A Chance escrita por Pauliny Nunes


Capítulo 29
Capítulo 28




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Beatriz buzina pela quinta vez em frente ao prédio de Sônia que fica no Leblon,não se conforma que a amiga esqueceu-se do compromisso daquele dia. Ela procura o celular impaciente e nem nota alguém bater na janela de seu carro. Beatriz levanta a cabeça se deparando com Sônia, irritada. Abre a porta deixando a amiga entrar.

— Estamos atrasadas – resmunga Beatriz, impaciente.

— Desculpe-me – responde Sônia bocejando — Sabe o quanto é difícil acordar em plena segunda feira?

— Eu faria sorrindo por você, Sô –Beatriz manobrando o carro — E outra, quantas vezes tenho que te dizer para não sair no domingo, amiga? Você vive assim...

— Okay, Okay – Sônia passando o batom. Ela limpa o canto da boca e encara Beatriz — Você tem certeza que é isso o que quer?

— Absoluta – responde Beatriz, séria — Por quê?

 — Eu acho você nova demais para isso.

— Eu já sou maior de idade, Sô – responde Bia, irritada.

— Eu acho a atitude de vocês muito precipitada – alega Sônia, preocupada.

— Ele também sabe bem o que está fazendo. Ele tem emprego, podemos comprar uma boa casa e sermos felizes sem a intervenção das outras pessoas. – explica Beatriz.

— Mas Bia...

— O que foi? – questiona Beatriz, parando no semáforo — Quer desistir de me ajudar? Eu estaciono aqui mesmo e você pode seguir a sua vida. Porém, não vou desistir disso Sônia, então não tente me persuadir.

— Tudo bem. – concorda Sônia, intimidada — Eu vou com você, pois acho difícil alguém aceitar fazer isso uma hora dessas.

— Okay... –Beatriz, séria — Daqui uns quinze minutos, estaremos lá. Obrigada pelo apoio.

— Amiga é para essas coisas – responde Sônia sorrindo.

****

Hugo está de costas para rua conversando com Jorge. Usa um terno cinza emprestado do amigo que veste o terno marrom. Eles nem notam a chegada de Beatriz e Sônia. 

— Oi – cumprimenta Beatriz, fazendo Hugo virar. Ela mostra o vestido de cetim bege claro até os joelhos para ele. Seus cabelos estão presos em um belíssimo coque — Prontos?

— Mais que nunca – Hugo olhando para o relógio — É melhor corrermos, daqui a pouco será a nossa vez.

— Vocês são loucos – comenta Jorge jogando seu cigarro fora.

— Eu também acho a mesma coisa – Sônia encarando o rapaz — Meu nome é Sônia e o seu?

— Jorge –  responde o amigo de Hugo estendendo a mão.

— Depois a gente continua as apresentações – interrompe Hugo, preocupado. Ele pega na mão de Beatriz— Vamos fazer isso logo, assim ninguém irá nos separar.

— Ninguém – confirma Beatriz entrando com ele no cartório.

****

— Vocês agora são legalmente, marido e mulher – fala o Juiz finalizando o casório. Hugo e Beatriz se beijam apaixonados — Podem assinar os papéis e suas testemunhas logo em seguida.

— Casamos – comenta Hugo, passando a caneta para Beatriz — Agora você é minha esposa.

— Sim – afirma Bia, assinando o documento — Para sempre.

Sônia e Jorge se aproximam assinando o documento que prova a união de Hugo e Beatriz.  Não era o casamento pomposo que a mãe de Beatriz sempre desejou, aliás, ela nem sabia daquela situação. Os quatro amigos saem tranquilamente do cartório.

— Parabéns – felicita Jorge abraçando o amigo. Ele aperta a mão de Beatriz— Vocês estão casados. Agora só falta a casa, o carro e o dinheiro para comprar tudo isso.

— Não se preocupe – responde Hugo sorrindo e abraçando Beatriz— Eu vou dar tudo o que a minha princesa merece.

— Bom, então o salário de gerente deve ser bom, hein? – provoca Jorge com as mãos no bolso.

