E se...? escrita por Nicoly Faustino


Capítulo 12
Capítulo 11




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/549047/chapter/12

Minhas mãos tremem enquanto dirijo para Brighton. Depois de ter pego duas malas com o necessário, (talvez nem tudo tão necessário) e deixado o presente de namoro que fiz para Eric em cima da mesa com um bilhetinho, peguei meu Audi, e dei adeus para o lugar em que vivi nos últimos anos, mas que nunca pude sentir que fosse totalmente meu lar. Eu não conhecia nem meus vizinhos. Agora, com meus pensamentos mais centrados, acho que meu bilhete irá soar um tanto infantil. “Feliz aniversário de namoro, espero que goste do seu presente. E aproveite sua nova vida de solteiro. Acho que sua diretora de marketing tem uma queda por você, mas isso é algo que você já deve saber. Mando alguém para buscar as coisas assim que puder.”

Por mais que eu tenha escolhido me separar de Eric, eu ainda espero que ele ao menos ligue para mim. Mas não seria uma grande surpresa se isso não acontecesse. De certa forma, já estou preparada para o pior. Quando conheci Eric, ele parecia o homem perfeito. Fazia apenas um ano que eu havia rompido com Jack, mas meu pensamento ainda estava nele todos os dias. Me foquei como uma louca na faculdade, pois só nesses momentos, eu conseguia diminuir um pouco a dor. Um final de semana, quando fui visitar meus pais, fui surpreendida pela chegada de Jack. Eu fiquei apavorada, e simplesmente não podia lidar com isso. Fui para o meu quarto e implorei para que meus pais não contassem que eu estava em casa. Jack ficou quase uma hora conversando com eles, e eu podia sentir a tristeza em sua voz. Com um travesseiro abafando meus soluços, eu chorei, o tempo todo, até ouvir o carro dele sair acelerado. Foi a coisa mais difícil que eu fiz. Me senti horrível. Só me senti pior, quando saí com Eric pela primeira vez. Ele havia feito uma visita na faculdade, estava à procura de novos talentos. Apesar de Rachel ter sido indicada, ele me escolheu. Marcou um jantar que eu achava ser profissional, para discutirmos sobre minhas coleções, e no final da noite, acabei com minha boca colada na dele. Foi horrível, pelo fato de eu sentir como se estivesse traindo Jack. Mas depois de algum tempo, com minhas roupas sendo vendidas nas lojas dele, e eu passando várias noites em sua companhia, no dia 10 de junho coincidentemente ele me pediu em namoro, e eu aceitei. Eric me fez quase esquecer Jack por um tempo. Depois de dois anos de namoro, ele me convidou para morar com ele. Achei que isso seria acompanhado de um pedido de casamento, mas não foi. Saí do apartamento que dividia com Rachel, e me instalei em sua humilde mansão. Devo admitir que ele me deu muita sorte, pois graças a influência que ele tem nesse ramo, eu mal havia terminado a faculdade, e já estava fazendo o maior sucesso. Rachel, que já trabalhava comigo, não parece ter gostado muito disso tudo no início. Afinal, era para ela ter esse sucesso, não eu, a novata. Mas isso logo passou, e ela começou se dedicar ao máximo no ateliê. Minha vida profissional não parava de subir, enquanto minha vida amorosa decaia numa velocidade impressionante. O homem cortês e romântico, se tornou uma pessoa ausente, quase fria, e quanto mais eu sentia essas pequenas diferenças, mais eu pensava em Jack, e no meu passado. Parei de visitar meus pais, com medo de encontrar Jack, aos poucos fui parando de ligar, e fui esquecendo quem eu sou. Sei apenas que sou uma designer famosa. Tirando isso, não sei mais nada sobre mim. Isso é difícil de acreditar.

Quando vejo a placa “Bem-vindo a Brighton” está quase anoitecendo. Quando chego ao meu bairro, fico dando voltas, até que me acalmo e paro em frente à minha casa. Mesmo insistindo para meus pais se mudarem de lá, para um lugar melhor, mais sofisticado, eles não quiseram. Eu achei estupidez, mas agora, parada em frente à casa que cresci, vejo como tem a cara deles. Cada detalhe, cada descascado na cerca, cada tufo de grama, está repleto de histórias e memórias. Isso, dinheiro nenhum pode comprar. Quando entro em casa, minha mãe se desmancha em meus braços, e não para de me beijar. Me sinto uma garotinha novamente, e isso é bom. Meu pai, não para de falar como eu estou linda, e como eles sentiram minha falta. Não quero chorar, então sorrio sem parar, pois tenho medo de que se eu parar de sorrir, vou começar a chorar compulsivamente. Quando conseguimos parar de nos abraçar, sou obrigada a contar sobre todas as minhas entrevistas, os desfiles, e por fim, o rompimento com Eric. Falo brevemente sobre isso, com a desculpa de que estou cansada da viagem. Subo para tomar um banho, e fico pensando como meus pais envelheceram tão pouco. Parecem os mesmo de nove anos atrás, tirando alguma pequena ruga, um pouco de cabelos brancos nas têmporas. Quando saio do banho relativamente demorado, coloco um vestido curto, vermelho, meia-calça preta, botas de salto com cano curto e uma jaqueta de couro marrom. Preciso sair para beber. Tomara que eu não encontre Jéssica, o que é pouco provável, já que minha mãe disse que ela tem um filho. Tomara que eu não encontre Jack. Não sei quais as probabilidades, já que impedi meus pais de me falarem qualquer coisa a respeito dele. Nem sei se ele ainda mora aqui. Penteio meus longos cabelos negros, e faço um make caprichado. Batom vermelho, blush, delineador preto e muito rímel. Não preciso me arrumar tanto para ir até algum pequeno pub, encher a cara. Mas uma faísca, está acesa em mim. Algo como um pressentimento, de que vou encontrar Jack esta noite. Só quero parecer bonita. Quando desço as escadas, meus pais ficam impressionados. O cheiro da comida da minha mãe faz meu estomago roncar, e só então me lembro de que não comi nada o dia todo.

