POV Mike

Logo assim que me despedi de NI pela manhã rumei para o Taylor's. O dono já me esperava para assinarmos a papelada da venda do lugar. Finalmente eu teria algo meu, algo que eu realmente gostasse.

O Taylor's é pra mim como um refúgio. É atrás daquele balcão que toda a minha raiva e frustração se esvai. Eli eu posso ser quem sou de verdade, ali eu fiz amigos, ali é o meu lugar. Não me vejo longe de tudo isso, por mais simples que seja.

– Bom dia, meu rapaz! Preparado pra ser o dono desse lugar? - Ele perguntou com uma das mãos apoiadas no balcão.

– Não vejo a hora!

– Falta menos do que faltava. Sabe, não vejo esse lugar nas mãos de outra pessoa que não seja você. Sempre deu o melhor de si, mesmo sabendo que não era seu.

– Nunca achei que fosse dizer isso, mas eu amo esse lugar.

– Então vamos assinar, não é? - E assim fizemos. Assinamos toda a papelada que dizia que a partir daquele momento eu era o proprietário.

O senhor Taylor autorizou a deixar o lugar permanecer com o mesmo nome, não queria mudá-lo, afinal era a sua identidade.

Depois que ele foi embora ainda permaneci com as portas fechadas por um tempo. Queria poder olhar melhor para aquelas paredes que já presenciaram tantas histórias, tantas brigas e reconciliações ao longo dos anos, queria um tempo pra mim.

Aos poucos os outros funcionários foram chegando e eu os reuni e comuniquei sobre a novidade, e é claro que, pedi total discrição até a noite, quando eu faria o comunicado oficial.

– Com o Mike de chefe as coisas vão ficar muito divertidas! - James, um dos garçons, falou. - Vamos poder beber junto com os clientes.

– Está muito enganado, James. As regras não vão mudar. Acho que vou até acrescentar algumas. - Respondi, deixando James e os outros que riram do comentário feito por ele sem graça. - Bora trabalhar, não é mesmo?

No final da tarde deixei James no comando do bar-restaurante e fui para casa. Não me arrumei mais que o normal e em seguida sai para encontrar NI. O caminho até a casa anexada era curto, o que fez com que eu chegasse em poucos minutos. Ela ainda estava enrolada na toalha quando cheguei, então fiquei sentado em um dos banquinhos da cozinha aguardando-a terminar de se arrumar.

Alguém bateu na porta enquanto eu esperava. Fui até lá e abri, era a irmã chatinha da NI, e carregava uma espécie de envelope nas mãos.

– Olha, eu não viria aqui se o meu pai não tivesse insistido muito, então pode, por favor, entregar isso a Haley. - Com cara de poucos amigos Audrey me entregou o envelope e foi embora a passos largos.

O papel tinha um símbolo da KU, Universidade do Kansas, uma das mais procuradas no estado.

– Quem era? - NI perguntou chegando à cozinha.

– O que é isso? - Respondi sua pergunta com outra direcionada ao papel em minhas mãos. Ela forçou os olhos para ver do que se tratava, e quando notou o símbolo seu semblante pareceu mudar. Entreguei a ela e cruzei os braços esperando que ela dissesse o que estava acontecendo, apesar de imaginar o que era.

– Eles me aceitaram. - Foi o que ela disse praticamente aos sussurros.

– Quando você pretendia me contar, quando estivesse saindo da cidade?

– Mike não é bem assim. - Tentou se explicar.

– Como não? Eu sequer sabia que você pretendia ir pra faculdade.

– Mike eu ia contar a você hoje a noite.

– Eu não acredito, você teve todo o tempo do mundo e só agora resolveu que eu era importante o suficiente na sua vida pra saber? Desculpe Haley, mas eu não acredito.

– Quer saber, pense o que quiser. Se eu quis dar um rumo na minha vida? Sim, eu quis, e eu realmente ia te contar, mas já que não acredita em mim, eu não posso fazer absolutamente nada. Nunca gostei desse lugar e todo mundo sabe disso. - Ela finalmente parecia ter explodido em sentimentos e lágrimas de raiva inundavam seus olhos.

– E quanto a mim, será que você realmente gosta de mim como disse? - Minha voz mais parecia um ruído de tão baixa.

– Nunca menti pra você, Mike.