 — A gente não precisa de muito para ser feliz – responde Beatriz beijando o rosto de Hugo.

— Desculpa amiga, mas eu não consigo me imaginar tendo um casamento tão... Tão... – tenta dizer Sônia.

— Simples? – pergunta Beatriz, séria.

— Sim... Meu casamento terá de ser um sonho – fala Sônia, pensativa.

— Mas o meu foi – Beatriz sorrindo para Hugo.

— Bom, eu vou indo – despede-se Jorge — Tô com sono e preciso dormir.

— Eu também quero, mas vim de carona – resmunga Sônia.

— Toma, amiga – Beatriz entregando a chave do seu gol vermelho — Eu vou de táxi para casa com o Hugo.

— Obrigada – agradece Sônia pegando a chave. Ela abraça Hugo e depois Beatriz, demoradamente. Ela encosta os lábios no ouvido da amiga e sussurra — Se desistir da ideia, me avisa.

— Não vou – cochicha Beatriz sorridente.

Hugo beija a testa de Beatriz que observa a amiga se afastando tranquilamente.

— Enfim sós – sussurra Hugo, beijando a bochecha de Bia.

— Para todo sempre – completa Beatriz sorrindo. 

— Só se for por cima do meu cadáver – grita Miranda saindo do carro — Entre no carro agora, Beatriz! 

— O que a senhora está fazendo aqui? – pergunta Beatriz, surpresa.

— Achou mesmo que eu não ia saber desse enlace ilícito? – questiona Miranda sem esperar resposta — Entre no carro, agora! E você Hugo, aguarde. Eu farei de tudo para que você seja afastado da empresa. Está querendo dar uma de esperto, mas você não me engana.

— Pois dê o seu melhor, Miranda – desafia Hugo — Eu ficarei com a Beatriz, mesmo que isso custe tudo o que tenho.

— Eu não vou entrar no carro – recusa Beatriz com raiva — Já tenho 21 anos mamãe,  posso fazer o que eu quiser.

— Não, enquanto estiver sendo sustentada por mim! – grita Miranda — Entre no carro agora!

— Eu não vou entrar e a senhora não precisa mais me sustentar – retruca Beatriz, irritada.

— Deixe de dizer asneiras – fala  Miranda segurando no braço de Beatriz — Entre logo que ainda tenho que procurar um bom advogado para anular essa loucura!

— A senhora não pode fazer isso – rebate Hugo, irritado — Nos casamos porque estamos apaixonados.

— Eu posso e vou anular esse casamento! – esbraveja Miranda.

— Não pode – nega Beatriz, enraivecida — Esse casamento já foi consumado.

— Ninguém precisa ficar sabendo disso – alega Miranda.

— Será impossível esconder isso por muito tempo – retruca Beatriz sob os olhares curiosos de Miranda e Hugo.

— O que está querendo dizer, Beatriz Gouvêa? – questiona Miranda, nervosa.

— O casamento está gerando frutos – confessa Beatriz tocando em sua barriga — Eu estou grávida.

Hugo Dias Abraão & Beatriz Gouvêa

Convidam

O vestido branco sem alça e rendado, caiu igual a uma luva sobre o corpo de Beatriz. Ela encara sua imagem atentamente, enquanto cobre seu rosto sério com o véu. Ajeitava a cauda, quando Miranda entrou no quarto, usando um vestido verde oliva até o joelho. Ela para um instante e observa a beleza pueril de sua filha, suspirando, tristemente, com um envelope na mão.

— Oi, mamãe – Beatriz, séria, encarando sua mãe pelo reflexo do espelho — Se veio tentar me persuadir a desistir mais uma vez, saiba que será inútil.

— Eu não vim para fazer isso – nega Miranda mostrando uma leve irritação — Afinal de contas, você está grávida e essa criança precisa de um pai, não é verdade?

— Sim – responde Beatriz, pegando o buquê de rosas brancas em cima da cama — Já falamos a respeito várias vezes, nesses últimos meses.

— Sim, sim – afirma Miranda batendo o envelope na palma de sua mão — Eu só estou confirmando isso.

