porém seu destino era longe da felicidade que esperava aguardar, e o Duende estava ali para lembrá-la dolorosamente do quanto seu futuro estava fadado a ser dor e solidão, ao invés do amor e felicidade que tanto ansiava. No meio da noite, aquele que chamavam de Senhor das Trevas, conhecedor do futuro, invadiu os aposentos da rainha, em busca de revelar os planos que a mesma escrevera como um sonho de felicidade.

***

Pouco menos de um ano atrás, os reinos mágicos se reuniram no que chamavam de “Encontro de Paz”. Conhecido evento onde reinos distantes confraternizavam com suas côrtes, enquanto glorificavam por um ano sem guerras. Apenas aqueles que se mantiveram em paz poderiam entrar, e com um destino engraçado, lá estavam os Moors.

O reino Moors, que era convidado todos os anos, nunca haviam comparecido. O objetivo do encontro entre os reinos era divulgar a paz, e esta era uma dádiva que os Moors não podiam se vangloriar. As criaturas mágicas sofriam pelos ataques dos humanos por conta da proximidade entre reinos tão opostos, não sobrando razões para comparecer. Porém assim que a paz os iludiu por alguns meses, sentiram-se merecedores de tal encontro.

Malévola, como a grande representante do reino, mostrava-se graciosa aos olhos dos que estavam presentes. E, mesmo que sua luz brilhasse à todos, não pôde deixar de notar um ponto sem luz em meio a multidão. Não foi muito difícil descobrir quem era; ao primeiro que perguntou, foi-lhe dada a resposta de que era ela a esposa do Rei Leopold. Esposa do Rei, não a Rainha. Mesmo que o título fosse dela, não lhe fora dada a honra do título, que pertenceria eternamente à falecida Rainha Eva.

A Rainha era bela; sem dúvidas a mais bela entre todas, mas Malévola conhecia aquele sorriso. Aquele curvar de lábios que gritava que precisava parecer bem, mesmo quando seu interior estava quebrado como um rochedo à beira do mar, como se as ondas a destruíssem a cada choque.

Pouco tempo houve entre o momento em que Malévola cruzou o olhar com o da Rainha, e a conexão que se estabeleceu entre elas. Assim que o evento se deu por terminado, já deram uma à outra um pedaço de seu coração, mantendo desde aquele dia um laço fraternal

Malévola voava quase todas semanas, no máximo uma vez ao mês, para encontrar com sua grande amiga. Pouco sabiam sobre o que as uniram, mas tinham plena certeza que algo no passado de ambas as uniram. Não deixavam de ter razão, de modo algum. O passado que havia na história de cada uma resumia-se à amores e vidas roubadas pelo destino. Porém mal sabiam elas que não era apenas o passado que seria tão similar; O futuro que as aguardava ainda era cheio de amargura, e muito pouco podiam fazer para dele escapar.

***

O céu era vermelho, e mais uma vez os humanos atacavam os Moors por motivos que Malévola nunca compreenderia. O ódio dos não mágicos era grande e custava aos Moors revidar. Era a defesa que lhes gritava, não o ataque; Mesmo que lhe doesse o coração, teve que escolher entre a própria vida, ou a do Rei. E assim o fez, atacando o homem que ao seu povo tentava liquidar.

Àquela noite não havia luar, mesmo que o calendário mostrasse que fosse lua cheia. O céu era tomado pela fumaça da recente batalha, e os sons da floresta era substituído pelos soluços de dor de Malévola. O ferro havia queimado sua pele, e a dor lhe custava à fazê-la cair no sono aquela noite. Lembrou-se então da promessa que havia feito dias antes à sua amiga, e isso deu-lhe forças para sorrir. Em dois dias, voaria para longe e traria à si mesma e à sua melhor amiga um final feliz que ambas mereciam. Buscaria Regina, a colocaria na jornada atrás do homem que ela havia lhe falado, e assim que isso acontecesse, iria atrás de Stefan, diria a ele que viera buscar mais um beijo de amor verdadeiro, e que poderiam viver felizes, mostrando ao reino sem magia e aos Moors que a paz poderia ser feita com amor.

