A Chance escrita por Pauliny Nunes


Capítulo 24
Capítulo 23




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Lúcia e Beatriz estão sentadas no consultório da doutora Renata, esperando os exames finais de Hugo. Já havia se passado uma semana e aquele dia a alta do analista Sênior.  Elas não conversam entre si desde o episódio, no mês passado. A porta se abre, a doutora entra com a ficha de Hugo nas mãos, sentando em sua cadeira:

— Bom dia – cumprimenta Renata abrindo a ficha— Os exames de Hugo indicam que não há nenhuma lesão cerebral e o inchaço se dissipou. Porém a causa de amnésia ainda permanece um mistério. Suspeitamo-nos que seja um bloqueio emocional que está afetando a sua memória.

— O que podemos fazer para ajudar? – pergunta Lúcia, apreensiva, tocando na mesa.

— Um palpite, seria que ele voltasse à rotina anterior ao acidente, mas sua efetividade é para meses e não anos. Ele precisaria ficar com alguém que o ajudaria a lembrar de todos os fatos, situações, histórias dentro desse período perdido. 

— Bom... Eu posso – oferece Lúcia — Quer dizer... Não vivi os catorze anos com ele, mas isso será fácil. Aliás,  acho que seria uma ótima  maneira de fazê-lo seguir em frente.

— Concorda com isso, Beatriz? –pergunta Renata olhando para Bee que está pensativa.

— Sim... Ela será o melhor para ele –responde Beatriz sem olhar para Lúcia — Eles estão juntos há um bom tempo, não vejo motivo para ser contra.

—Ótimo. Encaminharei o Hugo ao psicólogo que ajudará Lúcia a lidar com todas as emoções decorrentes das memórias – explica Renata prescrevendo na ficha de Hugo. Ela levanta a cabeça— Recomendo que ele seja acompanhado pelo psicólogo em casa. Um aviso importante: não fale a respeito de memórias trágicas e situações que envolvam muita carga emocional. Isso pode fazer com que Hugo tenha uma regressão de comportamento e seu quadro piore, ou até mesmo se torne permanente.

— Tudo bem... Mas psicólogo não é caro? Quero dizer... Eu não sei se consigo pagar por isso – comenta Lúcia dando um sorriso sem graça.

— Não se preocupe, ele tem um excelente plano de saúde. E para qualquer despesa a mais, me encarregarei de pagar – responde Beatriz,séria.

— Bom, então vamos ver o paciente e falar com quem ele ficará após a liberação – comenta Renata que se levanta e diz abrindo a porta —Acompanhem- me, por favor.

***

  Hugo comia seu  melão, quando entraram Renata, Lúcia e Beatriz. A doutora o cumprimenta e faz os exames rotineiros. Após realizá-los, ela diz:

— Muito bem, Hugo. Sua recuperação está ótima – Renata arruma o estetoscópio no pescoço e avisa  — Hoje receberá alta.

— Essa é a melhor notícia que recebi essa semana –Hugo, empolgado — Finalmente voltarei para casa e verei minha mãe... Ela vem me buscar e me levar para casa, certo?

— Não Hugo. Você irá para a casa da Lúcia,pois  precisa ser inserido na rotina em que estava recentemente – responde Renata de forma tranquila — E será acompanhado por um psicólogo.

— Tá... Só que a minha mãe vai com a gente, né? – pergunta Hugo para Lúcia.

— Não, ela não vai – responde Lúcia, nervosa olhando para Beatriz que evita encará-la.

— Por quê? Você conheceu a minha mãe? Ela te conhece? – pergunta Hugo, agitado.

— Não conheço. Aliás, você nunca me falou dela – responde Lúcia sentando próxima a cama — Achei até que não tivesse mãe...

— E por um acaso eu sou filho de chocadeira? – pergunta Hugo, ríspido. Ele olha para Beatriz e pergunta — Você foi casada comigo, certo? Conhece a minha mãe?

— Conheço, é uma excelente pessoa. Dona Carla é uma pessoa de coração puro e muito batalhadora – responde Beatriz segurando as lágrimas.

— Então por que ela não veio? Ela não gosta da Lúcia? – pergunta Hugo.

— Ela precisou viajar, Hugo – responde Beatriz cruzando os braços — Foi para o Araguaia, parece que encontraram sua tia, Nininha e por isso não está presente. Porém, ela sabe que ficará em boas mãos.

— Ela não sabe que eu vou com a Lúcia, né? – questiona Hugo olhando para a professora, irritado. Ele olha para todas e pede — Deixem-me sozinho com a Beatriz, por favor.

— Mas Hugo – protesta Lúcia segurando na mão dele.