— O que foi, mamãe? – questiona Beatriz, desconfiada, observando o envelope — Que envelope é esse?

— Diga-me, você – responde Miranda entregando envelope para a filha.

— Deixe-me ver – pede Beatriz pegando o envelope, percebendo que ele já está aberto. Ela pega o papel que está dentro e o lê. Ao término da leitura encara a mãe, pálida. — Onde conseguiu isso?

— Acha que é só você tinha uma carta na manga? – questiona Miranda encarando a filha. Ela senta na cama— Sente-se, agora vamos conversar para melhorar o nosso relacionamento mãe e filha.

****

Bruno entra emocionado no quarto, fazendo Beatriz pular da cama e ir para perto do espelho, passando a mão no rosto. Ele passa a mão no rosto de Miranda, dando um beijo na testa de sua mulher. Depois olha para sua filha vestida de noiva com a expressão radiante.

— Você está linda – elogia Bruno, emocionado segurando as mãos da filha. Percebe que os olhos da filha estão marejados de lágrimas— Nada de chorar antes do tempo, vai estragar sua maquiagem.

— Tudo bem – Beatriz sorrindo — Vamos? O Hugo já deve estar mofando na igreja.

— Antes de irmos – começa Bruno, olhando para Miranda — Querida, eu posso ter um momento a sós com a Beatriz?

— Claro que sim – responde se levantando. Ela fita Beatriz calmamente— Vejo vocês na igreja.

 Bruno espera a esposa sair do quarto e se vira para filha com o seu olhar piedoso. Dá um beijo em sua testa longamente.

— Eu sempre achei que não me emocionaria quando você casasse... – comenta Bruno respirando fundo — Eu estou feliz em estar presente nesse momento importante da sua vida.

—Obrigada, papai – agradece Beatriz sorrindo.

— Porém, eu estou preocupado com você. Sabe, acompanho seu relacionamento com Hugo e... – Bruno, sério — Sinceramente, não imaginava que iriam casar um dia.

— Por que não me casaria com ele, papai? –  questiona Bia, confusa.

— Porque não vejo amor e nem a vontade de estar junto – responde Bruno — Pelo menos não de sua parte.

— Como assim, papai? 

— No dia do seu aniversário, vi para quem seus olhos brilharam intensamente e não foi para o Hugo... Mas para o rapaz que deu aquele vexame. Eu nunca vi você daquela forma com o Hugo nesses anos todos.

— Eu fiquei com raiva do que ele fez – alega Beatriz, nervosa — Foi brilho de raiva.

 — Não foi raiva que eu vi em seus olhos – alerta Bruno — Foi amor...

— O que está insinuando, papai? – questiona Beatriz, irritada — Aonde pretende chegar com tudo isso? Quer que eu desista do casamento igual à mamãe? Pois saiba que não será possível, está muito tarde para voltar atrás.

— Nunca é tarde para mudar sua escolha. Você pode desistir agora que eu te apoio, mas não se case assim. Não leve esse arrependimento com você. – pede o senhor Gouvêa.

— O senhor esqueceu que estou esperando uma criança dele? – pergunta Beatriz, nervosa, segurando a barriga.

— Filho não segura casamento e eu não me importo que minha filha tenha um filho sem estar casada – responde Bruno — Eu vou te apoiar, mas eu não quero que seja infeliz.

 —É uma escolha minha – encerra Beatriz.

— Hora de irmos – avisa a Cerimonialista, entrando no quarto.

— Tem certeza? – pergunta Bruno, desconfiado.

— Absoluta – responde Beatriz, segurando nos braços de seu pai.

****

Hoje

 

— Nós tivemos um filho... – balbucia Hugo, emocionado — Nós temos um filho.

— Nós não temos um filho, Hugo – nega Beatriz segurando na mão dele — Não temos.

— Como assim? – questiona Hugo, confuso — Você disse... Você acabou de dizer...

— Eu perdi o bebê um mês depois do casamento - confessa Beatriz, cabisbaixa.

****

Dez anos antes...