– Pode não ter mentido, mas omitiu coisas importantes da sua vida, o que só prova que não confia em mim, então não vejo motivos para continuarmos juntos.

– Mas que droga, Mike, deixa de ser cabeça dura! - Ela gritou, mas sem surtir efeitos.

– Não estou sendo cabeça dura, estou apenas dando fim em algo que não teria futuro. Somos muito diferentes, garota da cidade. Eu me abri pra você, deixei todos os meus sentimentos expostos e você retribuiu da pior forma possível, não confiou em mim. Quer saber...eu, eu vou embora.

– Mike, espera, vamos conversar. - Ela gritou ao vir atrás de mim pela rua.

– Não, Haley! Já chega de tudo isso. Não quero ouvir mais nada, acabou. - Apertei mais o passo, mas já não era necessário, ela havia desistido de vir atrás de mim.

Decepção, esse era o sentimento que me rondava naquele momento. Decepção por saber que uma das únicas pessoas em quem eu confiava não retribuía da mesma forma. Sempre soube que éramos diferentes e um dia, mais cedo ou mais tarde ela iria embora, só não fazia ideia que seria dessa maneira.

Fui direto para o Taylor's. Como de costume havia muita gente, é claro. Sentei-me de frente pro balcão e peguei uma garrafa de tequila. Já me servia da primeira dose quando Carlla chegou perto de mim.

– Hola muchacho!

– Oi Carlla. - Respondi fazendo uma careta logo após tomar a bebida. - Quer beber?

– E você ainda pergunta? Claro que sim! - Carlla sentou ao meu lado, mas permaneceu calada menos que um minuto. - E ai, quer contar o porque dessa cara?

– Minha cara de sempre. - Menti, porém, sem sucesso, já que talvez ela fosse a pessoa que mais me conhecia naquele lugar.

– Matson você não me engana, anda, desembucha, ou eu serei obrigada a lhe fazer dançar de novo. - Carlla arqueou uma das sobrancelhas e me olhou de modo desafiador.

– Um problema entre a Haley e eu.

– Por que isso não me espanta?

– Mas não importa. Não vai mais acontecer, já que terminamos.

– Pera, pera, pera, vocês terminaram, como...como assim? - Era nítido que Carlla realmente foi pega de surpresa, e então lhe expliquei o que havia acontecido. - Não acredito que ela não contou!

– Você sabia? - Uma das coisas que sempre gostei em Carlla era o fato de que ela nunca se recusava a dizer o que achava ou sabia sobre qualquer assunto, mesmo que isso lhe trouxesse problemas posteriores.

– Sim Mike, eu sabia, mas ela disse que ia te contar.

– Mas não contou, e eu só soube porque a irmã dela levou a carta na hora em que eu estava lá. Carlla eu nunca impediria ela ou qualquer outra pessoa a fazer algo que quisesse, o que me decepcionou foi ela ter omitido isso de mim. Eu...eu estou me sentindo traído.

Carlla não disse nada, apenas me acompanhou em mais algumas doses de tequila e então eu resolvi levantar para ir embora. A cabeça girava um pouco, e quando ia chegando próximo a entrada Nathalie apareceu. Estava provocante de vestido vermelho e os cabelos soltos por cima dos ombros.

– Estava mesmo a sua procura, docinho! - Ela disse melosamente.

– Quer saber, que se dane, vem comigo! - Joguei um dos braços em volta de sua cintura e saí com ela do Taylor's, indo em direção ao trailer.

Eu tentei, realmente tentei continuar o que tinha em mente, mas simplesmente não consegui ir adiante.

– Espera Nath. – Pedi empurrando-a para o lado. Levei as mãos ao rosto e bufei cansado de toda a pressão que estava em minha cabeça.

– Está me dispensando? – Ela perguntou e parecia furiosa.

– Sim, estou. Te trazer aqui foi um erro.

– É a garota, não é?

– Não, não é a garota, agora quer, por favor, dar o fora daqui?

– Sabe Mike, um dia você vai se arrepender de estar fazendo isso comigo.

– Mas enquanto esse dia não chega, eu sugiro que vá embora.

Nathalie pegou a blusa que estava jogada no chão e saiu pisando forte a caminho da porta, enquanto eu continuei ali, pensando no que faria a partir daquele momento.