Na manhã seguinte, escutou seu nome ser chamado por uma voz familiar. Enquanto observava seu reino do topo de uma pequena montanha, sorriu antes de voar em direção à voz que dominava seu coração. Malévola pousou de frente à entrada do reino Moors, e de frente à Stefan, o pastor que já não era tão jovem quanto sua lembrança lhe dizia, mas que ainda era aquele que carregava seu beijo de amor verdadeiro.

Malévola estava magoada, não mentiria para ele, nem para si mesma. Stefan a havia abandonado por muitos meses pela ganância do mundo em que vivia, mas o coração da fada era puro o suficiente para perdoá-lo assim que o viu, convidando-o para entrar e de suas histórias escutar. Stefan dizia sobre a iminente morte do Rei, devido à batalha do dia anterior, e também dizia sobre quanto o reino seria dominado por paz assim que o rei se fosse. Mal sabia Malévola que a única paz que Stefan almejava era a que aguardava para si mesmo. Naquele dia, não estava ali afim de reconquistar o coração de Malévola, e sim de levá-lo, para somente então conquistar o reino.

Quando se ama, o coração custa a criar suspeitas. Malévola inocentemente se jogou nos braços de Stefan e provou de seu vinho contaminado, caindo num sono profundo e sem sonhos. Não sentiria a faca cravar-lhe o peito assim que o homem que amava cumprisse seu ganancioso e maléfico plano; Porém tão forte quanto a poção que dera para Malévola dormir profundamente, a fraqueza de matar a bela fada em seus braços bateu no coração de Stefan, e seu plano pois-se a fraquejar. Mas mesmo fraco, ainda era rumado à ganância de atingir a monarquia, e com uma frieza incalculável, arrancou as asas da mulher que o amava incondicionalmente.

Na manhã seguinte, quando a coroa estava à espera do novo Rei da terra sem magia, todo o reino Moors era banhado pelos gritos de dor de Malévola. Suas costas ardiam, sem o libertador peso de suas grossas asas. Em questão de horas, tudo havia sido perdido. O final feliz de Malévola fora negado, por confiar mais em seu coração do que estava logo à sua frente.

***

Ela andava de um lado para o outro, apreensiva em sua varanda. Olhava desesperadamente para o céu, onde a lua brilhava como se chamasse o dia. Por horas esperava a amiga das grandes asas a levar castelo afora, assim como haviam prometido, porém quanto mais esperava, mais o dia ameaçava amanhecer, matando a noite junto às suas esperanças. Com a palma das mãos unidas de frente ao peito, Regina clamava aos anjos que trouxessem Malévola para salvá-la. Mas quanto mais rezava, mais sentia suas preces sendo jogadas ao vento. Ela não viria, tinha certeza. E quanto mais o amanhecer acendia, mais Regina sabia que tinha um plano a cumprir, com ou sem Malévola.

As lágrimas que tomavam os olhos da Rainha foram secadas, e não precisava de mais força além daquela que já estava em seu peito para sair do castelo enquanto o tímido sol começava a brotar no horizonte. Sabia dos seus limites, até onde a barreira a mantinha presa, e com tais conhecimentos, se sentou ao chão de pernas cruzadas, olhos fechados e a mente focada em toda a força mágica que havia sido ensinada à ela pelo Senhor das Trevas.

***

Inquieta sobre os lençóis, a doce princesa escutava uma voz cortante lhe roçar os ouvidos. A Rainha seria levada por um ladrão, e mais uma vez o reino sofreria pela partida de sua líder. Corra, antes que seja tarde. O futuro do Reino depende do quão rápido salvar a Rainha das garras do ladrão, Branca de neve. De súbito, a jovem Princesa acordava assustada, como se despertada por uma presença indesejável ao seu lado. Porém, por mais assustada que estivesse, não poderia tirar o sonho que sonhara de sua mente. Precisava salvar sua madrasta do destino terrível que a voz a havia alertado.

