Arregalei os olhos. Cocei a cabeça. Arqueei as sobrancelhas. Fiz mil e uma expressões! Como assim? Lúcifer?

–O que? –Indaguei sem entender porra nenhuma.

–Isso mesmo... –Sorriu, parecia bem calmo. – Eu sou Lúcifer.

Nesse momento eu fitei o cara e tentei colocar em minha mente, que ele era Lúcifer. Como assim o diabo é tão lindo?
Deve ser alguma brincadeira!

–Está brincando, não é? Não tem como você ser o diabo!

–Lúcifer, por favor! –Me corrigiu me olhando indiferente. – Ah sim, certamente você acha que o diabo é um cara vermelho, de chifres, rabo e que segura um tridente.

–ISSO MESMO! –Exclamei assentindo.

O cara abriu uma gargalhada rápida e rapidamente parou, me encarando intensamente, só de pensar que quem estava na minha frente era o capeta, senti um arrepio, mas não podia deixar de afirmar, que o capeta é muito lindo.

–Oque você quer comigo? É normal, novos anjos serem recebidos por todos os anjos do universo, até mesmo os caídos? –Indaguei curiosa.

–Não. –Negou com um sorriso de malicia no rosto. –Você é especial!

Uau, eu sou especial para o diabo! Estou me sentindo lisonjeada!

–Especial para Lúcifer? Nossa! –Respondi com um sarcasmo presente.

Um silêncio pousou-se sobre a caverna e o rapaz me fitava como se observasse tudo em mim.

–Sim, acho que preciso ir!

–Calma, mal conversei com você ainda!

–E oque eu poderia conversar contigo? –Questionei revirando os olhos.

–Você não sente medo? –Perguntou sem tirar o olhar dos meus olhos.

Com essa pergunta fiquei curiosa, eu deveria está com medo... Eu acho... Mas sei lá, parecia que ele fosse alguém normal, não o demônio na minha frente, diferente do que eu pensava, ele era bem educado.

–Não sei... Não senti nada relacionado a medo, dentro de mim.

–Você é diferente. –Murmurou sentando ao meu lado, fazendo com que o barco balançasse.

–Diferente? Isso é um elogio? –Comecei a olhar para a agua do rio.

–Não sei, depende do seu ponto de vista. –Senti seus dedos em minha nuca.

Oh gosh, ele possuía alguns dedos frios e outros quentes e logo me arrepiei.

–Você é diferente como, a sua mãe, porém você não mostra medo ao falar comigo, mas a sua mãe a primeira vez que me viu demonstrou medo no olhar, porém negou até o fim.

–Você a conheceu? –Perguntei dessa vez olhando com o canto do olho para o rapaz.

–Sim. –Respondeu entre alguns risinhos. –E você se parece muito com ela!

–Você não é o primeiro a dizer isso. –Sorri e o encarei. – Como você a conheceu?

Realmente fiquei me sentindo um lixo, até Lúcifer conheceu a minha mãe e eu não.

–Isso não vem ao caso!

–E oque realmente vem ao caso? –Arqueei as sobrancelhas.

–Gostaria de lhe fazer uma proposta... –Começou a falar e eu sabia que já vinha merda, o rapaz segurou minha mãe esquerda e eu fiquei sem-graça.

–Se for para ir ao inferno com você, nem tente, já basta o meu ex com isso.

–Bem, já vi que você tem uma opinião formada quanto a isso, mas eu não ligo de qualquer jeito você aparecerá lá.

–Não mesmo! –Falei confiante e já estava começando a ficar com raiva.

–Futuramente, Jennifer, as coisas vão depender de você!

Revirei os olhos e bufei.

–Que continuem a depender! O único lugar que eu tenho que ficar é aqui, ou quem sabe voltar para terra. Eu não tenho mais nada, nem aqui, nem na terra, nem mesmo no inferno! –Bradei retirando minha mão da sua.

–Tem certeza disso? Acho que no inferno tem algo que lhe interesse, por mais que todos pensem que não. –Ele me olhou com um sorriso sarcástico no rosto e eu comecei a encara-lo, parecia está brincando comigo, mas ao mesmo tempo conseguia ser verdadeiro.

–Tipo oque?

–Pense Jennifer. Sua vida não vai resumir apenas a isso aqui!

Fiquei cabisbaixa e oque esse cara queria dizer com isso? Minha mente parecia querer explodir.

–Acho que os Anjos Maiores, gostariam de ter um recadinho. –O rapaz pousou sua mão em meu pescoço novamente e aquela sensação de quente e frio fez com que eu me arrepiasse novamente.

Fiquei sem entender com o que ele queria dizer, e antes que eu perguntasse algo, senti meu pescoço queimar e o rapaz disse algumas palavras.
Soltei um grito abafado de dor e o encarei.

–Oque é isso? –Perguntei quase caindo, mas o rapaz me segurou e acariciou meus cabelos.

–Vai ficar tudo bem. –Sussurrou e deu um beijo em minha testa.

O rapaz abriu minha mão e colocou um papel.

Tentei falar algo, mas eu parecia está pegando fogo, mesmo sem chamas nenhuma, gritei mais alto e tudo ao meu redor estava mais lento.

–Até logo Jennifer!

Assim que o rapaz disse isso, tudo ficou escurou e minha voz cessou, mas quando tudo voltou a clarear eu estava na beira do rio, com minha mão fechada e estava assustada dessa vez, oque foi tudo aquilo que aconteceu?

Saí correndo, nem me preocupei em colocar a calça, eu estava melada a areia molhada da beira do rio e quando me deparei aos anjos, eles começaram a me olhar estranho e minha voz recusava a sair, fiquei encarando a todos que estavam ao meu redor e escutei alguns cochichos do tipo:
“Olha a tatuagem do pescoço dela!”
“Eu sabia que ela só traria problemas!”

