Duas Faces - Continuação escrita por Palloma Oliveira


Capítulo 32
Capitulo 77




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Capitulo 77

(Após a revelação de Frederico, o desconforto paira sobre as costas de Paula e Cesar).

Victoria – Pois é uma pena, Frederico. Eles já são adultos e deveriam aceitar a realidade.

Frederico – Victoria, não achas que a realidade deles é um tanto dura? A mãe põe uma desconhecida em casa para aventurar-se com um homem que curiosamente é casado com a substituta (Para Paula) Não te ofendas, meu amor. (Para Victoria) Tu devias de arrastar-te aos pés dos teus filhos a implorar-lhes perdão.

Victoria – Porquê? Paula não precisou fazer nada disso para que os filhos a perdoassem e sabes porquê, Frederico? Porque eles não são uns mal educados mimados.

Frederico – Desculpa? Se eles são assim a culpa não é só minha, visto que eu sim trabalhava para por comida à mesa. Tu passavas o dia em casa e não fazias a ponta dum corno.

Victoria (aumenta a voz) – De corno eu fazia-te à ti… eu não nasci para ser dona de casa.

Frederico – Claro… e mãe também não! És a pior mulher do mundo, Victoria! Maldito o dia em que te conheci. Mereces o desprezo dos teus filhos e o pior que a vida te pode oferecer…

Cesar (exalta-se) – Já basta, Frederico! Eu não permito que lhe faltes com o respeito à minha mulher. Estás em minha casa e vais abaixar a tua voz.

Paula (aumenta a voz) – Cesar, não fales assim com o Frederico que ele não sabe o que diz e esta casa também é minha, portanto eu também decido quem grita ou não aqui.

(Cristina, Dolores, Olga e Francisco saem para fora ao ouvir as discursões).

Cesar – Tua casa? Pois usarei as proclamações do companheiro: tu abandonaste a tua casa e os teus filhos para aventurar-se com um homem que curiosamente é casado com a substituta.

Paula – Fi-lo porque sentia-me presa à uma vida insatisfatória e infeliz.

Cesar – Se estavas sempre tão infeliz, porquê não pediste o divórcio em lugar de criar um circo.

Paula – Eu não criei o circo sozinha… tu aceitaste as mentiras da Victoria e não revelaste quando já sabias da verdade, por isso não me venhas culpar porque estás igual se não pior.

Victoria – Paula, não grites com ele porque o Cesar só me quis defender.

Paula (irritada) – Já estou farta das tuas ordens, Victoria! Ninguém manda em mim. A vida toda eu obedeci às pessoas sem hesitar, mas já me cansei. Estou em minha casa e grito se me der vontade. Estou farta de todos vocês. Do Cesar que é um manipulado, de ti que te sentes dona de tudo a tua volta, desta casa, das tuas tias, Cesar e até de ti Frederico.

Frederico (assustado) – De mim? Mas que fiz eu, agora?

Paula (grita) – Ficas sempre as turras com toda a gente. Adoras discutir e rodear o mesmo assunto um milhão de vezes. A Victoria sabe que está errada, eu sei que estou errada, o Cesar sabe o quanto esta situação é errada e tu também, mas apesar disto, fizeste amor comigo ontem e não só uma vez nesta noite... (Percebe a indiscrição e tapa a boca envergonhada).

(Todos ficam a olhá-la assustados e surpreendidos com a sua explosão. Os filhos têm os queixos atirados ao chão, Cesar está desconcertado mais uma vez, Victoria segura-se para não soltar uma das suas gargalhadas inconvenientes e Frederico esconde a satisfação vaidosa).

Paula (encolhe-se e sussurra) – Eu disse isso muito alto?

Victoria (irónica) – Não… imagina… só o suficiente para criarem um filme indecente no Japão.

(Paula olha para os filhos, para as tias, para o Cesar e corre para o carro com as bochechas rosadas de vergonha pela sua indiscrição. Frederico vai atras dela).

Cesar – Ah… meu filhos… é que antes de vir para cá a vossa mãe tomou uma taça de vinho e…

Victoria (corre e abraça-os para amenizar a situação) – Queridos!

Dolores – Afasta-te dos meus sobrinhos, demónio maldito!

Cesar (pega Victoria pelo braço) – Vamos, meu bem. Já deu por hoje. Adeus, meus filhos… adeus, tias. Portem-se bem que eu virei visitá-los mais vezes.

Dolores – Sim, sim… mas podes vir sem a tua concubina… para não nos envergonhar mais.

