Duas Faces - Continuação escrita por Palloma Oliveira
Capitulo 62
Dolores (abismada) – Meu Filho… como podes preferir esta mulher à tua tia que te criou como se fosse meu? Esta casa é mais minha que dela. Aqui cresci e aqui cresceste aos meus cuidados. Agora despejas-me como se fosse poeira ao vento… sem qualquer consideração.
Cesar (a ponderar) – Eu… Eu lamento minha tia, mas é que não posso permitir que tu faltes ao respeito com a minha… digo, com a mulher que eu amo. (abraça Victoria. Nina entra)
Victoria (Paula) – Mas não te preocupes que não estarás só, Dolores. Nina, tu também, pega nas tuas coisas e sai já da minha casa. Sei que mulher és para teres ido mexer em minhas coisas. Já apanhei-te muitas vezes a fazê-lo e não duvido que tu sejas a culpada.
Nina – Meu senhor, eu sou inocente. Não fiz nada! Por favor, não me tire o trabalho!
Dolores – Ela traiu-te com outro homem. Essa foto é verdadeira e ela tem um amante.
Cesar – Tia, por favor, não tornes as coisas mais difíceis para mim! Vai-te já e Nina, também.
Victoria (Paula) – Vocês já ouviram, agora saiam imediatamente!
Dolores – Tu não és ninguém para me mandar embora da minha própria casa.
Victoria (Paula) – Sou a esposa do Cesar e isso dá-me poder sobre esta casa, e se eu digo que tens de sair, é porque vais sair. Ou sais por bem ou eu tiro-te a pontapés.
Dolores – Cesar, vais permitir esta falta de respeito vinda desta mulherzinha?
Nina (ajoelha-se diante da Victoria) – Minha senhora, não me tire o trabalho, eu imploro!
Victoria (Paula) – Não sejas sonsa que eu não acredito em nada que me dizes. És tão naja quanto a tua mentora, Dolores. Não sei de onde me tiram tanto odio. Sai já daqui!
Dolores (para Nina) – Levanta-te, Nina! Tu virás comigo e trabalharás para mim. Vamos! E tu, Paula, acredita que o teu fio doirado da vira está nas mãos de uma parca terrível. Amaldiçoo-te, nunca serás feliz ao lado do teu marido!
Victoria (Paula) (sorri a debochar dela e pensa em Frederico) – Disso, minha cara Dolores, eu tenho certeza! Mas sou muito feliz ao lado deste homem que aqui tenho.
Dolores (sem perceber) – Cala-te, maldita mulher! Odeio-te tanto que te quero sangrar.
Olga (vem a descer as escadas) – Mas, que escândalos são esses? Que se está a passar aqui?
Dolores – Acontece, Olga, que a nossa adorada Paulinha, resolveu expulsar-me desta casa.
Olga – É verdade, meu filho? Não, não a deixes ir, por quem sois! É tua tia, quase tua mãe.
Cesar – Desculpa-me, tia, mas a minha tia Dolores não respeita a mulher que eu amo, e sendo esta a sua casa, não posso e nem pretendo, permitir que os insultos continuem.
Victoria (Paula) – Se estás assim tão preocupada, Olga, podes ir com a tua irmã. Melhor ainda.
Olga – Também à mim tu me vais expulsar? Cesar, vais permitir isto?
Cesar (Para Victoria) – Não, tia Olga não fez nada de mal. Ela daqui não sai.
Victoria (Paula) – Não te estou a expulsar, Olga, só digo-te que és livre para seguir a tua irmã.
Dolores – Já basta! Eu vou agora mesmo arranjar as minhas malas. Cesar, espero que quando te arrependas disto, não seja demasiado tarde para o teu próprio bem. (olha Victoria com ira) E tu, demónio manipulador, os teus dias estão contados e a tua hora há de chegar. (retira-se para o quarto e Nina a acompanha juntamente com Olga)
Cesar – Para a minha tia será muito difícil sair desta casa. É mais dela do que minha. Aqui cresceu e aqui me viu crescer… ah! São tantas lembranças que se vão. Fi-lo para apoiar-te, apesar de não o mereceres. Tu não és a dona desta casa, a dona não está cá.
