A Chance escrita por Pauliny Nunes


Capítulo 17
Capítulo 16




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Treze meses antes…

De todas as vezes que desejou sair de casa, aquela foi a mais difícil. Hugo prometeu a si que não voltaria atrás em sua decisão, mas já sente que seu corpo quer o contrário, desistir e tentar mais uma vez. Coloca suas malas no porta-malas do táxi e senta no banco traseiro. Não consegue pensar em nada além da última cena no quarto, o rosto de Beatriz, seu choro e seu desespero. Em que ponto chegamos? pensa Hugo com as mãos no rosto, tentando apagar aquelas imagens.

 —  Para onde, senhor? – pergunta o taxista ligando o carro.

 —  Não sei – responde Hugo, confuso  — Vamos para a Lapa

 — Como quiser , senhor – responde o taxista dirigindo.

 Eu preciso ficar o mais longe possível dessa casa, pensa Hugo olhando para o duplex pela última vez.

***

Hugo demora muito tempo para tocar a campainha, em sua cabeça aquilo já tinha se tornado uma péssima ideia. Reza para a pessoa não abrir a porta e assim ter um motivo para ir embora de volta para o apartamento, mas o barulho da fechadura mostra o contrário. Assim que a porta se abre, Hugo sorri nervoso.

 —  Fala, meu querido – diz Jorge de calça social dando um aperto de mão seguido de um tapa nas costas  —  O que manda?

 —  O de sempre, Jorginho – responde Hugo, desanimado apontando para as malas.

 —  Entra aí, meu irmão – pede Jorge segurando uma das malas  — O apê é seu.

 —  Estou atrapalhando? – pergunta Hugo olhando o terno de Jorge estendido no sofá da sala.

 —  Não… Quer dizer… Mais ou menos… – responde Jorge tirando o terno do sofá  —  Eu vou pedir a mão da Sônia em casamento hoje.

 —  Parabéns, você se merecem – responde Hugo tentando sorrir  —  Espero que sejam muito felizes.

 —  É para isso que servem os casamentos, para as pessoas viverem “felizes para sempre” – ironiza Jorge fazendo aspas com os dedos, enquanto veste a camisa.

 — Você não acredita que o casamento pode durar eternamente? – pergunta Hugo sentando no outro sofá do apartamento.

 —  O que eu acredito é que tive a sorte de ter a Sônia na minha vida: linda, gostosa, tranquila, e mais, rica – explica Jorge vestindo os sapatos  —  Esses são os melhores motivos que um cara deve ter para se casar com uma mulher.

 —  Eu me casei por amor, Jorge – responde Hugo enquanto mexe em sua aliança  —  Eu a amei cada segundo da minha vida…. E amo ainda.

 —  Você é louco, cara. O amor só estraga tudo – comentaJorge se levantando e indo em direção à geladeira pegando duas cervejas. Entrega uma para Hugo e continua  —  É por você amar que está nessa merda aí. Vou te dizer: Se a Sônia fizesse a metade do que a Beatriz faz com você, já teria metido o pé.

 —  A Beatriz nem sempre foi assim – defende Hugo bebendo um gole  —  Quando eu a conheci…

 —  Ela era incrível… espontânea, cheia de vida… E blá, blá, blá – interrompe Jorge revirando os olhos  —  Esqueceu a quantidade de vezes em que me contou isso? E quantas vezes, você veio parar no sofá? Cara, seu relacionamento acabou. Bola para frente.

 —  Eu sei, eu sei, mas é difícil aceitar. São dez anos, cara. Não dez dias, dez meses, são dez, fodendo, anos – argumenta Hugo gesticulando com as mãos.

 —  Mano, dessa vez eu vou te ajudar a sair dessa – revela Jorge apontando a cerveja em direção ao Hugo  —  Assim que eu voltar, nós vamos pôr o meu plano em prática.

 —  Você quem manda parceiro – comenta Hugo levantando do sofá. Ele puxa o sofá que vira uma cama.

 —  Você não vai dormir agora, né? – pergunta Jorge arqueando a sobrancelha enquanto veste o terno — A minha vizinha está aí, cara. Depois aquele encontro de vocês no café, ela ficou doida para saber mais de você. Por que não vai lá, pedir um açúcar?

 —  Não, obrigado. Tô sem cabeça para isso agora. Só quero dormir e esquecer hoje.

 —  Beleza, irmão – responde Jorge pegando a carteira e colocando no bolso  —  Vou indo nessa. Depois nos falamos. Cuide-se.

—  Pode deixar – responde Hugo.

Ele desliga a luz da sala e deita no sofá. Não é o amor que estraga tudo... é o casamento, conclui Hugo, consigo mesmo.

***

Dez meses antes…

 —  Eu não acredito que ainda não mandou a papelada que te dei – comenta Jorge, revoltado, sentado no sofá  —  Isso já tem três meses!

 —  Eu sei Jorge, mas sei lá… – começa Hugo de cabeça baixa.

 —  Sei lá, o quê? – pergunta Jorge mexendo a perna  —  Quer saber, vamos agora lá ao seu apartamento e eu vou entregar esses papéis. A gente combinou isso, certo? Vamos fazer.

