Eu sorri e, de repente, sob a luz do luar, eu já não via, não ouvia nem sentia.

–Acorda Yasuo! -Uma voz deveras familiar me chamava.

Eu abri os olhos com tamanha dificuldade, e aos poucos percebi onde estava: em Piltover; laborátorio do Zilean e do Heimer. Mais especificamente em uma cama (espécie de maca), com uns tubos com líquidos dos meus lados, mas nada estava conectado em mim ou algo assim.

Incialmente achei muito estranho, pois minha cabeça doía e meu coração simplesmente estava disparado. Não sentia dor alguma e nem via arranhões em meu corpo, a pergunta foi clara:

–Eu morri? -Zilean, que antes me acordara, deu um sorriso enorme.

–Ele acordou Heimer! -Franzi a testa- Está vivo!

O yordle em questão se aproximou de minha cama (só então o percebi no quarto) e após fitar-me curioso sussurrou:

–Então, funciona. Mas, se colocarmos mais Lantanídeos e depois tirarmos o excesso de Halogênios, poderíamos mudar a capacidade física do corpo humano!

–Não. -Cortou Zilean- Pois se aumentarmos o tanto de Latânio, teríamos que aumentar também o tanto de Astato e Cloro...

–Caso o contrário o núcleo da esfera não agiria corretamente! -Completou Heimer. -Mas que tal se testarmos sem a saliva dos Ratos do Cais, e talvez, trocarmos por outra lágrima de Poro? Isso diminuiria a dependência de Cloro e de outros Halogênios... Ou então, se aumentarmos o tanto de Cério que há!

Eu suspirei e após alguns segundos de conversas cheias de nomes complicados e coisas cientifícas, pronunciei-me:

–Será que dá para me responder?

Aquela altura eu já sabia que estava vivo, mas precisava saber como, e principalmente, se Ahri e Ashe partilhavam desse estado civil.

Heimer engoliu em seco, me olhou mortalmente e saiu do quarto. Já Zilean não demonstrou reação aparente e continuou:

–Você havia morrido. Mas, eu e o Heimer estavámos fazendo uma espécie de...

–Esfera 49 da Verdade Incógnita Dual Aimen! -Emendou o pequeno cientista, adentrando a salinha novamente, todavia dessa vez com uma espécie de tabela períodica nas mãos.

–Esfera... da Verdade... 49? -Revirei os olhos- Para quê esse nome imenso? E o quê ela é?

–Ela é uma esfera! -Bradou como se fosse algo óbvio e começou a riscar umas siglas da tabela, como por exemplo S, que até onde eu sei significa Enxofre.

–Há uma sigla para a Esfera 49 da Verdade Incógnita Dual Aimen... -Pigarreou Zilean, pedindo para que seu companheiro terminasse a frase.

–A sigla é simples, ouça e aprende -Reclamou novamente em tom alto- Esfera 49 da V.I.D.A, ou se preferir Esfera da Vida, quadragésima nona tentativa!

Eu entortei o olhar e arfei impaciente. Por que não explicaram antes? Isso só podia significar que sim, eu tinha morrido, e sim eu ainda estava vivo. Um tanto quanto comfuso, não? Imagine para mim!

Depois de três exaustivas horas "conversando" (considere que de quatro em quatro minutos eles começavam a fazer cálculos enlouquecidos e falar sobre os elementos daquela bendita tabela) eu cheguei a três importantíssimas conclusões: A primeira é que a loucura do Heimerdinger está contaminando a sanidade do Guardião do Tempo.

A segunda é simples e interessante. Mesmo que os dois não tenham admitido (apenas deixado sublinhado) eu entendi que era a formula desse negócio que os noxianos procuravam. Não obstante, consegui arrancar deles que para fazer a Esfera é necessário DNA do Zilean (que tem aquela "doença") e mais um monte de coisas raríssimas, como por exemplo saliva de Rato dos Cais não suja de sangue, lágrima de poro, dente de Barbatâmina (outro nome para os ratos), Porito Light mordido por Poros adultos, Pérola do Rejuvenescimento derretida e esquentada na Brasa de Bami, pedaços da Orbe do Inverno, resto de Cogumelo Negro e dois tentáculos de um bicho que eu nunca havia ouvido falar: Grenguelhas. Eu indaguei sobre esse ser, mas tudo que eles me disseram é que esse tal Grenguelhas é um animal raro que vive no Mar do Conquistador, muito próximo à baia das Ilhas das Sombras. Quando questionei como eles tinham todas essas coisas, o yordle desandou a contar da história de sua família que, aparentemente, eram todos cientistas loucos e haviam juntado tais elementos visando que um dia, alguma geração poderia descobrir a imortalidade, porém quando ele conheceu Zilean (um ser imortal e que detesta essa condição) percebeu que existia algo melhor que imortalidade: o poder de ressuscitar os outros. E para isso que ele gastou todos os elementos raros; para ressuscitar o outro aqui.

