A Chance escrita por Pauliny Nunes


Capítulo 15
Capítulo 14




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Flávio entra na sacada da suíte e dá um beijo na testa de Beatriz que está sentada, pesquisando sobre decoração de interiores.

 —  Interessante – comenta  entregando um copo de suco de morango para Beatriz  —  Está considerando fazer o curso?

 —  Sim… Para ser decoradora só preciso fazer um curso de seis meses – responde Beatriz, empolgada, apontando a tela do computador  —  Porém, posso fazer um curso superior e ser tecnóloga em design de interiores. E quem sabe posso até abrir uma empresa na área.

 —  Eu adoro ver você assim – elogia Flávio sentado na outra cadeira  —  Empolgada, focada, feliz… Nossa, você fica tão sexy!

 —  Nossa! Obrigada, mas espero que não esteja me sacaneando – diz ela olhando para o computador  —  Eu realmente quero fazer algo da minha vida.

 —  Fico feliz em escutar isso – diz Flávio beijando a mão de Beatriz  —  Eu tenho uma coisa não muito boa para lhe falar: Hoje não vamos ficar juntos. Infelizmente não poderei almoçar com você e acho que nem jantar.

 —  Por quê? – pergunta Beatriz, chateada  —  Achei que iríamos hoje visitar as pirâmides de Gizé.

 —  Teremos de remarcar esse passeio, minha senhora– responde Flávio então abre um sorriso, deixando a expressão de Beatriz confusa  —  A notícia boa é que Ramsés disse que a peça chegou à loja de Zaid e ele quer que eu seja o primeiro a dar uma oferta por ela. Porém, a estátua está em Mufasa, uma cidade litorânea do Egito. Eu queria que fosse comigo, mas Zaid é muito conservador e não quero estragar a negociação. Tudo bem para você?

 —  Tudo bem – responde Beatriz, triste  —  Eu vou ficar no hotel, passear por aqui mesmo…

 —  Ei – diz Flávio tocando queixo de Bia — Teremun ficará aí, caso precise de algo. E  farei de tudo para chegar logo, prometo.

 —  Tudo bem. Boa viagem – responde Beatriz com sorriso fraco.

 — Eu adoro você, Bee. Cada vez mais , minha senhora – confessa Flávio beijando os lábios de Beatriz. Ele acaricia seu rosto e encosta sua testa  — Vou me arrumar agora.

 —  Tudo bem – responde Beatriz, mordendo os lábios, segurando suas palavras. Ainda não é o momento, apesar de notar que é isso que Flávio está esperando enquanto a observa em silêncio.

 —  Certo. Até mais tarde – despede-se  com a expressão chateada. Levanta da cadeira, solta lentamente o queixo de Beatriz e entra para o quarto.

Eu também te adoro, pensa Beatriz olhando para a porta.

***

Beatriz já tinha lido todo o livro de K. Kings, organizado suas roupas, conferido seus e-mails, passeado pelo hotel, almoçado em um dos restaurantes e o relógio ainda marcava duas da tarde. O que está acontecendo comigo? Por que as horas não passam? Será que está tudo correndo bem? Que horas ele vai chegar? pensa Beatriz olhando para o Nilo.

 —  Sra. Wilkinson, telefone para senhora – avisa o mordomo interrompendo os pensamentos de Bia.

 —  Obrigada – agradece Beatriz. Como ela tem certeza que é o Flávio ligando para saber como ela está, atende em português.  —  Oi!

 —  Olá… Falo com Beatriz?

 —  Sou eu, quem gostaria? – pergunta Beatriz sem reconhecer a voz.

 —  É a Socorro, nos conhecemos na loja de meu marido, Ramsés – diz a voz feminina se identificando.

 —  Oi, como está? – pergunta Beatriz, surpresa com a ligação.

 —  Estou bem, e você? – pergunta Socorro.

 —  Bem, olha o Flávio não está agora. Se quiser deixar recado, prometo que repasso  - garante Beatriz.

 —  Eu sei que ele não está… Eu quero falar com você. Podemos nos encontrar em algum lugar hoje? – pergunta Socorro  —  Precisamos conversar.

 —  Claro. Quer vir aqui ao hotel? – propõe Beatriz.

 —  Não, aí não. Eu tenho um lugar já, bem tranquilo. Quer anotar? – pergunta Socorro.