 —  Certo – concorda Hugo, determinado. Pega os papéis do divórcio e entrega para Jorge  —  Vamos, lá.

 —  Certo você fica no carro e eu entrego – propõe Jorge abrindo a porta e deixando Hugo passar  —  Vai ser fácil, fácil.

***

 —  Tem certeza que não foi ela quem recebeu? – pergunta Hugo entrando no apartamento atrás de Jorge que revira os olhos.

 —  Tenho. Foi a empregada de vocês – responde Jorge se jogando no sofá  — Por que essa preocupação toda?

 —  Já se passaram três meses… Eu quero saber… – tenta dizer Hugo segurando na poltrona.

 —  Passaram três meses e ela não está nem aí para você – acrescenta Jorge  —  São três meses, cara. Tá na hora de você considerar… E abrir seus olhos. Acabou.

 —  Sim… Acabou – repete Hugo, cabisbaixo, indo em direção ao banheiro  —  Vou tomar uma ducha.

 —  Isso vai lá, parceiro.Depois, vamos sair e arrumar uma gatinha para você.

 —  Tudo bem – responde Hugo com sorriso fraco.

Nem bem Hugo entra no chuveiro e uma chuva de pensamentos toma conta de sua mente.

Acabou? Por que acabou? Por que ela não me procura? Por que sempre eu tenho de voltar atrás? Será que ela só aceitou o fim? A mãe dela pode estar por trás disso, ela me odeia! Mas, por que ela não reage? Por que não me liga? Dessa vez eu não vou voltar atrás… O Jorge está certo, ela não me quer mais. E agora quem não quer, sou eu.

Hugo desliga o chuveiro e vai para sala de toalha, onde diz para o Jorge:

 —  Vamos sair, dessa vez eu não vou ficar parado!

***

Oito meses antes…

 —  Ela pegou o envelope, senhor – avisa o taxista entrando no carro.

 —  Quem pegou? – pergunta Hugo, nervoso.

 —  A mulher de sempre: a senhora – responde o taxista. Ele vira e pergunta, encarando o Hugo  —  Por que o senhor não entra lá e pede para falar com a moça?

 —  Dá próxima vez eu faço isso – responde Hugo triste, olhando para os dedos, ainda está de aliança.

 —  Foi o que o senhor disse das outras vezes – retruca o taxista ligando o carro e saindo da frente do duplex.

***

 Hugo caminha pelo corredor do prédio segurando mais um jornal diário,onde voltaria sua atenção apenas nas colunas de eventos da sociedade carioca. Sendo mais específico, em eventos de caridades com o nome dos Gouvêa. Nos últimos meses, aquele tem sido seu ritual diário em busca de qualquer notícia sobre sua esposa, mesmo sem qualquer resultado. O que tornava tudo muito estranho e interessante, já que Beatriz adorava participar e agora não aparece  nos eventos.

  Tentava abrir a porta de Jorge, quando a vizinha do lado esquerdo aparece. Loira de cabelos cacheados até o meio do pescoço, olhos verdes, corpo definido de academia que, aliás, é para onde está indo. Também era a garota com quem ele se encontrou no café da última vez, mas ficou falando sobre o casamento o que o leva a crer na falta de interesse dela por ele.

 —  Oi, Hugo – cumprimenta a vizinha, sorridente.

 —  Oi, Lúcia – responde Hugo, tímido, tentando abrir a porta. Ele nunca mais tinha falando com ela desde aquele dia, então não espera muita coisa  —  Como você está?

 —  Estou bem – responde ela encostando o braço na parede  —  Quer dizer que está por aqui de novo?

 —  Pois, é. Mas dessa vez não tem volta – responde com um sorriso fraco. Finalmente descobre que a porta já estava aberta  —  A gente se vê.

 —  Hugo, espera – pede Lúcia segurando no braço dele  —  Por que não saímos hoje?

 —  Para um café?  – sugere Hugo franzindo a testa.

 —  Não, café não. Leve-me para jantar. Estarei pronta às dez horas. Você escolhe o lugar – avisa, sorridente colocando os fones de ouvido e indo embora.

***

Lúcia tem 24 anos, recém-formada em Letras, professora na escola pública perto do prédio de Jorge, porém seu sonho é constituir uma família. Mineira, veio para o Rio de Janeiro em busca do amor eterno, aquele que a daria a tão sonhada família feliz…. Ela disse mais alguma coisa, porém o Hugo não consegue se concentrar com o decote generoso do vestido vermelho que Lúcia veste, praticamente saltando em seu rosto.

  —  Mas é tão difícil achar um homem decente na cidade… E quando achamos... – comenta encarando o Hugo com uma das mãos no queixo  —  Eles já tem dona.

 —  Bom… Talvez esteja procurando nos lugares errados – sugere Hugo sendo sincero  —  Existem muitos caras por aí que adorariam conhecer uma pessoa como você…

 —  Só que agora, eu já tenho um em mente. É exatamente o que eu procuro em um homem – confessa bebendo um gole de vinho de forma sedutora  —  Agora que eu fiquei sabendo de umas coisas, sinto a esperança de ficarmos juntos.