Hugo entra nervoso no quarto, onde Beatriz está internada. Ela abre os olhos devagar, sentindo a presença do marido, e dá um sorriso triste.

— Você está bem? – pergunta Hugo, se aproximando. Ele senta ao lado de Beatriz e segura sua mão — Como você está?

— Ele se foi, Hugo... Ele se foi – revela Beatriz chorando — Eu estava dormindo... E eu não senti... ele se foi...

— Tudo bem, amor... Tudo bem – consola  Hugo chorando e beijando as mãos de Bia — Vai ficar tudo bem... Não era para ser.

— Eu sinto muito – pede Beatriz tocando no rosto de seu marido.

— Shhhh... – consola Hugo — Nós temos muito tempo para tentar novamente. Uma hora nós teremos a nossa família.

— Hugo... –  chama Beatriz, fazendo seu marido levantar a cabeça — Eu te amo.

— Eu também te amo – declara Hugo abraçando Bia.

****

Beatriz fecha os olhos sentindo suas lágrimas rolarem por seu rosto, havia esquecido o quanto suas memórias ainda doíam , apesar dos anos. Abre os olhos ao sentir o toque da mão de Hugo sobre a sua, em seu rosto , a mesma expressão de dez anos atrás, afinal de contas, aquela dor era já foi de ambos:

— Eu sinto muito – pede Hugo acariciando a mão de sua esposa.

— Obrigada por seu relato, Beatriz – agradece Manuela controlando a emoção. Ela guarda suas coisas devagar observando o casal que e então diz — Hoje , não precisarei tirar nenhum relato individual de Hugo. Deixarei vocês conversarem, acho que será melhor para ambos.

— Obrigado , doutora – agradece Hugo se levantando e conduzindo a psicóloga até a saída. Em poucos minutos ele volta a sentar próximo de Beatriz,abraçando — Eu realmente sinto muito.

—  Eu sei que sente – comenta Beatriz , entristecida limpando seu rosto —Mas agora está tudo bem.

— Foi por isso... que a gente se separou? – pergunta Hugo, cauteloso. Beatriz encosta-se ao peitoral de Hugo, deixando suas lágrimas molhar a camiseta do ex - marido. — Se for por esse motivo, quero que saiba que eu jamais cometeria esse erro novamente – comenta Hugo segurando o queixo de Beatriz — Eu jamais voltarei a abandonar você.

— Hugo, é tarde demais – responde Beatriz se afastando do  ex– marido. Ela se levanta e caminha em direção a porta, sendo impedida pela mão de Hugo contra a maçaneta — Por favor, não torne as coisas mais difíceis do que já estão.

— Eu só quero que saiba que agora entendo o que me fez amar você, Bia –comenta Hugo tocando no cabelo de Beatriz — E, de alguma forma,  acabei apaixonado por você outra vez.

— Hugo...

— Não diga que não sente o mesmo. – pede Hugo — Porque eu sinto isso toda vez em que você narra a nossa história. Eu vejo seus sentimentos em cada uma das palavras que saem de seus lábios. E a nossa história é tão linda!

— A nossa história foi bonita, Hugo – corrige Beatriz encarando o Hugo — Porém, ela chegou ao final.

— Será? – questiona Hugo se aproximando do rosto de Beatriz que fica entre a porta e os lábios de seu esposo. Sente um dos braços dele envolver sua cintura a puxando para mais perto. — Será mesmo?

Seus lábios se abrem, para satisfação de Hugo que toma aquele gesto como convite para beijá-la, porém é impedido pela mão de Beatriz que encara Hugo, séria:

— Hugo, eu sinto muito. Você precisa saber que eu ...

— Dona Beatriz – chama Leninha batendo na porta. — Telefone para a senhora, é da empresa.

— Eu preciso ir – avisa Beatriz observando Hugo se afastar, permitindo que ela saia do escritório.

—Tudo bem. Nós terminamos a nossa conversa depois – informa Hugo.

— Sim – confirma Beatriz abrindo a porta.

Só resta para ela saber quando terá coragem novamente.


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