Com os pés descalços, ainda usando a camisola rendada de quanto estava a dormir, Branca de Neve correu para o quarto do pai aos prantos. Sentia-se responsável pela morte de sua mãe, Rainha Eva, e não poderia conviver com o peso de destruir a vida de sua madrasta, Rainha Regina. Mesmo que apenas um sonho, deveria arriscar. Acordou logo o Rei, seu pai, em desespero e aos soluços, implorando que retornassem ao castelo o mais rápido possível. A lua brilhava ao céu, e mesmo que o Rei achasse que fosse apenas um pesadelo inquietante para sua querida filha, não negaria a ela o alívio de ver que estava errada, e que Regina estava segura. No meio da madrugada, a cavalaria correu de volta ao castelo, afim de provar à Princesa Branca de Neve, que chorava aos prantos no colo do pai, que sua Madrasta estava à sua espera.

Como precaução, o Rei Leopold enviou uma coruja às pressas para o castelo, para que algum guarda acordasse a Rainha, para que a agonia de sua filha passasse o mais rápido possível. Após perder a Rainha Eva, o Rei não conseguia negar às precauções que deveria tomar diante de qualquer circunstâncias. Não se permitia perder mais ninguém, mesmo que pela sua nova rainha nada sentisse.

A floresta sentia o tremor dos cavalos correndo à toda velocidade, no momento que a carruagem que portava o rei e sua filha recebia o retorno de sua coruja. Nas garras do belo animal, um livro aberto mantinha-se preso entre as garras. Conhecia aquele livro, mesmo que nunca o tivesse lido. Era o diário de sua esposa, Regina Mills. Diante das circunstâncias, quebrou a privacidade da mulher, e leu o conteúdo que a ave lhe trouxera. Em segundos, o rei não mais corria para salvar sua rainha das garras de um ladrão, e sim das garras da mesma. Na página que a coruja lhe havia mostrado, estava quase que claramente escrita a confissão de fuga da Rainha.

Mesmo sem sentimento algum pela Rainha, o Rei Leopold não poderia deixá-la partir. Não era uma questão honrosa, era apenas seu orgulho como Rei falando mais alto. Era um Rei, oras. Rejeição não faria parte da sua história no trono; Alguém tão amado e adorado pelo povo não seria trocado por um amor qualquer de sua Rainha. E em velocidade em dobro, Leopold tratou de garantir que tudo estivesse de acordo com suas vontades. Regina Mills não fugiria daquele castelo sem a permissão de seu marido.

***

De olhos fechados e com a mente focada numa concentração quase dolorosa, Regina trabalhava em tentar quebrar a barreira que a separava do mundo. A qualquer momento o dia amanheceria por completo, e não haveria mais tempo para fugas, e ela dava o melhor de si para poder escapar dali.

Talvez a magia que emanava de sua mente fosse tão densa que Regina não pôde escutar o estrondoso som das carruagens chegando ao castelo, ou talvez alguém estivesse a garantir que ela não escutaria som algum. No topo de uma árvore, escondido pela sua poderosa magia, o Senhor das Trevas trabalhava em anular a magia de Regina, ao passo que a tentava convencer de que estava conseguindo quebrar a barreira. Rumplestilstkin não precisava de muito tempo, pois em poucos minutos a carruagem chegou, carregando consigo as esperanças de Regina.

A Rainha, como se despertasse de um transe, finalmente escutou o som das carruagens parando em volta de si. Abriu os olhos, constatando do som que a despertara; E a julgar pelo olhar do Rei, não estava diante do final que esperava para sua noite. Onde estaria Malévola naquele momento? Era apenas o que ela imaginava, enquanto as pesadas mãos dos guardas a levantavam no chão. A Princesa gritava de dentro da carruagem, acusando a Rainha de querer tirar-lhe o direito de uma família planejando fugir no meio da noite. O Rei ordenava que levassem Regina para a torre mais alta do castelo, e que ali a mantivessem até que uma decisão maior fosse tomada. E, com o coração rangendo de dor, Regina foi arrastada para longe de suas esperanças.