 —  Bom… Fico feliz por você – comenta sem entender aonde ela quer chegar.

 —  Só tem uma coisa que me deixa em dúvida em relação a ele – sussurra Lúcia encostando seus seios fartos na mesa, conforme se aproxima de Hugo  —  Se o beijo dele é bom…

 —  Hã…Bom… – tenta dizer Hugo sem graça. Ele entende que é a pessoa de quem ela está falando.

 —  Relaxa – pede a professora aproximando do rosto de Hugo  —  Deixe-me fazer isso.

Rapidamente toma os lábios de Hugo que fica sem reação.

***

Três meses antes…

 —  Isso! Mais rápido! Enfia tudo!!! Vai, gostoso!  – grita Lúcia cavalgando em cima de Hugo que goza loucamente

 —  Ahhhhhh…

Ela cai do lado de Hugo, ofegante, estão há cinco meses juntos e felizes. Pelo menos ela está, pois Hugo ainda não se sente pronto para um novo relacionamento, mesmo ciente de que mora mais no apartamento de Lúcia que no de Jorge. Está refletindo sobre essa questão, quando ela encosta a cabeça em seu peito e o encara com seus belos olhos verdes, dizendo:

 —  Estou pronta –sorrindo acariciando os pêlos do peito de Hugo.

 —  Mas a gente acabou de fazer?  – questiona Hugo, confuso a encarando.

 —  Não estou falando disso… Quer dizer… Estou… – começa Lúcia, maliciosa  —  Eu estou pronta para termos um filho.

 —  Desculpa, não entendi… – diz Hugo sentando na cama sem entender.

  —  Eu pensei bastante a respeito e acho que não devemos esperar muito para termos um filho. Eu estou apaixonada por você, acho até que te amo – confessa deitando na coxa de Hugo  —  Eu realmente desejo ter um filho seu. Uma família com você e esses cinco meses só me provaram que somos perfeitos um para o outro.

Hugo concorda com algumas partes. Com Lúcia tudo era mais leve, tranquilo e simples. Ela sempre se interessa pelo que ele faz, como foi o dia dele, para tudo para ficar com ele e o apoia com relação ao seu casamento, nunca dizendo nada a respeito. Porém, um filho no meio de tudo aquilo não é o que ele quer no momento.

 —  Eu quero esperar um pouco mais – informa beijando as mãos de Lúcia  —  Quero esperar a Beatriz assinar o divórcio.

 —  E se ela não assinar?  – questiona Lúcia, apreensiva  —  E se ela nunca assinar?

 —  Entendo sua preocupação – responde beijando sua testa  —  Vamos fazer o seguinte: Esperamos mais uns meses, se ela não assinar, a gente começa a tentar.

 —  Tudo bem – responde Lúcia se levantando. Ela toca no pênis de Hugo, até que fique duro  —  Acho que estamos prontos para outra.

***

Jorge assiste televisão, tranquilamente, quando Hugo chega. Ele dá um sorriso malicioso para Hugo que está sério.

 —  Até que enfim, o bom filho a casa torna – provoca Jorge indo para a cozinha pegar duas cervejas  —  Você tá ficando magrinho, hein?

 —  Fica na tua, Jorge –responde Hugo indo para o quarto  —  Só vim pegar umas roupas.

 —  Eu confirmei seu convite hoje e pedi um acompanhante também – grita Jorge  —  Nem precisa agradecer.

 —  Como é?  – grita Hugo indo em direção da cozinha  —  Para quê?

 —  Para o jantar de ensaio e o casamento. Meu casamento lembra?  – questiona Jorge estalando os dedos próximos do rosto de Hugo  —  Tá metendo tanto assim que perdeu o cérebro?

 —  Não… É que eu pensei sobre isso e… Não quero tornar isso tudo uma situação ruim para vocês. Não quero envolvê-los em nossos problemas. A Sônia é a melhor amiga da Beatriz, de infância. Não quero que as coisas fiquem estranhas – explica Hugo apoiando na pia  —  Eu não vou ao jantar, nem ao casamento.

 —  Tá louco, parceiro?  – pergunta Jorge, irritado  —  Você vai sim! Foi você quem nos apresentou, você merece estar lá tanto quanto ela. A Sônia veio com esse papo também, mas só que você é o meu melhor amigo, meu padrinho e esse casamento também é meu. E tá decidido, você vai. E vai com a Lúcia. Tá na hora da Beatriz tomar um sacode e perceber que a fila anda.

 —  Não… Jorge… Eu não – tenta argumentar Hugo  —  Não preciso confrontá-la assim. E outra, a Sônia nem conhece a Lúcia. Não vai pegar bem.

 —  Para, Hugo! Chega de deixar o mundo rodar em volta da Beatriz! Você tem tanto direito quanto ela de ir e até mais, pois ela não tá ajudando a Sônia. – conta Jorge. Ele segura no ombro do Hugo  —  Acredita em mim, levar a Lúcia vai fazer a Beatriz acordar, vai ser bom. Ela vai largar mão e você poderá finalmente ser feliz, ter família, filhos…. E eu já até sei como fazer a Sônia conhecer a Lúcia. Vamos todos sair hoje! Nem precisa agradecer – finaliza Jorge saindo assobiando da cozinha. 

