Fotografia escrita por Ishikyo


Capítulo 1
I




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O céu azul estava emoldurado por aquela paisagem alaranjada de outono. Shura, como um bom fotografo artístico, sabia aproveitar bem essas situações de mudanças de estações para tirar fotos a fim de por elas em seu portfólio online. Um blog de fotografia parecia muito cafona, mas era algo que o capricorniano mantinha com muito carinho.

Era uma manhã de domingo e, por não ter nada melhor para fazer em casa, achou que seria uma boa tirar o dia para fotografar a cidade. Vestiu um casaco preto e pôs seu cachecol verde da sorte, antes de sair pela rua carregando uma grande bolsa cheia de lentes e filtros. Pressentia que aquele seria um bom dia!

Dentre varias opções de paisagens como cafeteiras, avenidas comerciais e praças, acabou preferindo tirar fotos no pequeno parque que ficava no centro da cidade.

Estava focando a lente quando por acaso, focalizou em um homem de cabelos brancos que fumava sentado em um dos bancos. O enquadramento tinha ficado perfeito, a iluminação também e no final das contas, nem precisou de filtro para deixar aquela foto mais bonita. Estava perfeita. E por isso não se conteve em apertar o botão de disparo da câmera.

Shura ainda ficou alguns instantes admirando aquela cena, antes do homem jogar o cigarro fora e se levantar para ir embora. Deu dois passos para frente antes de se conter em segui-lo. Afinal, porque iria segui-lo?

Nesse instante, o outro confirmou a suspeita de que estava sendo observado durante aquele tempo todo. Chegou a virar-se na direção do capricorniano, mas simplesmente deu de ombros e foi embora.

...

Passou-se um mês desde então. Shura arrumou um emprego em um estúdio de fotografia renomado e desde então vivia correndo de um lado para o outro com o objetivo de tirar fotos de modelos para revistas, propagandas e afins. Naquele momento, tinha que correr para o estúdio para tirar uma série de fotos para uma nova coleção de jeans de uma loja internacional.

E se não bastasse estar atrasado, não achava o maldito celular que tocava sem parar no meio de toda aquela bagunça.

— Era só o que me faltava!

Disse para si mesmo já sem paciência alguma com aquela situação. Em uma medida desesperada de achar o aparelho, acabou jogando para o lado um pilha de papéis sobre a mesa. Achou o maldito barulhento, mas agora tinha que catar toda aquela papelada o mais rápido o possível.

Era um amigo seu, Afrodite, que era modelo e iria trabalhar naquela sessão de fotos.

— Enrola os caras mais um pouco aqui que eu já estou indo! Só estou arrumando umas coisas, mas já vou! - falou enquanto jogava as folhas sobre a mesa - estão impacientes? Ah! Droga! Vou desligar, se não só vou acabar me atrasando mais!

Pôs o celular no bolso e se agachou para pegar algumas fotografias que caíram no chão. Mesmo estando com pressa, não resistiu em olhar algumas delas. Havia tirado aquelas fotos no mês anterior, mas acabou só revelando elas um dia antes.

Percebeu que a foto daquele homem no parque estava entre elas... Era uma fotografia tão bonita... De um homem tão bonito... Arrependia-se de não ter ido falar com ele, mas aquele momento já tinha passado, foi uma chance perdida.

Por impulso, guardou a foto dentro da bolsa antes de pegar ela e sair correndo para o trabalho.

Naquele dia, porém, o italiano não aguentava mais ficar só de jeans naquela sala gelada pelo ar-condicionado com um bando de caras que não conhecia, todos muito gostosos, mas também uns idiotas insuportáveis. Onde o maldito fotografo estava?

Se Deathmask tivesse outra escolha de emprego, provavelmente não estaria ali. Tinha sido demitido a algum tempo e um de seus amigos, Aftodite, perguntou para ele se não estava a fim de trabalhar na mesma agência que ele. Sinceramente, aquilo parecia mais uma tramoia do pisciano, ele sempre arrumava um jeito de aprontar com o canceriano, dizendo que já passava da hora dele arrumar uma namorado ao invés de dar em cima de qualquer um por ai. Recusaria o convite de emprego, mas como não tinha outra opção, topou ser modelo masculino.

Estava sentado em um sofá, esperando o tempo passar quando o agente deles os chamou. Ótimo, o maldito do fotografo havia finalmente chegado.

Shura arrumou rapidamente todo o equipamento, já estava muito atrasado e não queria enrolar o ensaio mais ainda. Mal tinha montado o tripé e os modelos entraram na sala. Estava montando a câmera quando viu o homem de cabelos grisalhos. Com a surpresa ao vê-lo, quase derrubou a lente que estava colocando.

— Ei Shu, você está bem? - Afrodite perguntou ao ver a reação do espanhol.

— Estou... É só que...

Os olhos mantinham-se vidrados naquela pessoa. Afrodite virou-se para ver o motivo de Shura estar todo bobo daquele jeito, rindo ao entender o porquê.