 —  Tudo bem, vou pegar meu tablet – responde Beatriz ligando o tablet  —  Pode falar.

 —  É o Nagda Khalil, um famoso bar café aqui do mercado. Com certeza seu motorista saberá onde fica – explica Socorro  —  Espero você lá daqui meia hora, tudo bem?

 —  Tudo bem – concorda Beatriz sem obter um adeus. O que  será que ela quer comigo?  

***

 Socorro bebe tranquilamente seu Kahua11, vestindo uma bela túnica vermelha com detalhes florais, calça branca, seus cabelos loiros esvoaçam para cima de seus óculos de sol. Seus braços cheios de pulseiras de ouro dão um toque a mais em seu estilo e a deixa com ar de superioridade que intimida Beatriz que usa um macacão de pano mole verde-oliva com sandálias baixas nude e os cabelos em coque alto.

 —  Espero que esteja gostando do Kahua – comenta Socorro colocando o dela na mesa.

 —  Muito bom – responde Beatriz. O sabor do café é intenso e tem um aroma ímpar  —  Sinto cardamomo.

 —  Sim, tem cardamomo – confirma Socorro sorrindo, enigmática.  — Você deve imaginar o motivo de eu ter lhe chamado.

 — Tenho certeza que não foi para tomarmos café – alfineta Beatriz acidamente.

 —  Não, não foi. Precisamos terminar a nossa conversa do outro dia. Deixei você com algumas coisas em aberto – recorda ainda sorrindo. Por algum motivo o sorriso de Socorro irrita Beatriz.

 —  Sim.

 —  Eu conheço Flávio há muitos anos, como sabe. O que não sabe é que eu namorei com ele durante cinco anos e foi assim que  descobri a sua existência – revela Socorro com a expressão entristecida  —  Eu disputei com você em cada um daqueles anos, mas nunca fui páreo para sua imagem diante de Flávio. Você não tem ideia do quanto era difícil estar com ele, sabendo que jamais seria vista como deveria. Eu achei que estava ganhando a batalha, quando boatos sobre uma crise em seu casamento começaram a surgir. Ele terminou comigo, mantendo apenas o profissional. Então, depois de um ano ele me convidou para vir ao Cairo e eu conheci Ramsés.

 —  Eu sinto muito – pede Beatriz sem entender aonde ela quer chegar.

 —  Não sinta. Meu relacionamento com Ramsés estava escrito no livro da vida e nada mudaria isso. Assim como o amor de Flávio por você – diz Socorro. Ela se encosta em sua cadeira e então diz  —  Mas não sei se ele pode confiar em você.

 —  O que quer dizer com isso? – pergunta Beatriz arqueando a sobrancelha.

 —  Olha, uma Fauzia – diz Socorro desviando o assunto — Elas são leitoras de borra de café, descobrem tudo sobre o passado, presente e futuro –chama atenção da mulher vestida com roupas islâmicas  —  Vai adorar a experiência.

 A mulher se senta à mesa e pega o copo de Socorro, fala algo em árabe que faz a loira sorrir. Depois Socorro diz algo para a Fauzia que olha para Beatriz sorrindo.

 —  Ela vai ler a sua borra agora – explica Socorro  —  Entregue para ela.

 Assim que a mulher segura o copo de Beatriz se assusta, diz algo em árabe rapidamente com Socorro que acena com a cabeça, então a Fauzia vira para Beatriz e diz em inglês com sotaque árabe carregado:

 —  Sua vida está em conflito… ciclo se fechando… ciclo se abrindo… dois homens… uma escolha… uma chance… – revela a mulher girando o copo  —  Você terá que fazer uma escolha, mas para isso terá de sacrificar algo que ama muito… sacrificando isso terá a chance de ter o que deseja.

 —  O que eu desejo? – pergunta Beatriz, curiosa olhando para a borra  — Aparece aí?

 —  Felicidade – responde a mulher  —  Mas para isso terá sacrifícios, choro, tristeza, verdades e feridas sendo abertas. Você terá de lutar por isso e estar pronta para o que vem por ai… muito em breve o destino a colocará para tomar essa escolha.

 —  Qual escolha? – pergunta Beatriz. A mulher recebe algumas notas de Socorro e se afasta sem responder.

 —  Não é bom ficar sabendo tanto sobre o futuro, Beatriz – repreende Socorro  —  Onde estávamos?

