Era Uma Vez escrita por natthy


Capítulo 3
2 - Surpresa




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Alguns anos depois...


— Jess? — Charlie chamou. — Você poderia atender a porta pra mim, por favor? — pediu, gritando do segundo andar.

Bufando, Jéssica largou seu livro sobre a poltrona que estava sentada e seguiu em direção a porta. Quando voltou, muito diferente de como fora, ela mantinha um enorme sorriso no rosto.

— Pai — gritou da ponta da escada. —, olhe o que tenho aqui! — disse feliz, abanando no ar um envelope amarronzado.

— O que é isso? — Bella perguntou curiosa, se aproximando.

— Acho que é alguma notícia sobre os navios do papai. — respondeu animada, falando normalmente, fazendo com que Bella sobressaltasse.

Bella estava tão curiosa, que só se deu conta do que perguntara quando suas palavras pularam de sua boca. Já estava até se preparando para a resposta nada agradável que receberia, quando Jéssica lhe respondeu naturalmente.

Essa notícia deveria ser mesmo muito boa, caso contrário, Jéssica teria, no mínimo, lhe chamado de burra enquanto abanava o envelope na frente do seu rosto, perguntando se não estava enxergando que aquilo era uma carta.

— Oh, meu deus! — Lauren arfou, entrando eufórica na sala. — Isso é sério?

— Acho que sim! — Jéssica respondeu, e então as duas começaram a pular, comemorando.

Bella se afastou e sentou no sofá inquieta, desejando que Charlie descesse e abrisse logo o envelope. Ela sabia de todos os problemas que estavam passando e não se atrevia a reclamar, mas, por mais que nunca fosse admitir em voz alta, ela tinha que concordar com suas irmãs – não existia maneira de comparar essa casa com a mansão anterior onde estavam morando. E por mais que tivesse morado quase que a vida toda em um lugar bastante humilde, com sua mãe, ela já estava começando a se acostumar com o extremo conforto.

Isabella era a filha ilegítima de Charlie com Renée, e meia-irmã, por parte de pai, das gêmeas Jéssica e Lauren.

Pouco após seu 16º aniversário, Renée morreu, deixando-a sozinha no mundo, sem marido e nem sequer uma família para dar-lhe apoio; a não ser, é claro, seu pai Charlie.

No início, ir morar com ele não lhe parecia ser uma má idéia, já que ela e Charlie tinham um ótimo relacionamento. Desde que ela era um bebê, ele tentava visitá-la pelo menos uma vez ao mês, levando vários presentes e estando sempre interessado em saber tudo o que acontecera com ela durante sua ausência.

E sua esposa também não era um problema; Louise sabia sobre o relacionamento de Charlie e Renée desde o início, e, assim como ele, ela também não impedia sua felicidade. Como o casamento fora arranjado pela família, não existia amor ali, então, cada um tia o seu amante, de forma que não se importavam com isso – Charlie nunca escondeu Renée de Louise, e Louise também não mantinha segredo quanto a Ian.

Quando Bella chegou em seu novo lar, completamente abalada pela morte de sua mãe, Louise fora um amor com ela, tratando-a como tratava uma de suas filhas. E Charlie, é claro, não deixara por menos, mimando-a de todas as maneiras possíveis.

As gêmeas, porém, não receberam-na tão bem assim. Elas diziam que Bella já havia roubado o pai delas, e agora estava roubando a mãe também.

Apesar de saber, desde criança, que era filha ilegítima, Bella nunca se envergonhou disso. Pra ela, o importante era o amor que seu pai lhe dava – ela não se importava com títulos –, então as provocações vindas das meias-irmãs não lhe abalavam. Vendo que não conseguiam atingir Isabella de nenhuma maneira, as duas foram vencidas pelo cansaço, passando a simplesmente ignorar a indesejada "hóspede" em sua casa.

E assim se passaram dois meses, até que Louise adoeceu, piorando cada vez mais com o passar dos dias e, três semanas e meio depois, ela já não agüentava mais e se entregou, falecendo com sua mão entre as de Charlie, sem antes lhe soprar um beijo e lhe dizer o quanto foram felizes seus últimos anos ao lado dele.

Charlie, totalmente transtornado por ter perdido duas pessoas tão importantes em sua vida quase que ao mesmo tempo, abandonou seus navios e se fechou em seu próprio mundo.

Um mês de completo luto se passou, até que chegou a notícia de que seus navios haviam desaparecido. Aqueles navios eram a única fonte de dinheiro que eles tinham. Quer dizer, é claro que daria para todos viverem perfeitamente bem por mais algum tempo, com o dinheiro que as jóias de suas filhas e de sua falecida esposa dariam. Mas Charlie não queria perder, junto com as jóias, as memórias daquela que era, acima de tudo, sua melhor amiga. E ele conhecia suas filhas muito bem para saber que elas prefeririam dar a vida a perder suas jóias. Exceto por Isabella.

