O Meu Melhor Amigo escrita por MilaScorpions


Capítulo 7
Era para ser amizade, mas aí eu me apaixonei – Parte II


Notas iniciais do capítulo

Boa Leitura!

Recadinhos nas notas finais.



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Era para ser amizade, mas aí eu me apaixonei – Parte II

Quando cheguei em casa depois do trabalho, a primeira coisa que fiz foi procurar pelo meu irmão. Minha intenção, inicialmente, era ir até a casa de Mu. Mas Aioros havia me mandado um torpedo, à tarde, dizendo que queria conversar comigo. Como demorou a voltar do hospital ontem à noite, não quis acordar-me. Também queria muito desabafar com ele, ansiava contar-lhe o que eu estava sentindo (mesmo que isso me deixasse um pouco assustado). Afinal, nós nunca tivemos segredos. Sempre fomos o braço direito um do outro. E essa nossa amizade ficou ainda mais forte quando, aos 15 anos, decidi deixar a casa da minha mãe e morar com o meu irmão mais velho.

Fui até o seu quarto, já que ele não estava vendo filmes ou seriados na TV da sala (o que sempre fazia assim que chegava do hospital ou do seu consultório), e não o encontrei. No entanto, ao perceber algumas coisas jogadas em cima da cama e vários álbuns de fotografias remexidos, tive a confirmação de que ele já havia chegado. E eu sabia exatamente onde encontrá-lo.

No telhado da minha casa.

Aioros adorava ficar no telhado observando e admirando as estrelas. Foi o motivo de ter comprado àquela residência. E, sempre que chegava perto do seu aniversário (que era agora em novembro), ele costumava subir lá em busca de paz e tranquilidade, saudoso das recordações da infância.

Fui até lá e o encontrei deitado, contemplando aquela linda visão relaxante do céu azul-avermelhado. Seus olhos estavam vermelhos, provavelmente havia chorado, e estava segurando uma fotografia. Era a fotografia de nosso pai.

Passei pouco tempo com o meu pai e não me lembro muito dele. Quando morreu, num trágico acidente de carro, eu era ainda bem jovem, tinha apenas três anos de idade. Contudo, imagino que Aioros, que era oito anos mais velho do que eu, deva ter passado ótimos momentos com ele. Meu irmão não gostava de falar do assunto, porque sempre o levava a lamentos. Eu, para não vê-lo ainda mais entristecido, nada disse. Algumas vezes as palavras são desnecessárias.

Deitei-me ao seu lado com os braços cruzados atrás da cabeça, colocando-me a admirar o céu. Respirei o ar puro ali do alto, sentindo o frio espalhar-se por meus pulmões e gotas de lágrimas ameaçaram cair dos meus olhos. Por mais estranho que possa parecer, tive saudades dos momentos que não vivi com o meu pai. Depois de alguns minutos deste modo, Aioros quebrou o silêncio.

— Esse seu cabelo está enorme, parece uma juba de leão. Tem que dar um jeito nisso, Aioria — ele falou como se estivesse me dando uma bronca e soltei uma risada. Conhecia-o muito bem, entendia que estava tentando quebrar a tensão do momento. — Estou falando sério. Está horroroso!

— Tudo bem. Vou cortá-lo assim que encontrar um tempo — anuí tentando conter o riso e falhando miseravelmente. — Está satisfeito?

— Não. Ainda preciso saber o que anda te perturbando, você está muito esquisito. É por causa da Marin?

— Também. — Dei um longo suspiro.

— O que aconteceu? É algo sério? — Guardou a foto do nosso pai no bolso.

— Nós brigamos. Eu... — Sentei-me, um pouco apreensivo, cocei a parte de trás da minha cabeça e pensei alguns segundos antes de falar. — Estou gostando de outra pessoa.

— Isso é realmente algo sério. — Ele franziu a sobrancelha. — Quem a ela? Por que nunca ouvi falar dela aqui em casa? Você sempre comenta quando acha alguma mulher interessante. Como só estou sabendo disso agora?