***

Sônia passou o jantar todo ignorando a presença de Lúcia que não parece se importar ou não percebeu. Porém, Hugo sente que o clima da mesa está pesado, mas não diz nada. Assim que terminam o jantar Sônia pede para falar com ele a sós, do lado de fora do restaurante:

 —  Não sei o que está pretendendo fazer com essa palhaçada de jantar, mas saiba que eu sou amiga da Beatriz e fico do lado dela sempre. Você tem muita sorte do Jorge interceder por você, pois eu jamais aceitaria  que fosse ao meu casamento e muito menos com uma qualquer.

 —  Eu sei, mas eu sou amigo do Jorge e irei. Espero que seja educada o suficiente para aceitar isso. E madura, para entender que o meu relacionamento com sua amiga acabou –responde Hugo, irritado.

 —  Sim, mas não foi ela que teve a capacidade de pedir para levar outra pessoa no casamento, mesmo ainda casada….

 —  Estamos casados porque ela ainda não quer me dar o divórcio – reage Hugo.

 —  E você nem ao menos tentou falar com ela. Todos esses meses, por que ainda não foi lá? Por que não foi pedir pessoalmente?

 —  Porque sabemos que ela nunca vai ceder, mesmo sendo pessoalmente. Ela vai me pedir para voltar… E eu não sei… Não posso.

 —  Não pode, ou não tem certeza se conseguirá manter sua posição ao ver o amor da sua vida na sua frente? – questiona Sônia —Você é fraco… Espero que seja muito feliz com essa aí. Pois mulher igual à Beatriz Gouvêa, meu querido, você nunca mais encontrará na vida – finaliza saindo de perto de Hugo.

Ele quis responder, ir contra as palavras de Sônia, mas ela tem razão: ele nunca mais encontraria alguém como Beatriz. Nem amaria como a amou.

***

O apartamento de Lúcia está com todas as luzes apagadas e algumas velas acesas na mesa de centro, surpreendendo Hugo que acaba de chegar de mais uma “entrega” na casa de Beatriz. Dessa vez chegou a sair do táxi, mas não  teve coragem de entrar no prédio, deixando a cargo do taxista.

 —Oi, meu amor – cumprimenta Lúcia, animada, sentada no sofá usando sua camisola de seda.

— Olá – responde Hugo fechando a porta. — Uau, muito legal isso que você fez...

— Venha, sente aqui. Tudo o que eu fiz , foi por um motivo especial. Ou melhor, muito especial. – pede a loira batendo com a mão no assento ao seu lado, sendo atendida prontamente.

—Nossa, e qual é esse motivo especial? – pergunta Hugo, curioso.

— Nós estamos grávidos! – revela Lúcia, exaltada.

— Grávidos? – questiona Hugo, chocado com a notícia.

—Sim, meu amor – confirma Lúcia sorridente.

— Tem certeza?- questiona Hugo, nervoso. — Você fez o teste de gravidez

—  Ainda não o fiz,mas estou com todos os sintomas. Está feliz?

— Sim –responde Hugo abraçando Lúcia, sem tanta certeza.

***

Dia do jantar de ensaio...

 —  Obrigado por vir, Lizz – agradece Hugo abrindo a porta do apartamento de Lúcia para que Lizz saísse. Ele vira para ela e pede  —  Por favor, não conte à Beatriz que te contratei. Eu não conhecia outra pessoa para fazer esse tipo de serviço para Lúcia e sei que a Bia  entenderá a situação.

 —  Não se preocupe, querido. Seu segredinho está bem guardado – responde Lizz sorrindo, enquanto bate no rosto de Hugo. Ela olha para Lúcia que está encantada com a produção e diz  —  Você tem um excelente gosto para mulheres, beijos.

 Hugo a considera desagradável, pois sempre que ia ao duplex, enchia a cabeça de Beatriz com fofocas. Porém, dessa vez ela o salvou: agora Lúcia estaria à altura de todas as mulheres presentes. Nem bem fecha a porta, Lúcia o abraça, agradecida:

 —  Nossa, eu nunca estive tão linda – comenta  —  Você não acha?

 —  Você está linda sempre – responde Hugo dando um beijo na testa de Lúcia  — Ainda mais agora que está... grávida.

— Pois é – concorda Lúcia admirando sua barriga que mal aparece no vestido — Não vejo a hora do nosso brotinho começar a aparecer.

— Você já fez o teste de gravidez para confirmar? – questiona Hugo.

—Ainda não tive tempo. Mas olhe isso – responde Lúcia pegando a mão de Hugo e colocando sobre sua barriga — Consegue senti-lo?

—  É melhor a gente ir… Ou vamos chegar atrasados – alega Hugo tirando sua mão rapidamente.

 —  Mas ainda são cinco horas! – argumenta Lúcia olhando para o relógio de parede  —  O jantar é só as sete! Vamos mofar lá!

 —  Eu prefiro chegar mais cedo – explica Hugo mexendo os ombros  — Mas se quiser esperar…

 —  Eu já entendi – solta Lúcia, contrariada pegando a bolsa  —  Ela estará lá e não quer que a gente se esbarre, certo?