Sem saber o que fazer e com pouco dinheiro disponível, a única solução era vender sua casa de luxo em Londres e se mudar para a pequena casa que ele possuía em Forks. E foi isso o que ele fez.

Agora, uma semana depois na casa "nova", Charlie aguardava ansiosamente por alguma notícia sobre seus navios. Ele tinha fé que algum dia eles apareceriam; era só esperar.

— Oh, meu deus! — Charlie murmurou, lendo a carta. — Oh, meu deus!

Ansiosa, Bella roia as unhas enquanto esperava que Charlie dissesse alguma coisa.

— Vocês não vão acreditar! — ele disse, finalmente. — Ao que parece, dois dos navios realmente afundaram e os outros sumiram. Mas...

— Mas...? — Lauren o interrompeu, antes que ele pudesse continuar.

Charlie revirou os olhos, impaciente, e continuou.

Mas parece que, na mesma noite em que viemos para cá, um deles retornou ao porto, em Londres. O navio deve ter chegado aqui ontem ou hoje.

— Isso é maravilhoso! — Jéssica comemorou.

— Sim, e eu terei de ir lá agora. Vocês se importam de passarem a noite sozinhas? Prometo que amanhã por volta do meio dia já estarei de volta.

Quando as meninas afirmaram que não se importariam, Charlie subiu para o seu quarto e trocou de roupa. Poucos minutos depois, já estava de volta.

— Sabe o que eu estava pensando...? — ele disse colocando as luvas, seguindo em direção ao hall de entrada. — Bem, já que estaremos com algum dinheiro de novo, não vejo porque não compensar vocês por terem sido tão compreensivas quanto a nossa vinda para cá. Vamos lá, meninas. Sigam em frente. Peçam-me o que quiserem.

Bella fez uma careta invariável ao ouvir seu pai. Só ela sabia o quão "compreensivas" Lauren e Jéssica haviam sido.

Perdida em pensamentos, Bella não percebeu quando as gêmeas responderam e Charlie chamou-lhe a atenção, esperando por uma resposta sua também.

— Bella?! — chamou de novo.

— Hm, er... Oi?

— Suas irmãs querem vestidos. E você, o que irá querer? — perguntou docemente.

— Você sabe que não precisa gastar dinheiro comigo... Eu já tenho muitos vestidos.

— Não seja difícil, Bella. — a repreendeu. — Nunca entendi essa aversão que você criou a presentes, depois que você cresceu, sabe.

— Não é "aversão"! — ela fez uma careta. — É só que...

— Tudo bem! — Charlie interrompeu, bem-humorado. — Trarei vestidos para todas.

— NÃO! — Bella resmungou. Ela odiava os vestidos que seu pai lhe trazia. Eles eram a cara das gêmeas, não a dela. — Ok, você venceu. — cedeu, contrariada. — Eu quero... Hum... — enquanto pensava, deixou que seus olhos vasculhassem a casa. Sem querer, seus olhos atravessaram a porta que já estava meio aberta, avistando o jardim totalmente verde. — Você pode trazer uma rosa pra mim! — Falou feliz, com os olhinhos brilhando. — Aqui faz tanto frio que não temos muitas flores e... É, é isso! Eu quero uma rosa lilás igual àquela que eu tinha na casa da mamãe.

Sorrindo bobamente para sua filha, Charlie deu um beijo na testa de cada uma e saiu de casa, subindo logo em seguida em seu cavalo.

Diferente de muitos homens, Charlie não se importava se Isabella era ou não sua filha legítima. Ele tratava todas as três exatamente da mesma maneira. E mesmo que ele não gostasse de admitir isso nem para ele próprio, ele sabia que, no fundo no fundo, era por Bella que seu coração de pai batia mais forte.

.

Charlie já havia ido ao porto e agora estava voltando para casa. Como levou muito menos tempo do que imaginou que levaria – graças a uma carta que fora enviada maldosamente para o endereço errado, alegando que era dele o navio que na verdade não era –, agora esta cavalgando de volta para casa o mais rápido que podia, na tentativa de chegar antes do amanhecer.

Pensava sobre o futuro que suas filhas teriam dali pra frente, e a dificuldade que seria arrumar um bom marido na situação em que se encontravam, quando pegou distraidamente o atalho errado.

Mais de meia hora depois, sem reconhecer a floresta onde se metera, Charlie começava a entrar em desespero. "Não posso abandonar minhas filhas!", pensava consigo mesmo. "Não agora, quando elas estão tão sozinhas."

Continuou a cavalgar sem rumo, sob a fina chuva que começara a cair. Tendo a impressão de que estava andando em círculos, já estava perdendo a esperança de encontrar qualquer lugar que fosse, no breu daquela floresta, optando por esperar pela luz do amanhecer e então achar a saída dali com mais facilidade, quando viu, um pouco mais à frente, uma claridade indefinida.