— Não é ela — falei baixinho, frisando a última palavra. Vi uma expressão alarmada desenhar-se em seu rosto. Eu, todo sem graça, dei um meio sorriso. — Acho que estou apaixonado por Mu.

Senti-me como um garoto que acabara de confessar uma travessura e estava com medo de levar uma baita bronca. Havia admitido em voz alta para o meu irmão, a pessoa que eu mais admirava em todo o universo, o que vinha pesando tanto em meus ombros.

— Mu?! O seu amigo Mu?! — Eu somente concordei, com a cabeça. Foi como se ele tivesse levado um choque. — Tem certeza, Aioria? Nunca pensei que justamente você, que sempre foi tão mulherengo, pudesse um dia achar que estaria gostando de um homem. Não está confundido o sentimento de amizade? Você mesmo disse que acha. Como chegou a essa conclusão?

Entendia perfeitamente a reação de Aioros. Admito que era um pouco estranho, até para mim mesmo, descobrir àquela altura do campeonato que eu sentia atração por homens, ou melhor, que estava apaixonado por um homem.

— Nem sei direito. As coisas foram acontecendo aos poucos e só tomei consciência do que, de fato, estava sentindo ao perceber que podia perdê-lo. Quando ele começou a namorar o babaca do Aldebaran... — Fiz uma careta enquanto apertava meus punhos. Lembrei-me de que precisava urgentemente dar logo um fim naquele troglodita. Onde já se viu, aquele idiota chamar o MEU Mu de namorado? Mas é nunca que eu iria deixar isso. — Quase enlouqueci. Tive vontade de matar o cara... Ainda tenho. — Aioros deu uma risadinha e balançou a cabeça.

— Olha, Aioria, é comum e até normal achar que está apaixonado pelo melhor amigo. Afinal, vocês são extremamente ligados e tal... Ele te conhece muito bem; gostam, na maioria das vezes, das mesmas coisas; tem muitas afinidades... Talvez esse seu ciúme por Mu seja apenas um sentimento de posse. Medo de perdê-lo, como você mesmo contou; de achar que você deixará de ter importância na vida dele. Mas você pode amar seu melhor amigo, e nem por isso estar apaixonada por ele. Entende o que estou falando? — Confirmei com a cabeça. — Antes de seguir em frente com essa ideia que... Deus! ainda não caiu a ficha para mim... tem que ter certeza de que não está misturando as coisas.

— Já pensei sobre isso, Oros. Para início de conversa, quase não dormi essa noite só pensando nessa e em várias outras possibilidades. A certeza vem quando o vejo, como aconteceu hoje pela manhã. Entendo quando você fala de amar sem estar apaixonado. Eu amo você. E era para amar Mu assim também. Como um irmão. Só que é diferente... Era para ser só amizade, mas aí eu me apaixonei. Tenho por ele, além de uma atração afetiva e emocional, fantasias eróticas que me deixam...

— Ei...! — ele me interrompeu e colocou as duas mãos no peito dramaticamente. — Dá para me poupar dos detalhes?! Ainda estou tentando assimilar as coisas aqui.

— Desculpa — murmurei, meio sem graça. — Imagino o quanto isso deve ser constrangedor para você. Nem sei o que faria se estivéssemos em lados contrários.

Eu era mesmo um sem noção. O problema é que havia me empolgado demais enquanto descrevia os meus sentimentos. É claro que Aioros deveria estar chocado. Qualquer um ficaria. Ele estava se mostrando até muito calmo e sensato (o que era a cara dele). Eu tinha consciência disso.

— Tudo bem, Oria. É só que é novidade para mim — ele proferiu passando a mão pelos meus cabelos. — Não tenho esse tipo de preconceito. Mas você sabe que as coisas não são tão fáceis assim. Há muita coisa em jogo. E você precisa estar certo do que quer. Fantasia é uma coisa, realidade é outra.

— Não vou entrar em detalhes, mas Mu me beijou ontem. — Ele pareceu não se espantar com essa notícia. — Na hora, fiquei surpreso; não consegui ter reação. Só que aquilo mexeu muito comigo, Oros. Mais do que o beijo de qualquer mulher.