(Victoria solta-se de Cesar para atacar Dolores mas ele segura-a a tempo. Retiram-se. No carro, Paula ia tomada por um silencio sufocante. Frederico olhava-a mas não conseguia dizer uma única palavra… por simplesmente não saber o que dizer, chegam ao hotel e ela deita-se sobre a cama, calada e envergonhada. Nem lhe podia olhar nos olhos. Frederico senta-se ao seu lado).

Frederico (acaricia-lhe a perna desnuda) – Foram umas duas vezes. (Ouvir: Rita – Preciso de Ti).

Paula (olha-o sem perceber) – O quê? Do que estás a falar?

Frederico (sorri) – De ontem anoite… foram apenas duas vezes…

Paula (esconde-se debaixo dos lençóis) –Sai daqui, que estou a morrer de vergonha.

Frederico (entra debaixo dos panos de seda e abraça-a) – Gostei de o teres dito diante de toda a gente. (Rir-se e dá-lhe um beijo ao pescoço) Aposto que o Cesar e a Victoria ficaram com inveja. Precisavas de ver a cara deles. (Rir-se) Agora já sabem que nós somos fogo.

Paula – Não digas asneiras. Sinto-me uma adolescente irresponsável. Não acredito no que disse. Minha nossa senhora de Fátima… aí Jesus, Jesus!

Frederico (abraça-a forte) – Não há que se ter vergonha, Oféliazinha do meu amor.

Paula (olha-o indignada) – A culpa é tua por andar a brigar com a Victoria. E não estejas com este orgulho na face. Frederico, se te dá um cupim no rosto… roí-o todo… cara de pau!

Frederico (sorri e faz-lhe cocegas) – Olha que aquela fúria toda deixou-me aceso… gosto das feras… (põe-na sobre si) Arranha-me todo se quiseres!

Paula (levanta-se da cama enfurecida embora aquela raiva toda deixasse-a ainda mais bonita) – Arranhar-te? Devia pôr-te de castigo um bom tempo para aprenderes.

Frederico (levanta-se e agarra-a com um ar faminto e sedutor) – Sim, sim! Castiga-me, senhora professora que sou um aluno travesso. Põe-me algemas na cama e bate-me com o chicote!

Paula (empurra-o mas ele prende-a nos braços) – Não, Frederico! Não tenho animo para as tuas infantilidades. Solta-me! Não vês que falo sério?

Frederico – Está bem, meu amor. exaltei-me… tu não és dessas atrevidas. Adoro as tuas bochechas rosadinhas de vergonha. (Abraça-a carinhosamente) Gostas assim?

Paula (derrete-se naquele abraço e naquele sussurro) – Sim… assim gosto mais de ti.

Frederico – Não penses mais no de hoje, está bem? Somos um casal de adultos apaixonados e é normal que duas pessoas, quando se amam muito, muito, façam amor… mais de uma vez.

Paula – Mas os meus filhos não tinham que ter ouvido aquilo… aí, que horror, Frederico!

Frederico – Pensa de outra forma… agora eles sabem que nós nos amamos muito.

Paula (abraça-o forte) – Que assim pensem. (Olha-o com amor) Porque é a verdade… amo-te imenso, meu poeta de ortónimos… mesmo turrão, teimoso, possessivo, és meu amor! Só meu.

Frederico (sorri abraçando-a) – Só teu e tu, minha Ofélia de porcelana, amo-te infinitamente… mesmo retraída, nervosa, autoritária, doce, medrosa, inocente… és o meu amor e só meu!

(E beijam-se carinhosos diante do janelão de cortinas cor-de-rosa rendadas e balançadas pela brisa da primavera que chegara naquele mesmo dia embelezando o seu amor. Victoria entra em casa aos risos mas Cesar não vê piada. Aquela Paula era alheia ao seu conhecimento… parecia uma terceira cópia. Victoria senta-se no sofá e descalça-se dos sapatos saloiamente).

Victoria – Ainda não acredito no que ela disse… “mais de uma vez” (desata a gargalhar).

Cesar (irritado) – Mas olha lá, onde é que está a piada nisto tudo, hã?

Victoria – Aí, Cesar! Que tens? Porquê estás assim tão mau comigo? Tens ciúmes dela?

Cesar – Lá vens tu outra vez com o raio do ciúme imaginário. Cá para mim quem tem ciúmes é o Frederico… e de ti! Sim porque não perde uma oportunidade para te atacar.