Tentei ignorar tudo que eles falavam, até me deparar com Lisa, que me olhou preocupante e gritou para que todos saíssem de perto, pensei que não iria funcionar, mas de pouco em pouco todos se retiraram.

–O que aconteceu? –Perguntou se ajoelhando e tirando os cabelos que estavam em meu rosto.

–Preciso... Preciso falar com os Anjos Maiores. –Avisei e mostrei o papel em minha mão que eu não tive curiosidade nenhuma em abrir.

–O.k! –Ela apoiou meu braço em seu ombro e me levou até o quarto, quase que caía algumas vezes.

–Não, preciso falar com eles!

Ela me levou até o banheiro sem falar nada e me colocou na banheira.

–Me dê o papel! –Pediu esticando a mão. –Não se preocupe, vou levar vocês até eles, mas esse seu estado está horrível.

Assenti e entreguei o bilhete e a garota guardou no bolso.

–Oque aconteceu? –Estava demorando pra perguntar isso...

–Você vai saber de tudo depois, mas depois desse banho, tenho que falar com os Anjos Maiores.

Ela assentiu e ficou me encarando.

–Não vá ler minha mente! –Adverti.

–Que bom que você me avisou! –Ela sorriu e ficou me encarando, mas depois se desfez. –Ué, não consigo ler nada!

–Deve ser algum bloqueio do seu poder, sei lá!

–Não! Isso só acontece com iniciantes! –Falou teimosa.

–Então tá... –Falei sem dá a mínima, ela devia está com algum bloqueio sim e não queria admitir. –Preciso tomar banho, por favor...

Fiz um gesto para fora do banheiro e ela me olhou incrédula.

–Qual é? Sou mulher também!

–Não importa, tenho vergonha. –Falei e senti minhas bochechas corarem.

–Então tá... –Ela sorriu e se retirou do banheiro.

***

Depois do banho, vesti uma roupa que a Lisa escolheu enquanto eu tomava banho e em seguida me levou ao lugar dos Anjos maiores, mas no caminho ela tocou a mão onde o capeta tocou.

–Jennifer, onde você conseguiu isso? –Indagou com os olhos arregalados.

–Isso oque? –Perguntei entrando na sala onde estavam os anjos.

–Não é possível, você se encontrou com quem?

Fiquei cabisbaixa e a encarei.

–Lúcifer... –Sussurrei.

Ela tentou me puxar para fora da sala, mas falhou quando os três puseram o olhar sobre mim, com uma interrogação no meio do rosto.

–Oque fazes aqui, criaturinha tola? –Disse o anjo da voz sarcástica.

–Antes de tudo, eu fico meio confusa por não saber o nome de vocês.

–Eu sou Gabriel. –Disse o rapaz de olhos azuis bem forte, só agora que eu tinha notado que ele possuía uma voz grave e parecia ser o certinho que mandava em todos.

–Bem, eu sou Miguel ! –Disse o roqueiro me encarando enquanto bebia algo em uma taça de ouro.

–Bem, não muito menos importante, sou o Raphael. –Disse e em seguida mudou de assuntou- Sim, diz logo o que você quer! –Ordenou Raphael.

Meu Deus, esse cara é mesmo insuportável.

–Bem, não quero dar voltas no assunto, mas tenho algo para contar que aconteceu comigo.

Eles me olharam curiosos e eu peguei o papel com a Lisa que me olhava sem reação, entreguei ao Gabriel que o abriu e leu rapidamente e me olhou sem emitir nada.

–Eu encontrei alguém na beira de um rio daqui, e não era um ser qualquer, era o Anjo Caído Lúcifer.

Miguel coçou o queixo e o roqueiro semicerrou os olhos, enquanto Gabriel continuava estável.

Antes que houvesse uma discussão, contei tudo que aconteceu e eles pareciam prestar atenção atentamente e ainda mostrei a tatuagem no meu pescoço que a Lisa comentou e eu ainda não sabia oque era.

–Olha só o que temos aqui! O número da besta –Exclamou Rafael passando a mão pela tatuagem. –O que fazemos, agora? Executamos essa mortal ai?

–NÃO! –Gritei assustada. –Vocês querem me matar?

–Não podemos fazer isso. –Advertiu Gabriel.

–E oque faremos? –Indagou Miguel.

–Lúcifer, disse no bilhete que gostaria de se divertir, e nada mais, nada menos mandando a novata para o seu reino e se quiser poderá contar aquilo que todos estão em dúvida, como a Meredith morreu.

–Como você sabe? –Miguel perguntou novamente.

–É oque está no bilhete!

–Se não acontece o que?

–Uma guerra!

Fiquei apavorada e encarei todos.

–Estão brincando comigo não é? –Perguntei arqueando as sobrancelhas.

–Você tem uma escolha agora, Jennifer deixar uma guerra horrível iniciar não só aqui no céu e no inferno, mas também na terra ou fazer aquilo que o Lúcifer quer.

Fiquei em dúvida e minha cabeça queria explodir, não queria que uma guerra iniciasse por minha causa e fiquei curiosa como a minha mãe morreu. Olhei para Lisa e ela não sabia o que falar, parecia está chocada assim como eu.

–O.k, preciso de um tempo para pensar.

–Pensar no fim do mundo? Então tá. –Disse Rafael.

Olhei para ela irritada e sair do lugar arrastando Lisa.
Ótimo, agora o mundo dependia de mim e sem contar que eu tinha um 666 em meu pescoço. ÓTIMO, ÓTIMO, ÓTIMO!!!!