— Para falar a verdade, eu já desconfiava de que ele gostasse de você. O jeito que ele te olha dá muita bandeira. Apesar disso, achei que seria apenas um amor platônico. Jamais imaginei que seria recíproco. Devo confessar que sempre julguei um pouco exagerado aquele seu zelo por Mu. Até já brinquei em relação a isso. Mas como você sempre teve ciúmes de tudo mesmo... — Ele deu de ombros. — Entretanto, o que me admirou foi essa coragem dele em investir.

— Estava nervoso, vulnerável... Tinha vindo me cobrar explicações pelas atitudes do priminho dele, o garoto sumiu no parque a tarde toda e...

— O que você tinha a ver com isso? — ele quis saber, curioso.

— Eu prometi ao garoto um videogame para que atrapalhasse o passeio. E acho que o menino se empolgou um pouquinho. — Encolhi os ombros já imaginando o que ele iria falar.

— Aioria! — recriminou-me com os olhos esbugalhados. — Não posso acreditar!

— O que?! Eu estava desesperado! — E estava mesmo, ninguém poderia me culpar por isso. Tá, tudo bem. Sei que passei um pouquinho dos limites. É que todas as vezes que Mu saía com aquele babaca, eu tinha medo dele se apaixonar, de se envolver mais. Medo de perdê-lo de vez. — Eu te disse, esse namoro dele me tirou qualquer resquício de sanidade mental.

— Você é um irresponsável! Não podia ter colocado uma criança no meio dessa história.

— Foi o que Mu falou. — Fiz um muxoxo enquanto ele balançava a cabeça em claro sinal de desaprovação. — Não farei outra vez. Nunca pensei que o garoto chegasse a tanto. Além do mais, eu mesmo resolverei esse problema agora, assim que conversar com Mu.

— Se ele te quiser... E se ele preferir ficar com esse Aldebaran? — expôs e eu congelei, amedrontado com essa ideia que, sequer, cheguei a cogitar. Creio que devo ter feito um cara de retardado porque meu irmão começou a dar gargalhadas. — Estou só brincando. Já disse que sempre achei que ele gostasse de você. Mas existe a possibilidade, não existe?

— A sua função é cuidar do coração das pessoas e não tentar fazer com que elas tenham um ataque — fiz drama e Aioros tentou conter o riso sem muito sucesso. — E, caso isso aconteça, farei tudo que estiver em meu alcance para conquistá-lo. Eu quero ficar com Mu. Estou certo da minha decisão. E preciso ouvir de você que não vai me julgar por causa disso. É muito importante para mim.

— Eu jamais faria isso, Oria — ele começou a falar e gesticular ao mesmo tempo — Aí, de repente, você encontra o amor da sua vida, só que ele é do mesmo sexo que você. O que vai fazer? Deixar pra lá e ficar frustrado pelos cantos? Claro que não!

Respirei, aliviado.

— Eu tinha tanto medo da sua reação. Por isso, evitei essa conversa antes de ter certeza.

— Aioria, eu te amo e quero te ver feliz. — Ele sorriu. — Acho que você e Mu formam um lindo casal.

— Obrigado, meu irmão. — Dei um abraço apertado nele. Aioros era mesmo o máximo!

— Você contou essa novidade para Marin? Foi por esse motivo que ela saiu irada daquele jeito? — ele perguntou ao mesmo tempo em desfazíamos o enlace.

— Mais ou menos — respondi passando as mãos pelos meus cabelos. Definitivamente, ele não precisava saber com detalhes a maneira como Marin percebeu. Seria embaraçoso. — Ela saiu sem que pudéssemos conversar direito. Falarei com ela e explicarei tudo. Terá que entender.

— Mas tem que conversar com Marin antes de contar o que senti para Mu — aconselhou-me. — É o mais digno. Não quero que banque o cafajeste, Aioria.

— Tudo bem. Farei isso. — Concordei a contragosto. Ele tinha razão. — Oros, você acha que, caso nosso pai estivesse vivo, ele aceitaria que um filho seu gostasse de outro homem?

