Nicolas estava estático. Não, não podia acreditar naqueles cabelos castanhos sendo levados pelo vento ou na luz alaranjada do pôr do Sol iluminando aquela pele pálida.

            Larissa era uma amiga, mas justo quando ele estava indo para a Seleção, ela demonstrou que queria ser muito mais. Então Nicolas passou a pensar muito mais em Larissa do que de costume, em como seria bom ter como esposa alguém que conhecia há anos.

 E quando tinha desistido dessa ideia, ela aparece? Isso estava errado.

— Larissa – Nicolas tornou a falar. – O que você está fazendo aqui?

Os olhos dela estavam vermelhos de tanto chorar, mas as lágrimas já tinham secado. Ela se abraçava de maneira protetora, algumas de suas madeixas sendo agraciadas pelo vento.

Larissa abriu a boca para falar, mas não sabia como explica e, mesmo que soubesse, não conseguiria.

— Larissa! – Helena surgiu na entrada do Olimpo e correu até eles, abraçando forte sua velha amiga que não demorou a chorar no seu ombro. – Zeus me contou tudo. Entra, Sofia está te esperando lá dentro, Heitor também está por lá.

— Obrigada, Lena – ela murmurou rouca, indo para o Olimpo até desaparecer de vista.

— Hm... Acho que essa seria uma boa hora para você me explicar o que está acontecendo – Nicolas arqueou uma sobrancelha.

Helena suspirou, olhando para o Sol que desaparecia pelo horizonte, laranja, uma tonalidade de rosa e o azul claro tomando o mesmo destino que o astro, um tom escuro pintando aos poucos o céu.

            – Seria uma ótima hora, mas que tal entrarmos primeiro?

...

            Adelaide estava deitada na rede do “chalé” de Poseidon. Refletia sobre os acontecimentos dos últimos dias. Ela ainda pensava na sua decisão de continuar como aliada – e principalmente amiga – de Daenerys e do gosto doce dos lábios de Nicolas...

            Ela escutou a porta ranger e com o canto dos olhos viu a cabeleira dourada de Beatrice.

            – Oi – a filha de Gaia e Poseidon a cumprimentou. – Você ficou sabendo?

            Adelaide sentou, olhando Beatrice que se acomodava na sua respectiva cama.

            – Não, o que foi?

            – Ah, parece que o primo do Nicolas e uma antiga amiga dele vieram pro Olimpo.

            – Por quê? – Adelaide perguntou.

            – Pelo visto, eles e também os seus pais foram atacados por monstros, que nem o que aconteceu com a Alessandra e a Helena.

            – E também houve mortes?

            O rosto de Beatrice ganhou um semblante sério.

            – Só os dois sobreviveram. O pior era que todos eles eram mortais, não tinham nem como se defender ou entender o que estava acontecendo.

            – Que horrível – Adelaide cobriu a boca com a mão, em sinal de surpresa. – Nem monstros são de atacar mortais, com certeza tem uma pessoa muito terrível por trás disso tudo.

            Beatrice deitou na cama e fechou os olhos.

            – Eu sei. Ainda bem que nós temos os deuses aqui para nos protegerem e, agora, esses dois também tem.

            – Agora me diz uma coisa, Tris. Se eles são mortais, como é que conseguiram sobreviver?

            – Bem, os únicos mortais sem contato direto com os deuses e que sabem de sua existência são os da família real, certo? Acontece que entre as vítimas estava o irmão do rei, ou seja, ele já foi o príncipe e por isso, estava ciente de tudo isso. Não tenho certeza, mas creio que ele salvou o próprio filho e seja lá o que a outra garota for dele.

            – E acabou morrendo com essa atitude heroica, entendi. Aposto que depois os deuses mandaram algum auxílio para os dois, como fizeram para Helena. Quer dizer, os ataques devem ter ligações, não acha?

            As portas se abriram, revelando duas harpias.

            – O jantar será daqui a pouco – uma delas informou.

            As Selecionadas assentiram, deixando-se serem arrumadas.

...

            O corredor era preenchido pelo barulho agudo do pontilhar de saltos no piso.

            Ashley segurava o seu vestido com as mãos para andar mais rápido, atrasada para o jantar. Claro, ela tinha justamente que ser a última Selecionada a sair do seu “chalé” e, do modo como as coisas iam, a comida já teria acabado quando chegasse.

            – Eu estou dizendo, Nicolas – ela ouviu uma voz desconhecida e masculina dobrar o corredor, seguida por passos apressados. Ashley se escondeu atrás de uma pilastra quando percebeu que estavam pertos. – Foi tudo muito surreal.

            – Heitor... Você ao menos entende o que aconteceu? – Não podia ver, mas ela sabia que agora quem falava era Nicolas. – Sobre os ataques, os monstros, os deuses e tudo? Você ao menos está bem depois de tudo o que aconteceu?

            – Bem? É claro que não! Perdi as pessoas mais importantes da minha vida. Entretanto, eu já lamentei de mais. Agora só me resta aprender sobre esse seu mundo e como defender a mim mesmo e a Larissa.

            Heitor... Quem era esse? Ataques, monstros, mortes? E quem era essa Larissa? Ashley só tinha perguntas e, ao perceber que eles se distanciavam pelo corredor, apenas soube que precisava de respostas.

            A garota esperou até eles fazerem a curva e correu silenciosamente atrás deles, encostada nas pilastras e agindo como uma sombra.

            Afinal de contas, o jantar podia esperar.