Não podia imaginar como ocorrera, mas de uma coisa tinha razão: Branca de Neve havia convencido o pai a correr atrás dela, e que sem o pedido da criança, nada daquilo teria acontecido. Não fazia ideia de como ela havia descoberto seus planos, mas naquele momento era tudo que Regina menos pensava. Trancada na torre, sentindo-se incapacitada de usar sua magia, por algum motivo também inexplicável, um ódio nunca antes sentido começava a tomar conta do coração da rainha.

Pela segunda vez em sua história, Branca de Neve tirava-lhe o direito ao final feliz. Porém desta vez, não era apenas a mágoa pelo erro de uma pobre criança; Era o ódio pelas atitudes da Princesa que fizeram, da noite para o dia, nascer a lenda que se tornaria a Rainha Má.

***

Anos depois, convencendo a todos que era seguro sair de seus aposentos, Regina retomou suas secretas aulas de magia com o Senhor das Trevas, enquanto encenava a ser a rainha que todos esperavam que fosse. Seu plano não mais era fugir do castelo atrás de um amor desconhecido, e sim queimar o legado do Rei Leopold, e vingar-se de sua adorada filha.

Oportunidades não lhe faltaram, porém Regina aguardava o momento certo, o plano perfeito que marcaria sua história. E este, apesar de tardado, chegou com mais glórias que o esperado. Pobre era o Rei Leopold, que achava ter tudo; Pobre era ele ao usar o desejo de um Gênio da Lâmpada para libertá-lo e dar-lhe o desejo que lhe restaria. Foram poucos os dias entre este erro, e a morte do Rei Leopold.

A vingança da Rainha Má, pouco a pouco, era conquistada com o sangue daqueles que ao falecido Rei e sua filha apoiavam.

Com seu reino conquistado a base de dor e sangue, Regina não tardou a descobrir o que causou parte de sua miséria. Reencontrou Malévola, não mais tão pura e cheia de vida como da última vez que a vira; Talvez tão cheia de ódio e mágoas quanto a própria Rainha Má. Em prol dos anos que se passaram entre o plano de fuga e o presente, Regina e Malévola agora se uniam para mais uma vez correr atrás do seu final feliz. Porém, daquele instante em diante, não dependia mais de um coração aquecido com um amor forte e caloroso, e sim do sangue daqueles que lhe causaram dor.

Dali em diante, a história passa a ser mais clara na mente dos que os contos conhecem. A amizade entre as mulheres passou de momentos de desespero à ódio, até que levassem Regina a lançar a Maldição das Trevas, banindo a felicidade e o futuro de todo um reino à uma terra sem magia, na esperança de que, na sua vingança, pudesse se erguer sua vitória. Porém, a vitória ergueu-se soznha para a Rainha, pisando em todos que ao seu lado estavam. Seu pai, que teve o coração arrancado para suprir os desejos sombrios da filha; E à Malévola, a qual fora destinado anos de sofrimentos, quase tão ruins quanto a morte e solitários quanto ao passado escrito em sua história.

Para erguer sua vitória junto com a sombria vingança que rondava seu coração, Regina manteve sua única amiga presa logo abaixo de Storybrook, enquanto não só destruía as vidas daqueles que amaldiçoou, mas destruía a vida daquela que depositara sua confiança e amizade por tantos anos.


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Notas finais do capítulo

Não há um final na história por agora, na esperança de que Malévola retorne em Once Upon a Time, buscando vingança pelos atos de Regina. A amizade das duas mostra-se real numa cena do seriado, no episódio 1x01, "the thing you love most", porém o início de tal laço nunca foi revelado... até agora.

Torçam os dedinhos para que Adam e Ed retomem com a história destas bruxas, ou caso contrário, aguardem continuação.



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