 —  Sim – confessa Hugo acariciando os braços de Lúcia  —  Não quero um clima chato.

 —  Olha, eu tenho certeza que isso vai acontecer. Vocês são os padrinhos deles. Uma hora terão de se encontrar.

 —  Eu sei, mas vamos evitar por enquanto, está bem?  – explica abrindo a porta.

 —  Tudo bem, amor. Porém, eu quero conhecer todos os seus amigos. – resmunga Lúcia saindo do apartamento.

 —  Como quiser, Lú – concorda Hugo revirando os olhos ao fechar a porta.

Mal sabem à noite que os espera.

***

Hugo está encantado com o jeito comunicativo de Lúcia para com seus colegas de trabalho. Em menos de dez minutos, ela fez com que todos eles caíssem aos seus pés, bem diferente da postura de Beatriz, eles não se sentiam confortáveis com ela, pois é a herdeira do grupo e tinham medo de que sofressem represálias. Sem contar que Lúcia não saiu de perto dele desde que chegaram, diferente de Beatriz que só o encontrava ao final de cada evento. Ela era sempre requisitada pela mãe ou por outra pessoa a conversar com os convidados, e Hugo tem certeza que é isso que ela deve estar fazendo agora. Balança, rapidamente, a cabeça tentando esquecer aquilo tudo e se concentrar na roda de amigos.

Porém, seu coração bate mais forte quando escuta a voz enrolada de Beatriz. Controla-se ao máximo para não a agarrar e levá-la embora. Ele se vira, cumprimenta Beatriz e pede no ouvido de Lúcia que ela não faça nada até ele voltar. Quando finalmente fica sozinho com Beatriz, deixa-a falar, até porque estava morrendo de saudades da sua voz, de vê-la, até mesmo da forma enfurecida que estava naquele momento:

 —  Como se atreve a trazer alguém com você no jantar da minha amiga?  – questiona Beatriz, alterada  —  Minha amiga de infância! Eu esperava qualquer coisa de você, mas isso… É demais.

 —  Eu sinto muito, não queria te machucar dessa forma – responde Hugo, cabisbaixo  —  Mas você precisa entender que acabou…

 —  Eu aceito você de volta. Eu errei também, só não pensei que íamos chegar nesse ponto – confessa Beatriz, triste. Ela então se aproxima, abraçando seu esposo, enquanto implora.  —  Volte para casa, Hugo. Por favor, por nós... Por tudo o que vivemos.

 —  Não posso – sussurra ele.

 —  Por que não? – pergunta escondendo seu rosto no terno de Hugo para esconder as lágrimas que insistem em rolar.

Hugo estremece, tudo o que deseja é poder eternizar aquele momento com o amor da sua vida.Ela estava ali em seus braços, como sonhou todas as noites desde que saiu de casa, seu cheiro tão revigorante, o fazem questionar por que fez tudo aquilo.  Porém, sabe que não seria justo com ela e precisa contar a verdade:

 —  Porque eu serei pai – confessa Hugo fazendo Beatriz se afastar em choque.

***

Nem bem Hugo sai do lobby, já tem certeza que precisa ir embora do jantar. Tenta argumentar com Lúcia, mas ela se recusa a ir embora. Não acha justo, pois eles não tinham feito nada de errado. Ele tenta várias vezes persuadir Lúcia até que Beatriz começa o discurso, o impossibilitando de sair da sua mesa. Quando ela obriga a todos a aplaudir Hugo, algo dentro dele morreu. Ela não tinha o direito de fazer aquilo. Ele se levanta e arrasta Lúcia consigo, sob palmas e gritos negativos em sua direção. Pede ao manobrista que trouxesse seu carro. Assim que entram, Hugo vira para Lúcia e pergunta:

 —  Quer se casar comigo?

 —  Sim – responde Lúcia sem hesitar.

 —  Ótimo, então eu vou acelerar as coisas e vamos fazer tudo de acordo, do noivado ao casamento, está bem? – propõe Hugo  — Quero fazer o que é certo pelo nosso filho... e a nossa família.

 —  Sem dúvida. Eu te amo tanto, Hugo – declara Lúcia o abraçando.

Eu te amo… Beatriz, pensa Hugo.

***

Dez dias antes…

O prazo de Beatriz está correndo, mas não tão rápido quanto à notícia do adultério de Hugo pelos corredores da empresa, tanto que foi chamado ao conselho e avisado que poderia ser afastado, após investigarem sua conduta. Conduta? logo eu que lutei tanto para chegar onde estou? O que foi que eu fiz?

Ele já não suporta o clima dentro da empresa, tenta pedir aos advogados que o ajudassem, mas descobre que eles estão proibidos de fazer tal coisa. Um deles solta que foram ordens da Mari e Hugo sabe que aquele nome significa que foi ordem da Beatriz. O clima só era pior fora, com paparazzis atrás dele o tempo todo, as revistas o chamando de traidor e a cara de Lúcia estampada, como o pivô da separação.