— Nosso pai era incrível! Tenho certeza de que ele iria adorar Mu. Mas você sabe que a mamãe... — Ele fez uma expressão de dúvida. — À propósito, ela me ligou hoje cedo. Espera que a gente passe o Natal em sua casa.

— Ah, não. Eu não vou passar o natal ao lado daquele imbecil que ela chama de marido. Eu quero ficar com Mu. E sei que você também não gosta do Dimitri.

— Aioria! É a nossa mãe. Nós temos que respeitar as suas escolhas. Já não passamos o Natal ao lado dela no ano passado.

— Eu sei — grunhi emburrado. Merda!

Permanecemos lá por mais algum tempo falando amenidades e reclamando do nosso padrasto.

Estava ansioso para me encontrar com Mu e falar tudo o que eu sentia. Por mais que eu ainda estivesse chateado por ele ficar distribuindo sorrisos para aquele escritor metido a besta (Ah, sim. Eu tiraria satisfações sobre o ocorrido). Fiz uma careta ao lembrar-me daquela cena de hoje cedo e fantasiei quebrar uma ou duas cadeiras na cabeça do tal Shaka. Porém, resolvi seguir os conselhos do meu irmão e, ao invés de ir correndo para os braços do meu anjo de cabelo lilás (como meu coração pedia), decidi que iria, de fato, resolver as coisas com Marin. Assim, não haveria mais nenhum empecilho e eu estaria de consciência limpa para ficar como Mu, ou para lutar pelo amor dele.

Logo que desci do telhado, tomei um banho e fui até a casa de Marin, apreensivo com a recepção. Eu sabia que ela ainda estava bem irritada comigo e provavelmente não queria olhar para minha cara tão cedo. Só que eu não iria esperar a raiva dela passar. Agora que eu já tinha em mente o que queria, precisava estar totalmente livre. Toquei a campanha e rapidamente fui atendido.

— Aioria! — Ela ficou surpresa pela minha visita repentina. Pareceu meio sem jeito por não estar maquiada e estava com um vestido um pouco surrado, mas que se mostrava confortável (bem diferente dos que ela usava quando saíamos). Ainda assim, continuava muito bonita. — Achei que o Seiya tivesse esquecido a chave novamente. Por que não me ligou falando que vinha aqui hoje?

— Tive medo de que você não me atendesse ou se recusasse a falar comigo. Eh... Posso entrar? — indaguei ainda parado na porta feito um dois de paus.

— Ah, claro. Entre. Espera só um minuto, eu vou me vestir adequadamente e...

— Você está linda, Marin. Não se preocupe com isso.

Ela me olhou com aqueles seus olhos de águia.

— Pensei que não me achasse mais bonita. — Seu tom foi bastante irônico.

— Não se trata disso, e você sabe... — Suspirei pesadamente.

— A única coisa que sei é que até ontem eu tinha um namorado que estava apaixonado por mim, ao menos era o que eu achava, e descobri que ele anda suspirando por outro homem. — Ela fez questão de destacar a última palavra.

Inspirei e expirei lentamente, tentando não me intimidar, não por sentir atração por outro homem, mas pelo clima constrangedor que ela estava tentando criar.

— Eu realmente gostava de você e ...

— Você não veio aqui para se desculpar, não é? — interrompeu-me.

Eu tinha noção de que aquela conversa não seria tão fácil, visto o modo como ela saiu da minha casa ontem. Mas eu precisava ser direto. Não suportaria prolongar aquela sensação estranha de culpa. O seu olhar de desgosto estava me incomodando.

— Não. — Fui direto. — Marin, a gente não pode continuar, seria um grande erro. Não vou mentir para você; estou, sim, interessado em Mu.

— Você me traiu com ele alguma vez, Aioria? Por favor, seja sincero comigo.

— Eu juro que em nenhum momento trai você. Sempre fui franco contigo — garanti e ela pareceu acreditar. Então, deu um sorrisinho sarcástico.

— Um mês — disse com um ar confiante.

— O que?!

