Invisible escrita por nerdsarehere


Capítulo 2
She’s never gonna love you,


Notas iniciais do capítulo

Aah, eu gostei particularmente desse. Sem mais.



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Capítulo 2. She’s never gonna love you like I want to

 

       And I just wanna show you

       She don't even know you

       She's never gonna love you like I want to

       You just see right through me, but if you only knew me

       We could be a beautiful miracle unbelievable instead of just invisible.

 

 

Kaoru.

 

O motorista já sabia qual era o nosso destino, mas mesmo assim eu e Hikaru o dissemos novamente (com direito a correção da Haruhi, que insistia que o parque ficava em um lugar completamente diferente daquele em que nós havíamos informado ao chofer). Ela ficou indiferente a tudo, como sempre, mas eu sabia que ela estava pensando alguma coisa relevante, do tipo “o que eles pensam que estão fazendo” ou “será que aqui tem ootoro?”. Sabe. Essas coisas.

— Então, Haruhi, em qual brinquedo você vai querer ir primeiro? Na roda gigante? No pula-pula? Nos carrinhos de bate-bate? Hm? Hm? Hm? — perguntou meu irmão, ainda praticamente pulando de excitação. Haruhi encarou a gente com aquele olhar de texugo perdido. Ou um olhar de pena, mas os dois são muito parecidos.

— Nós somos muitos pra poder ir juntos na roda gigante, e acho que somos muito velhos pra ir ao pula-pula. E muito grandes para o carrinho de bate-bate. — cortou ela, com o tom frio habitual de sempre.

— Então vamos primeiro à roda gigante, certo? — enfatizei, sorrindo, no que ela encolheu os ombros.

 

Por que exatamente ela fazia aquilo?

Por que não apreciava cada segundo que passava com Hikaru como eu apreciava? Ela não gostava tanto dele quanto eu, disso eu estava certo. Ninguém nunca iria amá-lo do jeito que eu o amava, conhecê-lo como eu o conhecia.

Ele era uma parte de mim; eu era uma parte dele. Por isso o jogo de “Adivinhe quem é o Hikaru-kun” nunca poderia ser realmente vencido, embora ele mesmo não soubesse disso.

Ele era eu. Eu era ele.

 

— Hitachiin obocchama, já chegamos.

Levantamos as cabeças juntos, fizemos um meneio juntos, e nos viramos para capturar a Haruhi no mesmo instante.

— Haruhiii, vamos lá, precisamos chegar logo! — disse Hikaru, arrancando a pobre (literalmente) menina do banco do carro logo depois de si mesmo, e eu completei: — Não queremos pegar fila, VAMOS!

Saímos correndo em meio a todos aqueles plebeus, que mal nos notaram em meio a tantos brinquedos; logo estávamos em frente à roda gigante. Um controlador plebeu simpático nos disse que poderíamos subir, mas que só cabiam duas pessoas em cada compartimento.

É claro que eu deixei meu irmão e a Haruhi irem juntos.

 

Ele gostava dela, certo? E eu o estava ajudando a conquistá-la. Eles ficariam juntos, e era isso o que eu queria. Queria vê-lo feliz. Feliz com ela, ele e ela, os dois juntos.

 

Queria? Queria mesmo?

 

Então por que toda vez em que ele encostava nela, minhas entranhas queimavam.

 

Era ódio? Ciúme?

 

O que era aquilo?

 

— Vamos, Haruhi! — animou-se Hikaru, puxando-a novamente, desta vez para dentro do compartimento da roda gigante. O homem que controlava as partes técnicas da coisa acionou uma alavanca, e logo uma cabine vazia estava pronta para me receber. Agradeci e adentrei-a, e logo o brinquedo começou a funcionar.

 

Por estar logo atrás deles, eu tinha uma visão de tudo o que faziam — embora eles mesmos não parecessem notar isso —, e me aproveitava dessa vantagem avidamente. Eu vi quando ela, milagrosamente, riu, e como os olhos deles brilharam quando ele riu também. Eu vi quando o braço dele repousou displicentemente sobre os ombros dela, naquela famosa jogada de “se espreguiçar”, e vi também como ela fingiu não perceber, ou não se importar.

Depois disso tudo, eu preferi não ver mais nada, e fiquei a observar as outras pessoas no parque. Havia muitas crianças ali, e todas pareciam muito felizes. Só eu parecia estar sofrendo daquela síndrome de ciúme possessivo.

 

Gente de sorte. Não sabem o que é se corroer de ciúmes por alguém.

Bom, alguns devem saber, você me entende. Estigma de gêmeos. Mas eu não gosto do Hikaru desse jeito, eu gosto dele como... Como se ele fosse a última pessoa do universo. E isso é tão infantil, mas fazer o quê, né? Não é culpa minha se cada vez que a pele dele encosta na Haruhi eu sinta um espasmo.

Mesmo que a pele dele seja igual à minha.

Não importa, você não entende? Não importa o quanto ela seja boa pra ele, ela nunca vai compreendê-lo por completo; eu entendi isso no momento em que percebi que era ele, e não ela. Não era por Haruhi que eu estava apaixonado. Não era por causa dela que eu ficava acordado durante a noite.

