E se...? escrita por Nicoly Faustino


Capítulo 4
Capítulo 3




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Durante o jantar, combinei com minha mãe de irmos no dia seguinte depois que eu saísse da escola, comprar um celular. Nem perguntei, porque meu pai estava em casa hoje à tarde ao invés de estar na casa de Bob, seu amigo desde sempre onde todo o domingo se reúnem com outros amigos para jogar Poker. Talvez tenha sido uma coincidência. Comi bem pouco e subi para o meu quarto, pensando em como seria o dia de amanhã. Mais tarde sentirei fome, e me arrependerei de não ter comido tudo. Ainda mais sendo lasanha, minha comida preferida. Levantei e abri a janela do quarto, olhando para rua, imaginando onde Jack estaria àquela hora. Na escola, eu iria colocar Jessy contra a parede, pois não foi certo o que ela fez. E mais tarde juntaria toda minha coragem e ligaria para Jack. Mas o que eu falaria? Peguei papel e caneta, para anotar o que seria nossa possível conversa. Ele me chamaria para sair, eu diria que achava melhor ficarmos na amizade, que eu estava focada nos estudos, e não queria namorar nem ficar saindo com ninguém. Então eu iria desligar o telefone, e esquecer de uma vez esse tal de Jack Lanster de cabelos castanhos claros, olhos violeta e sorriso encantador.

Acordei cedo, tomei um bom banho, coloquei o uniforme horrível da escola, que era uma calça preta, um pouco justa, camiseta branca e agasalho de moletom preto. Meu pai estava me esperando na cozinha, enquanto minha mãe fazia um pouco de café. Era incrível como eles se combinavam. Por mais que minha mãe tenha sido uma burguesinha quando nova, se apaixonou por meu pai, que aparentemente não valia nada, e ficava na rua até altas horas bebendo e fumando sabe-se o que. Quando eles se conheceram em um pub, disseram que foi amor à primeira vista, e desde aquele dia nunca mais se separaram. Quero ter um amor assim um dia. Tomamos café, e meu pai me deixou na escola, antes de ir para o seu trabalho. Ele é contador num escritório no centro. Minha mãe, é administradora na biblioteca municipal. Conheci Jessy por minha mãe e a dela trabalharem juntas. Mas desde que minha mãe foi promovida, Margareth, nunca mais apareceu lá em casa. Sorte que isso não afetou meu relacionamento com Jessy.

Cheguei na escola, e dei de cara com Jessy. Parecia que ela estava me esperando.

– Oi – disse, me sentindo desconfortável, como se tivesse feito algo errado.

– Oi. Jack me ligou ontem. Contou que conheceu seus pais, e tudo o mais.

O tom de voz dela, jorrava amargura.

– Sim, é verdade. Mas não é sobre isso que eu quero falar. Jack me contou, que vocês não estão namorando. Por que mentiu para mim Jessy?

– Você prefere acreditar nesse garoto? – Seus olhos estavam semicerrados, ela me encarava, com desafio.

– Ele me pareceu bem sincero.

– Está certo Emilly Foster. Eu menti, satisfeita? Sabe por que? Quer mesmo saber? Eu sabia que Jack, não era como esses garotos daqui, por quem você nunca se interessou. E talvez, se você achasse que ele estava comigo, não iria jogar seu charme sobre ele. Eu teria alguma chance.

– Do que você está falando? – Eu estava gritando, todos olhando para nós. – Jogar meu charme? Você viu que eu não fiz nada. E ele não está interessado em mim. Só é maluco. Quem toma banho na casa de estranhos?

Jessy arregalou os olhos.

– Isso ele não me contou. Vocês se deram super bem pelo jeito né. É bom saber que minha melhor amiga que pegar o único garoto que eu já me interessei de verdade um dia.

Seus olhos estavam cheios de lágrimas. Os meus também.

– Acorde Jessy. Você sabe que não quero ninguém. Você é minha melhor amiga. Nunca perderia sua amizade por causa de um garoto.

