Sob a Neve escrita por Lightwood


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem da fic e lembrem-se que não custa nada dar um review



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Doce lâmina que me corta/ela diz que me conforta/afunda em minha pele/e com muito prazer/ela me fere/Se alimenta do meu sangue/e sorri com minha dor/Ela jura que assim/apagará o meu rancor/Doce lâmina, eu te amo/doce lâmina, eu te chamo/Corte o meu pulso/apenas por impulso/Aprecie o meu sangue/e prometa que vá embora.* ─Eliza terminou o seu poema da aula de literatura e eu percebi o silêncio desconfortável que durou alguns segundos, apenas até que um grito soou do fundo da sala dizendo as palavras ”Eliza Mão de Navalha” fazendo com que os outros alunos caíssem na gargalhada e começassem a repetir o apelido varias e varias vezes, formando um coro direcionado a Eliza, com direito a imitações dela e palavras nada gentis.

A garota se encolheu em seu lugar enquanto o professor tentava acalmar os gritos descontrolados, me levantei e quando estava indo até ela senti a mão de Kenny em meu braço, seus dedos longos e finos me indicando para que não fosse até ela, dei uma olhada novamente para a garota encolhida na frente do quadro e para Kenny, sentando-me logo depois e vendo como a garota saiu correndo da sala de modo desconfortável.

As risadas continuaram por um instante até o professor dar um último grito pedindo silêncio e então partir para procurar Eliza.

─Ela é bizarra! De onde já se viu esse poema? ─Kenny me olhou com o mesmo olhar vazio de sempre, seus olhos esmeraldas pareciam apenas refletir meu reflexo. Se os olhos forem os espelhos da alma, Kenny deve ser uma pessoa bem vazia mesmo. ─E o pior de tudo é que essa não é a primeira vez que isso acontece.

─Não devíamos julgá-la se não sabemos o que ela passou. ─Falei desviando meu olhar dela enquanto o sinal tocava indicando o término daquela aula, me senti tão aliviada por aquilo que até consegui ignorar Kenny e apenas sair daquela sala de aula.

Corri para o meu carro, ignorando as mensagens de Kenny em meu celular e os telefonemas de Louise, não precisava de mais isso para me atormentar. Então apenas tentei dirigir o mais rápido possível.

Meus olhos pareciam queimar de tanto que estava segurando as lagrimas em meus olhos, a neve caia sem parar enchendo o vidro de neve dificultando a vista da rua a minha frente, olhei mais uma vez para as flores atrás de mim e quando voltei a olhar para frente vi que uma garota estava atravessando a rua. Freei o carro rapidamente derrapando um pouco e por sorte parando antes de atropelá-la.

Sai de dentro de carro e me segurei para não xingá-la imediatamente.

─O que você pensa que está fazendo? ─Gritei para a garota que logo se virou parra mim, revelando o rosto pálido de Eliza com nariz e olhos vermelhos. ─Você está bem?

─E você se importa?─A voz dela saiu grossa, me deixando irritada, eu só queria ajudá-la. ─Por que se você se importasse tanto teria tentado me ajudar.

─Sinto muito pelo que aconteceu na aula, mas eu não poderia ter feito nada. ─As palavras dela ainda martelavam meu ouvido, eu sabia que devia ter tentado ajudá-la, mas não o fiz, e me sentia horrível por isso.

─Todo mundo te ouve, você é como uma rainha naquele colégio. Você está no topo da pirâmide alimentar!

─Eu posso ser derrubada a qualquer momento, não é como se eu pudesse permanecer lá para sempre, qualquer coisa que eu fizer poderá ser usada contra mim e minha popularidade.

─Há!Eu sabia, sabia que você era apenas mais uma daquelas garotas fúteis que só se importam com a sua popularidade passageira.

─Isso não é verdade, eu me importo com outras coisas.

─Como para suas roupas de marca?

─Não, como para os cortes em seu pulso.

Eliza puxou suas mangas para tapar a marca dos cortes que se destacavam em sua pele branca, era o ponto fraco dela e isso provocaria sua morte, acho que até mesmo ela já sabia isso.

─Você precisa de carona? ─Perguntei com calma, não queria que ela achasse que eu era algum tipo de monstro.

─Já estou perto do meu destino, obrigado. ─Ela virou a cara e continuou a caminhar.

─Você está indo para o cemitério? ─Ela balançou a cabeça positivamente, em um movimento automático e que quase passou despercebido. ─Então entra logo no carro que eu também estou indo para lá.

Ela parou por um instante e passou os olhos por mim e depois pelo carro ao meu lado, olhou para a neve que estava caindo e suspirou. Cruzou os braços e veio lentamente até meu carro. Analisando por uma última vez se deveria mesmo fazer isso, e enfim entrando no carro.

Entrei logo após ela, ligando o carro rapidamente e acelerando pela estrada enquanto tentava ignorar o modo como Eliza me olhava pronta para me julgar e mesmo assim sem falar nada.

─Veio visitar quem aqui? ─Perguntei tentando quebrar o silêncio.

─Irmão. E você?

─Irmã.

Ficamos em silêncio pela pequena distancia que restava até chegar aos portões de ferro enferrujados que indicavam a entrada do cemitério.

Peguei as flores de trás do banco e desci com rapidez, sentia as lagrimas começando a escorrer pelo meu rosto e marcando-o com a maquiagem escorrida, respirei fundo e fui até o tumulo que indicava o nome de minha irmã.

─Onze flores, onze anos? ─A voz de Eliza parecia tão apreensiva e calma, ela entendia o que era perder alguém, talvez por isso estivesse assim.

─Onze flores coloridas para onze anos de sofrimento. ─Coloquei as flores no tumulo e olhei com desdenho o que ficava ao lado, logo depois cuspindo nele.

─Por que diabos você cuspiu naquele tumulo?Isso é errado, você pelo menos sabe de quem é o tumulo?

─Esse é o túmulo de minha mãe.

Ela desviou o olhar e saiu do local, com os braços envoltos ao corpo e eu apenas a observei partir, analisando enquanto seus cabelos negros se balançavam eliminando uma hora ou outra um floco de neve até Eliza se transformar em apenas mais uma figura confusa em toda aquela neve.


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Notas finais do capítulo

*Sobre o primeiro poema, achei no tumblr mas não sei o nome do autor.