Victoria – Fizeste bem em expulsá-la. Esta mulher odeia-me e aquela Nina também.
Cesar – Estás enganada! Ela odeia a Paula… e como pensa que és ela… bem…
Victoria – Não importa! Ela mexeu nas minhas coisas e isso eu não tolero. (aproxima-se dele e abraça-o) Não te preocupes meu amor, recompensar-te-ei muito bem!
Cesar (solta-se dela. Está triste) – Mas… ela só o fez para me proteger. Ela viu a foto e…
Victoria – Como? Então acreditas mesmo que ela tenha encontrado esta foto nas minhas coisas? Cesar, pensei que confiasses em mim e que por isso me foste buscar.
Cesar – Oh! Victoria, não te faças de boa dama. Bem sei que tu conheces este homem. Ou vais-me negar que o conheces? Depois de pensar um momento, cheguei a conclusão de que é o teu marido, por certo! Só podia ser. Então procurei-te porque vi que o amante era eu.
Victoria (sente-se mal porque o homem da foto é Lorenzo e não Frederico) – Ah… bom, Cesar…
Francisco (entra na sala) – Mamã, estás aqui? (corre e abraça-a) Meu pai, eu ouvi uma discursão… que se está a passar?
Victoria (Paula) – Filho, é bom que saibas já. Eu… pedi à tua tia, Dolores, que saísse desta casa.
Francisco (preocupa-se) – Mas… porquê? Que fez ela?
Cesar – Filho, a tua tia foi a responsável pela ligeira separação que houve entre a tua mãe e eu.
Victoria (Paula) – Exato, e eu não quero estar sobre o mesmo teto que ela.
Francisco – Mas… mamã, esta é a casa dela… minha tia não se pode ir embora.
Cesar – Já está decidido, meu filho. A tua tia sai hoje mesmo desta casa.
Francisco – Eu vou falar com ela. deve estar inconsolável. Ela adora esta casa. (retira-se)
Victoria – Se o Francisco reagiu assim… imagino a Cristina. Cesar, e se eles odiarem-me?
Cesar (abraça-a) – Não te preocupes, meu amor. Eu estou contigo. (olha-a nos olhos) Enfrentaremos esta situação juntos. (dá-lhe um beijo aos lábios) Amo-te!
Victoria (abraçando-se à ele) – Que bom que tenho-te à ti, meu amor. (beija-o)
(Em Sintra, depois daquela longa tarde amor entre lençóis macios, Paula e Frederico permaneciam sobre a cama, cobertos apenas pro umas mantas aveludadas. Já se escondeu o sol e a lua está quase a sair. Ouvir: Rita – Preciso de ti)
Frederico (apertando-a nos seus braços) – Não sabes como eu senti a falta dos teus beijinhos.
Paula (Victoria) – Eu também morria de desejos por ter-te comigo outra vez.
Frederico (beija-lhe o pescoço) – Assim podemos ficar até amanhã. (sorri) Que achas?
Paula (Victoria) – Tentador mas… não acho bom ficarmos trancados assim. Vão comentar.
Frederico – O quê? Que nós os dois já fizemos as pazes? E como fizemos.
Paula (Victoria) – Não sejas parvo. Não gosto que comentem sobre a minha vida.
Frederico – Tu mandas. (beija-a) Meu amor, eu queria dizer-te antes mas… não tive coragem.
Paula (Victoria) (preocupa-se) – Do quê estás a falar?
Frederico (olha-a nos olhos) – Desde que voltamos de Paris… não sei o que é mas… nunca mais foste a mesma. Digo, estamos casados há mais de vinte anos e tu nunca foste assim. Quem não te conhece, diria que és outra mulher… uma gémea da Victoria.
Paula (Victoria) (fica gelada e pálida. Solta um risinho para disfarçar) – Gémea? (beija-o) Tu dizes umas coisas… eu sou a mesma e se há algo mudado, é impressão tua.