— Saia, agora. – ordena Hugo em tom ácido. Ele encara Beatriz, sério — Preciso conversar com ela, em particular.

A doutora segura no braço de Lúcia que muito relutante sai do quarto, deixando os dois sozinhos.

— O que  você quer, Hugo? – pergunta Beatriz de pé próxima a porta.

— Quero que sente aqui – pede apontando na cadeira — Nós precisamos conversar.

—E o que nós temos para conversar que ninguém pode estar presente? – questiona Beatriz, irritada.

—Sobre nós dois.

****

     Beatriz senta encarando os olhos negros de Hugo que está sério, demonstrando uma leve irritação. Ele se arruma na cama e pergunta:

— O que eu fiz para você? 

— O que quer dizer? – responde Beatriz com uma pergunta.

—  Desde que me trouxe ao hospital, você me evita. Não fala comigo, não fica próxima e sempre me ignora. Eu não sei o que fiz, mas preciso saber para que possa me desculpar.

— Nós estamos separados é por isso que te evito. Como nós não  temos mais em comum, não há necessidade de conversar com você e muito menos ficar perto de você – explica Beatriz , séria.— Aliás, você tem uma namorada que faria tudo por você, então não vejo motivo de mantermos qualquer comunicação, além da necessária.

— Há quanto tempo estou com ela? – pergunta Hugo, nervoso. Ele respira fundo, fechando os olhos e então pergunta — Eu te traí com ela?

— Não sei há quanto tempo estão juntos e muito menos se me traiu com ela. Talvez sim, talvez não. Nunca saberemos... – responde Beatriz, pensativa. — Pelo menos até sua memória voltar.

— Há quanto tempo estamos juntos e há quanto tempo estamos separados? – pergunta Hugo.

— Ficamos juntos durante 14 anos e estamos separados há um ano e alguns meses – responde Beatriz coçando a cabeça com uma das mãos, pois o  assunto ainda a incomoda —Por quê?

— Você me conhece esses anos todos que eu perdi, então por que ela é quem vai ficar comigo? – pergunta, revoltado.

— Porque você está com ela agora – responde Beatriz, friamente — Sua vida é com ela, sua rotina é com ela, nada mais justo que volte para sua casa a qual divide com a Lúcia.

— Mas é você quem me conhece tão bem! – alega Hugo — É você que estava lá em todos os momentos que perdi, certo? Não ela. Eu queria que a minha mãe estivesse aqui, assim não precisaria de nenhuma de vocês!

— Eu digo o mesmo, Hugo – reage Beatriz, irritada.

— Porém ela não está aqui e preciso de alguém que saiba o que aconteceu comigo durante esse tempo até ela voltar – explica Hugo levantando da cama e segurando na mão de Beatriz — Com alguém em quem minha mãe confie.

— Tenho certeza que ela confia na Lúcia. – afirma Beatriz olhando para Hugo — Já que foi quem você escolheu para ... Namorar.

— Sinceramente, eu não sei o que o outro Hugo tinha na cabeça para querer aquela mulher. Ela não faz o meu tipo e minha mãe iria odiá-la, você sabe disso.

— Eu não sei. – murmura Beatriz — E muito menos aonde está querendo chegar com essa conversa.

— Estou preso no corpo de um cara com trinta e poucos anos.  Fui dormir em um dia e acordei quatorze anos depois.  Eu não sei o que faço e minha mãe não está aqui. Além do fato da única pessoa que poderia me ajudar, estar se recusando a fazê-lo por sentir raiva de algo que não me lembro. Sabe o quanto isso tudo está sendo difícil de digerir?

— O que você quer? – pergunta Beatriz franzindo a testa.

— Eu quero te pedir. Pedir não, Implorar-te  – começa Hugo — Que até a minha mãe voltar, eu fique com você. Prometo não atrapalhar sua vida. Eu só preciso estar com alguém que me conte o que fiz nesses catorze anos!

— Sinto muito, mas a minha rotina é diferente agora – alega Beatriz balançando, negativamente, a cabeça.

— Por favor, Beatriz. – implora Hugo segurando mais forte a mão de Beatriz — Eu prometo que assim que minha mãe voltar, nunca mais saberá da minha existência. Eu saio da sua vida para sempre.

Ela olha para Hugo tentando adivinhar o que se passa na mente dele. Aquele pedido havia balançado Beatriz que  passa a mão em seu próprio rosto, lentamente, pensando no que fará. Ela olha para ele e abre os lábios para responder:

— Bom dia – a enfermeira entrando com uma pasta. Ela caminha em direção à Beatriz e avisa  — O papel da liberação está aqui, é a senhora quem irá assinar?


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