— Ah, aquele é um amigo meu! Depois dessa sessão eu te apresento ele - o pisciano piscou para o outro.

— O que?! Não Afrodite! Não comece com essas bobagens. Você sabe que eu...!

Foi interrompido por alguém gritando do outro lado.

— Ei! Vão ficar de conversinha fiada? Já não acha que atrasou essa merda o suficiente? – era o canceriano, que ao ver quem era o fotografo acabou abaixando o tom de voz.

Já o tinha visto antes.

O capricorniano engoliu um seco, era verdade, tinha atrasado demais. Dispensou o sueco e foi logo posicionar a câmera no tripé. E só ele sabia o esforço que estava fazendo para se focar no trabalho toda vez que tinha que fotografar o amigo de Afrodite.

Mas que merda estava passando por sua cabeça... Shura nunca tinha ficado daquele jeito.

Depois da sessão de fotos, o capricorniano se despediu de todos e pediu desculpas novamente pelo atraso. Já estava prestes a sair correndo dali, ainda morrendo de vergonha dos olhares tortos quando alguém o puxou pelo braço.

Acabou que foi prensado contra a parede do corredor que dava para a saída do estúdio, o responsável por isso foi o italiano, ainda vestindo apenas o jeans.

— Ei, percebi que estava me observando durante o ensaio - disse sério antes de um sorriso se desenhar em seus lábios - gosta do que vê?

Nunca viu alguém corar tão rápido, o que fez o canceriano deixar escapara uma risada.

— N-não é isso, é só que...

— Você me lembra alguém... já te vi antes.

— Isso! Não, espere, o que?

Deathmask piscou algumas vezes, confuso, antes de continuar a falar.

— Você é uma figura mesmo. Chega atrasado, fica me observando durante o ensaio e agora isso... O que você quer comigo?

Shura engoliu um seco, sentiu as bochechas esquentarem devido a curta distância entre os dois. Era possível sentir a respiração e o hálito de tabaco vindo do outro homem.

Tentou formular uma resposta quando lembrou da foto na bolsa. Pôs a mão no peito do outro e o empurrou para ganhar um pouco de distância

— Eu não sei bem, é só que... Eu tenho uma foto sua.

O outro arqueou uma sobrancelha, dando espaço para que Shura pegasse a fotografia.

— Tirei por... Acidente... Mas ficou tão boa que acabei guardado... - comentou, enquanto o próprio espanhol admirava a fotografia - você ficou muito bem nela. Mas não esperava ver você de novo, pelo visto me enganei.

O italiano tomou o papel das mãos do outro analisando o conteúdo. Murmurou um "sabia que tinha alguém lá" antes de se dirigir ao outro.

— Sério? Guardou uma foto minha por todo esse tempo? Você é um cara estranho - comentou, com os olhos ainda fixos na foto, mas logo sorrindo de lado para o espanhol - não sabia que eu tinha um admirador.

Devolveu a foto, mas assim que o capricorniano a guardou, o canceriano prensou o outro contra a parede novamente.

— Até que gostei de você.

Sentiu seu queixo ser segurado pelo homem de cabelos grisalhos e seu rosto levantado até que seus olhos se encontrassem. O moreno sentiu suas bochechas queimarem ainda mais quando viu aqueles olhos vermelhos, brilhantes e cheios de segundas intenções.

Prezava seu espaço pessoal, mas aquele homem o tinha invadido sem mais nem menos. Engoliu um seco, sem ter como desviar do olhar do modelo. Seus rostos estavam a centímetros de distância.

— Pensando bem, você é um stalker bonitinho - riu acariciando o queixo do outro com o polegar.

— O-o que pensa que esta fazendo!?

Não tinha forças para empurrar o outro e suas mãos tremulas não ajudavam. Mask deu uma rouca e curta risada, falando em um tom atraente aos ouvidos do fotografo.

— O que acha de sairmos para dar uma volta agora? Hm? Para nos conhecermos melhor...

Queria recusar, mas para cada segundo que Shura enrolava para dar uma resposta, Deathmask parecia insistir ainda mais com seu olhar. No final das contas o capricorniano aceitou.

— Ótimo, me espere aqui que vou por uma camisa – se afastou em direção ao vestuário, parando por um instante e se virando para Shura - a não ser que você não queira - riu.

Assim que o modelo saiu de vista, Shura escorregou na parede e sentou-se no chão, tentando processar o que tinha acabado de acontecer. Seu coração batia mais rápido e parecia que o ar lhe faltava. Quase que perdeu por um instante sua postura de capricorniano para umas simples provocações. Não era qualquer um que conseguia fazer isso.

Outra coisa, tinha sido uma coincidência que Deathmask fosse conhecido de Afrodite... Quem diria... E foi só pensar no pisciano que ele apareceu.

— Parece que não precisei apresenta-los, ein? Mask é rápido no gatilho - riu.

— Não me venha com essas gracinhas... Mask?