Ele sabe que a única forma de tudo isso se minimizar, é falando com a Beatriz. É o que decide ao ligar para ela. Assim que escuta sua voz, sente saudades, de casa, dos dois, mas tudo muda com as palavras duras dela para ele. Como ela podia ter mudado tanto? Cadê a minha mulher? Ela não é mais esposa dele e ele tem de parar de pensar nela dessa forma. Junta todas as forças que tem  e a ameaça, recebendo em troca o silêncio e desprezo, coisas que mais temiam virem de Beatriz. É o fim, ele está lutando suas próprias batalhas, agora.

***

Hoje

Lúcia começa a se impor, quer que o Hugo entre com o litigioso, logo. Mas ele não quer, tinha colocado um prazo para Beatriz e o cumpre, como de acordo. Pelo menos é assim que seria, se não fosse à visita de Mari no apartamento de Lúcia.

  —  Eu tenho a resposta de Beatriz a respeito do divórcio – começa Mari sentando elegantemente no sofá da sala.  —  Ela dará o divórcio a você.

 —  Graças a Deus! – exclama Lúcia sentando ao lado de Hugo.

  —  Que bom – comenta Hugo nada empolgado. Ele sabe que o momento chegou, mas não sabia que seria assim, frio, distante e com mágoa. No fundo, não esperava que Beatriz fosse ceder tão rápido e sem lutar.

 —  Sim, mas ela dará o divórcio sob suas próprias condições – avisa Mari entregando os papéis para Hugo — Concordamos que é o melhor acordo para a separação de vocês não se tornar…. Tão exposta.

 —  Tudo bem – concorda Lúcia, empolgada olhando para cara emburrada de Hugo que lia o contrato  —  Assina logo, Hugo. Acaba logo com isso!

 —  Não vou assinar – recusa entregando os papéis de volta para Mari. Lúcia o encara surpresa e decepcionada ao mesmo tempo  —  Sem condições, ela quer ficar com 50% de tudo, me oferece 10% das ações que temos juntos e quer que ainda saia do meu cargo. Isso é loucura!

 —  Entenda que está saindo no lucro… – ressalta Mari, friamente  —  Casou sem nada, qualquer coisa é mais do que teria antes.

 —  Vocês estão malucas? EU LUTEI POR AQUELA EMPRESA DURANTE A VIDA TODA! MEU SANGUE ESTÁ LÁ!!  – Urra Hugo se levantando — Isso não é do caráter de Beatriz, isso tem dedo da Miranda no meio, não tem?

 —  Foi um pedido da Beatriz – defende-se Mari.

 —  Para com essa, Mari! Você sabe que a Miranda sempre manipulou a Beatriz!  – grita Hugo, inconformado  —  Quer saber, saia da minha casa! Agora! Eu vou acertar isso com a Beatriz, pessoalmente!

 —  Como quiser – responde Mari guardando os papéis e disfarçando seu nervosismo  —  Espero que entenda que não vai adiantar: Ela não está no país.

  —  Onde ela está?  – pergunta Hugo na porta.

 —  Não tenho autorização para te dizer, sinto muito – responde Mari que sai sem dizer adeus.

Lúcia o olha com raiva, levantando do sofá.

 —  Você ainda a ama?  – pergunta de braços cruzados  —  Quer voltar para ela?

 —  Não é isso, Lú – responde ele com as mãos na cabeça  —  O contrato era injusto demais.

 —  Era só assinar… Você conquista tudo isso de novo. Não se preocupe, não precisamos deles – garante Lúcia abraçando Hugo pelas costas.

 —  Não… Eu não vou. Elas não merecem ficar com o que eu conquistei – diz Hugo se afastando de Lúcia.

 —  Não, você não quer abrir mão dela! Eu vejo isso nos seus olhos, eu vejo isso desde o jantar. Ela ainda está em você. Eu nunca serei páreo para ela – choraminga Lúcia segurando sua barriga —Mesmo com um filho seu em meu ventre.

— Você já fez o teste para confirmar isso? – questiona Hugo mais uma vez, nervoso.

— EU tenho tanta certeza de que estou grávida quanto sei que você ainda ama aquela mulher! – retruca Lúcia, cansada da desconfiança de Hugo.

 —  Quer saber? Chega! Vou sair! – decide Hugo pegando as chaves e batendo forte a porta.

***

 —  Para onde ela foi Leninha?  – pergunta Hugo empurrando a porta do duplex, impedindo a empregada de fechá-la.

 —  Por favor, seu Hugo. A patroa disse para eu não contar a ninguém – implora Leninha, assustada.

 —  Não!  – empurra com mais força, fazendo a empregada ceder e deixá-lo entrar.

 —  Eu não posso contar, seu Hugo – fala mais uma vez Leninha.

  —  Por favor, se tem consideração por mim, me diga. - implora Hugo com a voz embargada, segurando os braços de Leninha.

 —  Ela foi para o Cairo – diz Leninha, amedrontada.

 —  Com quem ela foi? Miranda?  – pergunta Hugo, enlouquecido, chacoalhando a empregada.

 —  Não sei… Não sei… – responde Leninha.

 —  Ela foi com um homem – revela Antônio na porta  —  Mas eu não o conheço, não.

 —  Onde ele mora, você sabe?  – diz Hugo olhando para o motorista.

