–Entrem. –aquele homem parado a minha frente, se afasta um pouco dando passagem.

Entramos, ainda estou segurando a mão de Thomas, que segura sem querer soltar, me dando mais tranqüilidade, nos sentamos em um sofá que tem na sala de estar –até o lugar era bem espaçoso – ficamos em silêncio por alguns instantes.

–Querem beber alguma coisa ? –Mark pergunta quebrando o silêncio.

–Não. –Thomas e eu respondemos juntos.

–Você está uma moça Lara. Está linda .

–O que você quer ? –pergunto sem saber direito o que falar, mas isso foi o que consegui.

–Quer que eu saia. –Thomas diz baixinho para mim, mas acho que Mark pode ouvir.

–Não. –digo em resposta.

–Quem é você ? –Mark pergunta para Thomas, lhe entregando um copo com refrigerante.

–Sou Thomas Chapman senhor. Sou o namorado da Lara. –ele diz com firmeza em sua voz, e pegando o copo da mão de Mark, por educação.

–Prazer em conhecer Thomas. –ele sorri se sentando no sofá em frente ao nosso.

–Minha garotinha está tão crescida. Eu senti tanta sua falta Lara.

–Não parece, já que foi embora, e não mandou noticias por 8 anos. –disse com a voz meio alterada.

–Não é bem assim Lara. Eu tive meus motivos.

–Por que não avisou ? por que não disse para onde estava indo. Que estava indo embora.

–Por que eu não queria magoar vocês.

–Magoar ? com certeza você não magoaria mais do que magoou.

–Eu não posso mudar o que aconteceu. Mas se pudesse, eu nunca teria ido embora. Eu ama você e sua mãe. Eu ainda as amo.

–Então por que pai. Porque foi embora se nos amava. Porque nos abandonou ? –eu estava me segurando para não chorar, e sem perceber apertava mais forte a mão de Thomas.

–Eu estava doente Lara. –ele disse e eu fiquei paralisada, apenas fitando-o. –Os médicos disseram que eu iria morrer. –ele continuou. –Então resolvi ir embora, eu sabia que um morte seria muito pior do que eu simplesmente ir embora.

–Mas então porque você voltou ? Você não parece nada morta para mim.

–Eu fui para a Europa fazer alguns tratamentos. Demorou muito mais tempo que eu imaginava, eu quase cheguei a morrer quando os médicos acharam um remédio que poderia me ajudar. Era uma doença muito rara, e com um milagre eu respondi aos tratamentos. Fiquei por um bom tempo me tratando, quando finalmente os médicos disseram que eu não correria mais risco de morte, eu resolvi voltar. Mas não encontrei mais vocês, então eu acabei descobrindo que sua mãe se casou novamente, e que vocês vieram para cá.

–Sabe quantas vezes eu chorei pensando que pudesse ser o motivo que te fez ir embora. Quantas vezes eu te esperei, eu até pensei que você tivesse achado outra família.

–Lara, eu não queria fazer vocês sofrerem.

–Mas foi o que você fez. –disse sem poder conter as lágrimas que rolavam em meu rosto. –O que você fez foi muito pior do que seria se falasse que estava doente. O pior foi ir sem dizer para onde, sem nunca desses 8 anos ,dar um sinal. –me levanto, e caminho até a porta abro-a e saio, Thomas vem logo atrás de mim.

Estamos no carro, num silêncio, só da para ouvir o motor do carro, fico olhando para fora da janela, com o vento batendo em meu rosto, não consigo pensar em nada, a não ser a imagem do meu pai, achei que ele estivesse diferente, mas quando o vi percebi que não o reconheceria se passasse por perto, porque eu não me lembrava de como ele era. Quando eu tinha lembranças dele, não conseguia ver seu rosto, não tinha nenhuma fotografia, pois mamãe tinha escondido, ou queimado, não sei, ela apenas deu um fim naquelas fotos.

Sem perceber que estávamos em um estacionamento, Thomas abre a porta para mim me tirando de meus devaneios.