Quando eu ouvi isso, me surgiu outra dúvida que logo me fez descobrir a terceira e última coisa. Perguntei se então, não seria possível ressuscitar Teemo, Ahri, Ashe, Fiora e até Ione. A princípio Zilena afirmou que as probabilidades eram pequenas, sabendo que cada DNA é único e blá, blá, blá. Contudo, o outro louco avisou que havia sobrado um resto de alguns elementos e que, se eu conseguisse juntar algumas outras coisas, seria fácil adaptar tudo ao DNA de um dos meus amigos ou qualquer outro ser.

Se isso é bom, eu não sei, contudo aceitei duas complexas missões: escolher quem ressuscitar, tendo em vista que pode ser que não funcione com todo mundo e que Ione não está nas opções (é necessário o corpo) e conseguir a lágrima do Poro, o dente e a saliva do rato, o tentáculo, o Cogumelo Negro e o Porito Light. O "resto" do que eles não tinham, os dois mesmos poderiam pegar.

E como sempre, a tarefa complicada ficava para mim.

Depois desse demorado dialógo e da decisão minha de partir nessa nova aventura amanhã, eu jantei a melhor comida da minha vida e conversei um pouco com eles sobre cada elemento.

O Cogumelo Negro é um tipo de cogumelo que só dá em lugar do mundo, entre Bandle City e Noxus, em Icathia. O nome é Cogumelo Negro não só por sua cor preta, mas também por suas origens tenebrosas. Dizem que a primeira semente dessa coisa era um olho de Voidling, uma criatura do vazio.

O Porito Light seria bem fácil achar (na verdade eles mesmo me deram um exemplar) e eu não entendi o porquê dessa tarefa ser complicada. Poros adoram Poritos! O Light não deve ser tão ruim assim.

O problema seria depois: fazer um Poro chorar. Eles são as criaturas mais felizes desse mundo (nem sei se seus olhos são capazes de marejar) e como se não bastasse, o Braum insiste em protegê-los. Para minha alegria, Zilean ressaltou que a lágrima não precisa ser de tristeza.

Como obter saliva pura de Ratos dos Cais? Heimer matou a charada para mim. Explicou que, quando esses seres nascem, ainda são puros e nunca morderam um só pedaço de carne (como todo ser vivo). Entretanto ele levantou outra dúvida, onde encontrar um Barbatâmina recém-nascido? E como raptar um dente dessas criaturas?

Por fim, questionei sobre esse tal de Grenguelhas. Ambos não souberam me dizer muito bem o que era essa criatura (que deduzi ser marinha, mas descobri ter asas, patas e nadadeiras), tudo que consegui foi um pedaço de página do Livro Sobre Runeterra, que Zilean me emprestou. Dizia o seguinte:

"Yo hou, Yo hou, nademos, nademos

Antigos marinheiros do Mar do Conquistador dizem ter visto uma criatura medonha, há apenas vinte e cinco milhas naúticas (equivalente a quase quarenta e sete quilômetros) da costa de Kaladoun.

Eles mandaram uma mensagem criptografada em uma garrafa, que foi encontrada treze anos depois e desvendada após mais quatro. O paradeiro da embarcação ninguém sabe, mas todo mundo imagina.

Acontece que a mensagem da garrafa era...

'Hoje nós vimos ele novamente, é um bicho imenso e temos certeza que não estamos enganados. Tem aproximadamente dez tentáculos e inúmeras barbatanas. Duas delas se deslocam para dentro e para fora de seu corpo, impedindo-as de se molhar enquanto o bicho está na água e se locomovem em velocidade incrível. Como eu mesmo testemunhei mais cedo: o monstro pode voar. Apelidemos-o de Grenguelhas, uma pequena homenagem ao nosso navio que certamente não passará dessa noite. Juro ter vistos escamas e muitos olhos tão verdes quanto os do Barão Nashor e uma caúda ainda maior do que a do Dragocraquém. Com relação a seus dentes... Adeus.'

Houveram diversos outros relatos dessa criatura daí em diante como em Pil-"

Interroguei Zilean sobre o resto da página, tudo que ele disse a respeito foi que a perdeu.

Depois eu fui dormir, Heimer declarou que trataria de arrumar minhas cosias, portanto fiquei tranquilo quanto a isso. Mas enquanto a esse tal Grenguelhas não, como poderia eu, derrotá-lo completamente sozinho?

Suspirei. Pensar nisso não vai ajudar, todavia eu não poderia simplesmente ignorar aquele relato, no livro, na página misteriosa.

Talvez seja tudo uma grande premonição do que está para acontecer.

Consegui reservar um pouco de tempo para refletir sobre Ahri, Fiora, Ashe e Teemo. Eu e a raposa estavámos em bons tempos e quase não tive tempo para lamentar a morte dela ainda, a mesma coisa com Ashe. Já Fiora, bem, eu ainda penso nela, embora não pareça.

E se por um lado é quase certo que vou escolher Teemo, pelo outro, esquecer a possibilidade de rever Ashe, beijar Ahri ou simplesmente não cumprir minha palavra de ajudar Fiora é deveras doloroso.

Penso nisso tudo sabendo que nada garante que eu volte, ainda mais vivo, dessa viagem.