 —  Em Santa Teresa, mas você não vai encontrar ninguém lá.Eles voltam daqui uns quatro dias, eu acho –responde Antônio  —  O nome dele é Flávio.

Flávio? Repete Hugo em sua mente. Aquele nome, depois de tantos anos aquele fantasma volta a rondar suas vidas.

 —  Obrigado, Antônio – agradece Hugo soltando a Leninha. Ele se vira para o motorista e ordena.  —  Quero  as chaves do carro.

 —  Por quê? – pergunta Antônio  —  A Dona Beatriz não vai gostar disso….

 —  É uma ordem! Fui eu quem comprou e ela não vai ficar com o meu carro. Falou de mim, mas foi com o primo da Sônia viajar. Mentirosa, ardilosa. – então olha para Antônio  —  A Chave, agora!

Antônio entrega a chave e Hugo sai alucinado, dirigindo rapidamente, cortando os carros sem pensar e passando nos sinais vermelhos. Não consegue se concentrar no que está fazendo, nem para onde ia. Só pensa no fato de Beatriz ter ido para o Cairo com o Flávio. Flávio, Flávio sempre comendo pelas beiradas. Não deixou nem meu corpo esfriar.

Um barulho alto de buzina desperta Hugo, o fazendo virar para ver um ônibus que veio a toda em sua porta.

***

 Hoje

O celular de Beatriz desliza pelo seu pescoço até parar na mesa, conduzido por sua mão trêmula. Não consegue acreditar no que Leninha havia dito. Tudo a sua volta está em câmera lenta, até mesmo Flávio que tenta falar com ela. Não! Não!, isso não. Isso não… Ele não… Assim não, pensa Beatriz, atordoada. Seu olhos arregalados de medo seguram lágrimas que, após um tempo, caem incessantes, enquanto seu corpo se estremece.

  —  Beatriz? Tá tudo bem?  – pergunta Flávio, preocupado olhando, para o choque de Beatriz. Ele segura sua mão e aperta — Fala comigo? O que foi?

 —  O Hugo… Ele… Ele… Sofreu um acidente de carro… Um ônibus… O carro… O semáforo estava… – balbucia Beatriz — Ele está… Está… Ele…

 —  Calma – pede Flávio levantando e sentando ao lado de Beatriz. Ele a abraça, passando as mãos em seus cabelos e ela começa a chorar, compulsivamente  —  Estou aqui, estou aqui, vai ficar tudo bem.

 —  Ele teve duas paradas cardíacas… Está sendo encaminhado ao hospital… – consegue pronunciar. Então Beatriz se afasta nervosa  —  Eu preciso voltar… eu preciso…

 —  Tudo bem, nós vamos voltar para o hotel  – concorda Flávio levantando e indo em direção ao capitão do veleiro. Ele fala algo em árabe com o capitão e volta a sentar com Bia  —  Pronto, daqui a pouco estaremos no hotel novamente e poderá descansar.

 —  Eu preciso voltar para o Brasil, Flávio – revela Beatriz o encarando, triste.

 —  Por quê? Por que tem de voltar para lá? O que foi que aconteceu?  – pergunta Flávio, irritado.

 —  O Hugo sofreu um acidente de carro… Não sei como… ele pegou o meu… Mas não importa… O sinal estava vermelho… ele atravessou… Um ônibus bateu nele… Agora ele foi encaminhado para algum lugar que a Leninha não sabe – conta Beatriz tentando não chorar.

 —  Tudo bem, mas que diferença você faz estando lá ou aqui? Eu não consigo entender isso! Ele deve ter alguém a quem recorrer… – comenta Flávio pensando em voz alta.

 —  Ele só tem a mim – responde Beatriz tocando no rosto do Flávio  — Ele precisa de mim…

 —  Não concordo – retruca Flávio, irritado.

 —  Você prometeu antes de chegarmos aqui, que nunca mais ia se intrometer ou falar nada sobre as minhas decisões – recorda Beatriz, séria  —  Espero que cumpra isso agora, não me questionando. EU não conseguiria ficar aqui, me divertindo, passeando, sabendo que em algum hospital, o Hugo está morrendo… Eu não ia ficar com a minha consciência tranquila por saber que a última conversa que tive com ele, fui insensível. Ele me pediu ajuda e eu me neguei.

 —  Tudo bem – murmura Flávio de cabeça baixa  —  Como quiser.

 —  Ei. – chama Beatriz segurando os rosto de Flávio  —  Eu não estou voltando para o Hugo. Eu estou voltando pelo Hugo. Parece estranho, mas eu sei que ele faria isso por mim. A gente passou por muita coisa em dez anos, podemos estar com raiva um do outro, mas esse tipo de coisa… Situação assim… A gente não viraria as costas um para o outro. Eu só quero que entenda que não vou voltar porque o amo, mas porque ele precisa do meu apoio. Ele precisa que eu faça o melhor, para que se recupere, e viva a vida dele e eu a minha. Eu faria isso por você… Mas rezo para nunca precisar.

 —  Tudo bem, Bee – aceita beijando suas mãos.  —  Eu vejo isso agora. Você está mudando.

 —  Confie em mim – pede ela o beijando.