Frederico – Não é verdade. O teu olhar é diferente… a cor dos teus olhos, o teu sorriso… (acaricia-lhe o rosto) Teus beijos, as tuas caricias, o teu corpo… até o tom da tua voz está mais leve. Quando te beijo, não sinto os teus lábios, quando te abraço, não sinto o teu corpo… não como antes. Agora é diferente, tu tremes nos meus braços, beijas-me com mais amor, olhas-me com mais amor. Antes era mais atração física que sentimento… mas agora… agora sinto que não posso ficar um minuto se te ver, te abraçar, beijar… a tua ausência é como uma espada no meu coração. O modo como te entregas na cama, as tuas mãozinhas frias buscando aquecer-se no calor do meu corpo… não é mais como antes e nem parece teu. És outra agora!
Paula (Victoria) – Bom… meu bem, esta mudança é resultado do amor que sinto por ti. Este amor fez com que eu mudasse para te agradar. (sorri enquanto dá-lhe beijinhos no rosto)
Frederico – É isso o que me deixa mais intrigado. Eu conheço-te e nunca pensei que tu serias capaz de mudar por alguém. Sempre foste tão egocêntrica e extravagante.
Paula (Victoria) (cala-o com a mão nos lábios) – Já basta deste assunto. Estamos juntos e felizes… é só o que interessa. Amo-te e amar-te-ei para toda a eternidade.
Frederico (põe-se sobre ela) – E assim será para sempre! (beijam-se apaixonados derretendo-se sobre aquele ninho de amor proibido que um dia se desfará na tragédia)
(Na sala de jantar está Telmo a arrumar a mesa. Santiago e Heitor entram)
Santiago – Telmo, onde estão o meu pai e a minha senhora mãe?
Telmo – Eu não sei. Devem estar no quarto… se saíram não os vi descer.
Heitor – Esta manhã eles discutiram terrivelmente. Estavam indiferentes um com o outro.
Paloma (vem a entrar) – É verdade. Telmo, achas que eles podem se divorciar?
Telmo (rir-se a pensar que nem casados são) – Minha querida menina, é mais fácil um muçulmano cantar “eu amo a América” do que aqueles dois divorciarem-se.
Paloma (rir-se com ele) – Tens razão, Telmo. Ainda mais depois desta tarde que passaram trancados no quarto (vira-se de costas a fazer perversidades) Sabem resolver os problemas.
Santiago – Oh! Tu agora só falas nisso. Se calhar passaram a tarde a conversar.
Heitor – Claro que sim. (sarcástico) Porque é obvio que um casal que passa horas no quarto, estaria apenas a conversar sobre os problemas da vida… nada além disso!
Telmo – Vocês são tão pervertidos, meus filhos. À quem puxaram isto? Mas por acaso… têm razão. Já devem ter resolvido os seus problemas entre a intimidade daquelas paredes.
Paloma – Aí, Santiago… és tão inocente. Conversar? Claro que sim… tens dezoito anos. Como em tão pouco tempo, uma pessoa adquire tanta burrice?
Santiago – Dizes isso porquê? Levaste mais tempo, foi?
Heitor – Vá lá… não briguem! O importante é que os nossos pais já estão de bem.
(Em Lisboa, estão todos na mesa a jantar. Olga não contém as lágrimas e Cristina percebe)
Cristina (preocupada) – Tia Olga, o que tens? Porquê choras? E… onde está a tia Dolores?
Olga – Paula… a tua mãe… ela… ela expulsou a Dolores desta casa. (desata a chorar)
Cristina (indigna-se) – O quê? Mas… porquê? Mamã, porquê fizeste isso?
Victoria (Paula) – Porquê a tua tia faltou-me com o respeito… e eu não tolero mais!
Cristina – Tu não tinhas nenhum direito de o fazer. Esta casa é dela também.
Victoria (Paula) – Cala-te! Tu não sabes como aconteceram as coisas.
Cristina – Pois… pois eu não vou aceitar isso! Eu exijo que a minha tia volte hoje mesmo.
FIM (DO CAPITULO 62)
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