Os flashes da noite passada vinham à tona em sua mente como socos no estômago.

O álcool, as risadas, as brigas, a música, o contato físico, o desespero depois de beijos, carícias, trocas de olhares e apenas uma decepção.

Era uma manhã nublada, fria e chuvosa. O Sol resolvera aparecer para outro lugar, ou apenas para outra pessoa. A garota de cabelos cacheados, verdes olhos brilhantes e maçãs do rosto rosadas havia dormido em uma pequena estalagem ali perto, e ninguém havia notado.

Ela resolvera ir a aquela festa por solidão, ela se sentia tão solitária quanto o banco que no momento estava sentada. As amigas cegas da mente, a mãe já morta por um estúpido câncer de mama e um pai que não a queria compreender.

A menina achou que na festa encontraria pessoas mais cheias de vida que pudessem a alegrar, ela tentou de tudo, e achou que por pelo menos uma noite poderia estar sendo aceita. Mas naquele momento ela percebia o quão errada estava. Naquele lugar, ela percebeu que só havia encontrado pessoas vazias, vazias como o buraco que agora, mais do que nunca, perfurava seu peito.

Ela sentiu as lágrimas lhe tocarem a face, ou talvez fossem apenas gotas de chuva, mas isso agora ela já não diferenciava mais. Os cabelos grudavam em seu pescoço, assim como uma única pergunta em seus pensamentos. Por que apenas as pessoas vazias podiam ser felizes?

Mas... Talvez aquelas pessoas não fossem realmente felizes. Se ela havia bebido para tentar ser feliz, por que elas não poderiam fazer o mesmo? A garota se lembrava da sensação, o líquido queimando-lhe a garganta como fogo, e em seguida, a alegria e a felicidade absoluta. Mas agora ela não iria mentir. Aquilo não era felicidade, pois a felicidade arranca sorrisos verdadeiros, e ela somente lembrava-se de falsos.

As pessoas mentem, isso ela aprendera com sua mãe, com as várias vezes que ela a previnira. Mas ela estava morta. Tão morta quanto tanta gente agora estava para a menina. E ela agora havia chegado a uma única conclusão: No mundo só existem dois tipos de pessoa, aquelas que sofrem, e aquelas que mentem.