***

Assim que Beatriz entra na suíte, vê que  está repleta de velas e incensos, aromatizando o ambiente, no chão pétalas de rosas indicam o caminho para o quarto de Flávio.

 —  Ignore isso – pede Flávio acendendo a luz da sala, rapidamente  —  Eu vou ligar para o Richard e pedir para ele ir arrumando o jatinho.

 —  Tudo bem – concorda Beatriz indo para o quarto com o celular na mão  —  Vou ligar para a Mari e pegar umas roupas.

No quarto há mais pétalas de rosas, velas e um enorme coração na cama, fazendo Beatriz lembrar que Flávio não havia terminado de falar. Ela gostaria pedir para ele continuar, mas sabe que o clima se foi. Disca o número de Mari e aperta para ligar.

 —  Mari – diz Beatriz após o terceiro toque.

 —  Beatriz, finalmente… Aconteceu algo terrível com o Hugocomeça Mari no telefone.

 —  Eu já sei, faça o seguinte. Descubra onde ele está e dê um jeito de transferi-lo para o Hospital Barra D'Or. Depois ligue para a neurocirurgiã, Renata Buscholinni, para o cirurgião ortopedista, Ricardo Fraga, e para a médica da família, Antonieta, para acompanhar o caso do Hugo. Estou voltando para o Brasil, acredito que até amanhã no fim da tarde eu esteja aí.

 —  Tudo bem… Quanto aos jornalistas? Alguma declaração?– pergunta Mari.

 —  Diga para respeitar esse momento da família –responde Beatriz tirando as roupas do guarda-roupa. O mordomo chega com as malas e começa a ajeitar as roupas dentro delas  —  Quando eu chegar, precisamos conversar sobre os papéis do divórcio, não os recebi ainda no e-mail.

 —  Tudo bem… Aguardo você aqui – afirma Mari, tensa.

 —  Ótimo. Até – finaliza Beatriz desligando o telefone.

 —  Falei com o Richard e já está preparando o jatinho – comenta Flávio entrando no quarto. Ele olha para a cama meio triste e depois para Beatriz que o encara mostrando interesse naquilo  —  Isso era algo para depois do encontro. Mas…

 —  Desculpa – pede Beatriz o abraçando.

 —  Tudo bem – responde Flávio beijando o topo da cabeça de Beatriz  —  Eu pedi para que o meu motorista fosse te buscar, assim evitará que os paparazzis fiquem na sua cola amanhã.

 —  Obrigada – responde Beatriz o apertando.

 —  Tudo pronto, senhora – avisa o mordomo fechando as malas.

 —  Vamos?  – pergunta Bia erguendo a cabeça.

 —  Vamos – responde Flávio respirando fundo.

***

Richard pega as últimas bagagens do porta-malas da Mercedes, deixando Flávio e Beatriz sozinhos perto do carro. O lorde está encostado na porta traseira com as mãos no bolso de seu smoking e Beatriz à sua frente de jaqueta cinza, camisa branca, calça de pano mole preta e sapatilha da mesma cor. Seus cabelos estão soltos, deixando que o vento, os embarace.

 —  Nos vemos daqui dois meses – afirma Beatriz tirando os cabelos do rosto  —  Eu acho….

 —  Sim… Por favor, me ligue assim que chegar e me mantenha informado de tudo – pede Flávio segurando na cintura de Bee, fazendo com que ela se aproxime—  Darei um jeito de ir o quanto antes.

 —  Tudo bem, mas vai dar tudo certo – diz tocando no peitoral de Flávio. Ela sorri e diz  —  E é capaz de eu ir para Dubai, encontrar você.

 —  Espero que sim – diz Flávio encostando sua testa na de Beatriz. Ele segura a cabeça de Bia e acaricia  —  Eu vou sentir sua falta.

 —  Eu também – sussurra Bia olhando o rosto triste de Flávio —  Vai passar rápido.

 —  Sei que prometi não dizer nada, mas tenho que te pedir: Não ceda. Não deixe que manipulem você, ou que a rebaixem muito menos que a humilhem. Não deixe ninguém te influenciar. Siga seus instintos e o que acredita ser o melhor. Pense em você – implora Flávio entre os beijos  —  E se ficar difícil, quase impossível de suportar, me ligue que eu irei até você o mais rápido que conseguir.

 —  Eu sei… – responde Beatriz beijando os lábios de Flávio. Ela o abraça e sussurra em seu ouvido  —  Obrigada… Por tudo – afasta a cabeça e toca no rosto sofrido dele  —  Agora eu vou lutar as minhas próprias batalhas e tomar as rédeas da minha vida.

Ela se afasta lentamente, deixando por último as mãos se soltarem, dá um sorriso entre as lágrimas e se vira para entrar no avião. No último degrau da escada se vira e dá um adeus com a mão.

 —  Eu te amo! – grita Flávio. Ele corre em direção à escada e se declara  —  Eu amo você, Bee. Não se esqueça disso.

 —  Não irei. –responde Beatriz sorrindo e limpando o rosto.

Ela entra no avião, senta e fecha os olhos. Sabe que dali para frente precisa tomar sábias decisões, até mesmo aquela que mudará o seu futuro.


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