— Dou um mês para a sua ficha cair e você perceber a burrada que está fazendo. Quero ver quando você se cansar dessa “novidade” — fez um sinal de aspas com a mão — e sua “curiosidade” estiver acabado. Quando perceber que Mu, por mais bonitinho e delicado que seja, não tem as curvas, os seios fartos e a cintura fina de que você gosta...

Eu olhei para ela, horrorizado com suas palavras.

— Acha que era só por causa das suas curvas perfeitas que eu estava namorando você, Marin? — Ela me olhou confusa. — Na verdade, julgava que você fosse mais do que isso. Bem, Mu, tenho certeza, é muito mais. Não serei hipócrita em dizer que não gosto de um corpo bonito. Mas o de Mu é do meu agrado, se é isso que te preocupa.

— Não foi isso que eu quis dizer, Aioria... — Ela se revelou ofendida.

— Não queria que as coisas terminassem desse jeito. Achei que você fosse mais sensata...

— Estou perdendo o homem que amo, e você está me pedindo para ser sensata? Se colocar no meu lugar! — praticamente gritou.

Vi uma expressão de tristeza em seu semblante que não combinavam com a sua personalidade forte e orgulhosa. E isso me deixou apoquentado. Não desejava magoá-la. Não mesmo. Merda! Odeio terminar relacionamentos.

Respirei fundo de novo.

— Eu sinto muito... — sussurrei.

— Vai embora, Aioria. Já deu o seu recado.

— Eu...

— Vai embora, por favor — repetiu, já abrindo a porta e apontando a mão para fora.

Ainda que eu tenha saído de sua casa sem cessar aquela sensação desconfortável de culpa pela situação, estava do mesmo modo aliviado por tê-la resolvido. Marin era forte e decidida, iria superar e encontrar alguém legal que estivesse apaixonado por ela.

No caminho de volta, quase bati o carro num motociclista que me cortou em alta velocidade. Esses caras são desesperadores, correm demais e imprudentes quanto a segurança.

Pensei em ir até a casa de Mu, só que já era tarde da noite. Ansioso, liguei para ele e, como de costume, seu telefone estava desligado.

No dia seguinte, as horas se passaram malditamente lentas enquanto eu tentava me concentrar no trabalho, criando algumas imagens e mídias digitais para facilitar a vida de muitos internautas, e ouvindo Milo reclamar do quanto Camus era insensível e cabeça-dura. Ele falava e falava sem parar que até eu, conhecedor dos exageros do meu amigo, já estava confirmando de que Camus era isso tudo mesmo e mais um pouco. Aquela empresa ficava um saco sem Mu. Havia apenas dois dias que ele tinha saído e já fazia muita falta. Antes mesmo de acabar o expediente, corri agoniado para casa.

Rapidamente, tomei uma ducha, coloquei uma calça jeans escura e uma camisa branca, com as mangas dobradas até os punhos. Passei o meu perfume francês preferido e penteei os cabelos (reparando bem neles, Aioros estava certo, precisava cortá-los urgentemente). Carteira, chaves... Não encontrei meu celular. Merda! Devo tê-lo esquecido no trabalho. Em 15 minutos eu estava pronto. (Não conseguia imaginar como deve ser para uma mulher toda a maldita rotina que elas precisam passar para sair pela porta. Isso deve consumir metade das suas vidas.)

Entrei no meu carro e segui em direção ao apartamento de Mu, que não ficava muito longe da minha casa. No momento em que dirigia pelas ruas de Atenas, vi-me idealizando como nossa conversa seria finalizada por um beijo cinematográfico, daqueles típicos de filmes de Paramount. Sim. Posso não parecer, mas sou bem romântico quando estou apaixonado. E eu estava. Sorri sozinho com o pensamento.

Entrei no prédio feliz como uma criança num parque de diversões quando está entretido no seu brinquedo preferido. Diante disso, vocês podem imaginar a minha decepção e a minha cara de tacho quando cheguei à portaria e obtive aquela informação.

Mu tinha acabado de sair carregando malas e sem previsão para voltar.

O que?!