Curioso com o que aquilo poderia ser, cavalgou mais rápido, até que já estava perto o bastante para distinguir que aquilo era uma casa. Uma enorme casa, diga-se de passagem.

Sem conseguir chegar a uma conclusão do por que uma pessoa moraria em uma casa tão afastada da cidade, pulou fora de seu cavalo e procurou por um estábulo, para deixá-lo lá. Sobressaltado, viu que a casa não tinha nenhum.

Como uma pessoa que mora tão longe da cidade consegue se locomover sem nem um cavalo?!,

Deixando os pensamentos de lado, percebeu que a chuva começava a se intensificar.

— É, garotão. Terei de deixar você aqui. — murmurou carinhosamente enquanto dava um jeito de prender seu cavalo em uma árvore. — Você ficará bem, as folhas protegerão você. Amanhã bem cedo voltaremos para casa.

Já com o cavalo devidamente preso, Charlie seguiu em direção a porta de entrada. Quando bateu, mais uma vez sobressaltado, percebeu que na casa não havia um mordomo. Tentou forçar a porta e esta facilmente se abriu.

Tremendo de frio e morrendo de cansaço, a última coisa que se lembrava, era de ter visto sobre a lareira um lampião aceso – o qual projetara aquela luz que ele vira do lado de fora da casa – e, na sua frente, um sofá que parecia ser bem aconchegante e fofinho. Mal deitara a cabeça e já estava dormindo.

.

— Eu te avisei que um homem viria aqui hoje. – Alice afirmou emburrada, com os braços cruzados na frente do corpo, olhando Edward, enquano este encarava sua pequena surpresa.

— Não, você não avisou. — Edward rebateu pela terceira vez, enquanto olhava o homem adormecido em seu sofá.

— Tudo bem, eu tentei avisar. — ela cedeu. — Mas eu não tenho culpa se você resolveu, logo hoje, ir caçar tão longe.

Furioso, Edward desviou os olhos do estranho e passou a encarar Alice.

— Já que você não conseguiu falar comigo, por que você não veio pra cá antes e tentou impedi-lo de entrar? — sem receber nenhuma resposta, ele bufou irritado. — O que eu vou fazer com ele?! Não posso deixá-lo aqui. Você sabe que não posso. Não é seguro...

— Ele não está tão inseguro assim, meu filho. — foi a vez de Carlisle dizer. — Nós sabemos tão bem quanto você que já faz bastante tempo que você consegue se controlar perfeitamente.

Sem saber o que dizer, Edward desviou os olhos daquele quem era quase como um pai e voltou a olhar o estranho deitado.

Diferente de todos os outros de sua "família", Edward era o único que evitava ao extremo qualquer ser humano. Após sua transformação, logo encontrara Carlisle, mas isso foi só depois de fazer duas vítimas. Desde então, traumatizado e sentindo-se como um monstro, tentou evitar qualquer um que não fosse vampiro.

E até que tudo deu certo.

Bem, até agora.

Edward tinha um certo pânico de cruzar com um ser humano sozinho. Já tentara algumas vezes, mas sempre na presença dos outros – principalmente de Jasper, controlando-lhe os sentimentos.

Por mais que todos dissessem que ele conseguiria, ele mesmo não tinha tanta certeza assim. E, o seu segundo maior medo, era desapontar àqueles que lhe acolheram tão bem.

Desviou de novo os olhos daquele homem, tentando, aos poucos, voltar a respirar normalmente.

Alice, por outro lado, sabia perfeitamente que nada aconteceria a Charlie. E nem a sua filha.

Desde que Edward estivera perto o bastante para escutar-lhe os pensamentos, ela estivera controlando qualquer pensamento que pudesse dizer a ele o que aconteceria dali a poucas horas. E a sua "culpa" nisso.

Alice vira que Charlie, por algum motivo, acabaria "hospedado" por uma noite na casa de Edward, e então, após isso, seria sua filha quem estaria morando ali – só que eternamente.

Quer dizer, ela também vira que teria de mexer os seus pauzinhos, é claro. Com Edward, nada nunca se sai exatamente como ela deseja. Porém não teria de fazer muita coisa, não. Por mais que o medo atrapalhasse bastante, Edward logo logo se apaixonaria.

E vê-lo livre daquele medo absurdo e, ainda por cima, feliz, era o que ela mais desejava.

Sentia-se um pouco temerosa quanto à menina, já que não tinha contato nenhum com ela, o que dificultava um pouco a visão da parte dela. Sabia que estava sendo egoísta por pensar mais no bem de Edward do que em qualquer outra coisa, mas em sua visão, Edward estava feliz - incrivelmente feliz! - então ela considerava isso como um sinal: algo tão grandioso assim só pode existir quando o amor é recíproco, certo?


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