 

A resposta sempre esteve na minha cara. Mas, EPA, cadê os dois?

 

x

 

Bom, foi isso o que aconteceu: eu fiquei pensando na vida por tempo demais, e quando dei por mim eles já tinham descido do brinquedo. O tio do brinquedo, muito solícito, preferiu não me incomodar e me deu outra “rodada”. É, isso mesmo. Desculpem o duplo sentido, mas foi o que ele fez. E então eu fiquei dando voltas até que o cara decidisse fazer a bondade de parar para eu poder descer.

Saí correndo, procurando por eles em todo o parque. Mas é claro que eles não estavam em lugar nenhum.

 

Então, onde estavam?

 

Onde alguém que estava com a Haruhi poderia estar?

 

Onde houvesse comida, é claro. E onde havia comida?

 

E foi assim que eu saí correndo em direção à lanchonete do parque de diversões, tropecei, caí e machuquei meu joelho.

E, ah, encontrei os dois comendo pipoca. Mas isso é um ponto irrelevante.

 

Hikaru! — berrei, sem me importar se parecia infantil ou não. Ele riu (ainda não tinha me visto, só podia ser) e pegou mais uma pipoca do saco em que os dois comiam.

Até Haruhi parecia estar se divertindo. Senti meu lábio inferior se projetar, formando um beicinho, e aquela atitude de anfitrião começar a se apossar de mim. Eu estaria representando, não fosse o fato de que o ciúme era verdadeiro.

— HIIIKAAAARUUUU! — fiz, ainda mais alto, e a maior parte das pessoas que estavam ali olharam para mim, rindo.

 

Rindo. De mim.

 

A que ponto eu tinha chegado, meu Deus?

 

É isso que os ciúmes podem fazer com alguém. Não tentem isso em casa, crianças.

 

Kaoru!

Finalmente, ele tinha me enxergado. O seu rosto ficou cheio de pavor, ao ver que meus olhos estavam marejados e eu estava apertando o joelho, e ele se levantou e correu na minha direção.

Fui tomado de uma satisfação selvagem, ao ver que ele estava daquele jeito, por mim. Mal percebi quando ele me ajudou a sentar, enfiou um monte de pipoca na minha boca e até me comprou um algodão-doce.

 

Ele se importava comigo.

 

Ou devo dizer ainda se importava?

 

— O que você pensa que estava fazendo? — ralhava ele, colocando tufos de algodão-doce na minha boca, aos borbotões. — Você me assustou! Você tem idéia do que eu senti quando te vi ali? — sacudiu o rosto. — E, além do mais, não precisava ter gritado daquele jeito!

— Desculpe, Hikaru. — eu só conseguia ouvir as palavras dele, maravilhado, mal escondendo minha satisfação. Haruhi, já esquecida a este ponto da história, comia sua pipoca sem dizer uma única palavra.

De repente, eu me senti mal por ignorá-la. Peguei um pouco de algodão-doce e ofereci-o a ela.

 

Por que quando ela sorria eu me sentia tão mal por odiá-la?

 

Por que meus sentimentos tinham de ser tão contraditórios?

 

Ela aceitou o algodão-doce, sorrindo, e pegou o cardápio. Ela ficava tão engraçadinha quando se concentrava! Eu quase podia entender por que o Hikaru gostava dela.

 

Será que eu entendia? Será mesmo?

 

— Você... vai querer alguma coisa, Haruhi? — perguntei, apoiando os cotovelos na mesa, numa pose claramente entediada. Ela pareceu ponderar por alguns instantes.

— Ah... Acho que vou pedir um hambúrguer. — decidiu-se. Deus, como ela era linda! E aquela simplicidade, aquela ingenuidade, aquele jeito humilde dela! — Vocês vão querer alguma coisa? — perguntou, quando um garçom começava a anotar os pedidos.

— O Hikaru vai querer um cachorro quente, sem picles, sem ervilhas, e com bastante milho.

Era comum? Não importava. Eu sempre sabia do que ele gostava, e ele sabia do que eu gostava.

— O Kaoru vai querer um hambúrguer com muito cheddar, sem cebola e sem picles.

 

Foi nesse momento que o meu mundo caiu.

 

Sem cebola?

 

Mas ele sabia que eu gostava de cebola!

 

Desde quando ele parara de me conhecer? Será que era por causa disso que nós não estávamos juntos, e ele gostava da Haruhi?

 

Porque ele não me conhecia?

 

Parecia que ele não me enxergava, na verdade. Que eu era invisível, quando ele estava concentrado nela.

 

Será que ele não havia entendido ainda?

 

Nós éramos um; éramos belos juntos, inseparáveis. Quando falavam de nós no plural. Mas como ele poderia saber? Eu não conseguiria dizer uma coisa dessas — iria assustá-lo. Eu não existia sem ele.

 

Eu não existia no singular.


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Notas finais do capítulo

Reviews não matam XD +1