Nos encaravamos, eu parecendo um mendigo de tão horrível que estava meu estado, já o loiro na minha frente trajava um bom conjunto de jaqueta jeans, camiseta branca de gola larga, calça preta justa e sapatos oxford. Ele caminhou e parou em minha frente, me fazendo sentar na cama de casal para uma melhor conversa.

– Me desculpe por eles, Sherl. - John disse se sentando ao meu lado colocando uma de suas mãos sobre as minhas. Respondi com um sorriso, despreocupando-o. - Já sente sono?

– Não muito. - falei, sentindo a maior parte das dores se esvairem aos poucos, o remédio fazia um bom efeito. Ele moveu sua mão um pouco mais pra cima, tocando um corte que tinha em meu braço direito.

– Tá doendo ainda? - perguntou com uma feição triste.

– Não tanto, por que? - perguntei e ele sorriu, eu sorri de volta.

– Temos que te dar um banho e tratar de seus machucados, não quero que você perca sua apresentação por causa de uma infecção. - Watson concluiu como se fosse a coisa mais óbvia do mundo. Logo estávamos em seu banheiro com ele me despindo com muito cuidado e, devo confessar que ao sentir suas mãos retirarem minha camisa, choques percorreram meu corpo, me fazendo cruzar meus braços em frente meu tórax na esperança de me fazer parar de arrepiar. - Está com frio?

– Não, só que... - parei na hora ao ver que ele estava muito perto do meu rosto, suas mãos se movendo em direção à minha calça, qual ele abriu olhando em meus olhos. Minha respiração rapidamente se descompassou, assim como notei suas pupilas se dilatarem, tornando seus olhos levemente verdes em algo bem próximo ao castanho escuro. Percebendo isso, suas mãos percorriam meu corpo até se fixarem em minha cintura, a apertando e enfim, me puxando em direção ao seu corpo, colando nossos lábios e corpos. Beijávamos com avidez, apesar dos meus machucados, nem demorou muito tempo para ele penetrar sua língua em minha boca, explorando e brincando com a minha própria. Nos desaproximamos ao sentir a necessidade de ôxigenio incomodar, despertando muitas borboletas em meu estômago, ao mesmo tempo em que nos encaravamos com sorrisos minímos mas sinceros.

– É... Vou buscar uma toalha pra você. Consegue tomar banho sozinho, Sherls? - John questionou sorrindo e arrumando uma mecha que insistia cair em meus olhos, sorri tímidamente também.

– Acho que sim. Não sei. Não que eu queira você! - comecei a tropeçar nas palavras ao perceber o tão duplo sentido que estava se tornando aquela situação, Watson vendo meu problema riu e me deu um selinho.

– Calma, sweetheart. Vou trazer sua toalha e preparar um chá, okay? Não se preocupe. Volto que nem uma lebre. - ele finalizou saíndo do banheiro e fechando a porta.

"Jesus", pensei. Retirei minha calça, entrando no chuveiro, quase gritando ao sentir a água bater em minhas feridas. Porém a dor foi esquecida facilmente ao eu me dar conta de aonde estava, com quem estava e que havia beijado ele, aquilo era mais surreal do que eu ganhando o papel principal no ballet.

– Eu beijei ele... Ai. Meu. Deus. EU BEIJEI ELE! - falei sussurrando e ficando feliz, parecendo aquelas crianças na Disneyland. Não que eu tivesse uma queda por ele, (só um pouquinho), mas assim, o que foi isso? - Parei de me questionar e comecei a passar o sabonete, soltando pequenos gemidos de dor ao sentir as feridas arderem, até que desisti e recoloquei de volta na saboneteira, tratando de me escorregar pro chão pois ardiam demais. Também, gente inteligente é foda, viu? Desde quando passar sabonete em ferida é algo prazeroso, Holmes? Vi um filete de sangue se encaminhando para o ralo, ouvindo batidas na porta.

– Sherlock, posso entrar? - John perguntou, sua voz saindo abafada.

– Pode. Não estou completamente nu, Watson. - respondi, vendo a porta se abrir e um gemido involuntário sair por meus lábios.

– Mas o que você fez, Sherl?! - ouvi o loiro se desesperar, fechando a porta, largar a toalha de qualquer jeito em cima do vaso sanitário e correr até mim, não se importando de molhar sua roupa. - Você está sangrando! - ele disse passando sem querer a mão em minhas costas, me fazendo dar um grito muito alto. - Desculpe. Espera só um pouquinho.

Vi ele sair do box e começando a se despir, ficando apenas de boxer vermelha com contornos brancos. "Desde quando reparo nas roupas intímas de outros homens? É amanhã que mato o Vincent", pensei, vendo John voltar para mim e pedindo para me virar de costas.

– Meu Deus, Holmes. Suas costas estão como se estivessem te chicotiado! Você está todo... senhor! - Então, ele desligou o chuveiro, que mais me fazia frio do que realmente me ajudar, me levantou e enrolou meu corpo magrelo na toalha, provocando um gemido pelo atrito do tecido. - Deite-se na cama que vou enfaixar você, não tem como você ficar bem com estes machucados amostra.

–

Depois de muitas reclamações, dores e ele me emprestar uma boxer, um suéter de rena e um short preto, além de insistir que minha pessoa devia usar uma tiara de orelhas de gato felpudas da sua gaveta, acabei sentado ao lado de John beberricando o chá (muito bom por sinal), que ele havia feito. A única coisa que me incomodava era o fato de tremular devido a pequena febre que peguei em meros minutos. John retirou a caneca das minhas mãos, descançando no criado-mudo, me abraçou e cobriu nossos corpos com seu cobertor do Batman.

– Obrigada. - agradeci baixo.

– Não tem de que, Sherls. Só se cuida, okay? Mas o que realmente fez você começar aquela gritaria com o Greg? - ele perguntou mexendo em meus cachos.

– Ele me beijou a força. - falei fechando os olhos, lembrando daquela sensação horrível. Senti Watson me deitar sobre seu peito, me abraçando novamente.

– Ele é um idiota. - disse beijando minha cabeça. - Agora durma e caso esteja com dúvidas em relação a isso que acabamos de fazer, não se preocupe porque não sou que nem eles. Aprendi da forma mais dura que devemos ser nós mesmos, sweetheart. - senti ele finalizar com um pesar na voz. - Boa noite, Sherlock Holmes.

E como uma ordem, meus olhos se fecharam, me entregando ao sono sobre os braços do jogador de futebol.