Victoria – E chamas a isso “ciúmes”? Ele é mesmo assim… não perdoa nada.

Cesar – Mas tu cedes às provocações… adoras uma briga. Sê mais elegante, mulher… estás sempre uma selvagem com as pessoas. Tens a mania que és dona do mundo mas nem sabes cumprimentar com educação… ora os modos com a minha tia!

Victoria (irrita-se) – A tua tia é uma cobra e mal sabes tu. Claro, para ti é uma santa em pedestal. Não te esqueças de que ela já tentou nos separar e…

Cesar – E com razão, ou não? Por acaso ela mentia quando disse que aquele era o teu amante? As tantas começo a acreditar no que dizem as pessoas, Victoria. Sou mesmo manipulado por ti. Mentes e faz com que eu caia nos teus encantos cometendo injustiça com os demais.

Victoria (começa a chorar. Ouvir: Chopin - Spring Waltz) – Selvagem, manipuladora, mal educada, soberba, mentirosa, traidora… estas palavras duras, estes insultos que só esperava ouvir do Frederico… alguém que me julgava constantemente… e por isso o deixei… deixei por um homem que acreditava eu, nunca seria capaz de tal julgamento e desprezo… um homem por quem dei tudo por tudo. Sacrifícios nunca valem a pena se não são reconhecidos com louvor. Para ti, não sou mais que uma estranha que entrou na tua vida sem deixares e que te roubou o coração… penso eu… se disse mentiras, foi só uma. “Eu sou Paula, a tua esposa”, mas nem sou Paula e nem esposa sou… (pausa. Tira o anel) Nem nunca serei. (Dá-lhe à mão) Tu não mereces ser manipulado, enganado, traído e muito menos andar com… (rir-se chorosamente) Uma… uma selvagem como eu. Não tenho berço, nem requinte… não fui criada com bonecas de porcelana, não tive aio de confiança, criados ou varandinha de videiras, vestidinhos de seda, lencinhos perfumados, aulas de piano, francês ou balé. Só tive amor para dar, o que é insuficiente para o príncipe de Alvalade e para príncipe só serve princesa. (Vai para o quarto, tira duas malas e começa a distribuir-lhes a roupa. Cesar vai atras e sente o coração a partir-se ao vê-la chorando ajoelhada ao pé da cama. Não, não era uma princesa, nem era uma rainha. Não tinha educação para o ser, mas Victoria possuía uma beleza e uma personalidade sedutora que só podiam pertencer à uma deusa. O seu ar poderoso de selvageria e maldade faziam-na inexistente, como se a sua imagem não passasse de um conto da mitologia grega. Seria ela uma Vénus, uma Tétis, talvez uma Kali… seus cabelos eram tão negros que podiam cegar os corações dos homens apaixonados, seus lábios eram vermelhos como duas pedras de rubi que poderiam atrair os homens mais ambiciosos, a sua pele era dum branco escurecido que dava-lhe a característica única… e aqueles olhos… ah! Aqueles dois topázios esverdeados que transformavam-na numa cigana traiçoeira. Não, não poderia ser uma rainha banhada em vestes elegantes, educação requintada e doçura… Victoria era uma deusa, uma formosa deusa cujo coração foi roubado por um mero mortal que se dizia príncipe de Alvalade, mas que o nome lembrava o imperador de Roma. Cesar pega-lhe a mão e põe-lhe o anel ao dedo, abraça-a e aperta-a, depois sussurra carinhosamente…).

Cesar – Minha deusa Tétis, minha deusa sedutora… sou só um mortal diante dos teus encantos poderosos, mas amo-te e venero-te. Perdoai este mero ser que ousou duvidar do teu amor!

Victoria (levanta-se) – Desculpa-me, Cesar, mas acho que isto não vai dar certo.

Cesar – Queres que tudo acabe entre nós para poder ficar com o Frederico e ganhar o perdão dos teus filhos? É isso o que queres, Victoria?

Victoria – Eu nunca voltarei a ser mulher do Frederico… não há hipótese disso suceder. Mas… mas tu não mereces uma mulher como eu. Sou pouco para ti, Cesar… muito pouco.

Cesar (corre e abraça-a) – Não… não digas isso, meu amor! És tudo o que eu preciso.

Victoria (solta-se mais uma vez) – Tive um começo duro na vida… deves afastar-te de mim.

(Cesar está inconformado com aquela terrível decisão. Será ela, capaz de o deixar?).

(FIM DO CAPITULO 77)


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