— O nome dele é Deathmask. Bem, na verdade não é, mas todos o conhecem assim, eu o chamo de Mask, soa melhor - Afrodite se abaixou para sentar ao lado do amigo - o que achou dele? Você parecia bem interessado no siri - sorriu.

— Vocês dois estão entendendo tudo errado! Tudo isso é só por causa de uma foto...

— Você tem uma foto dele!? Puxa, não pensei que você era desse tipo Shura - riu de deboche.

— Engraçadinho... - suspirou - graças a isso ele entendeu tudo errado e agora meio que me convenceu a sair com ele e...

— Nossa, mas que rápidos! Mal se conheceram e já vão sair juntos! Hm... Conhecendo aquele siri... Já sei até aonde isso vai dar! – gargalhou.

Nessa hora o terceiro voltou, desta vez completamente vestido. Afrodite se levantou em um salto e sorriu para ambos, mudando de assunto.

— Ah, prometi que iria apresenta-los, mas nem fiz isso! Mask este é o Shura, Shu este é o Deathmask -Deu uns tapinhas no ombro do italiano e um "joinha" para o espanhol - bem, não quero atrapalhar o passeio de vocês, divirtam-se!

E saiu. Mask arqueou uma sobrancelha para o outro no chão.

— Por que você está ai...? Bem, não importa. Vamos indo? - sorriu.

Concordou com a cabeça e se levantou do chão, acompanhando o outro para fora do prédio. O canceriano disse que iria levar o outro para comer alguma coisa. Em todo o caminho fez questão de ficar o mais próximo possível do acompanhante, que tentava escapar da aproximação por estar morrendo de vergonha daquela situação. Não era todo dia que um cara bonito simplesmente o chamava para sair. Era bom demais para ser verdade.

Caminharam juntos pela rua comercial onde ficava o estúdio até uma cafeteria ali perto, onde Mask fez questão de pagar pela comida de para Shura. O capricorniano tentou recusar a cortesia, mas com aquele jeitinho dele, Mask conseguia convencer o outro.

Conversaram por uma hora mais ou menos, em meio a cantadas do canceriano e outras brincadeiras desse tipo. Provavelmente o rosto de Shura denunciava que ele estava mentindo toda vez que rejeitava o outro, afinal, para estar vermelho daquele jeito, não tinha como não estar caindo nos gracejos do italiano. O tempo foi passando até chegarem à conclusão que já estava na hora de irem embora. Porém, o modelo ofereceu parar acompanhar o fotografo até a casa dele. Mais uma vez uma disputas de “não” e “sim” começou. E quem venceu? O italiano, é claro.

— Quanta gentileza sua... - disse o espanhol, não muito convencido da bondade do outro.

— Ora, dizem que se você quer conquistar alguém ou você deve ser muito bom com cantadas ou muito gentil. E você pareceu bem lerdo a ponto de não pegar minhas cantadas.

E Shura corou de novo, ficando calado por alguns minutos antes de parar de caminhar e finalmente abrir a boca. Mask que estava afrente, se virou na direção do outro.

— Estava me cantando durante esse tempo todo?

— Só você não percebeu, é um lerdo mesmo.

Mais alguns minutos de silêncio. Parte dele estava relativamente ofendido com a naturalidade daquela afirmação. Por acaso o siri pensava que ele era tão fácil assim? Por outro lado, a outra parte resistia para não ir "na onda" do outro.

— Se pensa que vou cair nas suas cantadas ou "gentilezas" - fez questão de fazer as aspas com as mãos - está enganado.

Deathmask fez cara de desentendido e assistiu ao outro passar na sua frente dizendo que não queria mais a companhia dele. Riu daquela cena, até parece que deixaria ir sem mais nem menos, nunca deixava.

— Aonde pensa que vai? - riu e puxou o outro pelo braço, o fazendo perder o equilíbrio e cair em cima do canceriano, que o segurou pela cintura - ninguém me dispensa assim.

O moreno estava surpreso demais com a reação do outro que nem teve tempo de raciocinar quando sentiu os lábios dele nos seus. Shura não entendia como havia acabado naquela situação... Estava tão confuso que acabou demorando em quebrar o toque entre os dois. O beijo foi mais demorado do que esperado pelo canceriano, o que arrancou um largo sorriso dele.

— Gostou disso, né? Sei que gostou

— C-cale a boca...! – empurrou o canceriano com ambas as mãos até se soltar.

Mask suspirou, encurtando a distância novamente entre ele e o outro. Segurou o rosto dele, falando com um sussurro no ouvido de Shura.

— Parece que você é do tipo que gosta quando as coisas vão devagar, né? Não tem problema, eu espero - se afastou novamente - você parece ser um cara interessante, do tipo que vale a pena esperar. E outra, não sou do tipo que faço uma aposta em alguém e saio de mãos vazias – sorriu de lado.

Deu meia volta e começou a ir em direção de sua casa, assobiando. Mais uma vez, Shura resistiu em segui-lo. Mais uma vez, viu Mask ir embora. E mais uma vez se arrependeu de sua decisão estúpida.


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