Abracei-a, e notei que a palavra nunca, é muito forte para ser usada. Ainda mais nessas ocasiões, onde você sabe que não está no controle dos próprios sentimentos.

– Você jura, que não vai dar em cima do Jack? Você poderia até me ajudar a conquista-lo. Você faria isso por mim? – Ela suplicou.

– É claro. Amigas são para essas coisas, certo?

Seguimos no corredor até a sala de aula, de braços dados, e eu já arrependida pela promessa que havia feito.

Durante as aulas, não consegui prestar atenção em nada. Uma agonia enorme pairava sobre mim. Tudo o que eu mais desejava era ouvir o sinal tocar, ver minha mãe me esperando do lado de fora, e comprar um celular para falar com Jack. Mesmo que o nosso assunto, girasse em torno de Jessy, e de como ele deveria dar uma chance a ela. Quando finalmente saí, deixei Jessy falando sozinha e corri para o carro da minha mãe. Sempre achei esse carro horrível, um Renault prata minúsculo. Mas hoje me senti tão feliz ao vê-lo em frente à escola, que podia beijar o carro todo.

– Querida, temos que ser rápidas, preciso voltar a biblioteca em meia hora – minha mãe avisa.

– Está ótimo – respondi. O sorriso em meus lábios deixava claro, o quanto estava ótimo.

Meia hora depois, eu estava em casa, sozinha, com um celular novo na mão e um número na cabeça. Debruçada na janela do meu quarto disquei tremendo os números que Jack me disse, e fiquei escutando o telefone chamar, até que uma voz, aquela voz, penetrou meus ouvidos.

– Alô!

– É, oi. É a Emilly – digo rapidamente.

Silencio do outro lado.

– Emilly? Que Emilly?

– É, como assim, ontem, você que pediu – eu estava gaguejando, suando, sem saber o que responder. Joguei fora o papel de minha mão que estava anotado o que seria nossa possível conversa. – É o Jack?

– Sim. Ah, me lembrei de você! Emilly Lankhorte. Como você está? – ele perguntou animadamente.

Eu estava com lágrimas nos olhos, uma vergonha imensa.

– Não. Não sou Emilly Lankhorte. Na verdade liguei errado, desculpe incomodar – falei com a voz embargada.

Já estava desligando o celular, quando escuto uma gargalhada.

– Emilly Foster – ele diz, recuperando o folego. – Acha que um dia esquecerei você?

– Mas... Mas... Como você pode ser tão idiota? – pergunto ainda mais envergonhada. E irritada.

– Foi só uma brincadeirinha. Não me leve a mal – ele diz, ainda rindo um pouco.

– Certo. Mas fique claro que não gosto de todas as brincadeirinhas do mundo. O que você quer, porque pediu para eu te ligar? – digo, séria.

– Bom, só queria ver que dia poderia passar ai, para pegar as minhas roupas que sua mãe gentilmente se ofereceu para lavar.

Ah, era só isso? Eu passe a noite quase sem dormir, por isso?

– Venha quando quiser, menos na parte da manhã, que não tem ninguém em casa.

Tu...tu...tu...

Olhei para o celular, e estava escrito bem grande na tela CHAMADA ENCERRADA.
Não entendi muito bem o que aconteceu. Era isso mesmo? Ele havia desligado o telefone na minha cara, depois dessa brincadeira idiota? Me joguei na cama, me esforçando para não chorar. E para não rir também, pois tenho que admitir, que foi uma brincadeira engraçada, e que eu caí como uma tola. Escuto batidas na porta. Não quero atender ninguém, muito menos o velho carteiro que não pode me ver, que fica se lamentando de como seu joelho dói. No começo sentia pena, mas depois de anos, a mesma reclamação, dá uma certa raiva. Arranje outro emprego, caramba. Batidas na porta mais uma vez. Desci as escadas, relutante e nervosa por ser tirada de meus pensamentos, mas quando abro a porta, tenho que conter um gritinho que escapa de minha garganta.


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