— Como assim, ele saiu de malas feitas?! Você está zoando com a minha cara. Foi Mu que pediu para você falar isso comigo? Por que ele não quer me ver? — gritei com o pobre coitado do porteiro que parecia mesmo apavorado, com medo de que eu o batesse. Bom, eu estava mesmo com gana de bater em alguém. Mas sabia que não era culpa dele.

— S... senhor, eu não sei. Ele saiu arrastando duas malas enormes e disse que não sabia quando voltava... — Subitamente, sua expressão de medo aliviou-se, como se tivesse aparecido socorro e ouvi os latidos de Pen. — O senhor Dohko pode explicar melhor.

Olhei mal-encarado para o homem de cabelos castanhos que se aproximava. Tinha ares de ser bem mais velho, embora possuísse uma fisionomia de alguém conservado e vaidoso. Ele estava segurando a pequena Pen em um braço e uma sacola de brinquedo de cachorro no outro. Isso me irritou bastante.

— Quem é você? Por que está com Pen? — rosnei.

Fiquei irado por essa sua intimidade. Será que esse cara é mais um pretendente de Mu?! Quase tive um treco, assombrado com a possibilidade. Ele me olhou analiticamente e, em seguida, deu um sorrisinho como se tivesse decifrado um enigma.

— Você deve ser Aioria, não é? — Balancei a cabeça me perguntando de onde ele me conhecia. — Já ouvi falar de você. Deixe me apresentar. Eu sou Dohko, sou companheiro de Shion, tio de Mu. É como se Mu fosse meu sobrinho também.

Minha expressão carrancuda suavizou-se e dei um sorriso torto e sem graça, sentindo-me um idiota. Eu sabia que o tio de Mu tinha um companheiro, porém não o conhecia. Devo ter ouvido seu nome alguma vez, só que não prestei atenção.

— Queria falar com Mu. Você sabe onde posso encontrá-lo? — perguntei.

Ele, novamente, ficou me analisando e pareceu meio incerto em responder.

— Ele foi para o Tibete — Suas palavras soaram como um borrão, assim como as batidas no meu peito. Fiquei assustado com aquilo. — Estou levando Pen para ficar no nosso apartamento. Cuidaremos dela esse mês.

— Ele vai ficar o mês todo lá? — Aborreci comigo mesmo por minha voz ter saído chorosa como se eu fosse um maricas.

— Na verdade, talvez ele volte a morar lá. Claro que antes disso ainda retorna à Grécia. Você não acha que Mu ficaria longe dessa coisinha linda muito tempo, não é? Fez tantas recomendações... — falava acariciando a maltesa em seu colo. E me senti completamente ridículo por ter chegado à conclusão de que aquela cadela tinha mais valor para Mu do que eu.

Recusava-se a acreditar no que estava acontecendo. Ele foi para longe e nem tive a oportunidade de dizer-lhe o que eu sentia. Será que, de certa forma, a culpa foi minha?

Demorei muito para procurá-lo e explicar-lhe minha atitude e minha decisão. Eu era mesmo um idiota. Um completo idiota.

Fiquei um longo tempo ali parado, olhando para o nada, me martirizando e me acusando pela súbita viagem de Mu.

— Está tudo bem com você? Parece um pouco pálido. — Dohko perguntou, olhando-me com piedade e isso me tirou do estupor ao mesmo tempo em que me irritou profundamente.

Não. Não estava nada bem.

Todavia, era melhor voltar pra casa com o rabo entre as pernas a ficar aqui choramingando na frente de uma plateia, mesmo que minúscula.

— Está tudo bem. Obrigado. — Fiz um último carinho na cabecinha de Pen e me virei para ir embora.

— Por muito pouco você não o encontrou aqui. Do jeito que Shion dirige, levarão uma eternidade para chegar ao Aeroporto Internacional de Atenas. Não deve nem ter chegado ainda. O voo para Tibete é daqui 30 minutos. — Ainda o ouvi dizer antes de cruzar o portão. Balancei a cabeça e sai, derrotado.