 —  Na parte onde você me dizia o que quer de mim – relembra Beatriz, séria.

—  Quero que se afaste do Flávio.– confessa Socorro, ácida  — Não confio em você, Beatriz. Eu sinto que a qualquer momento você vai deixá-lo as traças. Acho você fraca e não merece o amor que ele tem por você. Quero que deixe-o ser feliz. Deixe-o abrir o coração para outra pessoa. Eu sei que você não o ama, nunca vai amá-lo à altura e vai fazê-lo sofrer. Então faça um favor aos dois, deixe que ele siga a vida, sem você.

 —  Como se atreve a dizer essas coisas? – questiona Beatriz erguendo a voz para Socorro  —  Acha mesmo que me conhece? Como acha que tem direito de me ofender e dizer essas coisas? Eu não pedi para ele se apaixonar por mim. Ele é livre para fazer o que quiser. E tem mais, somos adultos e responsáveis por nossos atos. Eu sei o que sinto por ele e você não é ninguém para se atrever a falar do que não sabe! Se eu e ele vamos ficar juntos é problema nosso, se não, continua sendo problema nosso. Eu lamento que ele nunca chegou a gostar de você, mas não tem o direito de se intrometer em nossas vidas.

 —  Olha… Você quase me enganou, mas eu me lembro de quando chegou com a aliança do ex no dedo – despeja Socorro, irônica  —  Eu espero que saiba o que está fazendo. Você acha que pode brincar com os sentimentos dele e sair impune? Eu farei questão, caso isso ocorra, de fazê-lo esquecer de você e te odiar. Esteja avisada.

 —  Já que é a hora da ameaça – começa Beatriz se levantando  —  Dá próxima vez que você ousar a falar meu nome ou o dele... Ousar a dizer algo para ele que eu não o mereço: O Egito será pouco para nós duas. Você  não me conhece e não sabe do que sou capaz quando alguém entra em meu caminho. Passar bem!

 Antes que Socorro possa argumentar, Beatriz já está pisando duro em direção ao seu carro.

***

 A luz da cabeceira é a única coisa que ilumina o quarto de Flávio, onde Beatriz está deitada na cama, pensativa. Não conseguiu nem jantar, pensando na tarde que teve no mercado. Pensa nas palavras da Fauzia e nas de Socorro. O que eu tenho de escolher? O que eu tenho de sacrificar? Está tão perto de eu tomar uma decisão? Que decisão? Eu busco a felicidade, mas terei de pagar um preço… Será que envolve Flávio? Será que eu o perco? Eu não quero perdê-lo… Não posso. Mas ela disse dois homens… O outro só pode ser o Hugo. Como ele entra nisso tudo? E o que a Socorro disse? Será que eu não mereço o Flávio? Será que eu sou fraca?

 —  Oi – diz Flávio parado na porta. Ele vem até a cama nu e deita abraçando Beatriz  —  Achei que já estava dormindo.

 —  Não consigo dormir – responde Beatriz virando para ele  —  Como foi hoje?

 —  Tudo certo. Tenho que pegar a peça amanhã. Então não poderei almoçar com você amanhã, tudo bem? – pergunta ele acariciando o rosto de Bia.

 —  Claro – sussurra ela.

 —  Eu senti sua falta – confessa Flávio afundando o rosto no pescoço de Beatriz.

 —  Eu também senti a sua – sussurra ela quase chorando. Será que eu o mereço? E se… Se o meu sacrifício for ele?

 Flávio levanta sua cabeça e beija Beatriz, apaixonado. Gira o corpo ficando em cima dela. Com uma das mãos segura à mão de Beatriz e com a outra tira sua calcinha, entrando sem hesitar. Ele se movimenta calmamente olhando para o rosto de Beatriz:

 — Eu sou completamente apaixonado por você, Bee – declara ele a beijando ardentemente.

  —  Eu estou com medo… – diz  chorando entre os beijos de Flávio  —  Eu não quero te decepcionar. Mas não sei se devo te dar esperança….

 —  Shhhh… – beijando as lágrimas de Beatriz enquanto a amava —  Eu sempre estarei aqui por você…Eu sou seu, minha senhora… Nunca se esqueça disso… Nunca. Não importa o que aconteça… Eu estarei aqui por você.

 

 


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Notas finais do capítulo

11    Café Egípcio.



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