–Vem. –ele diz com a voz doce estendendo a mão para mim, que a pego e saio do carro.

Vamos para o elevador, subimos até a cobertura, quando chegamos percebo que era o mesmo lugar que eu havia levado ele. Já estava escurecendo, as luzes da cidade já estavam acesas, a vista era linda, mas mesmo assim eu não conseguia me animar, apenas olhava para o horizonte sem pensar em nada.

–A culpa não foi sua princesa. Você ouviu o que ele disse. Eu não quero te ver assim. –Thomas me abraçou.

–Eu sei, mas ainda assim, o que ele fez foi errado.

–Tente entendê-lo. Tente perdoá-lo.

–Eu não quero pensar sobre isso agora. Ainda é demais pra mim. –ele me abraçou mais forte, então nos viramos para admirar a paisagem.

Depois de um ou duas horas, fomos para casa. Thomas quis me fazer companhia, mas disse que precisava ficar sozinha, pois tinha que conversar com minha mãe. Ele entendeu e foi para sua casa. Ao entrar vejo minha Meghan e Riley na sala, pergunto da minha mãe, e Meghan disse que ela estava em seu quarto, subo até lá, bato na porta, e ouço ela dizer para entrar, coloco a cabeça no fresto para ver se ela estava sozinha, depois de me certificar, entro e sento ao pé da cama.

–Como foi ? –ela pergunta se ajeitando na cama.

–Eu não sei. Ele disse tudo mãe, o motivo por ter ido. Mas ainda assim, eu sinto como se fosse de propósito e não pelo motivo que ele falou.

–E qual foi este motivo ?

Conto tudo para ela, tudo o que Mark –meu pai – me disse. Ela ficou meio chocada, ela, assim como eu, não entendeu exatamente o porque ele não nos contou que estava doente. Isso era o que me incomodava, ele mentiu, e preferiu ir embora. Prefiro não ficar pensando muito nisso e vou para meu quarto, pego minhas roupas e vou para o banho. Fico por um tempo lá, a água quente parece levar todo o peso que estava em minhas costas para o ralo. Saio e vou para meu quarto, acabo pegando no sono.

Acordo só no outro dia, não estou disposta para ir a escola. Fico na cama por um longo tempo. Depois do almoço Thomas aparece.

–Boa tarde princesa. Está melhor ? –ele diz com seu sorriso encantador, que me faz esquecer de tudo, e me da um beijo.

–Mais ou menos. –disse dando passagem para ele entrar.

–Você está muito abatida. Vou preparar alguma coisa para você comer. –ele diz pegando minha mão e me levando até a cozinha.

–Você sabe cozinhar ? –pergunto, pois não sabia que ele sabia cozinhar.

–Ah .. sei sim. Mas a comida da D.Elise é melhor que a minha, por isso eu quase nunca faço nada. Sente-se, o que vai querer ? doce ou salgado ?

–Me surpreenda. –eu disse com um largo sorriso no rosto.

Ele prepara uma torta maravilhosa, confesso que nunca tinha comido coisa igual. Agora já não estava pensando mais sobre o assunto que atormentava meus pensamentos até esta manhã. Era apenas eu e Thomas, e nada mais. Ficamos vendo tevê enquanto comemos a torta. Passamos horas juntos, ninguém em casa. Sem perceber as horas passando, só nos damos conta quando minha mãe e Ryan chegam. Eles decidem pedir pizza, e convidam Thomas para ficar para o jantar, ele aceita. Minha mãe experimenta a torta que ele fez, e amou, Ryan o mesmo.

...

Já se passou duas semanas desde que encontrei meu pai depois de 8 anos. E desde aquele dia, nunca mais falei com ele, ou tive noticias. Mas já estava acostumada com aquilo. Hoje teria uma prova, que poderia interferir para nossa bolsa de estudos em uma boa universidade, eu já sabia o que queria fazer. Depois da prova, fomos para casa, o ano letivo já estava chegando na reta final, faltava menos de um mês para o meu aniversário.