Dentro do carro, escorei a cabeça no assento e fechei os olhos. Era como estar preso em um pesadelo. Não era exatamente isso que eu imaginei que fosse acontecer. Achei que nesse momento, Mu e eu já estaríamos nos declarando e embolados um no outro em cima dos lençóis da sua cama. Os delicados contornos de Mu estavam queimados por trás de minhas pálpebras. Os últimos acontecimentos rodavam mais e mais dentro da minha cabeça. Deus, eu sentiria muito a falta dele.

Tudo o que eu experimentava era onda após onda de tristeza. De tal modo que eu tentei ficar irritado, o que era muito mais fácil de controlar do que a dor física esmagadora no meu peito.

Por que ele não me falou? Por que não me ligou nem para se despedir? (Claro que eu não deixaria que ele fosse). Nós éramos amigos. Melhores amigos. Foi muita falta de consideração.

Nervoso, dei alguns socos no volante do meu carro. Eu gostaria de olhar bem dentro daqueles seus lindos olhos verdes e dizer-lhe poucas e boas. Se ele estivesse em minha frente agora...

E foi aí que as últimas palavras do tal Dohko repercutiram nos meus ouvidos e um novo otimismo tomou conta de mim. Eu não era um perdedor. Não era homem de ficar só na imaginação. Liguei o carro e pisei fundo.

O trânsito estava horrível. Mil automóveis embolados e engavetados, um verdadeiro caos. Se já era difícil dirigir em Atenas em finais de semana e feriado, imagine na hora do rush, que era exatamente o momento em que me encontrava. E veja que eu dirigia numa velocidade considerada alta para os padrões do meu irmão (eu discordava totalmente dessa sua definição). Tentei virar numa ruazinha onde poderia cortar caminho e quase colidi com um idiota que entrou na minha frente sem dar a seta. Existem muitas coisas que as pessoas deveriam fazer nessa vida e não fazem, entre elas: dormir 8 horas por noite, comer mais fibras, avisar que vai para o Tibete e dar a bendita seta.

Parei no sinal vermelho. Ao meu lado estava um moço de seus dezenove anos, no seu possante rebaixado, ouvindo música na maior altura. De janelas abertas, que era para ter certeza que o mundo inteiro, pelo menos num raio de uns vinte metros, por aí, iria compartilhar do seu suspeitíssimo gosto musical. Repentinamente, aquela súbita vontade de estrangular alguém. Meus dentes cerrados com o pensamento de que não conseguiria chegar a tempo amplificando minha raiva.

Merda! Merda! Merda!

Olhei para outro lado, antes que pulasse do carro e transformasse minha vontade em algo real. Foi nesse momento que a enxerguei, estacionada no posto de combustível da esquina. Meus olhos brilharam.

Aquela Harley seria a solução.


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Notas finais do capítulo

Olá, meus queridos e pacientes leitores.

Agora sim o penúltimo capítulo.

Antes de qualquer coisa, desculpem-me o atraso. Eu estava em viagem essa semana e o tempo foi corrido. Tbm tive que aproveitar um pouquinho dele para atualizar minha outra fic que estava atrasadíssima. Acredito que o próximo não irá demorar tanto, semana que vem as coisas começam a folgar um pouco.

Bem, os avisos são os de sempre.

— Capítulo não betado (sou péssima para encontrar meus próprios erros assim que acabo de escrever. Como não queria atrasar mais,foi assim mesmo. Então, perdoem-me qualquer pronome fora do lugar ou palavras repetidas em excesso, ou erros piores.

— A imagem foi encontrada no google. Não me pertence.

— Ansiosíssima para saber o que acharam, mesmo que não tenham gostado. Saber o que ficou ruim também é importante.

Queria aproveitar para agradecer ao pessoal que deixou sua opinião no capítulo passado: Nanda Aquarius, Myrho, Jenferr, Orphelin, TitiaKinast, Amore, Rizinha, nane yagami, Musha e Kiba-Ino
Muito obrigada mesmo. Esse incentivo de vocês é maravilhoso. Espero não ter decepcionado neste capítulo.

Ah! Quanto ao final, tudo pode acontecer, não é? kkkk



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