– Querida, você vai sair? Ao menos coma um pouco, fiz aquele frango que você gosta – diz minha mãe.

– Vou só até algum pub, mas eu já volto – digo, sentindo uma ansiedade crescendo dentro de mim.

– Quer que te esperamos para jantar? – pergunta meu pai.

– Não precisa. Eu já volto. Amo vocês.

Saio antes que eu comece a chorar. Essa casa contém tantas lembranças. Me faz sentir tanta falta dos meus pais. Tanta saudade do tempo em que passei aqui com eles, com Jack, até com Jéssica. Olho para trás, na direção da janela do meu quarto, e vejo que esqueci a luz acesa. Minha mãe logo aparece, e antes de apaga-la, sorri. Do lado de fora, eu sorrio também, entro em meu carro, e saio rumo ao centro da cidade, sem saber ao certo, do que estou à procura.

Rodo as ruas da cidade sem encontrar qualquer lugar no qual eu queira ficar. Em plena terça-feira, é difícil achar um lugar movimentado. Estaciono em frente a um pub, cujo nome me chamou a atenção. Desolation. Quem gostaria de sair para beber, e se animar, no bar da desolação? O mais engraçado é que é o único lugar que está cheio na cidade. Logo que entro, as pessoas já começam a me olhar. Eu ainda não me acostumei com isso, mas é algo sempre presente no meu dia-a-dia. Sento no balcão e peço um Martini com duas cerejas, ao barman que me lança um olhar mais longo e pretencioso que o esperado. Tomo gole por gole, olhando ao redor, e sorrindo para as pessoas que não param de me olhar. Reconheço algumas, mas elas não vem falar comigo. Também não irei até elas. Quando finalmente se acostumam com a minha presença, consigo relaxar e peço um segundo Martini. As luzes diminuem um pouco, e logo uma banda sobe ao palco. Pego meu celular, e vejo que Eric não me ligou. Uma hora dessas ele já deve ter visto o meu bilhete. Isso me deixa um pouco triste, pois é muito ruim o fato de ele não se importar nem um pouco por eu ter ido embora. Por eu ter terminado com ele, assim. Uma onda de tristeza me invade, e eu sinto que estou no lugar errado. Já basta a minha desolação. Me levanto e vou até o caixa, desviando de meninas que estão histéricas por algum integrante da banda. Sou a única no caixa, pois pelo que vejo, estão todos bem empolgados para o show. Eu gostaria de ficar, mas tudo que preciso agora, é da comida da minha mãe, e da minha cama. Amanhã será um novo dia, para eu analisar as coisas com uma perspectiva diferente, e realista. Estou entregando minha comanda para a simpática moça do caixa quando a banda começa a tocar. Sou segurada por um rapaz, pois minhas pernas ficam totalmente moles. Essa voz. Não pode ser. Meu olhar passeia das garotas gritando, até o palco, onde vejo ele. Onde vejo Jack cantando, sorrindo para seus fãs que na maioria são meninas adolescentes.

– Você está bem? – pergunta o rapaz, ainda me segurando.

– Estou sim, obrigada – respondo, a voz fraca.

– Eu posso te pagar uma bebida então? – ele pergunta, e me lança um olhar malicioso.

– Ela está de saída Rob – a moça atrás do caixa diz, e me lança um olhar amigo.

O rapaz se vira, e vai para os fundos do pub, frustrado. Eu me recomponho e olho para o crachá da moça, onde está escrito seu nome.

– Obrigada Melissa. Mas acho que vou ficar mais um pouco aqui.

Ela sorri, e hesita antes de começar a falar disparadamente.

– Eu compro todas as revistas que você sai. Eu sou muito sua fã. Você é muito mais linda pessoalmente. Eu... Será que... Você me dá um autógrafo?

Eu fico perplexa. Sem reação. Apenas com a voz de Jack, cantando agora uma música lenta, ecoando em minha cabeça.

– Hum, me desculpe, mas não me sinto à vontade para isso. Mas seria uma honra te presentear com alguma roupa da minha coleção. Anote o meu e-mail e eu lhe enviarei uma peça exclusiva, pode ser?

A garota parece estar à beira das lagrimas. Ela assente, e anota rapidamente meu e-mail. Seu sorriso fica radiante, e eu me sinto bem novamente. Enquanto ela me agradece incessantemente, eu sorrio e me encaminho para o balcão novamente. Não consigo desviar meu olhar de Jack. Ele está tão... bonito. De repente nossos olhares se cruzam, e ele parece tão abalado quanto eu. É nesse momento que ele para de tocar e cantar, sem se importar com as pessoas gritando para ele continuar. Ele olha fixamente para mim, e eu sinto que todas as pessoas, lentamente olham para mim também, sem entender nada provavelmente. Eu quero sair correndo, mas tudo o que consigo, é olhar para ele também. Depois do que parece uma eternidade, ele recomeça tocar, e a música, me atinge como um soco. É a música que ele cantou para mim, nessa mesma data, nove anos atrás. A música que ele usou, para me pedir em namoro. Não sei o que ele pretende com isso, só sei que é impossível, tirar os olhos dele, enquanto ele canta com tanta intensidade, me fazendo sentir cada vez mais pequena, vendo a dor estampada em seu olhar.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "E se...?" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.